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A GNOSIS CHINESA


A GNOSIS CHINESA

A GNOSIS CHINESAPRIMEIRA PARTE DO TAO TE KING
DE LAO TSÉ COMENTADA
POR
J. VAN RIJCKENBORGH
E
CATHAROSE DE PETRI
 

2.ª EDIÇÃO LECTORIUM ROSICRUCIANUM
2010

 

Copyright © 1987 Rozekruis Pers, Haarlem, Holanda
TÍTULO ORIGINAL:
De Chinese Gnosis 

2.ª edição corrigida e revisada pela edição holandesa de 1989 

2010 

IMPRESSO NO BRASIL
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
 

ESCOLA INTERNACIONAL DA ROSACRUZ ÁUREA
Sede Internacional
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
 

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rij¨enborgh, J. van, 1896–1968.
A Gnosis Chinesa : comentários sobre o Tao Te King de Lao Tsé /
por J. van Rij¨enborgh e Catharose de Petri ; [tradução : Lectorium
Rosicrucianum].  2. ed. – Jarinu, SP : Lectorium Rosicrucianum, 2010.
 

Título original: De Chinese GnosisISBN: 978-85-62923-00-5
 

1. Filoso a ¯inesa 2. Gnosticismo 3. Lao-Tzu 4. Rosacrucianismo
5. Tao 6. Taoísmo I. Petri, Catharose de. II. Título.
10-02900 CDD-181.114
 

Índices para catálogo sistemático:
 

1. Gnosis ¯inesa : Filoso a taoísta 181.114
 

Todos os direitos desta edição reservados ao
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
 

Caixa Postal 39  13.240-000  Jarinu  SP  Brasil
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SUMÁRIO 


Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Introdução: A sublime sabedoria de Lao Tsé . . . . . . 13
 

1 Ser e não ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 
2 Wu wei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
3 Não te deixes impressionar por honrarias . . . . . . . 43 
4 O Tao é vazio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 
5 A onimanifestação não é humanitária . . . . . . . . . . 57 
6 O espírito do vale não morre . . . . . . . . . . . . . . . . 67 
7 O macrocosmo dura eternamente . . . . . . . . . . . . 73 
8 O coração do sábio é profundo
como um abismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
 

9 Não toques no vaso ¯eio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 
10-I Quem domina o eu governa o reino com amor . . . 99 
10-II O sábio permanece em perfeita quietude . . . . . . . 105 
10-III A virtude misteriosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 
11 Não há espaço vazio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 
12 Visão, audição e paladar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 
13 Elevada honra e desonra são coisas temíveis . . . . . 133 
14-I Olha para o Tao, e não o vês . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 
14-II O o do Tao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 
15-I As cinco qualidades dos bons lósofos . . . . . . . . . 153 
15-II As impurezas do coração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 
16 A vacuidade suprema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 
17 O povo e seus príncipes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 
18 Quando o Tao foi negligenciado,
surgiram o humanitarismo e a justiça . . . . . . . . . . 181
 

19-I Bane o saber! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
 

19-II Afasta-te dessas coisas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 
20-I Abandona os estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 
20-II O mundo tornou-se uma selva . . . . . . . . . . . . . . 205 
20-III Somente eu sou diferente dos homens comuns . . . 211 
21-I Em sua criação,
o Tao é vago e confuso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
 

21-II Tao, a grande força no centro . . . . . . . . . . . . . . . . 221 
21-III O renascimento no Tao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 
22-I As quatro grandes possibilidades . . . . . . . . . . . . . 233 
22-II O sábio faz de si mesmo
um exemplo para o mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
 

22-III O imperfeito tornar-se-á perfeito . . . . . . . . . . . . 245 
23-I Quem fala pouco é “espontâneo” e natural . . . . . . 251 
23-II Quem é semelhante ao Tao recebe o Tao . . . . . . 257 
23-III Não ter fé su ciente é não ter fé . . . . . . . . . . . . . . 261 
24-I O egoísmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267 
24-II Os muros de Jericó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273 
24-III Devotamento ao Tao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281 
25-I Religião e teologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287 
25-II Antes que céu e terra existissem
havia um ser in de finido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293
 

25-III A lei quádrupla do Tao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299 
26-I O pesado é a raiz do leve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305 
26-II As três cruzes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 
26-III O tríplice domínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319 
27-I O único bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325 
27-II Quem caminha bem não deixa rastros . . . . . . . . . 331 
27-III Quem fala bem não dá motivos para censura . . . . 337 
27-IV Por isso o sábio sempre sobressai
ao ajudar os homens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341
 

27-V Ser duplamente iluminado . . . . . . . . . . . . . . . . . 345 
27-VI Quem não dá nenhum valor ao poder
adquiriu a onisciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349

 

28-I O vale do reino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355 
28-II A virtude constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361 
28-III O sábio será o cabeça dos trabalhadores . . . . . . . 369 
29-I O vaso sagrado de oferenda . . . . . . . . . . . . . . . . . 375 
29-II O caminho da vitória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381 
29-III Ninguém pode servir a dois senhores . . . . . . . . . 389 
30-I Não à violência das armas! . . . . . . . . . . . . . . . . . . 395 
30-II O homem verdadeiramente bom
dá um único golpe certeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . 401
 

30-III No auge de suas forças,
os homens e as coisas declinam . . . . . . . . . . . . . . 409
 

31-I As melhores armas
são instrumentos de calamidade . . . . . . . . . . . . . 417
 

31-II O envenenamento do campo de vida humano . . 427 
31-III Amai vossos inimigos! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 433 
31-IV O amor do homem gnóstico-mágico . . . . . . . . . 437 
31-V Vós sois o sal da terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 445 
31-VI O sal purifi cador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 453 
32-I O céu e a terra se unirão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 457 
32-II O povo se harmonizará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 463 
33-I Quem conhece a si mesmo é iluminado . . . . . . . 469 
33-II Quem vence a si mesmo é onipotente . . . . . . . . . 475 
33-III Quem morre e não se perde
gozará da vida eterna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 481
 

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 485

9 

PREFÁCIO 
A partir do momento em que o Tao Te King, a obra clássica do
sábio chinês conhecido há séculos como Lao Tsé, foi trazida ao
conhecimento do mundo ocidental, em 1823, graças à primeira
tradução (parcial) feita pelo francês Abel Rémusat, seguiu-se um
número considerável de traduções, explicações e comentários,
nos quais os autores, cada qual a seu modo, tentavam tornar um
tanto compreensível ao homem ocidental esse texto pequeno,
porém de grande profundidade.
 

Todavia, parece-nos que nunca foi publicado um comentário
do
Tao Te King em que este seja analisado do ponto de vista
gnóstico tal como acontece neste livro. Isso explica o seu título:
A Gnosis Chinesa. 


Que é Gnosis?*1 Em uma de suas obras anteriores, A Gnosis Universal,2 os autores assim se exprimem: “Originalmente,
a Gnosis era a síntese da sabedoria primordial, a soma de todo
o conhecimento, que dirigia a atenção diretamente para a vida
primordial divina. 


Essa vida original manifestava-se em uma verdadeira onda de vida humana não terrena. Os hierofantes da
Gnosis eram  e ainda são  os enviados do Reino Imutável, que
trazem a sabedoria divina para a humanidade perdida e indicam a
1Ver glossário, na p. 485.
2Rij¨enborgh, J. van e Petri, C. de.
A Gnosis Universal, São Paulo: Lectorium
Rosicrucianum, 1985, p. 1.

 


10 A GNOSIS CHINESA 

senda única para os que, na qualidade de lhos perdidos, anseiam
por retornar à pátria original”.
Segundo essa descrição, torna-se claro que a verdadeira Gnosis
 o Conhecimento original de Deus, Conhecimento esse que
coloca o homem perante o caminho da libertação  jamais se
limitou a determinado país ou certo povo, como ouvimos a rmar
por toda parte, principalmente em nossa época. Ao contrário, a
Gnosis é universal e engloba a humanidade inteira. Hoje, como
no passado, ela é revelada em todas as partes do mundo onde
trabalham os Mensageiros da Luz.
Assim sendo, ela surgiu não somente em países como o Egito,
a Índia e a Palestina, mas também, há muito tempo, na China
de Lao Tsé, através do
Tao Te King, obra que, na China atual, é
ainda tida em alta consideração.
Em nossos tempos,a sabedoria do
Tao Te King é possivelmente
ainda mais atual do que na época de Lao Tsé. Lemos, por exemplo,
no capítulo 31:
As melhores armas são instrumentos de calamidade.
Portanto, quem possui o Tao não faz uso delas.
Ou, no capítulo 33, o último comentado pelos autores:Quem vence outros homens é forte,
mas quem vence a si mesmo é onipotente.
Sobre este último versículo, os autores dizem: “Tornar-se onipotente signi ca penetrar a essência fundamental da Divindade e
dela fazer parte”. É preciso levar em conta que essas palavras resumem a grande e elevada missão perante a qual os autores colocam
os leitores desta obra.

Eles não apenas mostram essa missão, como também o caminho para cumpri-la. E o resultado, dizem eles, é que “veremos o
mundo inteiro, a humanidade inteira e nossa sociedade inteira
mudar”.
 

Quem se liberta das aparências
encontra a senda para o ser interior.
Quem alcança o não fazer
é admitido na corrente.
 

OS EDITORES

 

13 INTRODUÇÃO:A SUBLIME SABEDORIA DE LAO TSÉ 
Se tendes algum conhecimento acerca da literatura esotérica, então é possível que saibais que, na Idade Média, algumas regiões
do sul da França possuíam um maravilhoso segredo. Lá, na região
do Sabartez, berço dos cátaros  bendito seja seu nome  dispunha-se de um poder supra terreno, o poder do
consolamentum.Através dele era realizada a separação entre o homem-animal e o
homem-espírito; entre o homem desta natureza e a gura do ser
original do passado remoto.
O
consolamentum era mais que um simples selo sacramental.
Era mais que uma simples efusão de força mágica, pois para os
cátaros ele implicava numa ruptura de nitiva com a vida dialé­tica.* Os que o haviam recebido já não eram, no sentido absoluto,
habitantes da terra. Na verdade, eles ainda estavam
no mundo,
mas já não eram
do mundo.
 

Inúmeros buscadores se perguntaram quais poderiam ser as for­ças espirituais que sustentavam esse movimento no sul da França,
na Idade Média. Eles perceberam claramente que, se esse despertar espiritual tivesse podido desenvolver-se sem obstáculos,
teria envolvido toda a Europa, provocando um renascimento
jamais visto no mundo. Mas, quem foram esses iniciados inspiradores que provocaram mudanças em dezenas de milhares e contra
quem se voltou o ódio terrível e sangrento da antiga Igreja?
Essas forças eram, no melhor dos sentidos, cidadãos do mundo,
que realmente amavam a humanidade inteira e, ainda em nossos

 


14 A GNOSIS CHINESA 

dias, se manifestam e atuam em todos os lugares onde veem a
possibilidade de agir. Seguimos seus traços de norte a sul, de leste
a oeste. A história do mundo é a sua história, e nela descobrimos
as relações entre os diversos acontecimentos e desenvolvimentos
dos quais eles foram os autores.
Todavia, desde o mais longínquo passado até este momento,
eles se mantêm envoltos em mistério. Existe entre eles e as massas um véu hermético, e mesmo todas as investigações da obstinada ciência para penetrar a fonte desse mistério continuam
fracassando.
 

Cremos poder afirmar que o conhecimento, o saber e os poderes dos cátaros eram universais. Sua fonte não pode ser encontrada na terra, mas somente no Reino Imutável.
Existem autores que deploram seu declínio, sua aparente derrota e lamentam a perda de sua sabedoria e de sua força. Porém,
essa tristeza é puramente dialética, pois uma força que jorra da
própria vida universal, uma sabedoria tão sublime, não pode perder-se. Trata-se de nada menos que o alento de Deus, que toca a
humanidade repetidamente, num esforço de amor para salvá-la,
e que, quando o ódio e o apetite sanguinário dos materialistas
tentam violentá-lo, se retira novamente.
Gostaríamos de refletir por um instante sobre esse toque do impulso do amor universal na Europa e compará-lo a um toque
divino semelhante no Extremo Oriente, revelado pelo Sublime
Lao Tsé.
 

Não se sabe se ele existiu ou não. Também não se sabe se era um
homem. O véu das lendas o encobre aos nossos olhos. Todavia,
incontestavelmente sua sabedoria é capaz de remover a tristeza
dos que observam e pesquisam o drama medieval do sul da França.
Com efeito, pode-se dizer que o mistério do
consolamentum é o
mistério do
Tao.O Tao não virá, e não era, o Tao é. Porém, acrescenta Lao Tsé:
 


15 INTRODUÇÃO: A SUBLIME SABEDORIA DE LAO TSÉ 

Os anciãos experientes, que possuíam o Tao,
silenciavam sobre esse misteriosíssimo santuário,
sabendo bem que os profanos se voltam para as trevas
porque transformam as forças de vida em destruição.
Quando determinadas forças despertam no homem
e ele se torna consciente de seu grande poder
sem que tenha se libertado de seu egoísmo inferior,
então, o fogo torna-se um incêndio
e se extingue em suas cinzas.
Portanto, não se deve desvelar o mistério ao profano;
não é o olho nu ofuscado por um brilho muito forte?
Conduzir um povo é cumprir uma grande tarefa;
quem se mantém na sombra é iluminado.
3
Conseguis penetrar essa linguagem da sabedoria? Então, talvez a
compreendais.
Fala-se e escreve-se sobre livros secretos dos cátaros que traziam a Doutrina* Universal e a verdadeira vida, os quais teriam
sido destruídos pelo clero da época. Todavia, o livro secreto dos
cátaros não é um livro escrito, tampouco o livro do Tao, nem o
Livro “M” de Cristiano Rosa-Cruz, nem o livro selado com sete
selos do Apocalipse de João. Esse livro, esse saber universal, não
foi escrito e permanece escondido do profano. No entanto, ele
existe em letras flamejantes e irradiantes e se abre a todos os que
se libertaram de seu egoísmo inferior.
Eis porque,para os cátaros,a
endura vinha antes que se pudesse
falar em
consolamentum. A endura consiste especi camente em3Estas citações de Lao Tsé e as seguintes foram traduzidas de Dijk, C. van.Teh, universele bewustwording, 319 parafrasen op de Tao Teh King van Lao Tse,Amsterdã: 1934.
 


16 A GNOSIS CHINESAdemolição segundo a natureza, em libertar-se completamente do
ser-eu e preparar-se inteiramente para o renascimento.
Não obstante vosso interesse por esses temas, damo-vos o seguinte conselho: não desperdiceis vosso tempo e vossa energia na
busca de livros ou de escritos, dos quais esperais encontrar uma
eventual libertação. O Tao não pode ser expresso por palavras
nem por escritos. O Tao, a senda, o caminho, pode unicamente
ser vivenciado.
Estas poucas indicações mostram, em toda a sua crueza, a penú­
ria do conhecimento e do raciocínio, a pobreza da compreensão
intelectual e a estupidez da consciência cerebral. Nada podeis
saber, possuir e compreender que tenha valor, antes que tenhais
morrido para esta natureza, antes que a tão perniciosa ilusão-eu
tenha se extinguido em vosso microcosmo.* Enquanto permanecerdes diante disso, continuareis profanos, ímpios e, consequentemente, imaturos, e, no nal, xar-vos-eis na razão obscurecida,
e nada tereis, absolutamente nada.
O que tendes, porém, é aflição, a excruciante dor da dialética.
Isto é, um fogo, um terrível fogo, um incêndio que se extingue
em suas próprias cinzas para, em seguida, irromper novamente.
A natureza dialética é decadência e intermináveis dores infernais,
das quais deveis libertar-vos seguindo o caminho, a senda, o Tao.
Tendes de passar pela endura, pela demolição, pela morte da
natureza inferior.
Todavia, não podeis fazer isso sozinhos, o que tampouco é necessário, pois a força indispensável para tanto existe! E as palavras
libertadoras ressoam! Se quiserdes abandonar tudo o que tendes,
vereis, como Lao Tsé:
Força oculta, segredo, eternamente intangível.
Ó, clara, silenciosa fonte de onde jorra a vida.
Do mais profundo do ser estamos ligados a ti.
Do Uno imenso flui a variedade incontável.

 


17 INTRODUÇÃO: A SUBLIME SABEDORIA DE LAO TSÉ 

É incompreensível que tantos alunos da Escola Espiritual, que se
dirigem para essa única verdadeira vida, essa única realidade essencial, não consigam vê-la, embora a busquem, embora anseiem
por ela.
Isso deve ter uma causa e essa causa deve-se unicamente ao
fato de que eles ainda se agarram demasiadamente às coisas da
antiga vida e, além disso, esperam, sem seguir nenhum processo,
ver a revelação divina penetrar o interior de seu ser terreno para
estabelecer em seu microcosmo a única verdadeira vida.
Na verdade, porém, não é assim que as coisas acontecem! Se
desejardes viajar em direção à nova terra prometida, devereis levantar as pesadas e numerosas âncoras que vós mesmos haveis
lançado ao longo das margens de vossa vida, e também devereis
desligar-vos delas por vós mesmos. Que isso é possível é con rmado pela escritura sagrada que diz: “Aquele que te ¯ama está
mui próximo”. Sim, mais próximo do que mãos e pés. Por isso:
Quem avança no caminho que liberta do ser inferior
renuncia a seus desejos como sendo uma carga inútil;
entra, portanto, despido,
no templo da suprema iniciação:
o vestíbulo do tabernáculo é o sepulcro.
Como aluno ou interessado gnóstico, deveis saber como ser um
francomaçom; como erigir, pedra por pedra, a santa catedral. O
santo
Mont Salvat é invisível na matéria, mas podeis nele penetrar através da caverna sepulcral da natureza inferior e, como
companheiro, juntar-vos a todos os mestres construtores. Aprendei, pois, com Lao Tsé quais são os obstáculos fundamentais e
qual é a ¯ave do Tao:
O mais elevado saber é reconhecer que nada sabemos.
Essa ciência negativa

 


18A GNOSIS CHINESAtorna o homem silencioso e devoto;
conhecemos nossos caracteres
melhor do que um analfabeto,
porém sequer uma letra
do profundo mistério da vida e da morte.
A verdadeira doença do homem é “não reconhecer sua ignorância”. Todavia, não presumais que devemos enfatizar, na vida,
uma dependência puramente mística e negativa e rejeitar misticamente a compreensão. Trata-se, segundo Lao Tsé, de compreender que os pensamentos materiais erguem um dique diante da
verdadeira corrente espiritual, razão pela qual deveis libertar-vos
do pensamento material.
Deveis indagar-vos de que forma, de fato, empregais vosso
pensar* material. Reconhecereis, então, que com vosso pensar
intelectual pensais na Gnosis e que com vosso pensar sentimental
misti cais em vosso coração. Este é o dique que ergueis diante de
toda corrente espiritual. No entanto, o ensinamento da sabedoria
não vos revelou que a cabeça e o coração devem formar uma
perfeita unidade?
Além disso, enquanto o homem não quiser reconhecer que
nada sabe, e também por causa disso, a realidade superior permanecerá, para ele, um belo sonho, e ninguém, a não ser ele mesmo,
poderá curá-lo dessa carência da renovada vida da consciência.
Quem reconhece essa situação doentia
já está, portanto, curado.
Reconhecimento é o arcano
contra essa sombria enfermidade.
Pelas vias do pensamento intelectual,
o ser não é tocado.
Muito menos se alcança, através de atos,
um ideal sublime.

 


19INTRODUÇÃO: A SUBLIME SABEDORIA DE LAO TSÉDesse modo, estais aqui novamente diante de uma concepção da
nova realidade: a negação do ato dialético pelos irmãos e irmãs
de todos os séculos, que ninguém compreendeu.
Esses iluminados conheciam uma ação diferente da do homem
dialético, um idealismo totalmente diferente, um amor humano
completamente outro.
Esses iluminados conheciam somente a atividade vivente e
vibrante de uma nova realidade de vida, uma atividade que, ao
homem desta natureza, parece um vazio ilimitado, uma desesperadora ausência de forma.
Muitos se fe¯am hermeticamente
e, cegos, prosseguem assim em seus caminhos.
Para eles, cada caminho vai do berço ao túmulo.
Seu destino é mais maldição do que bênção.
E todos os que vivem no século XX4 têm consciência do que seja
sofrer a maldição da vida. Infelizmente, parece que quanto mais
a vida se torna uma maldição, mais nos agarramos a ela e mais
queremos obter a força a bênção desejada. Evidentemente, sem
nenhum resultado.
A bênção se afasta como um navio na escura noite, porque,
como a essência da Doutrina Universal não foi reconhecida, a
reta ação não pode sobrevir. Eis por que o sábio diz há mais de
dois mil e quinhentos anos:
Meu ensinamento é dito de modo simples.
Meus atos são estritamente ligados a isso.
Mas, interpretado pelos homens de múltiplas formas,
ele é enrolado como um novelo
ao redor de seu centro.
4A primeira edição do original holandês é de 1987 (N.E.).
 


20A GNOSIS CHINESANão é verdade que muitos vivem a única e simples verdade essencial, ¯ave da verdadeira vida, encapsulada num novelo de
aparente sabedoria e de agitação? Mas, Lao Tsé diz:
Mas eu, que conheço o caminho dentro do labirinto,
não me deixo enganar por fogos-fátuos.
Seguro o o que me liga ao centro.
Observo calmamente, onde outros lutam em vão.
Não desempenho nenhum papel
na pomposa cena do mundo.
Por isso nada aparento aos homens vãos.
A maioria corre atrás de uma parte do todo.
Meu é o Universo. Que mais posso desejar?
Vede, eis do que se trata: ganhar o Universo! Isso pode soar de
maneira estranha a ouvidos ocidentais, mas aqui a intenção é
a mesma da santi cação cristã, que encontra sua expressão na
fo
rça mágica de um espírito santi cado em Cristo.* “Santo” está
ligado ao conceito tornar-se “são”. Ganhar o Universo é tornar-se
novamente “santo” ou “são”, íntegro. A Doutrina Universal mostra ao aluno que seu microcosmo já não está “são”, porém está
muito dani cado. Na maldição desse dano, ele persegue uma
parte insigni cante do todo, razão pela qual sua maldição não
pode transformar-se em bênção. Essa é a razão pela qual ele se
envolve cada vez mais na matéria.
Quando o aluno desiste desse trabalho inútil, ele nega essa
atividade e, convencido do fato de que a realização de todas as
elevadas expectativas não deve provir do eu dialético, constrói
parasimesmoumaarmaduraespiritualinvulnerávelepodeseguir
o caminho, a senda, o Tao, porque nele a ilusão-eu está morta. O
microcosmo retorna, então, ao seu estado original, e o Universo
torna-se sua herança.

 

21INTRODUÇÃO: A SUBLIME SABEDORIA DE LAO TSÉAssim, ca claro que a mensagem da Rosacruz moderna também é a mensagem de todos os tempos desde a queda; é a mensagem de Lao Tsé, de mais de 2500 anos, que continua a soar até
que o buscador veja diante de si o caminho e diga à sabedoria
universal:
Quero viver segundo vosso mui sábio exemplo
e saber-me integrado no plano divino de criação.
Para encerrar, ainda um ponto: o pesquisador só vê o caminho,
só vê o Tao, quando descobre, conforme diz Lao Tsé, que “sofre dor no ego”, quando descobre que nada nem ninguém pode
curá-lo dessa dor, que ninguém pode extinguir esse fogo até que
ele mesmo diga adeus ao ser-eu. Então “a grande lâmpada da oniconsciência” arderá diante do peregrino e o dessedentará com
sua irradiante luz divina que, como um
consolamentum, o elevará
da noite de seu sofrimento.



24
Se o Tao pudesse ser de nido, ele não seria o eterno Tao.
Se o nome pudesse ser pronunciado, não seria o nome eterno.
Na condição de não ser, pode-se dizer que ele é o fundamento da
onimanifestação. Na condição de ser, ele é a Mãe de todas as coisas.
Portanto, se o coração permanentemente “não é”, se ele permanece
livre de todos os desejos e interesses terrenos  é possível contemplar
o mistério da essência espiritual do Tao. Se o coração permanentemente “é”, se ele se mantém ¯eio de desejos e interesses terrenos 
só é possível ver formas limitadas, nitas.
Ambos, ser e não ser, provêm da mesma fonte, mas têm efeitos e
objetivos diferentes.
Ambos são preen¯idos pelo mistério, e esse mistério é o portal da
vida.
Tao Te King, capítulo 1

 

251
SER E NÃO SER
O Tao Te King que vos apresentamos pode ser ¯amado, com
toda razão, de Bíblia Chinesa. Seu autor tem a mesma assinatura de todos os grandes mestres da humanidade. Inúmeras são
as lendas que existem sobre Lao Tsé, porém nenhuma se baseia
em fatos históricos, razão pela qual não vos falaremos sobre isso.
Toda a vida de Lao Tsé permanece envolta em mistério. Alguns
negam que ele tenha vivido, outros o a rmam categoricamente.
É, portanto, precisamente a mesma história que ocorreu com
Buda, Jesus, o Senhor, e Hermes Trismegisto. Não precisamos,
pois, enfocar tudo isso nem dedicar um segundo sequer de nossa
atenção a esse assunto. Queremos apenas salientar as palavras de
Ângelo Silésio: “Mesmo que Cristo nasça mil vezes em Belém e
não em ti, continuarás perdido pela eternidade”.
O essencial é que temos o
Tao Te King. Sua assinatura é tal que
podemos a rmar: esta é a Doutrina Universal da Fraternidade*
Universal, revelado para a humanidade com incomparável amor.
Quem fez surgir essa irradiação de amor não tinha a intenção de
se colocar em primeiro plano. Ele se perdeu na impessoalidade,
ele veio e partiu; seu reino não era deste mundo. O Verbo desceu
na China seiscentos anos antes de Cristo, e o portador desse
Verbo passou, a seguir, “para além das fronteiras”, o que signi ca,

26A GNOSIS CHINESAevidentemente,queelepassouparaalémdasfronteirasdomundo
dialético, para a única Pátria.
Acreditamos que essa linguagem sagrada tenha sido pouco ou
nada mutilada. A razão disso é que pouquíssimos compreenderam o
Tao Te King, escrito em ¯inês. A obra é compacta, muito
velada e se compõe de oitenta e um aforismos ou ensinamentos,
divididos em duas partes: a parte do Tao e a parte do Te. Dizemos que o
Tao é “a senda de libertação” e o Te, “a utilidade e
a consequência da senda de libertação”, ou seja, o resultado. A
palavra
King indica que ambos, Tao e Te, contêm o método que
leva à libertação.
Comonãosomossinólogos,nãodaremosumatraduçãoliteral
do
Tao Te King, porém uma paráfrase. Além disso, diríamos que
quase todos os sinólogos estão em desacordo e não fornecem
traduções iguais nem do título nem do texto. Para nossa análise,
seguimos aproximadamente o texto de Henri Borel, que temos
razões de considerar a tradução mais el.5
A Europa só tomou conhecimento do
Tao Te King recentemente, aproximadamente há um século e meio. A primeira
traduçãofoipublicadanaFrançaem1823e,apartirdaí,inúmeros
livrosforamescritosarespeitodessa obra.Eagoranóstambém
vamosfalarsobreo
Tao Te King.Arazãoparaissorepousanofato
de que uma nova e poderosa Fraternidade taoísta surgiu no Oriente. Uma fraternidade, umaescola, que tema mesmaassinatura
e os mesmos objetivos que a nossa. Uma fraternidade que, como
nós,inaugurouseutemploemdezembrode1951eque,comonós,
ocupou seu lugar na Corrente das Sete. Torna-se evidente que,
com a era que está começando, todo o movimento da sétupla
corrente de Fraternidades crescerá e as levará a se aproximarem
umasdasoutras.Lesteeoeste,norteesulsereencontrarãonos
5Borel, H. De Chinese loso e toegeli¯t voor niet-sinologen (A loso a ¯inesa
explicada para não sinólogos). Amsterdã: Van Kampfen, 1897. vol. II.

271 · SER E NÃO SER lhos de Deus novamente despertos, os quais se reconhecerão
não somente devido à sua assinatura como também devido à sua
linguagem interior.
É por essa razão que deveis conhecer e provar o Tao, bem como
todos os demais ensinamentos da sabedoria, a m de que possais
viver, falar e agir a partir de sua síntese e libertar-vos de vossa
raça para, como verdadeiros cidadãos do mundo, pertencerdes ao
povo universal de Deus. Essa análise deve, pois, entre outras coisas,
servir de preparação para o encontro dos que serão congregados,
provenientes de todos os cantos da terra. Trata-se de realizar
uma tarefa para a qual vos convidamos, também a vós, de coração.
Levai conosco essa missão a bom termo!
Dissemo-vos que pouquíssimos são os que compreenderam o Tao
e que, ainda hoje, o compreendem. Os maiores absurdos foram publicados sobre o seu conteúdo. Estaríamos nós entre os que dizem
compreendê-lo e a rmam com segurança: “Vamos explicar-vos
seu sentido mais profundo”? Não! Empreendemos este trabalho
com a maior humildade, tendo em mente o último aforismo dessa
Bíblia Chinesa: Os que conhecem o Tao não são eruditos; os que
são eruditos não conhecem o Tao (Aforismo 81). Se nossa alma*
for receptiva à nova vida, sem dúvida o compreenderemos.
Relembremos mais uma vez o primeiro capítulo do
Tao Te
King:
Se o Tao pudesse ser de nido, ele não seria o eterno Tao. Se o
nome pudesse ser pronunciado, não seria o nome eterno. Na
condição de não ser, pode-se dizer que ele é o fundamento da
onimanifestação. Na condição de ser, ele é a Mãe de todas
as coisas.
Portanto, se o coração permanentemente “não é”, se ele permanece livre de todos os desejos e interesses terrenos  é

28A GNOSIS CHINESApossível contemplar o mistério da essência espiritual do Tao.
Se o coração permanentemente “é”, se ele se mantém ¯eio
de desejos e interesses terrenos  só é possível ver formas
limitadas, nitas.
Ambos, o ser e o não ser, provêm da mesma fonte, mas têm
efeitos e objetivos diferentes.
Ambos são preen¯idos pelo mistério, e esse mistério é o
portal da vida.
O primeiro capítulo do Tao Te King mostra a característica essencial da Doutrina Universal: ela permanece inalterada através dos
tempos. Lao Tsé designa o
Tao como o fundamento primordial
de todas as coisas. Poder-se-ia simplesmente traduzir Tao por
Deus, ou, como João, por “o Verbo”. “No princípio era o Verbo”
para o qual tudo deve retornar; trata-se, pois, de uma corrente,
um caminho, uma senda.
Esse Verbo, esse Tao, é inexprimível. Nenhum mortal poderia
descrevê-lo perfeitamente. No máximo, poderia falar e aproximar-se um pouco dele. “Ninguém jamais viu a Deus”, diz João,
fazendo-nos lembrar de Lao Tsé. Se fosse possível determinar
perfeitamente o Tao nos planos intelectual e losó co, ele não
seria o eterno Tao. Somente o que está nos limites dialéticos pode
ser expresso. Essa veri cação mostra de imediato que o ser do
homem terreno, do homem dialético, é nitidamente limitado,
delimitado. Ninguém jamais viu a Deus, nenhum mortal seria
capaz de vê-lo. Somente o Filho, que está no coração do Pai, pode
explicá-lo, o que quer dizer, manifestá-lo através de si mesmo.
Mas, quem é esse Filho? Esse Filho é uma gura histórica e,
ao mesmo tempo, uma realidade vivente e atual. Esse Filho é
embrionariamente o átomo original, que muitos manifestaram
no passado, mas que muitos manifestam também no presente

291 · SER E NÃO SERvivente. O Filho é sempre quem sabe despertar o átomo original,
a rosa, a semente divina. Ele encontra Deus; ele se aproxima da
Gnosis, como a Gnosis, o Tao, dele se aproxima.
Na qualidade de aluno da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea,
conheceis a ¯ave desse mistério da salvação. Há vinte e cinco
séculos, Lao Tsé já a transmitia à humanidade.
Portanto, se o coração permanentemente “não é”, se ele permanece livre de todos os desejos e interesses terrenos  é
possível contemplar o mistério da essência espiritual do Tao.
Já não vos disse a Escola Espiritual, com frequência, que quem
abre o santuário do coração para a força de irradiação da nova
vida será atraído pela essência espiritual? O coração deve viver
no estado de
não ser. Quando ele “é”, ele está repleto de mil e uma
preocupações, desejos e ocupações da natureza comum. Então,
os pensamentos colocam a cabeça continuamente em comoção e
todo tipo de sentimentos e de desejos preen¯e o coração.
Pensar, querer, sentir e desejar formam um dos lados do triângulo de luz terreno. E quem pode, aqui nesta natureza, dizer que
está no silêncio perfeito, o silêncio do não ser, do não fazer? O
afã dialético, as ocupações contínuas no plano de atividade da
consciência, contrapõe-se à atividade do átomo original. Unicamente o silêncio do não fazer, o fe¯ar-se à natureza dialética,*
abre um caminho através do deserto da vida. O silêncio é o precursor da essência espiritual do Tao, da mesma forma que João é
o precursor de Jesus. Pelo silêncio, o átomo original é despertado
de seu sono de éons.*
Com que nalidade, perguntamos? A resposta soa: “A nova
vida, a vida original”. A senda conduz ao não ser e ao ser, responde
Lao Tsé. O não ser é o fundamento da onimanifestação; o ser é a
Mãe de todas as coisas. O não ser não signi ca não existir ou não
ser de modo algum; trata-se, porém, do estado absoluto original,

30A GNOSIS CHINESAda glória original, imortal. Trata-se de um novo ser no estado
original do Reino Imutável. O ser, tal como o conhecemos, é o
ser da morte, dos sofrimentos e das lágrimas. Este ser não provém
do Tao. Portanto, existe um ser original, proveniente da própria
fonte do absoluto, como o verdadeiro não ser.
Lao Tsé dirigiu essa mensagem à humanidade há alguns milhares de anos. Atualmente essa mensagem soa familiar aos nossos
ouvidos, pois ela voltou a ser anunciada. Do Tao, da Gnosis, provém uma fonte, e dessa fonte jorram o não ser e o ser; uma força
eterna e irresistível, no interior da qual se mantém, qual ro¯a, o
Reino Imutável. E o coração que se tornou silencioso sente vibrar
a essência espiritual do Tao. Esse coração constitui o mistério do
portal da vida.


32
Quando todos sob o céu a rmam que o belo é belo, o feio se manifesta. Quando todos pensam saber tão bem o que é bom, o mau se
manifesta.
O ser e o não ser geram um ao outro.
O difícil e o fácil produzem um ao outro. O comprido e o curto
provocam mutuamente as diferenças na forma. O alto e o baixo
criam sua desigualdade recíproca. O som e a voz se harmonizam
mutuamente. O antes e o depois sucedem um ao outro.
Por isso, o sábio faz do não fazer sua tarefa; ele ensina sem usar
palavras.
Quandoaobraestáterminada,elenãoseprendeaela;ejustamente
por não prender-se a ela, ela não o abandona.
Tao Te King, capítulo 2

332WU WEIConsideremos especi camente as seguintes palavras:Porisso,o
sábio faz do não fazer sua tarefa; ele ensina sem usar palavras.
Baseado no primeiro capítulo, o segundo capítulo do antigo
evangelho ¯inês desvenda, progressivamente, a essência da ordem* de natureza dialética. Ele mostra que todas as entidades
desta ordem de natureza sustentam-na, obedecendo em tudo à
lei dos opostos, alimentando-a. Lao Tsé mostra que, nesta ordem
de natureza, tudo é engano e ilusão, isto é, irreal no que se refere
ao essencial, ao absoluto, ao divino. Em certo sentido, existe sem
dúvida uma realidade na dialética, mas ela em nada se harmoniza
ou se compara com o absoluto, o original. Lao Tsé mostra que
tudo neste mundo está sujeito à lei dos opostos e, portanto, a mudanças, e que é insensato nos agarrarmos a esta transitoriedade.
Não obstante, neste mundo fundamentalmente irreal, contrário
à lei, sempre tentamos estabelecer algo real, embora saibamos,
por experiência, que tudo sempre se transforma em seu oposto.
Todos os homens têm certa concepção de beleza. Todavia,
suas percepções e seus padrões estéticos diferem muito uns dos
outros. Eles dependem não somente do tempo, do povo, da raça,
dos usos e costumes, da educação e da cultura, como também são,

34A GNOSIS CHINESAacima de tudo, muito pessoais. Além disso, eles são geralmente
influenciadosportodotipodeautoridadesouhomensrespeitados, como professores, pais e artistas. Assim, os homens ¯egam
a discutir violentamente quando uns a¯am belo o que outros
a¯am feio. Todavia, ninguém sabe verdadeiramente o que é a
beleza.
Desse modo, é possível que vos apegueis a certas coisas que
a¯ais muito bonitas e que, por esse motivo, as acalenteis dia
a dia, simplesmente porque vossos sentimentos vos impelem a
isso. E certamente caríeis desesperados e muito ¯ocados se
alguém vos dissesse, talvez inocentemente: “Eu não a¯o isso
bonito;comovocêpodegostardissotantoassim?”Sim,podeaté
ser quevossentísseisprofundamenteferidos. Por quê? Porque,
intuitivamente,percebeisqueabeleza,nanaturezadialética,não
passadeaparência.Desconheceisarealidadedabelezacomaqual
poderíeis comparar vossa percepção de beleza.
Tendeis a ver a beleza na natureza, como por exemplo, numa
floresta. Porém, se a olhais mais de perto, não seria exagero dizer
queeladeixamuitoadesejar.Diantedeumapaisagem,exclamais,
entusiasmados: “Que linda!” Mas, quando vos aproximais e a observais comatenção, seguramenteo feio semanifestará, às vezes
de forma tão consternadora que, decepcionados, vos afastareis.
Durante uma excursão nas montanhas, é possível, de repente,
avistar um vale de impressionante beleza pela composição da paisagemedascores.EdgarAllanPoe,numadesuasobras,descreveu
isso de maneira incisiva. Quando os visitantes desse vale, admirados, desceram até o vilarejo, descobriram que literalmente tudo
estavaemconflitocomabelezaeaharmonia.Tiveram,então,de
curvar-se diante da contundente realidade da feiúra.
Ohomeméterrivelmentepobreembeleza,emreal
beleza,por
issoeleveneraasaparências.E,porsermuitoinfeliz,elenegao
fe
io. Inutilmente, pois construir sua vida sobre aparências, sobre
oirreal,provocafortesreaçõescontrárias.Quandodescobrisque

352 · WU WEIdeterminada situação que, de todo coração e ¯eios de convicção,
consideráveis bela, na verdade não o é, vossa primeira reação
é repelir essa descoberta. Todavia, à medida que prosseguis, a
realidade dessa feiúra vos sufoca. Isso signi ca, então, mergulhar
na aparência e degenerar através dela. Ambas, a aparência do belo
e do bem, fazem surgir o feio.
Talvez objeteis: “Se o belo e o bom não passam de aparências em nossa natureza, o mesmo deve ser dito do mau e do feio.
Trata-se, portanto, também, de aparências. Se continuássemos
assim, baseando-nos na mesma lei e no mesmo direito, poderíamos quali car de belo o que é feio e de bom o que é mau”. Mas
isso seria um erro, um tremendo equívoco! Tenta-se fazer isso no
mundo, e existem diversos grupos que se esforçam por negar a
fe
iúra, a imperfeição, a doença e o sofrimento, dizendo: “Tudo o
que é desagradável e feio não é real. Se vos agarrardes a esta ideia,
as coisas mudarão para o oposto e melhorareis”. Não obstante,
essas pessoas também contraem todo tipo de doenças, às quais
sucumbem, cedo ou tarde.
Se tentarmos negar a feiúra da vida, isso acarretará consequências desagradáveis, pois o belo e o feio, o bom e o mau não são
equivalentes. Se dizemos: “o belo é aparência”, não se pode concluir o mesmo do feio. Não, o feio é a prova de que o belo não
passa de aparência. Se vos apegais à aparência, o feio vos mostrará
que essa aparência não passa de ilusão. O feio é a prova de que
o belo não é belo, do mesmo modo que o mau é a prova de que
o bom não é bom. O belo e o bom desta natureza são, portanto,
enganosos; o feio e o mau são a prova disso. Pode-se dizer, portanto, que o mau e o feio são a essência desta ordem de natureza,
que o mau e o feio são totalmente inerentes a esta natureza. Na
verdade, este mundo é uma grande miséria. Talvez não estejais de
acordo com esta ideia, talvez ainda não estejais conscientes dela.
Todavia, prosseguindo no caminho da vida, um dia aceitá-la-eis
interiormente.

36A GNOSIS CHINESAO belo e o bom desta natureza são mentiras. Se não fosse assim,
o belo e o bom deveriam gerar o belo e o bom! Credes que, se possuísseis algo verdadeiramente bom, isso poderia transformar-se
emalgofeio, mau? Éclaroquenão! Porém, oqueconsideraisbelo
não passa de ilusão, de aparência, por isso o feio sempre aparece.
Uma pergunta poderia surgir: “Caso atacássemos tudo o que é
fe
io e mau neste mundo, não poderíamos transformá-lo em belo
e bom? Não poderíamos elevar à luz esta sociedade, este mundo,
esta natureza?”
Sabeis que a humanidade tentou fazer isso várias vezes, e muitos até hoje se esforçam regularmente nesse sentido. E também
sabeis que, no decorrer dos séculos, essas tentativas revelaram-se
negativas. Não, se quereis realmente encontrar uma solução, então tereis de, primeiro, abandonar todas as formas de apreço pela
aparência. Isso talvez vos pareça simples e, sem vacilar, respondais:
“Claro, evidentemente essa é a solução! Neste mundo, sempre
tentamos esconder sob o manto das aparências tudo o que é feio
e mau, esses aspectos fundamentais de nossa ordem de natureza.
Portanto, abaixo as aparências!” Todavia, quando neutralizais todasasaparênciasdavidacomum,quevosresta?Nadaalémdofeio,
dasolidão,doabandono:atristeza,afeiúraabsolutaemonótona!
Observai ao vosso redor: no mundo todo atualmente rejeitam-se
as aparências. E o que surgiu? O homem desumanizado, o horror,
a bestialidade.
Neste ponto, Lao Tsé já encosta o homem na parede. Muitos
combatem as aparências e se defrontam, infalivelmente, com o
fe
io, o indescritivelmente feio. Portanto, vós, como buscadores
sinceros, no beco sem saída onde a antiga Bíblia ¯inesa vos levou,
se, através das aparências e dos falsos semblantes, reconheceis e
sentis a miséria, a tristeza e a ausência de perspectiva desta ordem
denatureza, sóvosrestaumasaída: desligar-vosdestaordemdialé­
tica, dar as costas de forma absoluta a este mundo das aparências
e seguir o caminho da reversão trans gurística, o regresso à Casa

372 · WU WEIdo Pai. Vede a vós mesmos como o lho pródigo, que vive com
os porcos e come com eles no mesmo co¯o. Só resta uma saída:
abandonar esta vida de ilusões e dizer, agindo de forma a renovar
a vida: “Estou retornando ao Pai, à Casa do Pai, à Pátria original”.
Essa reversão deve, evidentemente, ter um começo e seguir
um método inicial, que descreveremos à luz do texto de Lao Tsé.
Segundo ele, esse método é o não fazer, o
wuwei. Já falamos sobre
isso na Escola Espiritual nos últimos anos. Porém, descobrimos
que a maioria dos alunos absolutamente não o havia entendido.
Evidentemente, é possível dar-vos uma descrição intelectual do
wuwei, mas de que isso vos serviria? Em que isso seria libertador?
Tentaremos fazer-vos realmente compreender o ensinamento
do não fazer e gravá-lo em vossa alma. Tentaremos fazer penetrar
profundamente em vós os ensinamentos do
wu wei, porque a
alma sábia toma o partido do não fazer.
Suponhamos que entreis na Escola Espiritual da Rosacruz Áurea
como alunos iniciantes e que estejais ¯eios de entusiasmo, de
uma intensa alegria e imbuídos das melhores intenções. Como
vosso entusiasmo suscita em vós uma grande exuberância, precipitai-vos sobre os ensinamentos da Escola e sobre a vida que ela vos
revela. Esse ardor irradiante e o dinamismo que dele decorre, que
veri camos em quase todos os alunos novos, não estão, todavia,
de acordo com o método libertador do não fazer! Absolutamente
não! Começando dessa maneira tipicamente dialética, atraís sobre vós a lei dos opostos: vós a ativais. A¯ais a Escola bela, boa,
e a cercais de uma auréola dourada. Porém, no mundo dialético,
o belo e o bom geram inexoravelmente o feio e o mau, e o belo
revela-se como uma ilusão, uma irrealidade.
Perguntamos a vós, alunos antigos, que estais, talvez, há anos
na Escola, se não conhecestes momentos em que o belo se tornou feio e monótono e onde, abatidos, vos perguntastes: “Fiz o
melhor que pude durante todos estes anos e, no entanto, o que

38A GNOSIS CHINESAme resta agora nas mãos?” Sois remetidos ao ponto de partida,
na solidão, na feiúra e na tristeza. E, como reação, pensais que
algo está errado na Escola! Porque, como tentamos demonstrar,
é a lei dos opostos que transforma o belo em feio. E, portanto,
vosso entusiasmo, vosso dinamismo apaixonado pelo trabalho,
parece não ser real com relação à única realidade divina, a qual,
só ela, existe. Em certo sentido, vosso entusiasmo foi provocado
por uma reação puramente dialética, uma reação de vossa natureza-eu. Em vista disso, em dado momento, vossa alegria provoca
decepção, tristeza, solidão e desânimo; deixai-vos levar pela força
do hábito e vos cristalizais. Um novo impulso é, então, necessário
para devolver-vos o entusiasmo e a alegria, frequentemente com
o mesmo resultado.
Assim, sois tomados por uma espécie de espasmo psicológico
com todos esses altos e baixos. E prosseguis assim. Porém, ao
refletirdes melhor, espantados, perguntareis a vós mesmos  ou a
nós: “Então não deveria eu sentir-me feliz, alegre e entusiasmado
por ter encontrado a Escola Espiritual? Não posso me regozijar e
me sentir grato por ver diante de mim o caminho da libertação?
Se essa graça e minha alegria acarretam tais desmoronamentos,
em nome do céu, que devo fazer?”
Ninguém, muito menos a Fraternidade da Salvação, quer tirar
de vós essa alegria. Mas devemos aconselhar-vos urgentemente a
submeter a um sério exame vossas reações psicológicas referentes
a essa alegria; a refletir sobre o comportamento de um homem
fe
liz e grato neste mundo, sobre o que ele faz, seja em público, seja
em particular. Por vezes seu entusiasmo o leva a fazer as coisas
mais absurdas. Ele a¯a tudo bom e belo e quer estreitar a todos
em seu coração. Semelhante pessoa terá a tendência, insensata e
ridícula, de se atirar totalmente na vida libertadora.
Ora, quando o que é santo penetra em vossa vida, é grati cante
sentir aquilo que a Bíblia ¯ama de alegria silenciosa, ter uma percepção do ensinamento sem palavras. O não fazer não consiste,

392 · WU WEIcomopoderíeistalvezimaginar,emretirar-sedomundodialético,
apartar-se da vida terrena, tornar-se anticonformista, já não aceitar a monotonia da vida cotidiana. Se sois um verdadeiro aluno,
tudo isso é evidente. Se tiverdes reconhecido a feiúra, a corrup­
ção, as aparências enganadoras do mundo dialético, se tiverdes
sondadoanaturezadamorteemsuaessênciamaisprofunda,por
acaso não vos despedireis dela? É evidente que sim. O não fazer
deLaoTsésigni canãoagarrarcomvossoeuosvalores,asforças
e a essência do Reino Imutável. É-vos dito: “Não façais”. Portanto, não o façais! Se tocais com vossas mãos as coisas do Reino
Imutável, se vosso eu se precipita sobre elas, sereis violentamente
rejeitados.
“AcarneeosanguenãopodemherdaroreinodeDeus.”Oser
humano, sob o impulso de sua própria natureza, sempre tenta
apossar-sedesseReino.Essaésuapredisposiçãonatural.Todavia
ele não pode agarrar com suas mãos as coisas do Reino Imutável.
não fazer! Em virtude de seu estado natural, não lhe é possível
apossar-se do que é divino; tudo o que ele zer para apossar-se
dodivino,paraviverodivino,acabarámal,decepcioná-lo-áeocasionará doenças, exaltação, distúrbios nervosos, distúrbios das
secreções internas e, com certeza, obumbramento pela esfera*
refletora. A nova vida não surge no eu, para o eu ou pelo eu da
natureza. O que o eu é capaz de gerar, o que lhe é possível, por
exemplo, é o misticismo ou o ocultismo. Existem na esfera refletora, ou reino dos mortos, domínios onde diversas fraternidades
ocultas se mantêm, se concentram e criaram um campo de ilusões bem determinado. É possível ligar-se a esse campo, porém,
trata-se somente de uma subida do eu no plano das ilusões, de
onde, no devido tempo, ele cai, seriamente dani cado.
Se compreendestes bem tudo isso, ca claro  uma criança o
perceberia  que para quem verdadeiramente aspira a se libertar
danaturezadamorte,oeudeveobservaronãofazerenãotentar,
de forma alguma, agarrar a nova vida, nem forçar a Fraternidade

40A GNOSIS CHINESAUniversal* e tudo o que está relacionado a ela. Não se deve fazê-lo.
Portanto, não vos concentreis, nem mediteis e, sobretudo, não
alimenteis nenhum fantasma! Observai o não fazer absoluto!
O método do não fazer é uma alegria calma e silenciosa; prossegui nessa calma alegria silenciosa, em total autorrendição ao
átomo original, o Reino em vós. Isso é “adotar o não fazer”. Isso é
compreender o ensinamento sem palavras. “Não sou eu que devo
crescer, mas Ele, o Outro, que é maior do que eu. Eu devo diminuir, eu devo desaparecer nesse Outro, o Ser oculto no átomo
original.”
Quando um obreiro da Escola Espiritual recebe uma missão,
ele começa algo extremamente difícil. Ele segue, então, um caminho tão estreito como um o de navalha. Porque ele não poderá
realizar sua missão na condição de ser-eu. Se ele o tenta, cai qual
um meteorito. Ninguém tem culpa. A Escola não o rejeita, como
alguns podem pensar; não, ele mesmo se rejeita. O obreiro tem
uma única possibilidade de levar a bom termo seu trabalho: o
caminho do não fazer. Em silenciosa alegria, ele guarda a missão
em seu coração, com extrema modéstia, e se consagra totalmente
ao mistério do átomo original. Porque é fundamentado no templo do átomo original que ele deve executar seu trabalho. É assim
que os Grandes trazem a Doutrina Universal, e a trazem sempre,
e em seguida desaparecem como névoas. Por isso, o aluno que, do
mais profundo de seu ser, cumpre sua tarefa a serviço dos demais,
não se liga e não se agarra a ela com seu eu. De modo algum o eu
se empenha. Quem se coloca à frente do trabalho, quem quer executá-lo com seu eu, dá prova de um inimaginável egocentrismo.
Ele abusa de Jesus Cristo para alçar-se ao topo do muro e passar a
si mesmo para o outro lado. Compreende-se por que a graça lhe
falta e o abandona.
Por isso o sábio adota o não fazer; ele exerce o ensinamento
sem palavras.

412 · WU WEIE eis agora precisamente o segredo, o segredo da salvação: Quando
a obra está terminada, ele não se prende a ela; e justamente por não
prender-se a ela, ela não o abandona.
Quando alguém segue o caminho da autoentrega, em silenciosa contemplação, descobre que, embora, minuto a minuto,
em seu ser interior ele se mantenha desapegado, a nova vida o
inunda com seus raios. A nova vida não lhe pertence; ela pertence
ao Outro, porém o eu dialético funde-se nela completamente e
desaparece.
Este é o ensinamento do não fazer. Este é o Caminho, a Senda.
Este é o Tao.

42
Não te deixes impressionar por honrarias, assim o povo não argumentará.
Não dês elevado valor a bens de difícil aquisição, assim o povo não
roubará.
Não olhes o que excita o desejo, assim o coração do povo não cará
desnorteado.
Portanto: o sábio governa para que os corações se tornem vazios
de desejo, para alimentar bem os estômagos, enfraquecer as más
tendências e forti car as articulações.
Ele permanentemente cuida que o povo não tenha nem saber nem
desejos.
Não obtendo total êxito, ele cuida que os que talvez saibam não
ousem agir.
Ele pratica o wu wei, e, assim, não haverá nada que ele não governe
bem.
Tao Te King, capítulo 3

433
NÃO TE DEIXES IMPRESSIONAR
POR HONRARIAS
Ao ler o terceiro capítulo do Tao Te King, notareis que ele trata,
antes de tudo, do problema social, e, visto super cialmente, poderíeis pensar que seu conteúdo está, para nós, homens do século
XX, completamente ultrapassado. Lendo este texto, um político
atual voltado para as questões sociais daria de ombros, sacudiria a cabeça com comiseração e diria: “Por mim, podeis deixar
o
Tao Te King no fundo de vossa biblioteca; seu conteúdo está
ultrapassado e é terrivelmente conservador para os partidos de
hoje”.
Não seguiremos este conselho e examinaremos mais de perto
esse assunto. Compreendemos que esta parte é intencionada para
dirigentes, porém para uma classe de dirigentes desconhecida
em nossa época, dirigentes que estariam na nova vida, que nela
viveriam. O sistema de governo aqui aconselhado não poderia ser
aplicado em nossa época, ninguém o quereria empregar e contra
ele o povo se insurgiria.
Trata-se aqui de um sistema de governo, de um comportamento político-social que nos remete ao tempo em que a China
era ¯amada, com justiça, o “Império Celeste”. Em nossa opinião,
é um sistema que o misterioso Akhenaton aplicou experimentalmente no Egito antigo. Seu reinado, contudo, teve curta duração,

44A GNOSIS CHINESAsendo aniquilado pelas intrigas do clero malintencionado. De
qualquer forma, este capítulo político-social do
Tao Te King, embora não ultrapassado, já não é aplicado; entretanto, atualmente
talvez seja muito adequado para os pais no tocante à criação de
seus lhos.
No entanto, gostaríamos de analisar este terceiro capítulo de
maneira detalhada, pois ele nos dá uma imagem clara e muito instrutiva de uma época pré-histórica de uma onda de vida humana,
de uma época que remonta a bem mais de dois mil e quinhentos
anos, em que se diz que o Tao foi escrito. Vemos aqui uma prova
de que o Tao tem milhares e milhares de anos.
Voltemos, pois, ao início da última época, a época Ariana, na
qual o remanescente da humanidade decaída voltou a manifestar-se na natureza dialética. Esse remanescente era o grupo dos
que não puderam ser libertos e reconduzidos à vida original na
época precedente.
Éevidenteque, embora tratando-sede remanescentes, esseshomens eram, não obstante, lhos de Deus. Por isso a Fraternidade
Universal, desde a aurora de sua nova existência, cercou esses
“remanescentes” do maior cuidado, a m de poder colocar as
bases para um possível retorno. Nessa época, inúmeros enviados
da Fraternidade Universal, numerosas criaturas salvas, misturaram-se, portanto, à humanidade, manifestando-se novamente e
intervindo na condição de governantes, reis e sacerdotes. Todas
essas autoridades formavam, em conjunto, uma sublime Fraternidade a serviço dos “últimos remanescentes”. Todos os que dela
participavam estavam internacionalmente ligados e governavam
a humanidade, novamente colocada à prova, segundo um sistema
internacional coordenado, um sistema político-social do qual o
terceiro capítulo do
Tao Te King nos dá uma ideia.
Imaginai que sois um desses governantes e que conheceis os
grandesperigosqueestãoescondidosnailusãoenaleidosopostos.
Quando um homem busca a libertação no plano horizontal e

453 · NÃO TE DEIXES IMPRESSIONAR POR HONRARIASseus esforços lhe revelam a realidade de seu aprisionamento ou
do progresso no plano horizontal, e ele, não obstante, persevera
em sua atividade, acelerará a rotação das forças contrárias. Então,
afundará cada vez mais, no pântano da morte e da cristalização.
Ele se enredará mais e mais na autodefesa e na luta.
Suponde agora que um grupo de homens seja colocado sob
vossa responsabilidade, que saibais que esses homens acabam de
despertar de uma noite cósmica após uma terrível queda e que
todos estão de posse do botão de rosa; e que conheceis, por experiência própria, as ilusões e as degradações da natureza dialética.
Que faríeis?
Sem dúvida, esforçar-vos-íeis para impedir o desenvolvimento
da cultura no sentido dialético. Com extrema prudência, conduziríeis esse povo na condição que vos pareceria a única possível.
Tentaríeis protegê-lo contra os arcontes dos éons, contra as influências da natureza da morte. E em tudo o que zésseis por ele,
teríeis uma única preocupação: o retorno ao Lar.
Todavia, o povo não conhece esse objetivo mais do que uma
criança que acaba de nascer. Ele só sabe de uma coisa: “eu sou, eu
vivo”! Ele deve viver segundo o seu estado de alma: para ele é o
su ciente.
Suponde que sejais um homem desse tipo e que estejais a nossos cuidados na Escola Espiritual, a qual se mantém distante da
matéria. Que deveríamos fazer? Deveríamos tentar manter-vos
tão longe quanto possível da degradação dialética do cosmo. Não
tentaríamos manter-vos numa tola ignorância, mas tentaríamos
guardar-vos das tentações da queda, cercando-vos com uma esfe
ra vibratória pura. E, enquanto isso, nos esforçaríamos para
cumprir essa grande tarefa: esvaziar o eu para que a rosa imutável
pudesse desabro¯ar.
Agora que um dia de manifestação se aproxima do m e que
um grande esforço está sendo feito para que o maior número
possível de entidades participe do terceiro campo magnético, é

46A GNOSIS CHINESAnatural que nos voltemos para o início desse dia de manifestação
em que a Fraternidade, malhava o ferro enquanto ele ainda estava
quente, esforçou-se, nas circunstâncias da época, por salvar o
maior número possível de homens, e o fez com grande sucesso!
Uma multidão foi ajudada no caminho da libertação nos templos
dos mistérios da Fraternidade de Shamballa.
O terceiro capítulo do
Tao Te King contém instruções destinadas aos reis, aos sacerdotes e aos governantes que viveram na
aurora da manifestação Ariana:
Não te deixes impressionar por honrarias, assim o povo não
argumentará.
Glória e honrarias são aguilhões dialéticos que levam à ação, e
tudo começa assim. Geralmente é fácil especular sobre a ambi­
ção de outrem. E vemos até que ponto nossa assim ¯amada
civilização caiu devido à atribuição de títulos honorí cos em
recompensa por resultados atingidos por ambição. E quanta luta
entre os ambiciosos que têm a mesma cobiça! A ambição é a base
sobre a qual estão assentados os métodos econômicos, quem gera
guerras. Por isso ca evidente que os guias originais da humanidade não atribuíam nenhum brilho à sua eventual dignidade, a
seu estado. Dessa forma, eles cuidavam para que não surgisse inveja. A dignidade, a verdadeira dignidade, é exclusivamente de
ordem espiritual, e o caminho que leva até ela está franqueado a
todos.
Nenhuma importância era dada aos bens de difícil aquisição.
Pensai aqui no metal nobre. Sabemos que, dentre os povos antigos, a sede pelo ouro era inexistente simplesmente porque não
se podia adquirir nada com ouro  o metal solar. Nenhum sistema econômico era baseado na raridade de um produto, o que
excluía o roubo, desconhecido naqueles tempos. Nenhum membro da Fraternidade tinha desejos terrenos, portanto nenhum

473 · NÃO TE DEIXES IMPRESSIONAR POR HONRARIAS lho dos homens era perturbado por maus exemplos. Graças a
essas regras, os sábios mantinham os corações livres de desejos;
eles cuidavam para que houvesse uma partilha absolutamente
lógica da produção necessária para a alimentação do corpo. Eles
cavam atentos às tendências de cada um. Quaisquer eventuais
influências de forças imateriais eram neutralizadas e zelava-se
pela saúde de todos.
Os povos não conheciam nem a pobreza nem as doenças, e
cuidava-se para que, nos templos, emanasse uma boa atmosfera
do campo de força. Por conseguinte, o povo era mantido na
ignorância de uma possível degradação, e os desejos funestos também eram aniquilados. O inimigo cava sem força. Dessa forma,
durante milhares de anos foi mantida uma vida dialética ideal.
Torna-se evidente que, naqueles tempos, as poucas entidades
tomadas pelo espírito de degradação não podiam, de modo algum, agir em semelhante campo de força. Toda a Fraternidade
de Shamballa observava diariamente a prática do não fazer, com
suas consequências abençoadas.
São tempos passados. Depois da grande colheita, na aurora da
época Ariana, as coisas seguiram seu curso habitual até nossos
dias. A Fraternidade adaptou-se a cada situação e prosseguiu em
sua obra de salvação até este momento.
Devemos sentir-nos extremamente gratos pelo fato de que o
método do não fazer, caso aplicado, ainda não tenha perdido sua
fo
rça, pois é possível observar as regras sociais deste capítulo na
Escola Espiritual da Rosacruz Áurea. Se os obreiros se comportarem segundo essas indicações, conduziremos os alunos até o
objetivo com o mínimo de perturbações possível.
É preciso enfatizar que esse antigo evangelho, essa síntese da
Doutrina Universal, em todos os séculos como até hoje, nunca
deixou de ser o manual prático do santo trabalho! Por essa razão damos particular ênfase aos últimos versículos deste terceiro
capítulo:

48A GNOSIS CHINESAEle permanentemente cuida que o povo não tenha nem
saber nem desejos.
Não obtendo total êxito, ele cuida que os que talvez saibam
não ousem agir.
Ele pratica o
wu wei, e, assim, não haverá nada que ele não
governe bem.
Na prática, essas regras equivalem a dizer que os verdadeiros
alunos da Escola Espiritual são reunidos e alimentados por um
campo de força que preen¯e bem sua função. Ele zela pelo discipulado de seus alunos em todos os aspectos. E os protetores do
campo de força não permitem, portanto, que influências estranhas nele penetrem, opondo-se ao verdadeiro trabalho. Todos os
que, de seu íntimo, ousam atacar o campo de força, o que ocorre
frequentemente, dele são afastados sem perdão. E os guardiães
do campo de força zelam para que os que ainda se encontram
no campo de força e gostariam de agir não ousem nem possam
fazê-lo.
Poder-se-ia perguntar: “Nunca se considerou algo como sendo
agitação, ou tentativa de agitação, e que na realidade não o era,
ou que talvez fosse algo justamente feito no interesse do campo
de força? Os guias e os guardiães do campo de força não estariam
assumindo uma posição autoritária?”
Eis a resposta: “Se os protetores do campo de força se mantêm
no
wu wei, no total não fazer, em serviço impessoal e fraternal,
não existe motivo algum para que não possam governar bem. Não
ocorre nenhum desenvolvimento dialético, surgindo unicamente
um desenvolvimento neo-esotérico positivo”.
De que modo podemos veri car isso? Através dos fatos e dos
resultados. Observai os fatos e sabereis.


50
O Tao é vazio, e suas radiações e atividades são inesgotáveis.
Oh! Quão profundo ele é. Ele é o Pai original de todas as coisas. Ele
abranda sua acuidade, simpli ca sua complexidade, modera seu
brilho ofuscante e torna-se semelhante à matéria.
Oh! Quão calmo ele é. Ele é por toda a eternidade.
Ignoro de quem ele possa ser Filho. Ele era antes do supremo Deus.
Tao Te King, capítulo 4

514
O TAO É VAZIO
Tudo o que está contido no quarto capítulo, bem como em todo
o conjunto do
Tao Te King, destina-se não ao homem das massas,
mas aos verdadeiros alunos que estão no caminho. Não se trata
de um mero relato referente a determinado sistema losó co,
porém de diretrizes e de leis que devem ser seguidas na senda. Ele
não fornece apenas um pequeno número de prescrições, porém
o conjunto das orientações que se devem conhecer para evitar
enganos. Trata-se da verdadeira lei real.
Todavia, seu conteúdo não se dirige unicamente a entidades
muito avançadas, o que di cultaria a compreensão dos iniciantes.
Ao contrário, este evangelho tem exatamente tudo a dizer aos
iniciantes sérios. Não é exatamente esse “início difícil” que nos
apresenta armadilhas? Um único erro pode esgotar-nos, deixar­
-nos doentes e tirar-nos as energias a tal ponto que, por muito
tempo, poderemos permanecer no ponto morto. Portanto, todos
os principiantes devem ler o
Tao Te King, relê-lo, estudá-lo e,
por assim dizer, soletrar cada palavra. Quando compreenderdes
a palavra do
Tao Te King, ela vos será de auxílio nas situações
difíceis.
Tomai tão-somente as primeiras palavras do quarto capítulo:
O Tao é vazio. Para a compreensão comum, para os sentidos comuns, ou seja, o tato, o paladar, o olfato e a audição, o Tao é vazio
52A GNOSIS CHINESAe imperceptível. Não se pode conceber o Tao pelo pensamento,
e qualquer ideia sobre o assunto é apenas parcial e inexata. É impossível atrair ou dirigir o Tao através do poder magnético da
vontade; segundo a realidade dialética, o Tao é totalmente vazio.
Esta é a razão pela qual o método do não fazer vos é aconselhado,
não apenas como um modo de agir, porém como a base absoluta
parao verdadeiro trabalhode salvação. O eunão tem condição
de empreender o que quer que seja de essencialmente libertador.
Para isso, os poderes intelectuais ou místicos não têm o menor
valor. Para o homem, o Tao é vazio.
A vacuidade do Tao com relação ao poder dialético, ao eu e
ao estado atual do microcosmo tem como consequência lógica
que seucampo vibratório  que é o campoastral sereno daFraternidade  ultrapassa de longe em sutileza, frequência e poder
o campo de vida desta natureza. O Tao se transmite num campo
astral magnético diferente do campo de vida comum.
“Não está certo”, direis, “pois dissestes que o Tao se torna semelhante à matéria”. Todavia deveis compreender essas palavras
da seguinte forma: “O Tao tem um amor in nito pelo homem
decaído”.Massoisvósrealmenteumhomemdecaído?Demodo
algum. Pertenceis a esta natureza. Sois desta natureza. É perfeitamente possível descobrir e determinar vosso começo e vosso
m.Soisumapuramanifestaçãodanatureza,umser-almamortal.
Por que razão, então, não vos sentis em casa aqui embaixo? Por
que razão vos sentis solitários e abandonados? É devido à reação
do “Outro” em vós. É a atividade do átomo original, da rosa 
e de tudo o que ela encerra. É para esse “Outro” que se dirige o
Tao, que se manifesta o Tao. No entanto, para vós o Tao é vazio.
“Que devo fazer, então? Por que eu me esforçaria por tudo
isso?”
Pois bem,é porque esse Outro, a quem o Tao se destina, está
aprisionadoemvós, esó podereislibertá-lopermitindoqueele
desperte em vós, através da autorrendição e de vossa dissolução.

534 · O TAO É VAZIOEsse trabalho deve ser feito na prática do wu wei, do não fazer.
É a autorrendição ao átomo original no microcosmo. Não é um
drama, como já o dissemos, não se trata de uma espécie de autodestruição, porém, nessa autorrendição o eu dialético se perde
no “Outro”, algo do antigo eu é substituído pelo novo eu, cujo
brilho é visível. Por isso Paulo dizia, jubilante: “Não eu, mas o
Cristo em mim”. Enquanto o eu da natureza comum não se entrega ao “Outro”, enquanto ainda não se conhece o
wu wei, o
Tao permanece vazio.
Como é do vosso conhecimento, não existem duas pessoas
perfeitamente iguais. Embora tenhamos todos seguido o mesmo
caminho descendente, esse caminho toma as cores das experi­
ências e dos acontecimentos pessoais que tiveram uma grande
influência sobre o estado do átomo original no decorrer de inúmeras encarnações do microcosmo, na qualidade do botão de rosa e
no seu aprisionamento. A princípio, portanto, todos os homens
são muito diferentes perante o grande trabalho a ser executado.
Quando eles penetram no vale da morte da autorrendição, encontram-se todos em absoluta solidão. E é evidente que, nesse
momento, nenhum amigo terreno pode ajudá-los.
Todavia, isto não deve inquietar-vos, mas atentai para o que
diz o
Tao Te King. Assim que o peregrino entra em seu próprio
vale da morte, descobre que as radiações e as atividades do Tao
são inesgotáveis. O candidato descobre que é ajudado, que o Tao
cuida dele, mesmo em seu estado! Quão maravilhosa é essa verdade! Mais maravilhoso ainda é experimentá-la. As radiações e
as atividades do Tao são inesgotáveis.
Sabeis que vossa personalidade se encontra no centro de um
campo magnético. Falamos do campo magnético do microcosmo.
Por seu intermédio, a alma mortal está ligada ao microcosmo
e também ao macrocosmo da natureza da morte. As radiações
eletromagnéticas da natureza da morte gravaram uma rede de
pontos magnéticos nesse campo, uma rede elaborada de tal forma

54A GNOSIS CHINESAque dirige inteiramente o estado de vida dos seres humanos. Ora,
em princípio, cienti camente não é impossível para as radiações
eletromagnéticas de ordem superior, de vibração superior, aí se
manifestarem. A Gnosis pode, portanto, nela manifestar-se e impregná-la com sua influência, com todas as consequências daí
decorrentes. Todavia, esse desenvolvimento ocorre graças à autorrendição, pelo processo da rosa. O candidato experimenta,
então, a bênção de uma nova ligação astral magnética.
Observai que a palavra “candidato” (do latim
candidus, branco
puro) signi ca “vestido de branco”. Sois alunos da Escola Espiritual, porém porventura sois também “candidatos”, quer dizer, revestidos da branca pureza de vossos motivos, em total e autêntica
autoentrega?
O Tao só vem a vós nessa pureza, e é unicamente nessa pureza
que a força do corpo-vivo da Escola Espiritual se torna parte
vossa.


56
A onimanifestação não é humanitária, e todas as coisas são para ela
como “cães de palha”.
O sábio não é humanitário e considera o povo como “cães de palha”.
O Universo é semelhante a um fole. Ele é vazio e jamais se esgota.
Quanto mais se movimenta, mais ele manifesta.
O excesso de palavras leva ao esgotamento. É melhor manter o
autocontrole.
Tao Te King, capítulo 5

575
A ONIMANIFESTAÇÃO NÃO É HUMANITÁRIA
É provável que já tenhais tomado conhecimento de alguma verdade de maneira mais teórica do que prática, até o momento em
que, por detrás dessa verdade, a realidade surgiu e a luz se fez.
O mesmo acontece com o aluno que, ao colocar em prática o
wu wei e descobrir que o Tao é inesgotável, sente a existência de
uma atividade gnóstica que se adapta especialmente a seu estado
de ser. Dá-se o mesmo com o homem que descobre que não é
nenhuma exceção nem especialmente abençoado, porém que as
inesgotáveis radiações de amor do Tao criaram uma ponte para
a libertação de todos, mediante uma ligação magnética gnóstica
no plano astral. Então, as palavras de Lao Tsé tornam-se claras
para ele:
Oh! Quão profundo ele é. Ele é o Pai original de todas as
coisas.
Então, têm início para esse homem as inúmeras experiências do
processo de salvação. Aqui estais com vosso microcosmo decaído.
Mas, quem sois vós comparados à incomensurável glória do Tao?
Não obstante, essa imensidão cuida de vós! Ela vos descobriu e
ela vos toca.

58A GNOSIS CHINESAEleabrandasuaacuidade,simpli casuacomplexidade,modera seu brilho ofuscante e torna-se semelhante à matéria.Ele se torna semelhante a vós, a todos, em vossa condição particular, desde que vos mantenhais em autorrendição. Que graça
maravilhosa,quetomadadeconsciênciaequebaseconcretapura!
De outro modo, como poderíeis ser ajudados?
Nenhum aluno é forçado. A Gnosis se adapta a cada situação.
Ela acompanha vosso ritmo; ela está perto de vós a cada milha
que caminhais, contanto que vos entregueis a ela totalmente,
contanto que sejais um “candidato”. O Tao sempre se torna perfe
itamente semelhante a vosso estado na matéria; ele abranda
sua acuidade, simpli ca sua complexidade e modera seu brilho
ofuscante. Nada pode acontecer-vos.
Suponde agora que abandonásseis vosso trabalho de libertação.
O Tao imediatamente voltaria a ser vazio para vós, porém ele vos
aguardaria com incomensurável amor, durante milênios. Por isso
é dito: Oh! Quão calmo é o Tao, a calma primordial, a quietude
inalterável.
Existe certa agitação na Escola Espiritual moderna, e dizemos
que “o tempo ¯egou” devido à situação, bem compreensível, no
m de um dia de manifestação. Antes que a noite caia, a Fraternidade gostaria de poder salvar-vos. Todavia, nada disso perturba
a calma e a serenidade do Tao, porque o Tao é eterno. Ele vos
aguarda há uma eternidade. Ele vos aguardará por toda a eternidade. Jamais existirá um tempo em que o Tao não esteja presente.
Ele não tem idade.
Ele existia antes do primeiro Deus. Inúmeros
irmãos e irmãs, sublimes e gloriosos em sua majestade, estão indizivelmente longe de nós, porque por detrás de todos eles está o
Tao; acima dos maiores dentre eles reina o Tao.
E o Tao quer, por vós, tornar-se semelhante à matéria;
ele
abranda sua acuidade, simpli ca sua complexidade, modera seu
brilho ofuscante,
desde que desejeis tornar-vos um “candidato”.
595 · A ONIMANIFESTAÇÃO NÃO É HUMANITÁRIAColocamo-vos agora perante o quinto capítulo do Tao Te King:
A onimanifestação não é humanitária, e todas as coisas são
para ela como “cães de palha”.
O sábio não é humanitário e considera o povo como “cães
de palha”.
O Universo é semelhante a um fole. Ele é vazio e jamais se
esgota. Quanto mais ele se movimenta, mais ele manifesta.
Oexcessodepalavraslevaaoesgotamento.Émelhormanter
o autocontrole.
As palavras A onimanifestação não é humanitária poderão, talvez,
parecer-vos um aforismo desconcertante. Se essas palavras contêm a verdade, para vós toda uma maneira de ver o mundo e a
vida deve desabar.
Comefeito,taléaintençãodaantiquíssimarevelaçãouniversal
que denominamos o
Tao Te King. Se compreendeis o que Lao
Tsé quer transmitir-vos, tudo se desintegra. A imagem do mundo,
que a humanidade fez para si mesma como uma projeção de
slides,se despedaça. Uma imagem transmitida de geração em geração
desde o surgimento do homem.
Sabeis o que é amar; conheceis o amor em uma ou outra forma
de radiação. Colocando-se de lado os aspectos e manifestações
inferiores, sabeis o que signi ca o amor por vosso cônjuge, vosso
lho, por vossa família, eventualmente por um grupo de pessoas,
um povo ou uma raça. Tendes amigos pelos quais nutris sentimentos de amor. E há em vós, em maior ou menor medida, certo senso
de humanidade. Mediante esse senso de humanidade tendes e
conheceis vosso amor ao próximo, vossa diligência pelos necessitados, vossa atividade para elevar a humanidade a um plano

60A GNOSIS CHINESAsuperior, vossa aspiração nesta Escola e tantas outras orientações
semelhantes.
Sabeis de tudo isso. Sabeis que se trata de ações e expressões
de amor do coração humano, com todas as consequências decorrentes, sem as quais a humanidade não poderia viver. A única
coisa que ainda dá um pouco de valor à vida, qual um clarão, é o
amor humano, não importa qual a sua natureza. Se o homem não
conhecesse o amor, se ele não tivesse amor, sua vida se tornaria
inimaginável, impossível e inaceitável. Quanto mais civilizado é o
homem, mais belo é seu amor, bem como seu comportamento no
amor. Não existe um único mortal sobre a terra que não conheça
o amor, de um modo ou de outro, ou pelo menos um sentimento
de amor. A literatura mundial dá provas disso. Resumindo, é o
amor que move o mundo.
Reflitamos,porém.Quandodizemosque“oamormoveomundo”, na verdade, queremos também dizer que “o amor mantém
a manifestação dialética, a natureza da morte”. Não existe algo
assustador nisso? Não é diabólico? O amor que é parte integrante
devossosermantémanaturezadamorte!NãodizaBíblia:“Deus
é amor”? Sem dúvida, admitis que vosso amor é limitado, egocêntrico e maculado, não obstante ser um remanescente caricatural
do original, do divino, e que mudará assim que sigais o caminho.
Não, diz o Tao:
a onimanifestação não é humanitária. Ela não
conhece o amor. E vós vos entreolhais desalentados, dizendo:
“Onde está o erro?” Há séculos que essa pergunta vem sendo
fe
ita. Por isso, nós também a fazemos: “O que há de errado?” Será
que nosso amor deveria ser assexuado ou algo parecido; deveria
ele ser mais geral, mais re nado?
Não, diz o Tao:
a onimanifestação não é humanitária de forma
alguma. E eis que toda a vossa visão do mundo e da vida desaba e
vos sentis sem apoio!
Queseesperadevós?Nada!Considerandoarealidadedevosso
ser, só vos resta seguir vosso destino, com todas as sequelas das

615 · A ONIMANIFESTAÇÃO NÃO É HUMANITÁRIAações e reações psicológicas. Se, de alguma forma, bloqueásseis as
atividades psicológicas de vosso ser, vos encontraríeis logo numa
situação insuportável. Quanto mais vosso comportamento for
normal emvossacondiçãodeentidadedanatureza,vivendona
natureza,tantomelhor.Isso,todavia,nãoimpedeoTaodenão
possuir amor humano!
Portanto,aúnicaconclusãoaquesepode¯egaréque,quando
aBíbliafaladeamorediz:“Deuséamor”,trata-sedealgototalmente diferente da ideia que temos do amor. O amor de Deus
nãoésupra-universal,ouassexuado,ouqualqueroutracoisado
gênero. Ele é e almeja algo totalmente diferente! Tentaremos
demonstrá-lo.
Nosegundocapítulodo
Tao Te Kingéditoqueobelogeraofeio.
Demonstramo-lo em detalhes. O feio é a prova de que o belo é
mera aparência e ilusão, não sendo uma realidade presente nesta
natureza. Também, da mesma forma, pode-se dizer: o amor gera
oódio.Eaexistênciadoódioéaprovadequeoverdadeiroamor
é um grande desconhecido para o homem, que o amor não pode
serencontradonestemundoeque,naverdade,elenãopassade
ilusão.
A Bíbliadizqueoamortriunfasobretudo; oamorliberta; o
amoré a maiorforça domundo. E inúmeros romances têm por
tema:“Antesdetudo,oamor!”Porque,bem,sedefatooamor
libertasseetriunfasse, ohomemeo mundoestariamlibertoshá
éons! Ora, quem ousaria a rmar que o amor que conhecemos
nãopassade enganoementira? Háinúmeraspessoas,inúmeros
gruposdenívelmuitoelevado,quecolocamempráticaafórmula:
“Antes de tudo, o amor!”, e alguns deles fazem disso o lema de
suas vidas. Ora, essas manifestações de amor tiveram, através dos
séculos, e ainda têm, tamanha amplitude, foram tão cultivadas e
organizadas,queavibraçãoeasforçasdelasliberadasdeveriam,há
muitotempo,tertransformadoestemundonumparaísoceleste!

62A GNOSIS CHINESAPorém, não é o caso! O belo gera o feio, o bem gera o mal e o
amor gera o ódio. O amor é um braseiro, o ódio, um incêndio. O
amor terreno é mero instinto de conservação, pessoal ou impessoal. É o eu que almeja a divinização, daí ele desperta o oposto; o
ardor fomenta o incêndio.
Muitas pessoas, repletas de amor, reúnem-se em templos e centros para meditar e para irradiar forças com a nalidade de elevar
a humanidade, preservá-la do mal e evitar guerras. No entanto,
esses templos e esses centros, são, por excelência, focos de guerras
que semeiam e irradiam o ódio. É muito agradável quando alguém
¯ega até vós repleto de amor. Por outro lado, cais precavidos
quando alguém se aproxima de vós com ódio. A vida natural se
desenvolve entre esses dois polos. Amor e ódio são duas forças
que se mantêm mutuamente. Podeis a rmar: “Não tenho ódio,
desconheço o ódio”. Retrucaremos: “Claro que conheceis o ódio!
Não podeis escapar disso!” Como acontece com o amor humano,
a escala vibratória do ódio comporta diversos graus de expressão.
Tendes vossas simpatias e vossas antipatias. A antipatia é uma
aversão natural, uma forma de ódio. Ela é o oposto da simpatia,
portanto o oposto do amor natural. Diariamente podeis veri car
que estais de mau humor, que sentis rancor por alguém, porque
estais indignados ou sois a vítima de uma suposta injustiça. Em
nossos centros de conferências, algumas centenas de pessoas, ligadas pelo espírito, reúnem-se algumas vezes. Todavia, algumas
não se olham, são indiferentes, estão melindradas: o oposto do
amor.
Examinai vosso comportamento como um todo, e reconhecereis estardes familiarizados com tudo o que é humano. O ódio 
a essência do ódio  pode manifestar-se por suas labaredas muito
intensas, mas também pelo ardor lento de seu fogo. Na natureza,
podeis apagar as ¯amas de um incêndio, porém, não o fogo encoberto do ódio. O amor é necessário na natureza, porém o ódio
é seu irmão gêmeo. E quanto a isso, nada podeis fazer! Quem

635 · A ONIMANIFESTAÇÃO NÃO É HUMANITÁRIAcultivao amor, cultivao ódio.Éumalei. Na naturezada morte,
o ódio é uma defesa tão essencial, tão egocêntrica quanto o amor.
Amor e ódio são os dois pratos de uma balança em contínua oscilação.Emcertomomento,soisaprópriaimagemdaamabilidade;
nomomentoseguinte,opratodabalançaoscilaparaooutrolado.
Notai-o: essa mudança incessante é realmente assustadora. O ser
humano é um pobre diabo, corroído pelo amor e pelo ódio, os
doispoderososfogosdoinfernonoqualelefoijogado.Seuamor
eseuódiosãodespertadossobumaformaououtra,cadaqualpor
sua vez, e assim ele mesmo acende o fogo de seu próprio inferno.
Compreendeis agora por que o Tao está fora disso tudo, por que
ele se mantém à distância?
Assim como é impossível imaginar a Gnosis semeando ódio,
tampouco é possível, segundo o esquema indicado, pensar numa
Gnosisamorosa.AGnosisnãovosamasegundovossaconcepção
dialética das coisas.
A onimanifestação não é humanitária e considera as atitudes amorosas “cães de palha”, que na China antiga
serviam de oferenda. Por conseguinte, o sábio, ao elevar-se na
onimanifestação, não tem amor humano e considera os homens
“cães de palha”, animais.
O que a Bíblia quer dizer quando a rma: “Deus é amor”? Pois
bem,algototalmentediferente.Parapodercompreendê-loum
pouco,devereisrenunciaràimagemquetendesdoamoremvossa
vida e no mundo. É preciso destruir essa imagem como tantas
outras que povoam vosso panteão.
A manifestação divina é animada por um ritmo universal que
estápresenteatémesmonomenorátomo.Esseestadodesernão
conhece nenhum estado oposto, não projeta nenhuma sombra
ameaçadora e gera a si mesmo imutavelmente. Aí o bem não é o
contrário do mal, nem a beleza o oposto da feiúra, nem o amor o
oposto do ódio, nem a ilusão o oposto da realidade. O amor não
é um atributo da Gnosis; o amor não emana da Gnosis: a Gnosis

64A GNOSIS CHINESAéamor.Emoutraspalavras,oamordeDeusnãotempreferências,
não luta, não se particulariza. Ele é em si mesmo.É uma ordem
do mundo; é o próprio mundo! Por isso podemos comparar sua
fo
rça incomensurável à de um fole. Quando ativamos de forma
ritmada um fole, ele gera uma grande força. Da mesma forma, o
ritmo da manifestação universal gera uma grande força, e tudo o
que se lhe opõe não pode subsistir.
Se compreendestes claramente tudo isso, compreendereis melhor do que nunca quão sem esperança e sem perspectiva é a
natureza da morte. E desperdiçareis o mínimo de palavras possí­
vel para o que é tão sem esperança. Já não argumentareis com os
quenãocompreendemisso;deixareisomundotalcomoeleé.Em
total autocontrole e praticando a verdadeira religião, dirigir-vos­
-eis unicamente para quem está em condição de receber o ritmo
universal, para o que se assemelha a ele: o átomo maravilhoso, a
rosa do coração, o Reino que não é deste mundo.


66
O espírito do vale não morre; ele é ¯amado a Mãe mística.
A porta da Mãe mística é a fonte da realidade.
Essa manifestação perdura eternamente e parece ter uma existência
ininterrupta.
Segui essa corrente de vida e não tereis necessidade alguma de vos
movimentar.
Tao Te King, capítulo 6

676
O ESPÍRITO DO VALE NÃO MORRE
O espírito do vale é o símbolo do santuário do coração, o centro do microcosmo. É a Mãe mística, o botão de rosa, o átomo
original. Esse símbolo não deve surpreender-nos ou parecer-nos
complicado, pois ele é frequentemente mencionado na Bíblia. Encontramo-lo, por exemplo, em Ezequiel, cap. 3: “E levantei-me, e
saí ao vale; e eis que a glória do Senhor estava ali, como a glória
que vi junto ao rio Quebar”. Quebar signi ca aorta; o sentido
desta palavra ca, portanto, muito claro para nós. Se o buscardes,
percebereis que com frequência encontrareis essa mesma imagem.
Em outra passagem do livro de Ezequiel (37:1), fala-se de um vale
¯eio de ossos. Descendo através desse vale, o profeta vê que a
verdadeira vida está totalmente morta ali e como ela pode ser
restaurada pela força divina.
O espírito do vale nunca morre. Todos os portadores do botão
de rosa, do átomo original, carregam consigo a imortalidade. O
espírito do vale é um Espírito Sétuplo, como também é sétuplo o
átomo original.
A Doutrina Universal nos explica que o coração é o órgão
mais importante do corpo. Pode-se dizer que o coração é “o rei
do corpo”. Com alguns cuidados, o coração tem a possibilidade

68A GNOSIS CHINESAde viver ainda algum tempo após a morte da personalidade, e o
ponto do coração que morre por último é a sede da vida. Devemos
considerar essa morte como a retirada de algo imortal. A sede da
vida é o “espírito do vale”.
Esse átomo original, esse botão de rosa, essa sede da verdadeira
vida, contém o poder do pensamento, a vida, a energia e a vontade;
ele irradia cores irisadas, opalescentes, ígneas. Geralmente, isso
é do conhecimento dos iniciados, e é claro que se pode observar
no homem, através da irradiação da rosa, pela intensidade do
brilho opalino e pelo poder luminoso, se o botão de rosa está
efetivamente aberto.
Neste caso, Deus, o espírito do vale, fala com ele. Falar com
Deus no vale implica uma ligação com o campo magnético gnóstico, uma ligação com o novo campo de vida. E as radiações
opalescentes, ígneas e irisadas que abrasam o microcosmo inteiro
traduzem a existência e a força da Gnosis no homem. É Deus
falando para o homem dialético e no homem dialético. E essa
palavra, essas radiações, explicam a total mudança trans gurística.
Toda cura provém do trabalho que se efetua na sede da verdadeira vida, tornando-se, pois, evidente a razão pela qual se fala da
Mãe mística no
Tao Te King. Assim como a mãe gera a criança,
o novo homem surge da sede da vida. A porta da Mãe mística é,
portanto, a fonte da realidade.
O novo pensar, a nova vida, a nova energia vital e a nova vontade devem, pois, nascer no coração. Qualquer vida supostamente
nova que fosse gerada pelo santuário da cabeça não poderia ser
nem renovadora nem libertadora. Compreendei que tudo o que
pensais, desejais, formulais e concebeis da maneira habitual, eventualmente com a melhor das intenções, decorre da fonte comum
do eu. No coração, descobrimos o único Deus que se manifesta
a nós, segundo as palavras de Jesus, o Senhor: “O reino de Deus
está dentro de vós”. O coração deve, pois, vencer a cabeça, como
a Escola nos ensina continuamente.

696 · O ESPÍRITO DO VALE NÃO MORRESe quiserdes encontrar a senda de outro modo, pelo caminho
oposto, seguireis a via do ocultismo, portanto vos prendereis à
roda* do nascimento e da morte. É por isso que a consciência da
natureza comum deve entregar-se ao Deus manifestado em nós,
à Mãe mística.
Jesus diz: “Estou à porta e bato”. Ora, encontramos essa porta
exclusivamente no vale da vida, no santuário do coração. Quem
não quer abrir essa porta liga-se à natureza, e Deus não pode
falar-lhe no vale.
O aluno que adentra por essa única porta, a porta da Mãe mística,
descobre não apenas que a fonte da realidade se encontra atrás
dessa porta, como também que a manifestação que aí começa
durará eternamente. E evidentemente ele tira disso conclusões
irrefutáveis.
Algumas pessoas dão ao conceito “eternidade” o signi cado
de duração sem m; portanto de um estado do tempo. Todavia,
quem transpõe a porta da Mãe mística liberta-se do espaço-tempo,
portanto ele entra num campo de radiações eletromagnéticas
completamente diferente, num campo de vida totalmente outro.
É preciso que compreendais que tendes em vós o imortal
espírito
do vale,
que não vos abandonará enquanto estiverdes errando
pelo espaço-tempo. Ele é o Deus cativo, é Prometeu acorrentado.
Esse Deus em vós quer tornar-se a Mãe mística. E agora o sabeis,
a porta que leva até ela é a fonte da realidade e a libertação eterna
do espaço-tempo.
O espírito do vale vos fala; ele contém em si a faculdade mental,
a vida, a energia e a vontade. Perfeitamente organizado, ele vos
fala do fundo de sua prisão, como a es nge ao jovem príncipe
Tutmés: “Olha para mim, meu lho, e vê minhas correntes”. Ele
desperta em vós a angústia de vosso estado pecaminoso, de vossa
miserável existência.

70A GNOSIS CHINESAA voz da consciência emana do coração; é a voz do espírito do
vale. E agora só resta aqui uma única solicitação, uma única possibilidade  e ela vos é transmitida pelo
Tao Te King: Segui essa
corrente de vida e não tereis necessidade alguma de vos movimentar.
Compreendeis essas palavras, libertadoras por excelência? Se
desejais compreendê-las, segui conosco o itinerário que leva ao
fundo do coração, “o rei do corpo”, e deixai vosso eu biológico,
vosso eu animal, render-se à vida que está sediada no vale. Ali
corre um rio de vida, uma torrente ígnea opalescente, na qual
estão contidas todas as cores, onde, porém, predomina um brilho
áureo azulado. Lançai-vos nessa corrente em total autorrendição.
Deixai que o ser divino, e não o eu animal, fale em vós e governe
o microcosmo. Então, já não tereis a menor necessidade de vos
agitar.
Considerai que, em vossa personalidade, existem dois órgãos
que dirigem a consciência: um que conheceis, que vos faz dizer
“eu”, e outro muito mais poderoso, que não conheceis. É para
esse segundo eu, a alma, o
alter ego, que devereis agora transmitir
a direção. E podeis fazê-lo. Se o zerdes, não tereis necessidade
de vos agitar. Todas essas tensões desgastantes, essa torrente de
sofrimentos e de misérias, deslizará sobre vós; vossos problemas
serão resolvidos de maneira totalmente diferente. Vós, o eu nascido da natureza, não tereis mais necessidade de vos agitar, pois
o Outro estará ativo em vós.
Não devereis ver nisso uma incitação à preguiça ou à displicência; não tomeis isso em sentido negativo, porém no sentido das
palavras do Sermão da Montanha: “Buscai primeiro o reino de
Deus”  que está em vós  “e todas as coisas vos serão dadas por
acréscimo”. Vivereis e experimentareis a vida de uma maneira
nova; estareis
no mundo, porém já não sereis do mundo.
Através da porta da Mãe mística encontrareis uma nova realidade, nela penetrareis e pertencereis à nova raça: ao povo de
Deus.


72
O macrocosmo dura eternamente. Ele pode durar eternamente
porque não vive para si mesmo.
Eis por que o sábio se coloca detrás do Outro e forma, portanto, uma
unidade com o primeiro.
Ele se desliga de seu corpo e o mantém realmente seguro.
É por isso que ele não conhece o egoísmo.
E promove os próprios interesses pela ausência de egoísmo.
Tao Te King, capítulo 7

737
O MACROCOSMO DURA ETERNAMENTE
O macrocosmo, a onimanifestação, dura eternamente. Cada fenô­
meno nele, provavelmente, é submetido a mudanças e modi ­
cações, as quais, porém, jamais acarretam o retorno ao ponto
departida.Nelenadarecomeçaapartirdoinício,comoocorre
no mundo dialético. A onimanifestação prossegue, evolui. Cada
mudança representa um progresso, uma melhoria, signi ca subir mais um degrau em direção a um Universo superior, a um
Universo mais vasto. Só existe evolução na eternidade.
Visivelmente, vigora aqui uma lei desconhecida, uma lei divina absoluta, uma lei natural que nos é desconhecida e que não
conheceumgirocircular,porémumcaminhoemespiral.Uma
leinaturalestabeleceuma ordem, determinaumconjuntodeaspectoseatividades.Quandoanalisamosessaordem,conhecemos
o conjunto de seus diferentes processos e a eles aderimos, essa
ordem ganha vida e torna-se ativa. Se penetramos nessa ordem e
obedecemos sua lei, participamos dessa nova lei e abandonamos
o sistema da antiga lei.
Comopodeiscompreender,éevidentequepodemospassarde
umestadodeser,determinadoporumaleinaturalesuaordem,
paraoutro estado,determinadopor outralei;e que,portanto, é

74A GNOSIS CHINESApossível experimentar existencialmente, numa fração de segundo,
a eternidade no tempo. É passar do espaço-tempo para a eternidade. Quando alguém passa por essa experiência em sua vida, por
exemplo, agora mesmo, isso evidentemente trará consequências.
A cada reino correspondem, com efeito, veículos e fenômenos
particulares. Os veículos do espaço-tempo são diferentes dos veí­
culos da eternidade. Ou seja: podemos imediatamente participar
do novo reino, todavia, é evidente que decorre uma necessidade
de trans guração, de um novo nascimento. Só é possível haver
trans guração se pertencemos ao reino de uma nova natureza.
O que acontece primeiro não é a trans guração seguida da participação na eternidade, porém a ligação com o novo reino seguida da grande mudança. Se tendes algumas noções cientí cas,
compreendereis.
Caso vos seja difícil conceber esse processo, abordaremos o
ponto seguinte, com estas perguntas: “Por que esses dois reinos,
o reino dialético e o reino de Deus, diferem um do outro? Por
que a lei de um o faz retornar sem cessar ao ponto de partida,
fazendo-o, portanto, girar sem alívio, enquanto a lei do outro signi ca progresso e ascensão, de força em força e de magni cência
em magni cência?”
Naturalmente podereis responder: “Porque em nosso reino
estamos apartados da Gnosis”. Todavia, ao dizer isso, estareis
indicando a consequência, e não a causa. Ora, a causa é, acima
de tudo, a orientação da consciência. E a consciência está orientada de maneira diferente nos dois reinos. Lao Tsé mostra essa
diferença dizendo que a eternidade
não vive para si mesma.Direis: “Eu sei disso; vivo para minha família, para meus ideais,
sacri co-me totalmente!” Essa maneira de “não viver para si”
é muito bela e honrosa, porém não passa de uma imitação que
o eu animal faz da orientação da consciência de que Lao Tsé
fala. O eu animal é uma consciência egocêntrica, um “eu sou”
de natureza muito particular, que, quando cultivado, é capaz

757 · O MACROCOSMO DURA ETERNAMENTEde imitar perfeitamente a beleza, a bondade e o amor. Porém,
já sabeis que aqui o belo denota a existência do feio, o bom, a
existência do mau e o amor, a existência do ódio.
Sob vários aspectos, trata-se de uma situação muito estranha,
pois o eu animal pode, de fato e em muitos casos, desejar ser
bom, tornar-se divino. Pode-se dizer que ele tem essa tendência
inata. Por que razão ele não consegue? Por que razão ele não
consegue transformar o espaço-tempo em eternidade, mesmo
que o ocultista pense que isso é possível?
A resposta é que o eu animal é um homem orgânico, tem um
organismo. A personalidade é um organismo, sois um veículo
humano que se diferencia do homem divino. Que é um homem
orgânico? É um ser mecânico dirigido por uma inteligência superior, sendo que o próprio organismo possui certa inteligência
mecânica. O homem orgânico, a personalidade comum, o veículo
humano, utiliza força e age como ser humano, eventualmente
como ser divino, devido ao seu poder de imitação e à sua origem.
Ele gira em círculos, como um louco, sob o jugo da lei que o rege,
e sempre retorna ao ponto de partida. Da mesma forma que o
motor de um carro possui uma inteligência que funciona mecanicamente e que, uma vez acionado, continua a funcionar e a
executar sua tarefa, contanto que uma inteligência superior o
dirija ao volante, também a personalidade com sua inteligência
animal só é útil se o Deus nela, o centro da vida superior situado
no coração, toma a direção. Caso isso não aconteça, o homem
orgânico, o veículo humano, ca entregue a si mesmo, com todas
as consequências decorrentes.
O homem orgânico pode manter-se continuamente graças ao
processo de conservação dialético; todavia, se o verdadeiro condutor não tiver a direção em mãos, tudo vai de mal a pior; o homem
natural sofre numerosas degenerescências e segue um caminho
de sofrimentos, num reino ao qual, todavia, pertence. O veículo
humano não é sequer uma sombra do que era no passado. O

76A GNOSIS CHINESAhomem natural pensa ser o homem verdadeiro e crê poder alcan­
çar o estado de homem verdadeiro. Ele bate no peito, dizendo:
“sou isto, eu faço isto, eu quero isto”. E, continuamente, ele faz
experiências e imitações, naturalmente sem nenhum sucesso.
Se vos dedicardes a estudar o que estamos tentando explicar­
-vos, encontrareis a con rmação disso na Bíblia, na Doutrina
Universal, nas lendas, nos contos, nos relatos etc. O veículo humano conhece uma gênese, um começo e uma queda. De forma
presunçosa e obstinada, ele se apartou de seu Deus. O homem orgânico só conhece uma necessidade absoluta, que é conservar-se
a si mesmo. O instinto de conservação é seu impulso biológico.
Ele vive de morte e de corrupção. A pobre criatura é obrigada
a fazer isso em virtude de sua existência. Ele deve viver para si
mesmo. Esse é o seu destino; caso contrário, ele naufraga. Ele
corre perigo. Sua existência não lhe oferece segurança; ele deve
manter-se segundo sua natureza. Pensai aqui na maldição que
caiu sobre ele no Paraíso.
Existem povos e raças que zeram das palavras “Comer ou ser
comido” uma virtude. É claro que se utilizam de todos os meios
para alcançar seus objetivos. Ora, se pensais e viveis assim, estais
no caminho errado.
A personalidade, o veículo humano, foi criada, no início, como
instrumento para fornecer a uma inteligência condutora os meios
de obter experiências, aperfeiçoar o Universo e servir à Gnosis.
Essa inteligência condutora é o verdadeiro homem, o Deus único.
Todavia, esse instrumento escapou do controle e se denomina
homem. A consciência do veículo provém de um raio da pró­
pria consciência divina. O verdadeiro homem divino não vive
para si mesmo, não busca a autoconservação, não vive em perigo,
não passa necessidades; não precisa viver para si mesmo. Ele está
submetido à lei de outra natureza e possui uma consciência de
eternidade. Existencialmente, ele é uno com o Universo, com a
onimanifestação e é alimentado pelo prana da vida.

777 · O MACROCOSMO DURA ETERNAMENTEPoder-se-ia perguntar: “Seria a criação do homem-personalidade de responsabilidade do Deus único?” Esta pergunta, porém,
é inútil, pois o homem existe. Existe um Deus, um homem verdadeiro e uma personalidade que possui uma consciência, um eu.
Que vai acontecer com essa classe de seres duplos dos quais fazeis
parte?
Vamos admitir que as di culdades da vida vos tenham amadurecido e que vos tornastes sábios. Que devereis fazer agora?
O sábio coloca a si mesmo em segundo plano com relação ao
Outro, ao Deus único em si mesmo, e, como criatura, submete-se
a esse Deus. Ele desaparece no vale da vida em perfeita autorrendição. Que acontece, então? Ele se funde com o primeiro, com
o superior, com o regente universal, e atinge uma maravilhosa
serenidade. Ele se liberta de seu corpo, de sua personalidade. O
animal se retira. E o que acontece a seguir? A personalidade, como
instrumento, é conservada. Ela se trans gura. Como? Sempre
bem, muito bem, sob a direção divina. É possível que a personalidade se torne supérflua, mas em que isso poderia prejudicar-vos?
Desligados da roda, retornareis ao vosso Criador, ao vosso Deus,
e sereis absorvidos na eternidade.
Bem, então por vos despedirdes do egoísmo animal, os verdadeiros interesses do verdadeiro ser divino são favorecidos. Eles se
cumprem. Tutmés e a es nge se unem.
Se compreendeis dessa forma o sétimo capítulo do
Tao Te King,então podeis dar de ombros e rir dos sábios sinólogos que querem atribuir a Lao Tsé suas concepções com suas traduções: ser
modesto, ceder com elegância, mas nalmente ¯egar ao objetivo.

78
O comportamento justo é semelhante à água.
A água está em toda parte e permanece em todos os lugares.
Ela também está nos lugares desprezados pelos homens.
Eis por que o sábio se aproxima do Tao.
Ele habita o lugar certo. Seu coração é profundo como um abismo.
Seu amor é perfeito. Ele se mantém na verdade, e cumpre a verdade.
Chamado a governar, ele mantém a ordem. Ele desempenha bem
suas funções. Ele passa à ação no momento certo.
Como ele não discute e não entra em contenda com os outros, nele
não há nada censurável.
Tao Te King, capítulo 8

798
OCORAÇÃODOSÁBIOÉPROFUNDO
COMOUMABISMO
Certamente compreendeis por que é dito no oitavo capítulo doTao Te King que, para o homem-personalidade, que busca a libertação e a salvação, o comportamento justo é comparável à água. A
água é um símbolo universal e sublime que designa as radiações de
fo
rça da nova vida. Da mesma forma que o homem personalidade
se encontra inteiramente no campo de radiação eletromagnética
da natureza dialética, o aluno que, pela autorrendição, alcançou
a ligação libertadora com o espírito do vale, com o Deus em si,
entra no novo campo de radiação eletromagnético e nele vive
inteiramente.
É verdadeiramente a água viva que se derrama sobre ele e preen¯e, dessa maneira, todos os aspectos de sua existência. Nessa
nova corrente de força, ele se torna uma nova criação, uma nova
criatura, e passa por uma nova gênese, por um novo começo. E,
da mesma forma que, na primeira Gênese “o espírito de Deus
pairava sobre as águas” e criou um rmamento separando “as
águas que estão embaixo das águas que estão em cima”, assim também o candidato passa a dispor de um novo rmamento a partir
do momento em que a água viva se derrama sobre ele; isto é, ele
passa a dispor, então, de uma nova lípica,* de um novo sistema

80A GNOSIS CHINESAmagnético, pelo qual adquire uma nova consciência completamente diferente. Ele passa a ser, novamente, animado por seu
Deus único, que trabalha para sua salvação.
Se transferirdes vossa atenção do campo particular do microcosmo para o campo do cosmo e o do macrocosmo, descobrireis
que lá também essas mesmas atividades acontecem. É claro que o
Deusemnós, overdadeirohomemdivino, overdadeirocentrode
nossa vida no santuário do coração, não vive separado dos demais
homens-deuses. Estes existem em outra ordem de natureza, da
mesma forma que a personalidade existe em nossa ordem de natureza. E, assim como a personalidade deve sujeitar-se à natureza
da morte e conhecer o universo da morte, compreendereis, por
analogia, que também existe uma natureza da vida, um universo
divino, um universo absolutamente diferente. A substância que
constitui a vida e a radiação proveniente desse universo divino é,
verdadeiramente, a água viva, a pura substância divina original.
Esse universo divino, essa substância divina original, considerado no espaço-tempo não está afastado de nós; ele está aqui,
presente, e penetra tudo. Ele está mais próximo do que mãos e pés.
A água viva está em toda parte e permanece em todos os lugares.
Ela está também nos lugares desprezados pelos homens. O sábio
sabe disso, razão pela qual é dito no tão conhecido Salmo 139:
Se eu subir ao céu, tu aí estás.
Se eu zer a minha cama na morada dos mortos,
eis que tu ali estás também.
Se eu tomar as asas da alva
e habitar nas extremidades do mar,
até ali a tua mão me guiará
e a tua destra me susterá.
Se eu disser:
‘De certo que as trevas me encobrirão’,
então a noite será luz à roda de mim.

818 · O CORAÇÃO DO SÁBIO É PROFUNDO COMO UM ABISMONem ainda as trevas me escondem de ti,
mas a noite resplandece como o dia;
as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.
Falamo-vos do objetivo da Rosacruz e convidamo-vos a segui-lo.
Tomamos agora por guia a linguagem dos antigos, as palavras do
Tao Te King, porém nossa ação entre vós é e não poderia ser mais
atual. Ela é ao mesmo tempo moderna e clássica. Que temos para
propor-vos? Nada menos do que vossa reuni cação com o Outro
divino! Nós vos convidamos a celebrar um casamento, as núpcias
espirituais com o espírito do vale, o espírito do átomo original, a
rosa. Seria isso algo diferente das núpcias alquímicas de Cristiano
Rosa-Cruz, descritas por Johann Valentin Andreæ? O botão de
rosa no santuário do coração, a sede da verdadeira vida, o espírito
do vale, eis aqui vosso esposo ou vossa esposa. Sem levar em conta
vosso sexo, ele se dirige a vós, segundo as palavras do Apocalipse,
capítulo 22, palavras puramente rosacrucianas:
E o Espírito e a esposa dizem: Vem!
E quem tem sede, venha.
E quem quiser, tome de graça da água da vida.
De graça! Mas a condição é que tenhais sede! Vossa alma, cansada
de experiências, na angústia e na morte, deve estar sedenta. É o
anseio por salvação. “A minha alma tem sede de ti” (Salmo 63).
Pensai em Isaías, capítulo 55: “Ó vós, todos os que tendes sede,
vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do
vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a
gordura. Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa
alma viverá, porque convosco farei uma aliança perpétua… Em

82A GNOSIS CHINESAlugar do espinheiro crescerá a faia, e, em lugar, da sarça crescerá a
murta…” Que magní ca metáfora!
Entre vós e o espírito do vale, entre vós e o Deus em vós não
deveria haver nenhum sacerdote, nem mesmo qualquer escola
espiritual. Essa ligação deverá ser feita por vós mesmos, por vossa
própria iniciativa, pois o que a Escola precisa fazer por vós, ela o
faz. A Escola possui um campo de força onde a água viva corre
abundantemente para reforçar o apelo de vosso próprio Deus:
“Inclinai os vossos ouvidos para mim”. A Escola se esforça para
guiar vosso eu-animal. Ela quer fazer-vos abandonar os caminhos
do eterno vaguear e conduzir-vos para a única felicidade. Em unidade de grupo, como corpo-vivo, trata-se de uma poderosa ajuda
mágica para atingirdes o objetivo. Se agora estais amadurecidos
e cansados de lutar, agarrareis esta felicidade em total liberdade.
Neste caso, a corrente de água viva fluirá imediatamente sobre
vós. Então vos tornareis sábios, tão sábios que vossa glória poderá
consolar e aquecer inúmeras criaturas. A serviço da Fraternidade,
tornar-vos-eis uma luz no caminho, a m de que todos os extraviados e solitários encontrem o seu Senhor. É assim que o sábio se
aproxima do Tao.
A seguir, o oitavo capítulo descreve, com maiores detalhes, o
comportamento de quem estabeleceu semelhante ligação. Sobre
o comportamento de quem recebe a água viva, poder-se-ia dizer:
O sábio habita o lugar certo.Ligado à verdade, o sábio está sempre voltado para o objetivo e
está sempre no lugar certo. O sábio é o verdadeiro irmão, a verdadeira irmã; estar no lugar certo signi ca também que tal servidor
surge sempre no momento oportuno na vida do buscador, a m

838 · O CORAÇÃO DO SÁBIO É PROFUNDO COMO UM ABISMOde testemunhar da verdade, nem muito cedo, nem muito tarde,
mas sempre no momento exato.
É possível que, no passado, tenhais tido contato com o verbo
libertador sem, no entanto, terdes percebido o toque da força em
vós. É porque essa força destinava-se ao Outro, que interiormente
a ouvia de verdade. Cedo ou tarde, porém, ouvi-la-eis como ela
deve ser ouvida. Então, no momento certo, reconhecereis o servidor, o
vosso servidor. Ele está, ele é, ele vive para vós, no lugar
certo, e sereis acolhidos no templo como hóspedes bem-vindos.
O coração do sábio é profundo como um abismo.Isto signi ca que o sábio possui uma compreensão sempre mais
profunda das pessoas em estado de pecado e de sua miséria incomensurável, compreensão essa plena de insondável compaixão
e amor. Não signi ca que o servidor da Fraternidade seja um
confessor e seu coração um grande depósito para tudo o que os
mortais querem jogar fora, nem que ele se senta tranquilamente
para ouvir a história de vossa vida, a vida de uma alma mortal.
Porque todas as vidas têm exatamente as mesmas histórias. Os detalhes talvez sejam diferentes, mas o começo e o m do romance
de vossa vida são exatamente iguais aos dos outros. Não, o coração
insondável do sábio sabe que o ser humano que ¯egou ao vale
do coração para ali reencontrar o espírito do vale cessa de ser um
robô. Eis por que ele não julga um mortal segundo seu registro
judicial ou a lista de seus pecados, mas segundo sua verdadeira
sede.
Quem tem sede recebe a água da vida gratuitamente. Trata-se
de uma lei magnética. Quem, desse modo, se torna puro traz a
assinatura de um coração de profundidade insondável. Portanto,
seu amor é perfeito. É um amor que emana do novo campo de
irradiação, que nele mergulha suas raízes. É um amor que não gera

84A GNOSIS CHINESAódio nem vingança. É um amor que, desde tempos imemoriais,
acompanha o homem decaído por toda parte e jamais o abandona,
a m de salvar o que está perdido. Se o recusais hoje e apenas
o aceitardes daqui a mil anos, percebereis após mil anos, com
grande aflição, que esse mesmo amor vos aguardava todo esse
tempo. Então compreendereis o ¯amado: “Vinde a mim, vós
que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.
Ele se mantém na verdade e cumpre a verdade.O sábio se mantém na verdade e vive dela, o que é perfeitamente
compreensível, pois a verdade é um campo de vida. Compreendeis, porém, que é impossível para um homem dialético ser
verdadeiro e que sua verdade é sempre mentira? Da mesma forma
que a feiúra é a prova de que a beleza é mera aparência, e o bem
e o amor são rapidamente substituídos pelos opostos, o mesmo
ocorre com o que habitualmente ¯amamos de verdade. Sois de
opinião que alguns homens são verdadeiros e íntegros; infelizmente, isto signi ca unicamente que eles se esforçam por serem
verdadeiros e íntegros, que eles não mentem conscientemente
ou por querer. Essa verdade não está baseada na Gnosis, nem na
onimanifestação ou no Deus interior. Por isso é especulativa e
parcial; ela gera confusão, contendas, conflitos e guerras. Essa
verdade que sustentamos com violência pode acarretar os piores
aborrecimentos e, amanhã, surgir como uma contra-verdade.
Todavia, quem se encontra ao abrigo na Gnosis mantém-se na
verdade divina. Trata-se de uma vibração, de um estado de ser no
qual o sábio vive. E será que ele traz essa verdade para este mundo
tenebroso? Sim, porém apenas em certo sentido. Ele vibra nessa
verdade, ele a irradia.
Se sois um buscador da verdade no sentido compreendido pela
Rosacruz, um dia, em vossa busca pelo Tao, experimentareis a

858 · O CORAÇÃO DO SÁBIO É PROFUNDO COMO UM ABISMOradiação dessa verdade e a reconhecereis. Somente então será
possível verdadeiramente falar-vos. Quanto ao resto, não penseis
que o sábio irá discutir convosco sobre a verdade. Quando percebe que um homem não é capaz de, ou ainda não pode, captar
a radiação da verdade, de forma alguma o sábio discute com ele
sobre esse assunto. O sábio se retira e cria um vácuo.
Chamado a governar, ele mantém a ordem.Imaginai esse preceito da seguinte forma: ele vive segundo a ordem do campo vivo da verdade vivente. Ele é um servidor da
Fraternidade e seu serviço consiste em reunir os buscadores. Para
que tenha êxito, é necessário criar certa ordem em seu campo
de ação; ele trabalha segundo um sistema. Esse sistema pode ser
discutido e ponderado, com base no amor, na verdade, na Gnosis
e nas leis espirituais da Fraternidade.
Todos os que buscam são bem-vindos, mas há também os que
agem contra essa ordem, pois a ela se opõem fundamentalmente.
Pode-se,então,tentarajudá-losecorrigi-los;todavia,se carclaro
que ainda não podem captar as radiações do campo da verdade
vivente,elesserão,momentaneamente,deixadosdelado,eoamor
aguardará até que tenham avançado su cientemente para poder
daropróximopasso.Ouseja,nãosepodetransgredirumaordem
irresistível: é tudo ou nada!
O sábio desempenha bem suas funções.
Ele passa à ação no momento certo.
Essas virtudes não devem espantar-vos. Quem já não está no
estado de consciência-robô, porém participa da consciência da
Gnosis,adquireumnovoprincípiodeação,totalmentedeacordo

86A GNOSIS CHINESAcomanaturezaecomaessênciadosantotrabalho,comoTao.Em
outras palavras, coloquemos este estado de ser à luz das palavras
dePaulo,assimcompreendereismelhoressesdonsdagraça.Paulo
diz, em várias partes de suas Epístolas, que certamente não é sua
intenção vangloriar-se: “Não sou eu, mas o Cristo em mim”.
Demos, assim, algunsesclarecimentossobre ocomportamento
do sábio que segue o caminho da libertação. Nossa prece diária é
que vós também possais seguir esse caminho.
Vedeocaminho
Tao.Segui ocaminho Te.Compreendei ocaminho King.

88
Não toques no vaso ¯eio.
Não toques no o da lâmina.
Não tentes manter a câmara ¯eia de ouro e pedras preciosas.
Quem se orgulha de suas riquezas caminha à frente da infelicidade.
Realizada a obra e adquirido o prestígio, é preciso retirar-se.
Esse é o caminho para o céu.
Tao Te King, capítulo 9

899
NÃO TOQUES NO VASO CHEIO
O nono capítulo do Tao Te King trouxe, evidentemente, grandes
di culdades de tradução para os sinólogos. A causa dessa di culdade é que lhes faltava a ¯ave para a compreensão da verdadeira
intenção das palavras de Lao Tsé.
Em uma das traduções lemos: “Em vez de carregar um vaso
¯eio pelos dois lados, melhor nada carregar”. Logicamente, isto
nãofazsentido,seadmitirmosquesetratadeumrecipiente¯eio
de água. Os antigos não dispunham de água corrente. Portanto,
necessitavam de um recipiente ¯eio e, de bom grado, se esfor­
çavam para carregá-lo, evitando desperdiçar o precioso líquido.
Outro tradutor pensou nesse desperdício, traduzindo: “Quem
en¯er um vaso até a borda e quiser transportá-lo com as duas
mãos, irá derramá-lo”.
Após leitura dos capítulos anteriores, compreendereis que Lao
Tsé tinha em mente algo totalmente diferente. Para os tradutores,
a di culdade provém do fato que, na verdade, o
Tao Te King não
pode ser traduzido. A obra foi escrita em antigos caracteres ¯ineses, os quais não são constantes como as letras de nosso alfabeto
que, juntas, representam claramente uma palavra com um signi ­
cado preciso. Pensai, por exemplo, na palavra “árvore”. Um autor
dirá: “Vejo uma árvore”. Embora não saibamos de que árvore se

90A GNOSIS CHINESAtrata, sabemos que ele vê uma árvore. Todavia, é dito que, mais
ainda do que os caracteres hebraicos, cada ideograma da antiga
China tinha vários signi cados, no mínimo sete. E, na China,
toda pessoa alfabetizada podia criar seu próprio ideograma, tra­
çando-o com um pincel sobre um pergaminho ou sobre seda.
Poder-se-ia dizer, simplesmente, que a escrita ¯inesa não tinha
uma forma bem determinada, nem método, e que era uma espé­
cie de escrita em caracteres cifrados. Na prática, porém, com o
desenvolvimentodacivilizaçãoesobapressãodeconstantesintercâmbios, formou-se o hábito de escrever muitas coisas e noções
com os mesmos caracteres, simplesmente para estabelecer contatos através de letras, caso não fosse possível fazê-lo verbalmente.
Todavia,natrocadecorrespondência,osmissivistasdeviamsaber
distinguir perfeitamente os caracteres. Portanto, a escrita ¯inesa
contém um grande número de palavras, das quais muitas são absolutamente indecifráveis. Daí resulta que a ligação entre certas
frases se perdeu. A linguagem da antiga Bíblia Chinesa não se
destina a um eventual sinólogo que gostaria de traduzir o
Tao Te
King.
Assim, todas as traduções diferem imensamente entre si, e
não poderia ser diferente. Essa obra se destina unicamente aos
alunos que estão na senda da trans guração, e o autor do
Tao Te
King
sabia com toda a certeza, já há milhares de anos, que um
servidor da Fraternidade, mesmo um principiante, poderia mais
tarde ler sua obra sem di culdades.
Podereis perguntar: “Como, então, isso é possível? Porque não
conheceis a língua ¯inesa e, se a conhecêsseis, teríeis as mesmas
di culdades dos demais sinólogos!” A resposta é muito simples.
Através dos tempos, a Fraternidade Universal apela, tanto oralmente como por escrito, ao poder criativo da consciência do
leitor que se tornou digno. Cada parágrafo dessa linguagem traz
em si uma ¯ave. Se o leitor tiver acesso a essa ¯ave, o sentido do
preceito em questão aflora naturalmente. Caso contrário, ele não
compreende nada, e a tradução torna-se impossível, mesmo para

919 · NÃO TOQUES NO VASO CHEIOo maior sábio de todos os séculos. Aqui também se aplicam as
palavras da Bíblia, que diz que aquilo que permanece escondido
para os sábios e os inteligentes deste mundo é revelado aos lhos
de Deus (Mt 11:25).
Pois bem, sem pretensão, cremos poder a rmar: “Somos lhos
de Deus”. Vós também o sois; vós também possuís essa liação.
Talvez uns estejam mais conscientes do que outros, porém somos
todos iguais, e a perfeição nos aguarda. Portanto, guiados por
nossa liação divina, tentemos, em conjunto, procurar a ¯ave
deste nono capítulo. Primeiro, veri careis que na primeira estrofe
fala-se de um vaso ¯eio, de um recipiente ¯eio. Sobre isso todos
os tradutores estão de acordo, bem como sobre o fato de que
existe algo que não se deve fazer com esse vaso.
Que contém o vaso? Água, evidentemente. Um deles diz: “Cuidado, para que ela não derrame”. “Claro”, diz o outro, “esse vaso
é pesado e é melhor não carregá-lo”. “É possível”, diz um terceiro,
“porém é preciso ter o vaso e a água!” “Evidentemente, é compreensível que não se deva derramar o líquido, mas, a meu ver,
Lao Tsé quis dizer que não se pode simultaneamente segurá-lo
e en¯ê-lo. Em nossos dias isso é possível, pois é só abrirmos a
torneira, mas os antigos não tinham água corrente.” “Sim, mas
talvez houvesse algumas quedas-d’água!”
Podemos continuar assim por muito tempo. Qual o sentido
disso? Nenhum, porque passamos diante da ¯ave sem vê-la!
Todavia, o poder criativo de vossa consciência forneceu-vos essa
¯ave há muito tempo, já que esse recipiente, esse vaso ¯eio, vos
é bem conhecido.
Imaginemos à nossa frente um dos antigos símbolos dos rosa­
-cruzes do século XVII. Um sábio ancião de cabelos brancos, sentado na câmara de uma torre. Três degraus, “os degraus da sabedoria”, nos conduzem até lá. Se subirmos esses três degraus
e entrarmos na câmara da torre, veremos que de cada lado da
entrada existe uma coluna. Uma sentença gravada na coluna da

92A GNOSIS CHINESAdireita ¯amará nossa atenção: “Permanece junto ao vaso para
testemunhar de suas cores”.
Em Isaías 52:11, lemos: “Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, puri cai-vos, vós que levais
os vasos do Senhor”. Nos Atos dos Apóstolos 10, é mencionado
um recipiente impuro que desce do céu. E, na Segunda Epístola a
Timóteo (2:21), Paulo diz: “De sorte que, se alguém puri car-se
dessas coisas, será vaso para honra, santi cado e idôneo para uso
do Senhor, e preparado para toda a boa obra”. Pensamos também
nas inúmeras narrativas simbólicas sobre o Graal, no cálice aberto,
estilizado em forma de flor-de-lis, e ouvimos Lao Tsé dizer:
Não
toques no vaso ¯eio.
Eis a ¯ave, vós a conheceis! O lho de Deus possui um vaso
¯eio, a rosa de sete pétalas, o cálice em forma de flor-de-lis com
sete pétalas, a taça do Graal do coração. O lho de Deus é, portanto, um lho de Deus porque possui essa sagrada taça. Ela
representa o reino de Deus em nós. O átomo original esconde
um Universo. Nele todo o Universo está contido.
Ora, a dialética é extremamente perigosa para o átomo original.
O lho de Deus não é vosso eu; vossa consciência dialética não
tem nada a ver com ele. Vosso eu é uma consciência-robô, incapaz
de libertação. Sois provenientes de um microcosmo que encerra
o ser divino. E o
Tao Te King vos adverte: “Por favor, mantende
vossos dedos longe desse vaso ¯eio!” Essa taça do Graal está preen¯ida com o sangue do cordeiro, a pura água viva. Tudo o que
pertence à natureza ímpia não deve e nem pode aproximar-se
dele. Deveis, portanto, manter-vos afastado dele, em absoluta
autorrendição. Não a rmeis: “Eu sou lho de Deus” dando ênfase ao “Eu”. Estais apenas muito perto dele. O lho de Deus
habita convosco no mesmo microcosmo. O Outro existia muito
antes de vós. Ele está convosco, e permanecerá depois de vós. Se
diminuirdes, esse Outro crescerá. Não tenteis, pois, tocar no vaso
¯eio do Senhor. Vós, em vossa ilusão mística ou ocultista, não

939 · NÃO TOQUES NO VASO CHEIOtoqueis o vaso sagrado. Essa taça do Graal contém o vinho do
Senhor, e esse vinho, essa água viva, deve tocar-vos, deve aplacar
vossa sede. Essa força deve descer em vossa alma qual uma espada.
LaoTséa rma,namesmalinguagemmetafórica:
Não toques no o
da lâmina.
Não lhe tireis a força com mãos ímpias e não a rmeis:
assim a espada cairá sobre mim sob minha direção. Esvaziai o
cálice que o Cristo interior vos oferece, aceitai-o com alegria.
Jamais lestes ou ouvistes falar que a taça do Graal foi depositada pelos Mestres do Graal num templo de prodigiosa beleza?
Num santuário ¯eio de ouro e pedras preciosas? E que esse santuário da maravilhosa rosa estava ¯eio das mais esplêndidas e
mais nobres riquezas que se possa imaginar? Pois bem, esse santuário está em vosso microcosmo. “Rejubilai e alegrai-vos, pois o
reino dos céus está dentro de vós!”, a nova Jerusalém com suas
doze portas.
Vedes o imenso perigo, a loucura do instinto de posse egocêntrico? Quereis manter esta sala repleta de ouro e de pedras
preciosas? Vós? Quer sejais místicos ou ocultistas, por acaso vos
vangloriais de vossas posses? Então caminhais à frente da infelicidade da roda que gira inde nidamente, pois a nova cidade, com
suas doze portas de pérolas, só descerá quando a antiga cidade
houver desaparecido.
Vede diante de vós o caminho, o caminho dos céus. Quando
houver ¯egado o tempo e vosso trabalho de preparação estiver
pronto, vosso novo nome será inscrito no Livro da Vida, e vós
e vossa alma dialética devereis retirar-vos segundo as sublimes
palavras de João, que são ¯ave para o caminho libertador: “Ele”,
o Outro, “deve crescer e eu devo diminuir”  a espada do Mestre
do Graal ncada em vossa alma e seu cálice esvaziado até a última
gota, a m de que a cidade santa desça do céu de Deus.
Mas, retornemos à câmara dos tesouros da Rosa-Cruz clássica,
onde lemos numa coluna: “Permanece junto ao vaso para tornar

94A GNOSIS CHINESAsuas cores reconhecíveis”. Com essa expressão: “Permanece junto
ao vaso”, os rosa-cruzes entendem que: “Vós, ser-eu, afastando­
-vos, em oferenda humilde e silenciosa, consagrai-vos ao Graal
interior, à cidade de Deus que, um dia, descerá do céu”. Se tivermos uma correta atitude com relação ao “vaso”, poderemos, a seu
serviço, levar a palavra santa ao conhecimento dos buscadores
e aos errantes. Sim, poderemos levar ao conhecimento deles as
belas e serenas cores e facetas do “vaso”, a m de que, consolados
por essas maravilhosas promessas, os buscadores possam adquirir
a vontade e o poder de, um dia, seguir o mesmo caminho.
As palavras de Isaías, capítulo 52, apelam a todos os portadores
da centelha do espírito para que, através da endura, digam adeus
ao mundo dialético. “Saí do meio dela, puri cai-vos, vós que
levais os vasos do Senhor.” Por isso Paulo diz que, ao seguirdes a
senda que passa pelo autoconhecimento, tornais possível, graças
à taça do Graal, o desenvolvimento da nova alma, “santi cada
e útil ao Senhor”. Nos Atos dos Apóstolos, capítulo 10, vemos
Pedro sofrer uma provação clássica. Algumas forças da esfera
refletora estendem-lhe uma falsa taça; devido a seu conteúdo, ele
imediatamente reconhece o perigo e a recusa. Sua decisão é mais
rme do que nunca: ele permanece junto ao vaso do coração para
tornar suas cores reconhecíveis.
Essa é a assinatura do rosa-cruz, o servidor da Fraternidade
Universal. Ele permanece junto ao vaso do coração para tornar
suas cores reconhecíveis. Ele não se vangloria disso. Quem se
tornou imensamente rico não está orgulhoso disso, pois:
Quem se
orgulha de suas riquezas caminha à frente da infelicidade.
Orgulho
é vaidade, ostentação; o orgulho faz concessões ao egocentrismo.
Portanto, o orgulho agride o brilho do vaso e o torna, novamente,
opaco e sem cor.
Quem adquire riquezas através da prática da Gnosis quíntupla
universal pode realizar o trabalho. Ele tem acesso aos imensos
tesouros da vida universal. Emprega-se, então, o plural: “Vós, que

959 · NÃO TOQUES NO VASO CHEIOportais os vasos do Senhor”. Descobrimos, então, que o corpo­
-vivo, formado por seus inúmeros membros, recebe os mesmos
tesouros em seu campo de força através da magia libertadora. O
que está em nós está, ao mesmo tempo, fora de nós. As fronteiras
desaparecem e vivenciamos a unidade do universal no universal.
Dessa forma, a luz é levada através da noite, a m de despertar
os que nela estão mergulhados. Assim a luz surge nas trevas. Assim
os eleitos permanecem juntos para tornar reconhecíveis as cores
da luz, cores de inúmeros matizes.
Todavia, os que desejam permanecer nas trevas estão perturbados, pois não querem ver as cores do vaso e cam confusos. Ora,
a confusão faz nascer a dúvida. Eles a rmam: “Ontem dissestes
que era verde, hoje dizeis que é azul!” Eles não compreendem que
o mar, como a água-marinha, adquire múltiplas cores, embora
permaneça o mar. Eles temem a luz e ainda não têm olhos para
ver.
Não obstante, o trabalho apostólico prossegue, pois é necessá­
rio que as cores do vaso sejam reconhecíveis. O trabalho apostó­
lico, que é universal, prossegue. Ele se realiza tanto na claridade
do dia como nos esgotos da noite. Ele se mantém no vasto campo
da Fraternidade apostólica e começa com os trinta e dois que
ousam e se esforçam por prosseguir na caminhada.
Os habitantes da noite e os que temem a luz perguntam, escarnecendo: “Onde estais, com vossa luz apostólica?” E nós respondemos: “Cuidado com o que há de vir, pois assim como um raio
rasga a escuridão e faz os homens tremer, também a
astralis divina
se manifestará plenamente, como um fogo celeste, através do canal do fogo serpentino renovado. O trabalho será realizado e o
novo nome formado. E quando o trabalho estiver terminado, os
que o zeram se retirarão, abandonando a noite à própria noite”.



98
Quem submete o eu animal ao espiritual mantém sua vontade
dirigida ao Tao. Ele não está dividido.
Ele domina sua força vital até torná-la dócil como a de um recém-nascido.
Ele torna sua visão interior clara e pura, cando, pois, isento de
faltas morais.
Ele governa o reino com amor e pratica integralmente o wu wei.
Ele permanece em perfeita quietude, enquanto se processam a abertura e o fe¯amento das portas.
Não obstante sua luz penetrar por todas as partes, ele pode parecer
ignorante.
Ele gera as coisas e as alimenta. Ele as gera sem as possuir. Ele
acrescenta e multiplica sem esperar recompensas. Ele reina e não se
considera mestre. A isso se denomina a virtude misteriosa.
Tao Te King, capítulo 10

9910-I
QUEM DOMINA O EU GOVERNA O REINO COM AMOR
A leitura de nossos comentários sobre a sublime sabedoria de
Lao Tsé descortina uma série ascendente de revelações e possibilidades para todos os que, verdadeiramente, seguem a senda no
sentido trans gurístico. E agora, o décimo capítulo lança uma
luz sobre alguns dos resultados mais marcantes do caminho, resultados esses que não têm nenhuma relação com o futuro estado
de ser do homem divino, porém que esclarecem a situação dos
que, embora sigam o caminho e cumpram a lei, ainda estão no
mundo dialético. Em vista disso, o assunto deste capítulo é extremamente importante, porque sua realização não está longe de
vós, sendo mesmo absolutamente atual para o buscador sério.
Portanto, é motivo de grande alegria podermos esboçar para
vós o tipo de homem que desejaríamos ¯amar de novo homem­
-Noé, o homem que, partindo da natureza da morte, está caminhando em direção ao novo campo de vida, para o novo reino,
que existe desde a origem. Esse homem é admitido na nova raça,
que não conhece nacionalidade nem fronteiras. Ele navega na
clássica e novamente atual nave celeste, rumo a um novo e alegre futuro. Para que possais seguir conosco, apenas é exigido de
vós que coloqueis em prática as lições recebidas e demonstreis o
verdadeiro ofício de francomaçom.

100A GNOSIS CHINESAQuem submete o eu animal ao espiritual mantém
sua vontade dirigida ao Tao. Ele não está dividido.
É aqui que deve começar o ofício de construtor. Esse é o primeiro
passo. Quem não for capaz de dar esse primeiro passo com certeza
não poderá dar o passo seguinte. Na qualidade de aluno do Tao,
deveis, em perfeita autorrendição, ofertar o eu animal ao átomo
original, ao reino de Deus em vós, à rosa do coração. Esta é a vossa
missão mais importante. Não por devoção a um Deus exterior,
com todas as consequências naturais, religiosas e ocultistas daí
decorrentes, porém dizendo ao Deus único em vós, ao reino de
Deus em vós: “Senhor, seja feita a Tua vontade”. A senda do
discipulado deve começar com a prática joanina: no deserto da
vida, tornar retos os caminhos para o Senhor.
Suponhamos, por um momento, que o compreendais e realmente o façais; que submetais vosso eu animal perfeitamente ao
eu espiritual. Vossa personalidade comum sofre, então, sensíveis
modi cações, porque, em resposta à oferenda de vosso eu, o vaso,
o cálice do Graal, é derramado sobre vós, e daí nasce um novo
fogo serpentino, um novo ser-alma. Descobris, a princípio, que
vossa vontade pode car, e cará, continuamente orientada para
o Tao, para a senda. Por quê? Pela simples razão que, se a rosa
do coração vos orienta e determina o estado de vossa alma, não
é mais o campo magnético da natureza comum que atua em vós,
porém o da nova natureza.
Se a natureza comum determina integralmente vossa vontade
como uma constante mágica, podereis, de vez em quando, aplicar
vossa vontade a problemas novos e elevados e, impulsionados por
ela, praticar belas ações. Todavia, de vez em quando, ela também
mostrará sua verdadeira natureza interior e origem. Consequentemente, ela será dividida e sofrereis muito. E embora ela possa
elevar-se de modo místico ou cientí co, a vontade comum jamais
será libertadora, nem para vós mesmos, nem para outros. Mas

10110-I · QUEM DOMINA O EU GOVERNA O REINO COM AMORquando a personalidade, o estado da alma, se eleva na rosa e o
Cristo interior vos dirige, quando Jesus vive em vós, João é decapitado em vós. Então, vossa vontade se manifestará numa nova
natureza e, sem constrangimento, especulação ou exaltação, isto
é, de forma totalmente espontânea, ela estará continuamente, dia
e noite, orientada para o Tao. A partir daí estareis sempre
nestemundo, porém já não sereis deste mundo.Ele domina sua força vital até torná-la dócil
como a de um recém-nascido.
A força vital dirige-se do santuário da cabeça para todos os órgãos
com os quais a personalidade age. O homem necessita de energia
para agir e, com frequência, de energia diversas vezes transformada. Para agir, muitas vezes é necessário empregar ao mesmo
tempo energias que têm vibrações diferentes. Imaginai ações que
requeiram ao mesmo tempo a inteligência, portanto uma atividade mental, vibrações emocionais e a utilização da vontade. Tais
atividades são estafantes. Elas prejudicam a personalidade, porque, frequentemente, obrigam o sistema nervoso autônomo a
executar atos censuráveis dos quais temos aversão. Quanta energia o homem desperdiça, simplesmente joga fora! E, o que é mais
grave, ele paga muito caro por isso com seu estado de saúde e com
seu aprisionamento à roda do nascimento e da morte, o que é
ainda mais sério.
Quem é decapitado como homem-João e nasce em Jesus, o
Senhor, vive segundo a nova alma e domina sua força vital. As
fontes e os canais de sua força vital serão maleáveis como os de
um recém-nascido. “Como isso é possível?”, podereis perguntar.
“Isso signi ca que já não haverá erros cometidos com as melhores
intenções, portanto, já não haverá desperdício de energia?” Não.
À medida que a transformação ocorre, nenhuma energia é utilizada inutilmente. Teoricamente, isso ainda seria possível, porém

102A GNOSIS CHINESAo candidato certamente não o permitirá. Para compreender isso,
analisemos o terceiro versículo:
Ele torna sua visão interior clara e pura,
cando, pois, isento de faltas morais.
Consideremos aqui os sete ventrículos cerebrais. Eles se tornarão
perfeitos espelhos da consciência, da visão interior consciente.
Esses espelhos tornarão a visão interior clara e pura à medida que
a nova alma os puri que e lhes dê brilho. Ainda a esse respeito,
gostaríamos de fazer algumas observações. É possível que conhe­
çais esses espelhos, sobretudo se tendes alguns conhecimentos de
ocultismo devido a alguma prática ocultista no passado. Portanto,
compreendei agora conosco que qualquer prática ocultista no
tocante a esses sete espelhos não passa de uma caricatura, de um
plágio que prejudica seriamente o estado de vossa personalidade.
Através dessas práticas, é eventualmente possível expandir a visão
interior comum a todos os domínios da esfera refletora. Mas, para
que serve isso? Porventura vos tornais mais felizes? Por acaso isso
vos liberta, nem que seja por um segundo?
O trans gurista não se entrega a nenhum treinamento e não
pratica exercícios; não obstante, ele possui sete espelhos puros e luminosos para a visão interior. Ele não precisa fazer nada para isso,
ele não utiliza sua vontade; ele os recebe simplesmente porque
se entrega ao Outro, em total autorrendição. Os sete espelhos da
visão interior são uma propriedade, um órgão do novo homem
que liberta o candidato de faltas morais.
Por comportamento moral deveis entender tudo o que o homem dialético faz ou deixa de fazer referente à sua vontade, a
seus pensamentos, seus sentimentos e ações. O estado moral do
homem dialético se encontra sempre muito dani cado. Portanto,
o vosso também. Por quê? Por acaso, sois tão maus? Por acaso agis
de propósito? Não, falta-vos discernimento, autoconhecimento;

10310-I · QUEM DOMINA O EU GOVERNA O REINO COM AMORdeveis manter-vos neste mundo e para tanto precisais especular.
Andai às apalpadelas nas trevas, e disso resulta uma moralidade
muito dani cada e ferida. Mas, quando os novos espelhos da visão
interior brilharem, claros e puros, careis livres de vossas faltas
morais, porque orientareis corretamente vossa caminhada e já
não podereis errar; e, a partir daí, tereis um único desejo: retornar
à vossa verdadeira pátria.
Ele governa o reino com amor
e pratica integralmente o wu wei.
Quem segue o caminho da rosa, porque está totalmente voltado
para o Outro, sabe que seus primeiros passos na nova vida ainda
ocorrem na antiga personalidade e que a trans guração apenas
começou. É por isso que os rosa-cruzes clássicos diziam que o candidato, após ter recebido Jesus, o Senhor, devia morrer nele. O
candidato em questão, sabendo e reconhecendo perfeitamente
tudo isso, governará seu reino com amor, sem suspirar, como
acontece frequentemente: “Seria bom que isso logo acabasse, que
eu pudesse me livrar disso!” Frequentemente sois tomados de
melancolia, porque estais cansados disso tudo, porque as bobagens vos ¯ocam. Todavia, se devêsseis remar numa correnteza
violenta, tendo uma única pran¯a como remo, não reclamaríeis
e caríeis felizes por ter essa pran¯a que utilizaríeis com amor
para atingir a outra margem.
Por isso o trans gurista nunca diz: “Não posso”. Ele não fala
da “fraqueza de seu corpo”, porém a rma, feliz e sem presunção:
“Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”. Ele pratica
realmente o
wu wei, o não fazer. Wu wei signi ca: “Já não sou eu
quem vive, mas Cristo vive em mim. Já não sou eu, mas o Reino
em mim”. Quem, como João, coloca a cabeça no cepo e deixa que
o Outro nele governe, pratica verdadeiramente o
wu wei.

10510-II
O SÁBIO PERMANECE EM PERFEITA QUIETUDE
Examinemos agora outra parte do décimo capítulo do Tao Te
King:
Elepermaneceemperfeitaquietude,enquantoseprocessam
a abertura e o fe¯amento das portas.
Não obstante sua luz penetrar por todas as partes, ele pode
parecer ignorante.
Dissemos que a vontade dialética está dividida e que lhe é impossí­
vel orientar-se permanentemente para um objetivo determinado
se esse objetivo for fundamentalmente estranho à natureza dialé­
tica. É por isso que a vontade do homem anelante apresenta uma
série de aspectos diferentes. Primeiro ele se orienta para a nova
vida, depois, orienta-se para banalidades, em seguida, orienta-se
para a bondade e nalmente, para o mal. A vontade oscila sem
cessar entre esses quatro aspectos até o momento em que decidimos seguir a senda da autorrendição pela prática do
wu wei, o
não fazer.
Desenvolve-se, então, um novo estado de alma em e por meio
de um novo campo eletromagnético e, portanto, também uma

106A GNOSIS CHINESAnova vontade que, por sua natureza, sem forçar, pode permanecer
orientada para o Tao. Ela precisaria forçar-se para não fazê-lo.
Esse novo estado de ser torna a força vital dócil e nos liberta das
faltas morais, porque a sétupla visão interior torna-se clara e pura.
Essa visão interior está relacionada com o cimo ou núcleo da
nova alma. Ela vislumbra a nova vida, e é sensorialmente una com
ela. Então, as faltas morais e os conflitos, próprios da natureza
dialética, pertencerão existencialmente ao passado.
Embora a trans guração esteja apenas começando e o homem
nesse estado ainda disponha de seu antigo veículo material e ainda
deva usá-lo, ele governa com amor o reino, ainda longe de ser
perfeito, e segue a via da renovação no
wu wei  isto é: no não
egoísmo  guiado pelo novo estado de alma.
É conveniente esclarecer esse não egoísmo. A consciência de
que o homem dispõe e que ele conhece é, por natureza, egocêntrica. Ela possui um núcleo, que é realmente um eu. Outra consciência, de natureza humana sublime, o homem não conseguiria
imaginar.
Todavia, semelhante consciência é perfeitamente possível. A
consciência que denominamos a do novo homem é de natureza
totalmente diferente. Ela é totalmente não egocêntrica, é até
mesmo fundamentalmente desprovida de eu, não no sentido
moral ou ético, mas fundamentalmente; ou seja, ela não possui nú­
cleo. Poder-se-ia descrevê-la como tendo sua sede no microcosmo
inteiro. Trata-se, portanto, de uma consciência microcósmica,
oniabarcante.
Essa consciência microcósmica, no estágio seguinte, desenvolve­
-se numa consciência cósmica e, num estágio posterior, numa
consciência macrocósmica. A melhor descrição que se pode fazer
disso é que se trata de uma consciência no eu, mas simultaneamente, de uma consciência em tudo e em todos. Observai, então,
que cienti camente toda separação deverá desaparecer.

10710-II · O SÁBIO PERMANECE EM PERFEITA QUIETUDEO wu wei, o não fazer, objetiva ser uma aproximação dialética
da nova consciência divina. Essa aproximação é aconselhada para
remover, tanto quanto possível, a enorme diferença que existe
entre essas duas manifestações de consciência e criar, assim, uma
base para novas forças de consciência potencialmente presentes
na rosa do coração. Em decorrência, o eu perde seu eu, seus desejos, e já não almeja amarras. O eu se esforça ao máximo para
neutralizar-se, a m de que o Outro possa, por sua vez, assumir o
controle.
Quem ingressa com alegria nesse processo preparatório sente
uma corrente de radiações gnósticas plena de graça, que transfere
todo o campo do eu para um campo de quietude absoluta. Assim
ele permanece em perfeita quietude, enquanto se processam a
abertura e o fe¯amento das portas.
Na verdade, o que a humanidade conhece da quietude? O má­
ximoquetemosquandoestamosacordadossãoalgunsmomentos
de calma, na maioria das vezes por acaso.
Existe ainda a tranquilidade do esquecimento. Pode acontecer também que, depois de um dia cansativo, se não estiverdes
completamente exaustos, possais gozar de algumas horas de uma
atmosfera de repouso.
Omaisprovável,porém,équeasrealidadesdavidaenvenenem
essa paz, como, por exemplo, o fato de não haver terminado um
trabalho, ou ainda a existência de conflitos, a angústia, a preocupação, o medo, estados físicos e fraquezas de ordem moral. Sem
contar que, à medida que vos aproximais dos limites da dialética,
cais mais e mais agitados. Em vós, a agitação torna-se fundamental. Pelo fato de serdes um estrangeiro, não encontrais repouso
em parte alguma. A agitação aumenta dia a dia. E, nalmente,
como vários alunos nos a rmaram: “O único repouso que ainda
conhecemos é o que encontramos quando estamos reunidos com
os demais num templo da Escola Espiritual e ouvimos falar das
coisas da Pátria divina”.

108A GNOSIS CHINESAO que é o repouso? Já refletistes sobre isso? Por acaso não
tendes em mente aqui o repouso periódico do corpo, ou aqueles
momentosdeliberdadedepoisdeumdiadetrabalhoouno mde
semana, ou ainda a interrupção de vossas atividades mentais que
a sociedade atual tenta vos impor durante vossas férias anuais? E
não tendes em mente também o pretenso repouso que se seguiria
à vossa jornada na vida?
O repouso de que fala Lao Tsé é totalmente interior, é a marca
essencial do novo homem, é a paz que caracteriza o povo de Deus.
Trata-se de um estado constante que perdura noite e dia, um
estado contínuo.
Por que, então, o homem vive na inquietude? Porque sua natureza é dialética e é dominada pelas forças opostas, pela luta. O
repouso do corpo não faz cessar essa inquietude. Por isso, não
podemos experimentar nenhuma forma de quietude.
A verdadeira quietude só se instala quando a nova alma reina
no homem. Ele entra, então, num estado que já não se caracteriza
pela luta, mas pela paz. Essa paz não surge somente depois que
a perfeição foi atingida; não, ela aparece imediatamente após a
primeira ligação de nitiva com o reino interior, após a primeira
autorrendição.
Assim como a nova vontade mantém-se rme na Gnosis, o candidato mantém-se na atmosfera da perfeita paz quando participa
do Graal. Ele não é perfeito, porém respira na Gnosis
enquanto
se processam a abertura e o fe¯amento das portas.
É evidente que
esse homem diz adeus à natureza da morte e se encaminha para
a nova vida. Ele é um verdadeiro emigrante. No decorrer desse
processo, asportasdopassadosefe¯amsucessivamentedemodo
automático e as portas da renovação se abrem progressivamente.
Como? É necessário nos esforçarmos muito para fazer ou não
fazer alguma coisa? Não. Porque o
sábio permanece em perfeita
quietude, enquanto se processam a abertura e o fe¯amento das
portas
com a regularidade de um relógio.
10910-II · O SÁBIO PERMANECE EM PERFEITA QUIETUDEPor acaso já vistes a estátua de um lohan?6 Essa imagem respira repouso, ela é repouso. Essencialmente, o repouso e esse
homem formam uma unidade. No mundo dialético, o repouso é,
no melhor dos casos, um vácuo em meio a uma grande agitação
e, geralmente, trata-se exclusivamente de repouso físico. A quietude do aluno que progride representa sua participação no novo
campo de vida.
Não obstante sua luz penetrar por todas as partes, ele pode
parecer ignorante.
Consideradas exteriormente, estas palavras podem parecer incompreensíveis, mas, após reflexão, elas são tão incrivelmente belas e
magní cas, divinas e luminosas, que decidimos fazer o máximo
para torná-las compreensíveis a vós. Estas palavras também são
muito cômicas, pois viram de cabeça para baixo todas as relações
habituais.
A palavra ignorância soa mal! O homem deve ter conhecimentos. Ele deve saber e conhecer tudo na natureza, caso contrário
nada funciona. A educação baseia-se nessa noção. Alguém pergunta a um aluno: “O que é essa Escola Rosacruz?” Quem faz essa
pergunta é ignorante. O aluno coloca-o em contato com a Escola
Espiritual, onde sua ignorância é dissipada na medida do possí­
vel. É possível que essa pessoa, antes ignorante, passe a assistir
às conferências e aos serviços. A Escola procura, continuamente,
esclarecer os que perguntam e buscam, desde que isso tenha a ver
com a missão dela. Bem ou mal, ela tenta remediar a ignorância,
com resultados variáveis.
Será, então, que o aluno é um tolo? Não, ele dispõe de uma
inteligência natural, de uma educação conveniente etc.; no entanto, a ignorância do homem dialético é fundamental. Pode-se
6Lohan: discípulo de Buda (N.E.).
110A GNOSIS CHINESAfazê-la desaparecer sob diversos aspectos, porém o conhecimento
também tem seus limites. Existe, pois, uma pesquisa cientí ca
incessante para ampliar os limites do saber em todas as áreas. Poder-se-ia conseguir isso num grande número de áreas, o que, em
parte, acontece, embora lenta e parcialmente, também porque
muitos conhecimentos se perdem.
Quanto à nossa Escola, seu trabalho baseia-se num segredo:
embora as aparências estejam contra nós e sejamos obrigados a
¯egar até vós por meio de conhecimentos, com certeza não temos a intenção de aumentar vossa ciência. Pensai nas palavras
do Eclesiastes: “Quem aumenta a ciência, aumenta o sofrimento”. Direis: “Compreendo, posso ¯egar ao conhecimento de
maneira diferente, seguindo o caminho!” Isto, porém, é apenas
parcialmente verdadeiro, e se o compreendermos mal, poderão
ocorrer erros lamentáveis.
Já vos falamos acerca dos sete ventrículos cerebrais, os espelhos da consciência da nova alma, a visão interior clara e pura. O
funcionamento desses espelhos é automático no homem comum,
mas muito caricatural no ocultista treinado. Este consegue vivicar um pouco, embora muito imperfeitamente, os ventrículos
cerebrais em relação com a pineal. O homem comum deve contar somente com os sentidos desta natureza, com a capacidade
de sua massa cinzenta e com as circunvoluções do cérebro. Ele
dispõe de cinco sentidos e mais dois que ainda não funcionam
totalmente. Esses sentidos são, para ele, os sete espelhos dos quais
se serve para assimilar o saber e tentar retê-lo. Acerca dessa maneira de aprender pode-se a rmar: “Quem aumenta a ciência,
aumenta o sofrimento” ou ainda “a soma de todo o saber é que
nada sabemos”.
Todavia, podeis realmente a rmar de um sábio: “ele nada sabe,
ele aumenta o sofrimento”? Isto é impossível, pois, devido à sua
própria sabedoria, ele participa de um grande e magní co valor
imutável.

11110-II · O SÁBIO PERMANECE EM PERFEITA QUIETUDEO conhecimento cientí co é um conhecimento exterior, que
não penetra até a essência interior. O conhecimento cientí co
esforça-se por penetrar até essa essência, mas não o consegue
efetivamente. Ele é imperfeito, portanto doloroso, e jamais absoluto. Ele sempre apresenta novas hipóteses e constantemente
recomeça.
O saber não nos torna sábios. Ser sábio signi ca conhecer e
dominar todas as coisas no que elas têm de mais profundo. O
sábioaqueserefereLaoTsé,osábioqueeletememmente,possui
a capacidade de se servir dos sete espelhos, das sete cabeças e dos
sete olhos da nova alma. Ele pode dirigir seus sete espelhos para
um objeto qualquer e, no mesmo instante, conhecê-lo e experimentá-lo totalmen-te. Falamos aqui de sete sentidos e faculdades
absolutamente diferentes e novos. Trata-se dos órgãos da inteligência do novo homem, do verdadeiro homem, os órgãos da
inteligência do povo de Deus. Agora talvez possais compreender
as palavras:
Não obstante sua luz penetrar por todas as partes, ele pode
parecer ignorante.
Trata-se aqui do desaparecimento dos órgãos da inteligência da
natureza comum e da formação dos órgãos da nova inteligência.
Evidentemente, a Escola da Rosacruz Áurea apela inicialmente
a vossos antigos órgãos da inteligência. A Escola precisa, até um
determinado ponto, trabalhar por vós e convosco. Deveis ser
capazes de abordar a Escola com as faculdades da inteligência
comum. Mas, se seguirdes o caminho, o caminho trans gurístico
da autorrendição, é preciso que vos torneis ignorantes do conhecimento comum e desenvolvais a nova consciência, a faculdade
cognitiva. Então, as sete novas luzes se acendem, caminhais entre
os sete castiçais de ouro e segurais na mão direita as sete estrelas
dos novos órgãos da inteligência.

112A GNOSIS CHINESATereis, assim, o poder de escrever a carta da sabedoria vivente
à comunidade dos efésios, os habitantes do limite, na qual lhes
dizeis: “Vós, que penais pelo conhecimento único, vós, que vos
extenuais por compreender, vinde para a única vida. Vossa luz
penetrará tudo, e podereis ignorar o resto”.

11310-III
A VIRTUDE MISTERIOSA
Voltemos ao nal do décimo capítulo do Tao Te King:
O sábio gera as coisas e as alimenta. Ele as gera sem as
possuir.Eleacrescentaemultiplicasemesperarrecompensas.
Ele reina e não se considera mestre. A isso se denomina a
virtude misteriosa.
Nossa tarefa agora é nos aprofundarmos na virtude misteriosa,expressão particularmente justa e boa para designar o estado de
ser do taoísta, do trans gurista.
Principiemos perguntando de que tipo de virtude se trata aqui
e por que a quali camos de misteriosa. A virtude de que falamos aqui é o último estágio de libertação total, de perfeita paz,
de não ser absoluto. E consideramos misteriosa, do ponto de
vista dialético, a maneira impenetrável pela qual essa libertação
se produz.
Em nossa natureza, pode-se observar e seguir em detalhes o
desenvolvimento de cada homem, porém, em se tratando de um
trans gurista, encontramo-nos diante de um enigma. Um místico que se despede do mundo, se retira para algum lugar, se ocupa
com intermináveis e piedosas meditações e se entrega a todo tipo

114A GNOSIS CHINESAde devoções e penitências segue um caminho de vida transparente. Sua vida pode ser descrita ano após ano, podemos dizer
como ela começou e como terminará. O ocultista também segue
um caminho previsível. Quem quer que esteja a par da mentalidade e das práticas do ocultista pode perfeitamente saber em
que ponto ele está e aonde ele vai. Não há aí nada de misterioso.
Um homem com a inteligência bem treinada, que frequenta a
universidade, estuda e se especializa, é alguém que conhecemos,
que, por assim dizer, vemos crescer, pouco importando sua pro ssão. Assim, podemos dizer que essas existências desenvolvem-se
segundo determinado esquema.
E, à medida que essas pessoas seguem esse esquema com sucesso,
logo se tornam conhecidas e renomadas, honradas e lisonjeadas.
Elas se tornam guras históricas que na escola e na vida são citadas
como exemplo para todos. Neste caso, não se trata da virtude
misteriosa, porém de uma virtude muito comum, muito evidente,
que se desenvolveu segundo o esquema em questão: tal homem
era assim, fez isso, tornou-se aquilo! Tudo é muito claro.
Já o desenvolvimento do trans gurista, ao contrário, é insondá­
vel. Os resultados aparecem, evidentemente, porém ninguém saberia dizer como eles se tornaram possíveis, como tudo aconteceu.
Para o mundo, seu caminho de vida não é claro.
Tomemos como exemplo o sapateiro Jacob Boehme. Enquanto
consertava sapatos, ele sondava a manifestação divina. Ele conhecia tão bem os caracteres da realidade, da eternidade, que, em
mil anos, não haverá nenhum doutor em letras que lhe ¯egue
aos pés. Virtude misteriosa, libertação misteriosa, também para
Jacob Boehme!
Eis aí a assinatura. Escutai Paulo: “Se está no corpo ou fora do
corpo, não sei, mas é isso”. Virtude misteriosa!
Tais pessoas teriam praticado a virtude? Teriam-na estudado
ou implorado por ela? Não o sabemos! Elas próprias não o sabem.
Elas são ignorantes. Todavia, sua luz penetra tudo, razão pela

11510-III · A VIRTUDE MISTERIOSAqual elas podem ser ignorantes. A virtude existe, suas propriedades existem, porém o caminho é o grande e maravilhoso milagre.
Nem um único centímetro sequer desse caminho pode ser “for­
çado”, “misti cado”, “praticado” ou “ensinado”. Nesse sentido, é
preciso sermos totalmente ignorantes.
Não seria, então, um erro falarmos desse caminho? Dele só
podemos mostrar-vos um aspecto altamente positivo: seu início.
A senda, o Tao, deve ser iniciado com a rendição do eu dialético
ao Reino em vós. E quando o eu tiver se rendido, que poderá ele
fazer ainda? Ele não existe mais!
Dizemo-vos agora: “Quando isso tem início, tende cuidado!”
Qual sucessão de maravilhas, vistes a virtude surgir em vosso
caminhar, tão misteriosa para vós quanto para os demais, permanecendo igualmente misteriosa mesmo quando seguis o caminho.
Porque a virtude misteriosa é una com outra natureza, com outro
estado de alma. E o que sabeis a esse respeito?
Estais no cimo de uma montanha e descobris uma fonte escondida. Bateis na ro¯a e a fonte jorra. Acaso podeis dizer como
a água buscará e encontrará seu caminho para baixo? Como ela
alcançará o mar?
Na vida comum, ocupais vosso lugar num escritório, ou numa
o cina, ou num canteiro de obras, numa loja ou em casa, pouco
importa. Sois conhecidos, conheceis muitas pessoas que sabem
onde morais. Muitos vos conhecem muito bem e sabem do vosso
valor e como vos comportais na vida cotidiana. Conhecem vossas
possibilidades e vossas di culdades, eventualmente vossos limites
estreitos. Talvez vos conheçam desde a época da escola, onde, sem
dúvida, estáveis dentre os alunos comuns. Não sabíeis grande
coisa; isso continua e vos sentis muito modestos.
E eis que, por sugestão da Escola da Rosacruz, por necessidade
interior e atendendo a um insistente convite nosso, cabe-vos realizar o maravilhoso autossacrifício joanino. Vosso eu comum,
tão bem conhecido de muitos, vos conduz até o espírito do vale,

116A GNOSIS CHINESAe vos esvaziais de vós mesmos, em total oferenda ao Outro que
deve crescer em vós.
Admitamosquerealmenteofaçais,queoSenhorouaSenhora
Comum o faça. Que acontece então? Bateis na ro¯a e uma torrente de água viva jorra e segue seu caminho. Que acontece a
seguir? Aos olhos do mundo, dos homens que vos conhecem tão
bem,continuaisaseroSenhorouaSenhoraComum.Continuais
a ir ao vosso trabalho, morais na mesma rua e no mesmo nú­
mero.Porém,jánãoestaislá.Desaparecestes,comoopersonagem
principal de
O dominicano branco, de Gustav Meyrink.
E agora um milagre se realiza: a corrente do novo estado de
alma, que surgiu a partir de vossa total autorrendição, prossegue
seu caminho na casa que abandonastes. Esse caminho de vida revela novas tônicas, novos fatos, para a multidão perplexa que vos
conhecetãobem:“Comoépossível?”dizem.Virtudemisteriosa!
O ser que éreis anteriormente ri e secala; ele trabalha nasua
empresa pelo tempo que for necessário, preen¯e uma fatura,
vende sua mercadoria, conversa amenidades com seu cliente ou
faz qualquer outra atividade. Mas, ao mesmo tempo, o Outro
gera em vós as coisas e as alimenta.
Como isso épossível? É possívelporque, pelagrandeoferenda
de vós mesmos, vosso eu animal, vosso eu biológico, tornou-se
uma parcela, uma fagulha, um pequeno raio do grande princípio
do coração, ao qual tudo está ligado. E nasce uma sensação, o
sentimentodequeoantigoeu,impelidoparaumcantoemantido
à distância, observa essa nova evolução e dela participa como
simples interessado, sem exercer nenhuma influência. É como
se o Outro em vós vos falasse, vez por outra, como um parente
sublime: “Olha, irmão, irmã, é assim que deve ser”, e curvais a
cabeça, ¯eios de devoção.
A assinatura da nova consciência é uma percepção consciente
totalmente outra. Já não se trata de uma consciência-eu, porém
de uma consciência coletiva. O Outro em vós gera as coisas e as

11710-III · A VIRTUDE MISTERIOSAalimenta. Ele as faz nascer, mas, nessa situação, acaso a rmareis e
sustentareis que as possuís?
O Outro em vós é o construtor da nova morada da alma, e
vós apenasobservais eexperimentais, sem possuir. O Outro em
vós aumenta a virtude e a multiplica. A corrente se alarga e se
aprofunda. E vós, que nada zestes e, no entanto, sois bene ciados,esperaisalgumarecompensa?Qualrecompensapoderíeis
desejar? Que espécie de recompensa seria ainda possível?
Vossa vida segue um curso rápido, a virtude aumenta e o ser
dequem,nopassado,fostesmestreesenhor,eleva-seagoramillé­
guasacimadoSenhorouSenhoraComumdeoutrora.ÉoOutro
emvósquegoverna.“Nãomaiseu,porémoCristoviveemmim”.
Seriaumabsurdoconsiderar-vosmestre,nãoémesmo?Estátotalmente fora de cogitação que possais dizer: “Eu, o iniciado; eu,
o mestre; eu, o enviado da Fraternidade; eu, o mandatário; olhai
para mim. Eu sou
o homem!”
Podeis sempre reconhecer os homens que querem introduzir-se em vossas leiras mas não querem seguir o caminho da
virtude misteriosa: eles colocam seu eu dialético em primeiro
plano; colocam sempre seu eu em evidência. Eles travam uma
batalha, como sempre travamos as batalhas nesta natureza.
Se, porém, fazeis calar o eu e seguis o caminho da sabedoria,
ocorre um crescimento, um desenvolvimento e um progresso,
de força em força e de magni cência em magni cência, a que
nenhum ser humano pode se opor. Escapais, então, desta natureza onde se abatem calamidades e conflitos. O reino de Deus
em vós se revela e vos dirige. Ele vos governa sem que o percebais,semconstrangimento,porqueessegovernorespondeaum
princípiofundamentaltotalmenteoutro,denaturezatotalmente
diferente.
Nomundocomum,oeusemprereinasobreoutroeu,existe
opressãoe…issoéinevitável!Nonovocampodevida,semelhante
coisa não existe! Um dia, será assim:

118A GNOSIS CHINESAQuem és tu, irmão?
Quem és tu, irmã?
Não somos ninguém!
Partimos para sempre; estamos mortos e estamos vivos. E vemos
o grande, o maravilhoso milagre, o milagre a que denominamos
a virtude misteriosa.


120
Os trinta raios de uma roda convergem para o cubo, mas é unicamente devido ao espaço vazio que eles são úteis.
O vaso é modelado com argila, mas é unicamente seu espaço vazio
que o torna útil.
Colocam-se portas e janelas na casa em construção, porém é unicamente por seu espaço vazio que elas são úteis.
Portanto: o ser, o material, tem sua importância, porém é do não
ser, do imaterial, que depende sua verdadeira utilidade.
Tao Te King, capítulo 11

12111
NÃO HÁ ESPAÇO VAZIO
O capítulo 11 do Tao Te King ¯ama nossa atenção para pontos
extremamente importantes. Estamos diretamente delimitados
pelo que denominamos “espaço vazio”. Por exemplo, uma roda,
um vaso e uma casa só são importantes devido a seu espaço vazio.
E aqui automaticamente pensamos no túmulo de Cristiano Rosa­
-Cruz. Algumas sentenças estão gravadas em sua lápide, das quais
uma é: “Não há espaço vazio”. Evidentemente, Lao Tsé ¯egou
à mesma conclusão, pois um verdadeiro “vazio” não pode ser de
utilidade.
Existe uma onimanifestação que conhecemos como o Universo da morte. O segundo plano invisível é mais importante do
que sua aparência universal visível. A parte imaterial da natureza
dialética, a invisível, determina a parte material, a visível. A parte
visível tem uma tarefa e uma nalidade explicáveis pelo invisível.
Quando aprendemos a conhecer a tarefa e a nalidade do mundo
dialético e veri camos que aqui tudo é infelicidade e tristeza, já
não é possível ter respeito pelo espaço vazio, pelo segundo plano
invisível dessas coisas e desses fenômenos. Com efeito, o visível
se explica pelo invisível.
Na natureza da morte, o invisível faz o que pode para mascarar
sua nalidadeesuatarefaparatudooqueexiste, fervilhaeseagita

122A GNOSIS CHINESAno espaço vazio, porque os éons e os arcontes sabem muito bem
que é sempre possível, partindo dos efeitos, ¯egar às causas. É por
isso que o mundo dialético geralmente se esforça por mascarar
sob falsos véus o verdadeiro caráter da natureza da morte. Isto é
só parcialmente bem sucedido, pois, com o correr do tempo, a
aparência revela de modo inelutável sua verdadeira natureza.
Acaso não seria, então, essa dissimulação um esforço inútil?
Não, porque quando a verdadeira natureza aparece à luz do dia,
na maioria das vezes e sob diversos aspectos, já é tarde demais
para proteger-se contra ela. Existem igrejas e santuários para
responder a todas as necessidades metafísicas da humanidade. Todavia, eles servem unicamente para manter este mundo e impedir
que a humanidade conheça o verdadeiro caráter da natureza da
morte; se o homem se dedica magneticamente por inteiro à instituição que lhe promete a salvação e com ela se sintoniza por
inteiro, ele cará magnetizado e será incapaz de seguir o processo
gnóstico-magnético verdadeiramente libertador. Isso prova a importância do estudo dos espaços vazios da natureza da morte. É
aí que residem os perigos, é aí que residem as causas.
Eis por que a Escola Espiritual moderna desmascara para vós o
invisível, que é visível em seus fenômenos. As máscaras opressivas
da esfera refletora são arrancadas. Aquilo que para nós é um espaço vazio é desnudado. E aprendeis o que pensar a esse respeito
e sabeis quais as conclusões que cada um tem o direito de tirar.
Todos os homens encontram-se no centro de uma roda. Cada
microcosmo e cada alma mortal situa-se no ponto central de uma
onimanifestação. O sol vos envia seus raios e todos os corpos
celestes irradiam para vós. Vós vos encontrais, pois, numa roda
de raios ígneos que convergem todos para vós, em vós, o ponto
central:
os trinta raios de uma roda convergem para o cubo.77Cubo: peça onde se encaixa a extremidade dos eixos de uma roda (N.E.).
12311 · NÃO HÁ ESPAÇO VAZIOA roda é, portanto, a luz astral que vos movimenta. Vós sois o
centro da roda, visto que sois o ponto central para o qual convergem os raios. Trata-se aqui de trinta raios, porque a Doutrina Universal fala frequentemente dos trinta raios primários da grande
roda de fogo. Existem três grandes correntes de fogo astral. Em
cada uma delas se encontram numerosas linhas de força. Esses
trinta raios não emanam do Universo visível, mas do invisível, do
vácuo, do espaço vazio. O fogo astral é invisível.
Esses raios ou canais concentram todas as forças e possibilidades do espaço total da roda flamejante e as impulsionam para o
centro. A roda gira ao redor desse centro, o qual porta um veículo
ou uma existência. Essa existência tem determinada nalidade
que empresta sua utilidade, ou sua inutilidade, para o espaço vazio, para o manancial de força. O manancial de força determina
a capacidade, a força e o poder de se tornar visível.
Após ter demonstrado isso, Lao Tsé entra em detalhes. Ele diz:
“Pensai agora no vaso”. Já vimos que esse vaso é o Santo Graal, a
grande fonte do coração. Nessa taça está oculto um princípio: a
rosa do coração. Mas essa taça também ¯ama vossa atenção para
todo o vosso santuário do coração, que tem um grande papel no
processo do Graal. O santuário do coração, não se pode negar, é
fe
ito de “argila”, ou seja: de materiais desta natureza. Ele somente
será útil ao aluno se este preen¯er o espaço vazio com o espaço
invisível, o espaço vazio da Gnosis; se o vaso for preen¯ido com
a água viva, com a roda ígnea da salvação. Antes, porém, é preciso
que haja uma puri cação do coração.
Observai o quanto os homens se ocupam em construir sua
residência, sua personalidade, em transformá-la e em provê-la de
todas as maneiras possíveis. Eles se preocupam constantemente
com suas portas e suas janelas que devem assegurar-lhes a entrada
e a saída e oferecer-lhes perspectivas. Interrogai-vos agora se a casa
que estais construindo possui ou não portas e janelas voltadas
para o espaço vazio da Gnosis. Em qual roda ígnea estais? A roda

124A GNOSIS CHINESAem que vos encontrais determina a carga que devereis assumir.
Vossa casadeveráserútilà naturezada morte ouànaturezada
vida?
Sois o cubo para o qual convergem trinta raios, trinta rios
alimentadosporinúmerascorrentesdeáguadoespaçovazio.Mas,
em qual espaço vazio vos encontrais?
Estais em dois espaços: em primeiro lugar, no espaço-tempo;
emsegundolugar,naeternidade,naonipresença.Porisso,podeis
ver, de maneira abstrata, duas rodas girarem ao vosso redor, duas
rodas ígneas. Para qual roda vossas janelas se abrem? Para qual
fogovossasportasestãoabertas? Baseadona concepçãode qual
roda construís vossa casa? Compreendeis agora que é do não ser
que depende a verdadeira utilidade? Há algo que não sois e algo
que sois, e deveis tornar-vos naquilo que não sois.
A cada segundo de vossa vida vós vos dedicais a ser alguma
coisa, a demonstrar algo. Aquilo que mostrais e demonstrais dene a esfera imaterial, o espaço invisível que vos mantém vivos.
Portanto,apartirdomomentoemquefocalizardesvossaatenção
nos resultados reais de vossa vida, sabereis qual das duas rodas
ígneas que giram ao vosso redor vos domina em vossa existência.
A Escola Espiritual moderna é o campo onde podeis aprender, e
onde vos ajudamos a utilizar a taça do coração, o Graal, fonte de
todo o vir-a-ser, e a construir devidamente a casa da renovação.
Desejamos trazer essas coisas para perto de vós. Pensai no tapete
colocadoemfrenteaolugardeserviçoemnossostemplos.Vós,
alunos da Escola Espiritual, sois o objetivo da Escola Espiritual.
Ela quer fazer-vos atingir o objetivo; sois, portanto, o eixo em
torno do qual a roda gira. Bem, colocai-vos agora sobre o tapete.
Quevedes?Eoquesentis?Estaisnopontocentraldeumcírculo,
de uma roda ígnea. Inúmeras forças vêm sobre vós. Como rios
provenientes do invisível, a água viva aflui sobre vós. Os raios
dessa roda convergem ao vosso redor:

12511 · NÃO HÁ ESPAÇO VAZIOOs trinta raios de uma roda convergem para o cubo, mas é
unicamente devido ao espaço vazio que eles são úteis.
A seguir, permanecei no triângulo. Os trinta raios da roda manifestam-se agora por três correntes principais e querem preen¯er
o vaso, a taça do Graal do coração, até a borda com a água viva.
Ovasoémodeladocomargila,maséunicamenteseuespaço
vazio que o torna útil.
Finalmente, descobris que estais no quadrado. É nesse quadrado
que deveis construir vossa casa, a nova morada, bem abastecida
de portas e janelas para as almas trans guradas.
Colocam-se portas e janelas na casa em construção, porém
é unicamente por seu espaço vazio que elas são úteis.
Da sabedoria evangélica milenar de Lao Tsé vemos surgir o tapete
da Escola Espiritual moderna. Irmão, irmã, colocai-vos sobre
o tapete, e ele vos conduzirá para a ordem da liberdade eterna.
Quem puder compreender, compreenda.

126
As cinco cores cegam o olho, os cinco sons ensurdecem o ouvido, os
cinco sabores corrompem o paladar.
Corridas e perseguições desenfreadas mergulham o coração humano
no erro. Os bens de difícil aquisição incitam a atos funestos.
É por isso que o sábio se ocupa de seu próprio interior e não de seus
olhos.
Ele rejeita o que vem do exterior e anseia pelo que está no interior.
Tao Te King, capítulo 12

12712
VISÃO, AUDIÇÃO E PALADAR
Os antigos distinguiam cinco cores, cinco sons e cinco sabores.
Nós conhecemos séries de sete cores, sete sons e sete sabores,
embora alguns homens distingam mais ou menos de sete cores,
sete sons e sete sabores. Por isso, é essencial dirigirmos nossa
atenção para as faculdades da personalidade que cooperam entre
si: a visão, a audição e o paladar. Salientamos apenas que a visão
reage principalmente à força astral, a audição, à força etérica e o
paladar, à combinação de ambas.
Essa síntese, formada pelos combustíveis da força astral e da
fo
rça etérica, é, na verdade, o material de construção. Quando
esse material de construção é mais concentrado e utilizado de
modo mais exato, ele se divide em três aspectos ou três elementos:
o ar, a água e a terra. Todos os três se encontram também em
nosso campo* de respiração, isto é, na nossa atmosfera vital; em
nossos fluidos vitais, por exemplo, o sangue e o fluido nervoso 
nossa água da vida ; e em nossa forma vital, as partes sólidas de
nossa personalidade.
A visão é sensível ao astral; a audição, ao etérico; o paladar,
nossas preferências alimentares e nossa assimilação alimentar, é
determinado pelo astral e pelo etérico. Portanto, do paladar se
desenvolvem a atmosfera vital, o fluido vital e a forma vital, da
mesma forma que o ar, a água e a terra se formaram a partir das

128A GNOSIS CHINESAáguas originais ou substância-raiz. Desse modo, podemos tambémdizerqueapersonalidadepossuiumaparatoespecialpara
atrair e transformar a força astral e a força etérica, cujo resultado determina a personalidade. Com efeito, o homem possui
esse sistema especial do qual a visão, a audição e o paladar são
componentes extremamente importantes.
Vejamos, então, a que se refere o capítulo 12 do
Tao Te King.O modo como vemos está em perfeita harmonia com a força
astral com que estamos envolvidos. Ouvimos em total conformidade com a força etérica atraída pela luz astral magnética. Por
conseguinte,onossoestadodeser édeterminadopelo tipodealimentaçãodaídecorrente.Ecomoahumanidadevivenanatureza
da morte, é fácil entender que isso provoca um forte conflito:
As cinco cores cegam o olho,
os cinco sons ensurdecem o ouvido,
os cinco sabores corrompem o paladar.
Essesistemacomeçaafuncionar desdeoberçoecontinuaaté o
túmulo.OdesenvolvimentodoreinodeDeus,latentenohomem,
recebe a oposição dessa cegueira, desse ensurdecimento e dessa
corrupção.Ohomempossuiolhos,masnãovê;possuiouvidos,
mas não ouve. Esse defeito submete o ser-forma do homem à
corrupção e à cristalização.
Parecequetodohomemsabedissointuitivamente.Elesesente
ameaçado, de todas as formas, por esse grande conflito. Sua vida,
sua saúde, suas forças vitais correm um grande perigo! É por isso
queelesedeixalevarafazerinúmerasexperiências.Paraafastar
o perigo! Dessa maneira, seu estado torna-se cada vez mais sério,
poissuaatividadebaseia-seemsuacegueiraeemsuasurdez.Seus
desejos e suas cobiças visam apenas sua própria conservação e
desorganizamosantuáriodocoração.Eletornaincessantemente
tudo mais difícil para si mesmo e para os demais:

12912 · VISÃO, AUDIÇÃO E PALADARCorridas e perseguições desenfreadas mergulham o coração
humano no erro. Os bens de difícil aquisição incitam a atos
funestos.
Agora podeis compreender perfeitamente essas palavras. Não
as analiseis de forma super cial, mas compreendei que todo ser
humano dialético é obrigado a fazer corridas e perseguições desenfreadas no processo de autoconservação.
Examinemos novamente os sentidos em questão: a visão, a audi­
ção e o paladar.
Não é sem razão que se diz que os olhos são o espelho da alma.
Vossa alma é a luz vital que vos dirige, o fogo astral que vos dá a
consciência. Vosso olhar reflete vosso estado de ser. Observando
no espelho do olho, podemos distinguir os diferentes tipos de
almas. No olhar podemos ler todo o estado de ânimo, toda a
condição anímica, todas as comoções astrais.
Sabeis que geralmente se admite que as vibrações etéricas produzem o que denominamos “luz”. Essas vibrações estimulam o
conjunto do sistema extremamente complicado dos olhos. Em seguida, através dos nervos óticos, elas são transmitidas ao cérebro,
onde nasce a impressão de “luz”.
Somos de opinião que isso é incorreto. Pelo tálamo ótico, as
vibrações do sétuplo candelabro astral, que arde no santuário da
cabeça, são transmitidas aos olhos em pequenas ondas magnéticas. O homem “vê” de acordo com esses impulsos transmitidos.
Ele vê, ou espera ver, de acordo com seu estado magnético. Ao
veri car um ponto de conflito, ele busca restabelecer o equilíbrio
entre o interior e o exterior. Daí as corridas e as perseguições
desenfreadas.
Também deveis conhecer a maravilhosa estrutura do ouvido.
Nele distinguimos a parte que recebe o som, a que o conduz e
a que o percebe. É assim que o mundo dos sons se comunica

130A GNOSIS CHINESAconosco. O som é provocado por ondas etéricas, por vibrações
etéricas. Cada vibração é recebida por nossos ouvidos, quer sejamos surdos ou não. Nesse sentido, portanto, sempre “ouvimos”,
como também um cego sempre “enxerga”. A surdez é o estado
emqueosomproduzidopelasvibraçõesdoarnãopodeserpercebido. Assim também a cegueira torna impossível a visão exterior,
masnãooprocessoastral magnéticomencionadoanteriormente.
Napartedoórgãodaaudição¯amadacóclea,encontra-seum
instrumento comparável a um piano em miniatura. Ele contém
vinteequatromilcordasque,juntas,ocupamumvolumemenor
do que o de uma ervilha. Nesse e por esse instrumento todas as
vibrações etéricas que ¯egam a nós são recolhidas e ouvidas em
certo sentido. Elas são, a seguir, analisadas e depois transmitidas
à consciência com o auxílio de pequenas correntes elétricas.
Oquequeremosdizer-voscomissoé:criaisaovossoredorum
campo magnético. Esse campo não funciona automaticamente,
mas é dirigido conscientemente por um instrumento, que são os
olhos.Medianteessecampoatraíséteres.Comosouvidosescutaissonse,consequentemente,recolheisascorrentesetéricasque
vêm a vós. Esses sons são classi cados pelos ouvidos e, a seguir,
podem ser utilizados onde for necessário na administração do
sistema.Osistemanervosointeirotomapartenisso.Emcoopera­
ção essencial com tudo isso aparece então o paladar, como fator
de ligação.
Primeiro, portanto, uma esfera astral é construída e mantida
pela visão. Em segundo lugar, a partir daí, forças etéricas são
atraídas, percebidas e distinguidas de acordo com suas vibrações.
Então, a substância é inalada, consumida: surge o paladar.
Quando uma pessoa se torna aluna da Escola Espiritual, a
¯ave da grande mudança é, naturalmente, seu estado de alma,
portanto, seu estado magnético. Isto explica o terceiro versículo
docapítulo12:
Éporissoqueosábioseocupadeseuprópriointerior
e não de seus olhos.

13112 · VISÃO, AUDIÇÃO E PALADARO encadeamento de causas e efeitos deve ser rompido. Imaginai o homem tal como ele é: em seu interior, um poderoso
instrumento; em seu exterior, um mundo. Esses dois componentes, embora sejam, sob inúmeros aspectos, provenientes da
mesma ordem de natureza, estão mutuamente em conflito. Daí
surgirem “as corridas e as perseguições desenfreadas” para tentar
atingir o equilíbrio. É assim que os conflitos se perpetuam em selvagens turbilhões. É assim que a roda do fogo astral dialético gira
sem cessar. É por isso que o sábio se volta para o átomo original,
a rosa do coração, no imo de seu ser. Ele rejeita tudo que provém
do exterior e anseia pelo que está dentro do reino do coração.
Então, ele rompe a cadeia de causas e efeitos.
A partir desse momento, outro fluido magnético é atraído
para o sistema. Desse modo, os olhos já não veem conflitos no
mundo, mas um mundo no qual o homem não está em casa. As
corridas desenfreadas cessam no plano horizontal. Os ouvidos
ouvem e assimilam outras forças etéricas. Assim, o paladar recebe
outra alimentação e os cinco fluidos da alma ocasionam uma
grande transformação ¯amada “núpcias alquímicas de Cristiano
Rosa-Cruz”.

132
Elevada honra e desonra são coisas temíveis. O corpo é como uma
grande calamidade.
Por que fazer semelhante a rmação sobre elevada honra e desonra?
Elevadahonraéalgoinferior.Recebê-lacausamedo.Perdê-lacausa
medo. É por isso que se diz: elevada honra e desonra são coisas
temíveis.
Por que dizem que o corpo é como uma grande calamidade? Tenho,
portanto, grandes calamidades porque tenho um corpo.
Se eu não tivesse corpo, quais calamidades poderia ter?
Por isso, quem considera governar o reino uma tarefa muito pesada,
a ele pode-se con ar o reino. Quem considera governar o reino algo
repreensível em si mesmo, a ele pode-se con ar o governo do reino.
Tao Te King, capítulo 13

13313
ELEVADA HONRA E DESONRA
SÃO COISAS TEMÍVEIS
Em nossa ordem social, obter honrarias e glória é um poderoso
estímulo para a ação. Subir bem alto na escala social, ocupar um
lugar preponderante no mundo das artes, da ciência e da religião,
bem como na sociedade, ter uma posição de autoridade em qualquer grupo ou associação, é uma tendência inata no homem desta
natureza. Desde a juventude ele é treinado para isso.
Os que recebem elevada honra têm, geralmente, uma posição
instável. Eles são respeitados, porém invejados. Eles são alvo de
intrigas e são combatidos. Não de forma aberta, mas geralmente
por meio de rumores ou de calúnias, com sussurros envenenados.
É por isso que, na grande maioria dos casos, a elevada honra é algo
a ser temido. Um imenso medo toma conta dos homens, medo
de perder a posição, medo de uma possível queda, porque quão rá­
pido alguém que recebeu uma elevada honra cai em desonra. Por
isso, o caráter dessas pessoas perde em qualidade; elas se tornam
duras como pedra e impiedosas. Sem sentimentos, elas ¯utam e
arriscam tudo para se manterem.
Talvez já tenhais tido a oportunidade de estudar essa situação
e de examiná-la do ponto de vista psicológico. É algo assustador,
cruel, mais do que bestial. Observai as personalidades do tipo
que forma o “alto escalão”, aquelas que formam a classe média

134A GNOSIS CHINESAalta. Elas adotaram e aperfeiçoaram a civilidade dos patrícios de
tempos antigos. Elas são perfeitas nisso, sorriem, são divertidas e
joviais com todos os clientes do ¯efe. Elas são altivas e podem
latir como buldogues para os subalternos. Moram nas mais belas
casas de classe média. Vós as conheceis; existem aos milhares em
vossa vizinhança. Todavia, esses pobres-diabos têm tanto medo!
Mesmo que sejam funcionários públicos. Porque, mesmo que
seu salário e sua aposentadoria estejam garantidos, eles temem
muito perder sua posição. Essa posição de destaque é seu reino.
Ali eles são reis. Ali eles realmente governam. Mesmo à noite,
quando estão em casa, sentados em suas salas iluminadas, com
as cortinas descerradas. Eles brilham com sua aparência régia.
E, da mesma forma como os reinos fazem guerra entre si, esses
soberanos tudo fazem para defender seu reino. O medo fornece
audáciaecoragem;éomedoquefazosheróis.Sim,
elevadahonra
e desonra são coisas temíveis,
vós o sabeis, é claro.
Era assim seis séculos antes de Cristo, época em que o
Tao Te
King,
segundodizem,foiescrito.Oque,aliás,nãoécorreto,pois
esse evangelho vem até nós de um passado muito mais remoto.
E já naquele tempo era verdadeiro o que continua sendo para
nós:
elevada honra e desonra são coisas temíveis. O homem sempre soube disso. Vós o sabeis tanto quanto nós. Então, por que
falaraesserespeito?O
Tao Te Kingfalasobreissoporqueacrescentanoprimeiroversodocapítulo13:ocorpoécomoumagrande
calamidade.
Que devemos compreender com isso? Que os homens que
gozam de elevadas honras e temem perdê-las trabalham tão duro
queseesgotam sicamenteapontodeseremdeixadosdelado?Se
fosse apenas isso! Não, isso provoca uma calamidade de natureza
fundamental relativa à sua personalidade e ao seu microcosmo.
Ansiedade,preocupaçãoemedosãoirmãosdoódio.ADoutrina
Universal enfatiza que o medo e o ódio são a mesma e única
coisa. Quem tem medo odeia, e quem odeia tem medo. Nesse

13513 · ELEVADA HONRA E DESONRA SÃO COISAS TEMÍVEIScaso, o corpo de tais pessoas, bem como sua existência inteira, é
uma grande calamidade, tanto no que se refere à própria pessoa
quanto à humanidade.
Parabemcompreenderisso,deveislernaBíblia,emProvérbios
26:“Comoocacocobertodeescóriasdeprata,assimsãooslábios
ardentes e o coração maligno. Quem aborrece dissimula com os
seus lábios, mas no seu interior encobre o engano. Quando te
suplicar com a sua voz, não te es nele, porque sete abominações
há no seu coração. Ainda que o seu ódio se encubra com engano,
a sua malícia se descobrirá na congregação”.
Secompreendeisisso,compreendereisoqueLaoTséquerdizer
no capítulo 13. As sete abominações do coração referem-se aqui
ao estado fundamental da personalidade que se tornou o que ela
é. Sabeis que o santuário do coração está dividido em sete partes.
A Doutrina Universal fala dos sete cérebros do coração. Esses
órgãos referem-se à natureza fundamental do ser humano. Essa
natureza determina sua atitude de vida e sua mentalidade. É por
isso que se pode dizer: “O que o coração não quer, não ¯ega à
cabeça”.
Quandooódionascedaansiedadeedomedo,umfogomuito
ímpiodenaturezasétuplaardenocoraçãoeirradiaparaoexterior
atravésdoesternoedosolhos.Éumfogomalignoqueimpulsiona
paraaaçãotudooqueéímpionanaturezaeimprimeumcaráter
muito pernicioso àluta pela existência. Ele macula atotalidade
do campo de vida. O ódio é o polo oposto do amor terreno, e
quem odeia comporta-se, sob muitos aspectos, de modo similar
àquele que ama.
Nestemundo,oamorpodemanifestar-sedemodohumano.
Elepodeenvolverumgrandegrupodehomensoutodaahumanidade. O amor também pode ser dirigido a um único ser humano.
Quando amamos somos prestativos e atenciosos e nos esforçamos por servir, tanto quanto possível, o objeto de nosso amor.
Todavia,quandosurgeoódio,oobjetodesseódiosetornaofoco

136A GNOSIS CHINESAde nossa atenção consciente e inteligente, dirigida para encontrar
maneiras de prejudicá-lo e levá-lo ao infortúnio. Por isso, tanto
quem odeia quanto quem ama estão muito focalizados, muito
concentrados, no objeto de sua atenção. Trata-se, evidentemente,
de um perigo mortal. Tais grupos de homens, que estão voltados
desde sua infância para receberem elevadas honras e para suas
carreiras, são também as grandes fontes do ódio que envenena
todas as sociedades.
Esses homens estão muito doentes. O corpo é para eles uma
grande calamidade. Torna-se evidente que muitos que compreendem algo dessas coisas podem dizer:
Tenho,portanto,grandescalamidades porque tenho um corpo. E os que são negativos, suspiram:Se eu não tivesse corpo, quais calamidades poderia ter?Porque, quando somos objeto de um intenso ódio  e o ódio,
como o amor, é muito bem direcionado  há intenso dano. E
mesmo que não sejamos vítimas dele é preciso muita vigilância.
Compreendei que não se trata aqui de um prejuízo social, mas
de um prejuízo fundamental, de caráter moral.
O ódio é uma radiação astral; se a ele reagis através do medo,
por exemplo, ele imediatamente vos envolve e vos liga aos esgotos
da esfera refletora. O ódio é um fogo extremamente contagioso e
mortal. Quem odeia é extremamente re nado em seus desígnios.
Seus lábios ardentes com o fogo do ódio são como um caco de
louça recoberto de prata. Se não fordes cautelosos, o caco pontiagudo vos ferirá de maneira profunda. Por isso deveis ver o que
existe atrás do brilho da prata. Quem odeia engana com seus lá­
bios. Ele profere palavras de amor, de simpatia, de devotamento
e de grande interesse, mas interiormente armazena embuste.
Observai, sobretudo, sua tática sempre recorrente, a tática
do isolamento. Quando alguém deseja destruir um aluno no
caminho, romper-lhe a ligação com a Gnosis, tenta, primeiro,
isolá-lo. Com recursos bem escolhidos, ele o levará a uma situa­
ção de ansiedade, de preocupação e de medo. E como o sabeis,

13713 · ELEVADA HONRA E DESONRA SÃO COISAS TEMÍVEISquem se encontra nessa situação sente-se abandonado por tudo
e por todos. Ele foi isolado. A seguir, vem o assalto decisivo, o
aniquilamento, ou pelo menos a tentativa nesse sentido.
Sabeis que o homem sozinho, isolado, corre grandes perigos,
sendo repetidamente vitimado. E aqui aparece de modo muito
claro o imenso signi cado da unidade de grupo e o signi cado
dessa unidade na perfeita elevação no corpo-vivo da Escola. Não
é sem razão que o sábio poeta dos Provérbios diz: “Ainda que o
seu ódio se encubra com engano, a sua malícia se descobrirá na
congregação”. No tríplice campo de graça da Escola Espiritual
moderna, cada vibração de ódio é descoberta, desmascarada e
neutralizada. Quem participa do corpo-vivo da Escola Espiritual
e colabora em sua construção no sentido exigido será protegido
de maneira adequada e contribuirá para a proteção dos demais.
Mas, cuidado! “Quem estiver de pé cuide para não cair.” O
processo se desenvolve da seguinte maneira:
em primeiro lugar, o homem tenta ou deseja ser objeto de
alguma honra elevada, de um modo ou de outro. O eu deseja
para si uma posição importante ou uma compensação especial;
em segundo lugar, de qualquer modo, e quer isso se efetue ou
não, há angústia, preocupação e medo. Porque, tanto a elevada
honra quanto a desonra engendram o medo. Se o homem não
tem êxito em seu desejo, as consequências são as mesmas, e isso
pode ser observado em outros grupos da população;
em terceiro lugar, surge a crítica dilaceradora e demolidora;
em quarto lugar, as sete abominações nascem no coração, daí
resultando que o microcosmo inteiro ca fundamentalmente
cravado na perdição e, nalmente, é dividido como um átomo,
portanto, neutralizado, aniquilado pelo fogo interior infernal do
ódio.
Agora que falamos sobre tudo isso, o caminho está aplainado
para poderdes compreender perfeitamente o quinto versículo

138A GNOSIS CHINESAdo capítulo 13. Se reconhecestes o que foi dito, ser-vos-á útil
uma boa de nição de uma correta atitude de vida. Lao Tsé no-la
dá:
Elevada honra e desonra são coisas temíveis que aniquilam
o verdadeiro e único objetivo de vossa personalidade. Por isso
deveis afastar-vos de toda aspiração e de todo desejo egocêntricos:
“Não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes”,
diz Paulo (Rm 12:16).
“Wu wei”, diz Lao Tsé.
Aos olhos de muitos, uma pessoa humilde é geralmente ignorante e primitiva. Isso não é verdade. Cabe a cada aluno preparar-se perfeitamente na Gnosis quíntupla universal. Cabe a ele
tornar toda sua atitude de vida interior e exterior sem falhas. Portanto, ele será muito humilde! Ele não deseja elevada honra, mas
a repele! Portanto, não haverá desonra nem sentimento de desonra. Muitos alunos a rmam: “Nada posso, nada consigo, nada
sou, não podeis obter nada de mim”. Por medo, eles engendram
sua própria desonra. Deixai de lado essa preocupação. Somos todos lhos de Deus, todos temos o tesouro em nós. Consagrai-vos
à libertação desse tesouro, então sereis livres e reis junto a Ele.
Atirai toda angústia para bem longe. Todo aluno é abençoado;
potencialmente, ele já é livre. Sede um verdadeiro francomaçom.
Talvez considereis uma tarefa pesada governar o reino, ligar
vosso próprio reino microcósmico à comunidade de Deus. Todavia, se vos sentis inaptos para executar um trabalho a serviço
da Fraternidade e, por conseguinte, a¯ais que não podeis aceitar
tal trabalho, principalmente porque conheceis muito bem
as corridas e as perseguições desenfreadas da humanidade, justamente a
vós será con ado o governo do reino.
É sabido que todos os verdadeiros servidores da Gnosis caram
muito espantados quando foram ¯amados para suas tarefas. Eles
não tinham essa intenção, isso não estava em seus projetos. Por
isso foram bem sucedidos em sua missão. E, até o último instante,
assumiram sua tarefa como um pesado encargo e como algo cuja
ideia rejeitavam por se saberem imperfeitos. Eles jamais se ligaram

13913 · ELEVADA HONRA E DESONRA SÃO COISAS TEMÍVEISà suamissão. Noentanto, commuitaalegriaeatravésde todasas
di culdades, eles foram bem sucedidos. Eles não tinham medo,
porque não aspiravam a honras. Portanto, também não poderia
haver aí nenhuma desonra.

140
Olha para o Tao, e não o vês; ele é denominado invisível. Escuta o
Tao, e não o ouves; ele é denominado inaudível. Tenta agarrar o
Tao, e não o tocas; ele é denominado intangível.
Faltam palavras para caracterizar esta tríplice inde nição.
Por isso, elas se fundem numa só.
O aspecto superior do Tao não está na luz; seu aspecto inferior não
está nas trevas.
O Tao é eterno e não pode receber um nome; ele sempre retorna ao
não ser.
Aproxima-te do Tao, e não vês seu início. Segue-o, e não vês seu m.
Penetra o Tao dos tempos antigos para poderes governar a existência
presente. Quem conhece o princípio original segura nas mãos o o
do Tao.
Tao Te King, capítulo 14

14114-I
OLHA PARA O TAO, E NÃO O VÊS
OdécimoquartocapítulodoTaoTeKingrevelaumpontomuito
fraco na armadura do trans gurista no tocante ao seu relacionamento com o buscador comum, quando este lhe pergunta:
“Onde se encontra a ordem mundial de que falais? Onde está o
Reino Imutável? Deixai-me dar
uma olhada, então eu o aceitarei
e professarei sua existência”.
Eis aí uma pergunta clássica. Ela pode ser lida nas
Con ssõesde Agostinho, que a fez aos Irmãos Maniqueus. Ele não obteve
resposta e, em decorrência disso, abandonou suas leiras, nas
quais era aluno preparatório, para, em seguida, tornar-se um dos
fundadores e pilares da Igreja Romana. Agostinho, que também
é tido em grande conta nos meios protestantes, foi um aluno
rejeitado da Escola Espiritual trans gurística.
Olha para o Tao, e não o vês;
ele é denominado invisível.
Escuta o Tao, e não o ouves;
ele é denominado inaudível.
Tenta agarrar o Tao, e não o tocas;
ele é denominado intangível.
Entrar numa Escola Espiritual trans gurística é um empreendimento arriscado. Acaso temos algo de concreto a oferecer-vos
142A GNOSIS CHINESAcomo ponto de partida? Lao Tsé a rma sem rodeios: com rela­
ção à realidade da natureza comum, não existe ponto de partida.
Com relação a essa mesma realidade, podemos também repetir:
“umacomprovaçãoconcretanãoexiste”.Portanto,sealguémnos
fala de pesquisa e conhecimento empíricos, de prova cientí ca,
entãosilenciamos.Porqueoreinoparaondequeremosnosdirigir,
o reino do Tao, não pode ser comprovado.
Seria muito bom que percebêsseis isso claramente. Poderíeis
considerar que estamos tentando enganar-vos. E não vos condenaríamos se, por isso, abandonásseis nossas leiras, como o fez
Agostinho que, depois de abandonar a fraternidade dos maniqueus,escreveusobreeles,taxando-osdetolosqueacreditavame
professavam algo que nem mesmo podiam provar e sobre o qual
só podiam argumentar loso camente de modo muito abstrato.
Seria mesmo muito bom que compreendêsseis bem tudo isso de
umavezportodas.Assimcomoosmaniqueus,nãopodemosprovar para vós nem a essência nem a realidade do Tao. Por vezes,
lemosnosolhosdenumerososalunosoespantoeaperguntanão
fo
rmulada:“Comosabeisoquea rmais?Porque,então,nósnão
o sabemos? Dizei-nos algo concreto”.
Recentementenosfoipedidodemodosimplesemuitocorreto:
“Dizei-me algo concreto. Acaso obtendes tudo isso de um livro
que não conheço? Que livro é esse e onde posso encontrá-lo?”
Respondemos que nunca tirávamos nosso preparo da literatura,
embora, frequentemente, nos servíssemos da literatura mundial
para ilustrar nossas explicações. Era uma resposta vaga, disso tí­
nhamosconsciência.Eacrescentamosquesósepoderiadescobrir
issotrilhandoocaminho.Nossointerlocutorpermaneceumuito
reservado. Era compreensível. Ele estava repleto de perguntas e
dúvidas. Suspeitamos que ele não trilharia o caminho.
Issoémuitomaisfácilparaoreligiosoouparaoocultistanatural. A esfera refletora é a rica fonte de suas provas. Dela pode-se
obter em profusão tudo o que se deseja provar. Os éons naturais

14314-I · OLHA PARA O TAO, E NÃO O VÊSfo
rnecem àqueles que tentam manter-se na esfera refletora tudo
de que necessitam para se rmarem. Lá, Agostinho encontrou
tudo o que pedia: as provas de outro reino, as quais ele colheu
como flores no campo. Quantas fraternidades não existem, na
esfera refletora, prontas a ajudar vosso ser-eu! Lá também encontrais tais mestres com a aparência que desejardes. Há para todos
os gostos! Lá estão todas as representações possíveis. E, de bom
grado, elas se mostram a vós.
A maior parte delas, certamente, sequer está consciente de seu
engano. Ao contrário, no sentido dialético, elas são muito, muito
bondosas. Elas tentam tornar aceitável nossa ordem de natureza.
Quanto esforço, quanto trabalho! Como as demais, elas são vítimas das circunstâncias. Elas também olharam para o Tao e não
o viram; elas escutaram o Tao e não o ouviram; elas tentaram
agarrá-lo, mas não tocaram nada. Exatamente como Agostinho.
Portanto, não é evidente que elas o neguem, como ele? Acaso podemos recriminar-vos se também o negais? “É melhor um pássaro
na mão do que dois voando.”
Inúmeras guras da esfera refletora, tipos esplêndidos, vos oferecem seu “outro reino”, cuja existência podem provar. “Todavia,
não acrediteis em tais grupos de taoístas ou de trans guristas modernos. Quanto a nós, vinde e vede. Vinde e vede essas leiras de
adeptos esplêndidos. E mostrai-nos um adepto trans gurista que
seja, um único!”
Não existe um sequer! Só podemos indicar-vos guras histó­
ricas como Lao Tsé e muitos outros que surgiram antes e depois
dele. E só podemos dizer que, aparentemente, essas entidades
não morreram, pois o microcosmo que as abrigava não pode ser
encontrado nem na esfera material nem na esfera refletora.
“Pois bem”, dirão os adversários e os descrentes, “não está aí a
provamaisevidentedequeessasentidadesjamaisexistiram?Caso
contrário, esses esplêndidos iniciados não o saberiam? Portanto,
tudo isso deve ser pura fantasia!”

144A GNOSIS CHINESACom efeito, examinada do ponto de vista dialético, nossa posi­
ção é muito frágil comparada à vossa e faltam-nos mesmo palavras
para esboçar a tríplice inde nição do Tao. Centenas de milhares
de anos antes de nossa era, e muito tempo antes, já era assim. Portanto, não nos esforcemos para de nir as inde nições;
por isso,
elas se fundem numa só.
Lao Tsé diz em outro lugar que de nir por meio de palavras
é o mesmo que dar um golpe no nada.
O aspecto superior do Tao
não está na luz; seu aspecto inferior não está nas trevas.
O Tao,
portanto, não tem sombra.
O Tao é eterno e não pode receber um
nome; ele sempre retorna ao não ser,
ao silêncio absoluto. Ele é a
imagem do sem imagem, a forma do sem forma. É um perfeito
mistério.
Aproxima-te do Tao, e não vês o seu começo. Segue-o, e
não vês o seu m.
Acaso semelhante discurso poderia satisfazer o homem deste
século? Aproximamo-nos e não vemos nada. Escutamos e não
ouvimos nada. Tentamos agarrar e não tocamos nada! É por isso
que, se participais desta Escola Espiritual, o fazeis inteiramente
sob vossa própria responsabilidade. Resumindo, realizamos uma
peregrinação ponderada e metódica. Já não desejamos morrer
e não desejamos viver, não queremos ser encontrados em parte
alguma. Isso signi ca: não queremos ir para a esfera refletora nem
para a esfera material; queremos ir para o “eterno nada”, como o
denominam o mundo dialético e todos os seus éons e entidades.
Se refletirdes bem, devereis admitir que uma imensa força está
por detrás desta Escola Espiritual. E experimentastes essa força
a vosso modo. Poder-se-ia bem dizer que se trata aqui do o do
Tao, do o de Ariadne. Mas, como agarramos esse o? Vamos
explicá-lo para vós.
Acaso o o que seguramos é o começo? Não, pois não há começo! Não enxergais o seu começo e não enxergais o seu m.
Assim como vós, nós também examinamos a natureza dialética.

14514-I · OLHA PARA O TAO, E NÃO O VÊSNós o pudemos porque pertencemos a esta natureza. Com nosso
ser-eu, cuidadosamente pesquisamos e experimentamos tudo o
que este mundo pode nos oferecer. E vede, tudo não passa de
dor e aflição! Descobrimos que esta natureza é uma natureza de
morte, e não desejamos cantar de alegria com os eleitos diante do
trono; nem dedicar-nos a tornar aceitável, de uma forma ou de
outra, esta ordem maldita. Após anos de sondagens, concluímos
que esse não pode ser o sentido da verdadeira existência e que
não é bom colaborar para que as pessoas na natureza da morte se
iludam ainda por mais tempo.
Quando se ¯ega a semelhante conclusão, é preciso tomar uma
decisão.Épreciso,emdadomomento,podergovernarsuaexistência atual. Consequentemente, sentimo-nos obrigados a sondar o
antigo Tao objetivamente e sem a ajuda de qualquer autoridade.
Mas isso é possível? Sim, ó divina maravilha, é possível, embora
descobríssemos rapidamente que de todos os lados tudo era e
é feito para impedir tais descobertas. Inúmeras fontes haviam
sido destruídas; outras estavam fora de alcance, enterradas em
profundos porões, onde ninguém pode penetrar. O resto havia
sido, sem exceção, seriamente mutilado.
Começamos pelos fragmentos remanescentes da linguagem
sagrada. Com nossa pesquisa, cou claro e evidente que existe
um reino* original, outra ordem de natureza, um reino muito
além do mais elevado plano nirvânico, um reino que se distingue
nitidamente da natureza da morte e de suas duas esferas.
Após haver descoberto isso, pesquisamos os homens, ou os
grupos de homens, que haviam ansiado por esse outro reino, e
qual havia sido o curso de suas vidas e quais particularidades elas
apresentavam. E examinamos se esse tipo de homens, muito distantes uns dos outros e separados por séculos, haviam seguido o
mesmocaminho.Edescobrimosquetodosesseshomensegrupos
organizaram seus esforços de modo perfeitamente semelhante. A
seguir, surgiu a esperança de um contato com os que nos haviam

146A GNOSIS CHINESAprecedido. Esgotamos todo o nosso arsenal de magia  mas não
recebemos o mais vago vislumbre desses Irmãos como resposta.
Atualmente, rimos dessas tentativas. Porque buscávamos a
imagem do sem-imagem, a forma do sem-forma. Se os Irmãos
tivessem se mostrado, é claro que teriam sido destronados. Então
seriam habitantes da esfera refletora e teriam desaparecido para
sempre. Mas esses Irmãos não morreram. Nessa época, inúmeros convites emanaram de muitas fraternidades: “Vinde conosco,
suspendei vossos esforços vãos!”
Nós nos decidimo, então, pela autofrancomaçonaria. Porque:
Quem conhece o princípio original segura nas mãos o o do Tao.Mas, o que seria o princípio, nãodooriginal, porém o princípio
daquilo que conduz
aooriginal, e que foi encontrado por todos os
nossos predecessores? O princípio não poderia ser algo diferente
da aplicação da Gnosis quíntupla universal:
Compreensão,
anseio de salvação,
autorrendição,
nova atitude de vida
e, mediante isso,
em quinto lugar,
revelação,
o o do Tao.
Nenhuma ligação existencial pessoal, porém uma conexão eletromagnética com a Gnosis e, como resultado, despertar, tornar-se
consciente da alma, do totalmente Outro.
Este é o o do Tao.
Isso é estar ligado à Corrente da Fraternidade Universal. Quem
segura esse o com as duas mãos avança de força em força e de
magni cência em magni cência, age como os Irmãos divinos e
gloriosos que desapareceram, age como se tivesse sido apagado
da terra.

14714-I · OLHA PARA O TAO, E NÃO O VÊSSemelhante homem segue adiante e convida outros a segurar
o mesmo o, segundo o mesmo método, a construir de acordo
com os mesmos preceitos do princípio original. E quem o faz
e segura o o forma, juntamente com seus companheiros, uma
nova Fraternidade, participa de um corpo-vivo, e todos trazem
na fronte o sinal magnético do Filho do homem.
O primeiro dom da graça desse estado de ser é a experiência de
que todos os que o possuem podem governar sua vida presente.
Eles foram libertados. São estrangeiros nesta terra, em viagem
para a verdadeira pátria. O que é oculto aos sábios e inteligentes
deste mundo é revelado aos lhos de Deus.
Quem conhece o princípio original
segura em suas mãos o o do Tao.


14914-II
O FIO DO TAO
Observamos no capítulo precedente que os que ainda não encontraram o o do Tao  porque ainda não seguiram o caminho
que conduz ao reino* original, o que corresponde à prática da
Gnosis quíntupla universal  frequentemente demonstram uma
instabilidade moral, um comportamento agitado, devido ao mar
turbulento de suas emoções. Ora estão alegres, ora estão muito
tristes. Ora sentem-se bem orientados, ora têm o terrível sentimento de que tudo está perdido. Num dia estão muito fortes, no
dia seguinte dão provas exatamente do contrário. Vós as conheceis, essas oscilações entre os antagonismos, próprias da natureza
dialética.
Podeis ler sobre isso na obra de Chuang Tsé. Ela retrata um
aluno diligente que está fazendo algo de sua vida, no sentido tencionado por nossa Escola. Durante dias ele se aflige para libertar-se
daquilo que o atormenta e cultivar o que ama, mas não tem êxito.
E Lao Tsé lhe diz: “É necessário que te puri ques completamente, mas, pelas marcas de tua tristeza, concluo que existe algo
que o impede”. E segue-se um conselho: “Quando as tentações
externas se tornarem numerosas, não tentes vencê-las lutando,
mas deves fe¯ar-lhes o coração. Se elas vierem do interior, não
tentes reprimi-las, porém protege-te da tentação. Mesmo um mestre no Tao e na virtude não pode resistir a essas duas influências

150A GNOSIS CHINESAconjugadas,portantomuitomenosalguémqueaindaalmejepelo
Tao”.
Felizmente, na Escola Espiritual existem muitos alunos que
aspiram à nova vida. Eles procuram transformar a essência da
própria Gnosis em virtude. De semelhante aspiração, graças à intervenção,bemconhecidaporvós,daEscoladeMistérios,sempre
nasceumaligaçãocomoTao,algodacorrentemagnéticadaGnosis é transmitido ao ser do aluno. Ele é trazido para perto do o
do Tao e é aconselhado a segurá-lo para tornar-se seu possuidor.
É óbvio que, nessa tentativa, o aluno ¯ega a uma situação
difícil,poisosdoisreinosfazemdescernelesuascorrentesmagné­
ticas:acorrentedanovanaturezaeacorrentedaantiganatureza
damorte,daqualelevive.Aconsequênciaéquegrandesconflitos
se revelam nele. Grandes, poderosos antagonismos irreconciliá­
veis nele atuam, o que é inevitável. Quem, fundamentalmente, é
trevassente-seaindamaisrepulsivoquandocolocadonaluz.Essa
pessoa descobre, como jamais o zera, suas próprias trevas. Além
disso, descobre que seu microcosmo, do qual ela é a personalidadeatual,temumpassadoespaço-temporalincomensurávele
quetodoseuestadosanguíneoeseuestadodealmaestãoemconfo
rmidade com esse passado. Nesse sentido, existe um perfeito
equilíbrio entre passado e presente, os quais o impelem, assim,
para um futuro que é a consequência de ambos.
Quando um homem se torna aluno, ele sente o processo natural de todo o seu ser como profundas trevas, como pesado fardo,
como inúmeras tentações que se opõem a seu discipulado. Ele
fala, então, em demônios, na influência da esfera refletora etc.
Compreendereis, entretanto, que essas influências são umapossibilidade incidental, mas certamente não o ponto principal. O
fatoéque,napersonalidade,apartirdoexterior,ageumainfluência dialética proveniente de outras partes do microcosmo, e, a
partirdointerior,ageoimpulsosanguíneo.Essassãoastentações
exteriores e interiores.

15114-II · O FIO DO TAOLao Tsé aconselha: “Não luteis contra esses processos naturais e
não tenteis dominá-los. Não tereis êxito”. Quanto às influências
externas, ele diz: “Fe¯ai vosso ânimo para elas”; e para as influências internas: “Guardai-vos externamente da tentação; não
passeis à ação”.
Nem sempre conseguis distinguir imediatamente se uma influência vem de dentro ou de fora; ou ainda se provém da esfera
magnética de vosso ser, ou se é uma questão sanguínea. Pouco
importa. Adotai, porém, a seguinte atitude de vida:
Assim que notardes que certa influência ameaça comprometer
a harmonia de vosso discipulado, imediatamente pensai em outra
coisa ou buscai uma ocupação para livrar-vos dessa influência.
Não lhe deis um segundo de atenção. Se a influência provém
de vosso sangue, onde se agitam e fervilham todos os tipos de
tendências, deixai vosso sangue acalmar-se e evitai qualquer ação
exterior, mesmo em pensamentos.
Se aplicardes esse método duplo, veri careis que vos tornais
cada vez mais fortes como alunos e que podeis segurar o o do
Tao cada vez mais rme. Se falhardes  o que não acontecerá
necessariamente  percebereis que sempre tereis de recomeçar
desde o início, que isso esgota vosso corpo, que vosso fardo se
torna cada vez mais pesado, e vossa própria vida se transforma
num inferno.
Esperamos, por essa razão, poder gravar em vosso coração esse
antigo e clássico conselho.

152
Nos tempos antigos, os bons lósofos que se consagravam ao Tao
eram ín mos, sutis, misteriosos e muito penetrantes. Eles eram tão
profundos, que não é possível compreender.
E como não é possível compreender, esforçar-me-ei para dar uma
ideia.
Eles tinham o retraimento de quem atravessa um rio a vau durante
o inverno; o cuidado de quem teme seu vizinho; a seriedade do
convidado diante de seu an trião. Eles desapareciam como gelo que
derrete. Eram simples como madeira tosca e vazios como um vale.
Eles eram como a água turva.
Quempodelimparasimpurezasdocoraçãoealcançarapaz?Quem
pode nascer gradualmente no Tao por uma longa prática de serenidade?
Quem preserva o Tao não quer ser preen¯ido. E, justamente por
não ser preen¯ido, ele é para sempre preservado de mudanças.
Tao Te King, capítulo 15

15315-I
AS CINCO QUALIDADES DOS BONS FILÓSOFOS
Um lósofo é alguém que busca a sabedoria. Um lósofo, no
sentido original, é alguém que aspira à sabedoria divina. Essa
sabedoria divina não é um conhecimento acumulado sob uma
fo
rma qualquer. Não se trata de um sistema enigmático extremamente complicado, encerrado em línguas antigas desaparecidas
acessíveisunicamenteaosqueestãofamiliarizadoscomosantigos
hieróglifos e que transmitem migalhas aos outros na moderna
literatura. Pensai aqui na descoberta de todo tipo de antigos manuscritos, com cujo conteúdo tantos acadêmicos estão muito
ocupados.
Não, a sabedoria que é a Gnosis é onipresente. Ela é uma atmosfe
ra repleta de forças, elementos e radiações. A sabedoria divina
está fundamentalmente compreendida num campo de radiação.
E quem vive nesse campo e possui um princípio-alma vivente
extrai não somente a força vital e a substância que permitem a
trans guração, mas também a sabedoria.
A sabedoria é um aspecto da força de vida divina, do espírito
divino do amor. Quando se diz de Jesus, o Senhor, que ele crescia
em conhecimento, sabedoria e graça perante Deus e perante os
homens, isto não quer dizer que recebia esta ou aquela educa­
ção, mas que se desenvolvia no campo de vida gnóstico e, assim,

154A GNOSIS CHINESAesse crescimento e essa realização eram assegurados em todos os
aspectos.
Se refletirdes sobre isso, descobrireis o quanto semelhante processo difere do desenvolvimento no mundo dialético. O amadurecimentoeocrescimentodacriançaatéaidadeadultanãoenvolvemabsolutamentenenhumasabedoria.Trata-seunicamentede
desenvolver seu intelecto. A humanidade conhece inúmeros mé­
todos educacionais, muitos dos quais são aplicados pela coerção,
para dar ao homem um verniz de civilidade.
Graças a tudo o que aprendeu e pelo fato de ser mantido sob
coerção, o homem aprende a tudo suportar por causa de suas
necessidades existenciais. Não queremos com isso depreciar os
conhecimentos terrenos no sentido de que não são necessários,
porém somente compará-los à Gnosis. Do ponto devista bioló­
gico,ohomemnãoénada,eporissoeleécompelidoaprosseguir
sua formação teórica para parecer algo e lutar para poder conduzir sua existência. Em termos biológicos, o homem absorve
apenas a alimentação material e respira apenas o alento astral da
morte. Essa respiração nada mais lhe traz que uma forte ligação
com a natureza. Quem se vê aprisionado e sente profundamente
seu cativeiro talvez se torne um lósofo no sentido comum da
palavra,porquesaiembuscadosigni cadodaexistência.Com
basenoseuestadodeserdialético,eletentapenetrardiretamente
nocernedascoisas.Semresultado.Porisso,resta-lheapenasuma
única possibilidade: empregar os métodos dialéticos de pesquisa,
junto com experimentação.
Imaginai que exista um livro escrito em alguma língua antiga.
Algumas pessoas o examinam e dizem umas às outras: “O conteúdo é pura sabedoria; devemos tomar conhecimento dele, pois
queremosentenderosentidodenossaexistência”.Todavia,nenhuma dessas pessoassabe ler essa língua antiga. Então, podem
decidir: “Aquele dentre nós que é o mais capacitado deve aprender essa língua”. Essa pessoa se predispõe a aprender a linguagem

15515-I · AS CINCO QUALIDADES DOS BONS FILÓSOFOSe conta para os outros aquilo que está no livro. Ela faz o papel de
professor. Não de um mestre de sabedoria, pois ela apenas fala a
respeito do que diz o livro. Essa sabedoria é apenas uma de ni­
ção intelectual da sabedoria, jamais a sabedoria mesma. Porque a
sabedoria não está no livro.
As de nições intelectuais da sabedoria são sempre a causa de
erros e divergências de opinião e, portanto, dos múltiplos sistemase concepções losó cosconhecidospor nósque estamosà
derivanaterra.Algunsautoresdessessistemastêmsucesso,fazem
carreira e estão na moda, principalmente quando esses sistemas
são utilizados como sistemas de ensino. Vós o sabeis, é algo verdadeiramente desastroso e trágico. Porque de quanto esforço o
homem necessita para penetrar essas formas de conhecimento!
É impossível atingir a sabedoria divina dessa forma. Se desejais adquirir sabedoria, a verdadeira Gnosis, então é preciso que
mudeis completamente derumo. Ponde ospés nocaminho do
renascimento, o caminho da trans guração. Esse caminho exige
uma morte  vós o sabeis  e um novo nascimento segundo a
rosa do coração em vós  vós bem o sabeis. Um novo estado biológico e, portanto, um novo crescimento. Esse crescimento vem
junto com um desenvolvimento da compreensão e da sabedoria,
um novo estado de consciência. A cada respiração neomagnética
que podeis reter no sistema, absorveis a sabedoria.
Possuir a sabedoria que é de Deus não signi ca, como alguns
o a rmam, possuir um conhecimento teórico “sem tê-lo estudado”, porém absorver a força da Gnosis graças a umnovo estado
de ser biológico. Como consequência, essa sabedoria, que é una
com o sopro de vida, preen¯e o ser todo e lhe concede novas
capacidades.
Supondequevosdisséssemos:“Temosumlivroquecontém
tudo o que deveis saber. Deveis lê-lo pessoalmente. Infelizmente,
esselivroestáescritonumalínguamortadopassadoremoto.Por
isso, tendes de começar por aprender essa língua morta e serão

156A GNOSIS CHINESAnecessários três anos para compreendê-la convenientemente”.
Sem dúvida, começaríeis a estudá-la.
No entanto, com muito menor esforço e em tempo muito
mais curto, podereis ter parte na Gnosis divina. Basta que sigais
em perfeita autorrendição o caminho das rosas, o caminho que
vos faz crescer em conhecimento, em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens. A total autorrendição não
se refere à aquisição de conhecimentos que não possuís, mas à
aplicação de um conhecimento que possuís há muito tempo e
de possibilidades que estão ao vosso dispor também há muito
tempo.
Possuís no coração o princípio divino, o botão de rosa. Consagrando-vos a esse reino em vós em perfeita oferenda, adquirireis
cinco novas qualidades. Tornar-vos-eis:
ín mos,
sutis,
obscuros,
muito penetrantes
e profundos.
Para a natureza dialética, vos tornais ín mos. Para a nova natureza, sois extremamente re nados quanto à vossa sensibilidade,
pelo desenvolvimento do novo estado de alma.
Para a natureza dialética, vos tornais totalmente obscuros, impossíveis de seguir. Para a nova natureza, entrais nas profundezas
insondáveis da vida universal e mergulhais nas profundezas ilimitadas da manifestação divina in nita, o que é incompreensível
para um mortal.
Todavia, uma imagem vos é dada. Não uma falsa aparência,
mas uma imagem concreta da nova atitude de vida. De quem
percorre esse caminho e efetivamente avança em força pode-se
a rmar:

15715-I · AS CINCO QUALIDADES DOS BONS FILÓSOFOSEle tem o retraimento de quem atravessa um rio a vau durante o
inverno:
ele é um exemplo espontâneo de extrema modéstia e
prudência. Realmente, não é ele semelhante a um recém-nascido
que lança seu primeiro grito numa nova vida?
Ele
tem o cuidado de quem teme seu vizinho: dia e noite ele está
atento, pois não é ele um recém-nascido num estábulo, no está­
bulo da natureza da morte? E não espera Herodes poder matar
a criança? É por isso que ele se torna extremamente vigilante, a
m de não se tornar uma vítima no país do exílio.
Ele
tem a seriedade de um convidado diante de seu an trião: ele
vive, em grande medida, orientado para a Escola Espiritual e para
a sua essência e é extremamente correto para com todos com
quem entra em contato.
Ele
desaparece como o gelo que derrete: nele, dia a dia ocorre uma
contínua transformação, um processo claramente perceptível da
prática de uma nova vida e o desaparecimento do antigo caráter.
Ele é
simples como a madeira tosca: a simplicidade caracteriza sua
vida. Ele não se vangloria absolutamente de nenhum aspecto de
seu estado.
Ele é
vazio como um vale: ele está livre de desejos terrenos; seu
santuário do coração foi esvaziado deles.
Ele é
como a água turva para os espectadores: ele não faz esforço algum para mostrar seu verdadeiro estado de ser; ele simplesmente
irradia sua luz.
Por que atiraria ele rosas aos burros e pérolas aos porcos? Por
isso, muitos o considerarão tolo, inconsequente, ín mo, ignorante e, portanto, como a água turva, insondável.

158A GNOSIS CHINESAÉ extremamente importante para vós que reconheçais essa sétupla atitude de vida como um estado de ser que deve fazer parte
integrante de vossa própria vida:
modesto,
temente à natureza da morte,
orientado para a Escola Espiritual e para a humanidade,
crescendo diariamente na graça de Deus
e em contínua transformação,
simples,
sem desejos terrenos,
sem buscar demonstrações junto aos homens dialéticos.
Dessa sétupla atitude de vida derivam as qualidades de ser:
ín mo,
sutil,
obscuro,
muito penetrante
e profundo.

15915-II
AS IMPUREZAS DO CORAÇÃO
Novamente colocamo-vos diante do capítulo 15 do Tao Te Kingde Lao Tsé. Desta vez, da última parte:Quem pode limpar as impurezas do coração para aquietar-se? Quem pode nascer gradualmente no Tao por uma
longa prática da serenidade?
Quem permanece no Tao não quer ser preen¯ido. E, justamente por não ser preen¯ido, ele é para sempre preservado
de mudanças.
Estamos aqui diante de duas questões muito importantes que necessitam de uma resposta detalhada. Os cinco aspectos, os cinco
estados que determinam e comprovam a natureza da alma são:
1. o sangue,
2. o fluido das secreções internas,
3. o fluido da consciência,
4. o fluido nervoso,
5. o fogo serpentino.
Estas são as cinco luzes vitais ou as cinco forças universais das
quais se eleva a alma e que explicam a consciência. Essas cinco

160A GNOSIS CHINESAfo
rças da alma, que regem todas as percepções sensoriais, formam uma unidade. Todavia, uma delas, o sangue, tem um papel
preponderante.
O sangue determina as quatro outras forças. A qualidade do
sangue manifesta-se num processo respiratório múltiplo muito
especial, em primeiro lugar, no santuário da cabeça e, em segundo
lugar, no santuário do coração. O homem respira através do sistema magnético cerebral tendo por base sua qualidade de alma.
A respiração do santuário do coração é a porta da alma. O santuário do coração respira pelo sistema pulmonar da maneira que
conheceis, mas também existe uma respiração pelo esterno. O
esterno também é um sistema magnético respiratório.
Existem, pois, dois sistemas magnéticos respiratórios, um através do cérebro, outro através do esterno. Respiramos pelos dois:
da maneira comum, pelo nariz, e inalamos, cada qual à sua maneira, a força atmosférica. Para completar, digamos que, por esse
duplo sistema magnético, o baço, o fígado e o corpo todo respiram o fluido astral (fígado) e os éteres (baço).
O sistema magnético do cérebro funciona de maneira totalmente automática. Ele pode ser influenciado pela vontade, mas a
Escola Espiritual moderna o desaconselha rmemente, pois isso
signi ca colocar os pés no perigoso caminho do ocultismo. Entretanto, o aluno é orientado a influenciar o sistema magnético do
esterno. Também não pela vontade, mas por um in nito desejo,
o anseio de salvação, que nasce da compreensão e da experiência.
Compreendereis, agora, o sentido da pergunta:
Quem pode lavarasimpurezasdeseucoraçãoparaaquietar-se? Todos os desejos
são irradiados pelo esterno e as respostas são, então, recebidas
pelo esterno. O esterno é como um livro completamente aberto.
Tudo que, dessa forma, penetra em vosso sistema determina a
natureza e o nível vibratório de vosso sangue. E o estado do momento de vosso sangue determina a assimilação magnética do
sistema cerebral, assim como a situação das outras luzes vitais, e

16115-II · AS IMPUREZAS DO CORAÇÃOcomo resultado disso, as flamas magnéticas do desejo emanam
do esterno.
Assim compreendereis também que no santuário do coração
existem inúmeras impurezas que irradiam para o exterior e para
o interior. A verdadeira paz, a verdadeira quietude da alma, característica do novo homem, ca excluída enquanto o sistema
do esterno sofre as emoções comuns próprias do estado de vida
dialético. A alma quíntupla do homem dialético, em virtude de
sua natureza, jamais está em paz. Ao contrário, a inquietação
fundamentaldouniversodialético,ahostilidadedanatureza,aansiedade, a preocupação e o medo, a alegria e a tristeza, bem como
a luta pela existência, prevalecem na alma e constituem sua natureza. Por isso, a quietude e o equilíbrio da alma e o silêncio são
necessários. E todos os homens anseiam por isso, pois a quietude
da alma determina sua saúde. A contínua inquietação da alma
provocadoençaemorte,bemcomotodososcomportamentos
lamentáveis. Quem encontra o silêncio encontra a saúde.
Percebeis agora por que se fala em terapia da alma e por que
neste mundo são praticados os mais variados métodos com essa
nalidade?Oquenãosefazparaatingirapazinteriorousópara
esquecer!Buscamosestímulos,porquenãopodemosobteracura
da alma.
“Ah!”, lamenta-se a alma, quem pode lentamente nascer
no Tao através de uma longa prática da serenidade?
Um serviço templário que prende a vossa atenção é para vós
um estímulo, e poderíeis designar uma sucessão de tais estímulos
como terapia da alma. Todavia,
assim não queremos ser terapeutas de alma! Porque essa terapia de alma  talvez tencionada por
vós  não leva à cura, mas é apenas um meio de esquecer, de “fugir”.Porqueojogodasflamasmagnéticasdoesternoéumfato.E
logo, quando tiverdes deixado o templo e estiverdes totalmente
entregues a vós mesmos, na interação habitual com outras pessoas, vosso estado de ser reivindica seus direitos, a inquietação
surge em vós com renovada intensidade, inflamando-vos com

162A GNOSIS CHINESAsuas línguas ardentes. Ah, quem pode levar as impurezas de seu
coração a se aquietarem? Ansiedade, preocupação e medo são
vossos companheiros e, assim, Lao Tsé vos joga no meio do vosso
problema.
Compreendereis que não necessitais de nenhuma distração
nem de nenhum terapeuta, mas que deveis, vós mesmos, tornar­
-vos os terapeutas de vossa própria alma. Deveis abrir vossa alma à
Gnosis. Podeis veri car que se o zerdes pela vontade, portanto
de maneira forçada, isso de nada adiantará! Pela vontade podeis
influenciar arti cialmente por um momento a respiração magnética do esterno e, assim, emitir para a Gnosis uma vibração
arti cial que não poderá ser respondida e que age de modo desarmonioso.Seumarespostaalcançar-vos,serásempreumaimitação,
o que logo descobrireis.
Servis vosso coração esvaziando-o das impurezas, já não as
desejando, sem a atuação da vontade. Isso só é possível pela experiência, pelaafliçãodaalma, pelavacuidadedosimpulsosnaturais,
e por saber que existe uma força capaz de consolar a alma. Então,
o botão de rosa emite um apelo via esterno, o ¯amado do anseio
de salvação. E a resposta da Gnosis flui para dentro em poderosa
corrente. Essa corrente vos puri ca para tornar-vos quietos, silenciosos. Só então a paz da alma, a que tanto aspirais, torna-se
realidade. Daí resulta uma perfeita puri cação do sangue e, como
consequência, todas as outras luzes vitais são obrigadas a segui-la.
Com base nessa quietude da alma tem início a trans guração, e a
veste áurea nupcial é tecida.
Assim a paz da Gnosis ¯ega até um ser humano, e um homem
desses poderá dizer como é dito no Salmo 16: “Tu não enviarás
minha alma ao inferno”. Nada pode acontecer-vos. Esse processo
é para vós a única solução. A experiência e o anseio de salvação
afastarão de vosso coração as impurezas dialéticas, os desejos terrenos. A corrente da Gnosis vos tocará. Assim, conservareis o Tao

16315-II · AS IMPUREZAS DO CORAÇÃOe nascereis na onipresença. Ele não vos abandonará, nem mesmo
no inferno.
Se, por necessidade e orientação interior, vos afastardes da
natureza da morte e vos voltardes para a Gnosis, estareis, pela
pureza do coração, para sempre protegidos da mudança. Dentro
e fora do templo, estareis em perfeita quietude de alma, entrareis
num profundo silêncio, em profunda serenidade.
Esse estado de ser brevemente será de absoluta necessidade
para vós, para que não vos deixeis absorver pelas violentas emo­
ções da natureza da morte. Somente com a paz da alma podereis
continuar a navegar o mar da vida e retornar à casa do Pai.

164
Quem atinge a vacuidade suprema mantém uma quietude eterna.
Todas as coisas nascem juntas; a seguir, eu as vejo retornarem
novamente.
Todas as coisas florescem em profusão; a seguir, cada uma retorna
à sua origem.
Retornar à origem signi ca estar na quietude, e estar na quietude
signi ca retornar à verdadeira vida, a vida eterna.
Denomino retornar à vida ser eternamente.
Conheceroqueéeternoéseriluminado.Nãoconheceroqueéeterno
equivale a fazer sua própria infelicidade.
Conheceroqueéeternoépossuirumagrandealma.Terumagrande
alma é ser justo. Ser justo é ser rei; ser rei é ser o céu;
8 ser o céu é ser
Tao.
Ser Tao é durar eternamente. Mesmo que o corpo morra, já não há
perigo a ser temido.
Tao Te King, capítulo 16
8Na China, o imperador era o “ lho do céu” (N.E.).
16516
A VACUIDADE SUPREMA
O estado de suprema vacuidade é o estado no qual se encontra o
candidato que fez desaparecer todas as impurezas de seu coração,
isto é, que esvaziou o sistema magnético do esterno totalmente
dos desejos, tensões e conflitos. O candidato tornou-se, por assim
dizer, vazio, sem desejos. Quem alcançou semelhante estado pode
manter uma perpétua quietude da alma. O equilíbrio de sua alma
já não poderá ser perturbado. Ele estará para sempre protegido
de alteração. Ele adquiriu a verdadeira paz, atributo do povo de
Deus.
Todavia, quando o estado de vacuidade suprema ainda não foi
alcançado, os períodos de quietude da alma são incessantemente
alternados com períodos de conflitos psíquicos, comprovando
o fato de que o sistema magnético do coração ainda não está
totalmente puri cado, portanto nem o sangue, nem também
o centro da alma. Uma das mais importantes tarefas do aluno
é detectar as causas interiores desses conflitos psíquicos. Essas
causas são invariavelmente encontradas nele mesmo. Ninguém
nem nada do exterior pode suscitar um conflito na alma.
A alma quíntupla é uma unidade que recebe tudo o que é necessário para sua manutenção, inteiramente de acordo com a sua
natureza. O que penetra pelo sistema magnético respiratório é
evocado pelo próprio ser. No ser de muitos alunos, com muita

166A GNOSIS CHINESAfrequência, ainda há o desejo de servir “a dois senhores” e eles
acalentam ainda muito interesse por assuntos terrenos, que ainda
são tidos como necessários. Há ainda muitos desejos no que se
refere ao plano horizontal e ainda muita aceitação. Por isso ele
continua pertencendo a dois mundos. Por um lado, algo da Gnosis está ativo nele; por outro lado, as coisas terrenas são colocadas
em primeiro lugar. Como resultado, nasce um conflito intenso
com o Outro nele. Acima de tudo, ele permanece em contato
com a inquietação geral própria da natureza comum.
Entretanto, se atingísseis a vacuidade suprema, seria evidentemente possível, neste mundo, prejudicar e ferir vosso corpo,
porém não vossa alma. Poderiam envolver-vos no jogo comum
dos opostos, desenrolar a série completa de conflitos psicológicos
para desligar-vos e seduzir-vos a participar deles. Porém, isso já
não seria possível para vós. Todo vosso estado de alma já teria
entrado na quietude do povo de Deus e vossos fluidos vitais se
tornariam imunes a mudanças. Vossa consciência observaria e experimentaria tudo, porém nada poderia perturbar a paz de vossa
alma. É assim que isso deve começar! Os ferimentos que os homens desejassem infligir-vos recairiam sobre eles. Entraríeis no
estado de ser dos heróis de alma mencionados na história. Seu
heroísmo não provinha de sua coragem ou de seu desprezo pela
morte, porém de um novo estado de ser.
Suponhamos que algum ente querido vos ra profundamente
e que, consequentemente, queis sujeitos a um grande conflito de
alma. Essa situação prova que em vossa própria alma há motivos e
possibilidades para que semelhante conflito possa desenvolver-se.
Se tivésseis atingido a vacuidade suprema, nas mesmas circunstâncias, devido a vosso estado de ser, compreenderíeis a tal ponto a
provocação exterior, que vossa razão, vossa vontade e vosso cora­
ção não esboçariam mais a menor reação. Apenas observaríeis o
caso, seguindo o critério: “Sede vigilante”. Seríeis perfeitamente
protegidos pela pureza do vosso coração e vossa alma seria livre.

16716 · A VACUIDADE SUPREMAAs Fraternidades precedentes ¯amavam aos que se encontravam no estado de vacuidade suprema de “os puros”. Agora podereis compreender esse nome inteiramente. Essa denominação
mostra, de imediato, que estamos aqui lidando com trans guristas. Essa pureza do coração, essa vacuidade suprema, é a base para
e de toda trans guração, pois ela leva a alma à eterna esfera da paz
da Gnosis. E quando houverdes entrado na paz do povo de Deus,
se nascestes para essa nalidade, nada mais poderá molestar-vos
e, a partir desse momento, o reino de Deus pode ser proclamado
em vós, isto é, ele foi realizado.
Atualmente, o reino de Deus vos foi apenas proclamado e
permaneceis diante da porta e, enquanto permaneceis parados
desse lado da porta, vossa alma continua sujeita a alterações de
estados psíquicos. Isso também deveis compreender claramente.
É por isso que Lao Tsé vos diz:
Todas as coisas nascem juntas; a seguir, eu as vejo retornarem novamente. Todas as coisas florescem em profusão; a
seguir, cada uma retorna à sua origem.
Aqui ele vos mostra uma imagem bem conhecida da natureza
dialética: tudo vem e vai, e vem novamente, num contínuo jogo
de “subir, brilhar e descer”. As coisas dialéticas vêm a vós de um
ponto de partida e a ele retornam, e assim por diante. Isso também
signi ca que vossa alma, consequentemente, não poderá estar
livre de conflitos e perturbações psíquicas. Eles também vão, vêm
e retornam, até que, desse modo, no seu mais profundo ser, a
alma que tão cansada, que surja um embotamento, tendo por
resultado nal as doenças e a morte. A alma cai, então, na apatia.
Acima de tudo, as mudanças subordinadas aos conflitos psíquicos são a consequência do passar dos anos. As coisas que as pessoas
fazem quando jovens são diferentes das que fazem quando idosas,
mas tudo continua igual. Quando alguém, com dor e di culdade,

168A GNOSIS CHINESApassa por um conflito psíquico, as causas se precipitam de volta à
sua origem, origem essa ocupada em reenviá-las de volta a ele. É
a assinatura da natureza da morte e de toda a vida e movimento
nesta natureza. O homem comum jamais se liberta disso; ele não
está imune às mudanças e variações. Por essa razão ele deve retornar à sua origem, ou seja, ao estado adâmico. Não é somente algo
nele que deve retornar, porém todo o seu ser. Seu microcosmo
inteiro deve voltar-se para o Reino Imutável, a origem do começo.
Quem se volta para
essa origem atinge, primeiro, a quietude da
alma e supera o jogo das alternâncias. Sua alma se trans gura; a
nova alma nasce. A trans guração da alma é necessária acima de
tudo porque a vida provém da alma. É por isso que a Bíblia fala
inúmeras vezes da salvação da alma. É por isso que Lao Tsé diz:
Retornaràorigemsigni caestarnaquietude,eestarnaquietude signi ca retornar à verdadeira vida, a vida eterna.
Denomino retornar à vida ser eternamente.
Conhecer o que é eterno é ser iluminado. Não conhecer o
que é eterno equivale a fazer sua própria infelicidade.
Ninguém pode realmente compreender o que lhe é mostrado da
Doutrina Universal  a menos que a Gnosis o tenha tocado. Se
¯egastes até a Escola da Rosacruz por verdadeira necessidade
interior, portanto, se vosso coração anseia pela essência da Gnosis, mediante o processo magnético do esterno, a corrente da
plenitude gnóstica vos tocou. Um contato desses ilumina a compreensão. O homem iluminado é tocado pela Gnosis. Ele
sabe,
porque a natureza da vida oferece não apenas uma força vital,
mas ao mesmo tempo, a sabedoria. Enquanto não fordes iluminados pela natureza divina, estareis sempre ocupados fazendo vossa
própria infelicidade.

16916 · A VACUIDADE SUPREMAEstas palavras soam duras e cruas, mas não podereis negar a verdade nelas contida. Dia e noite forjais uma corrente ininterrupta
de causas e efeitos no jogo das alternâncias.
É por isso que a conclusão ressoa como o Cântico dos Cânticos,
qual grito de triunfo:
Conheceroqueéeternoépossuirumagrande
alma
 uma nova alma. O novo saber, a iluminação, é sempre
prova do renascimento da alma.
Ter uma grande alma é ser justo: não justo segundo a natureza 
a justiça também está sujeita a variações  mas justo compreendido segundo a lei eterna, imutável e fundamental. Portanto, um
renascimento estrutural total deve seguir-se à trans guração da
alma.
É por isso que
ser justo é ser rei: tornamo-nos reis-sacerdotes do
reino original, entramos na Escola Espiritual.
Ser rei é ser o céu, e o todo se realiza. Por conseguinte, ser o céu é
ser Tao;
tornamo-nos unos com Isso.
Ser Tao é durar eternamente
 entramos na eternidade. Mesmo
que o corpo morra, já não há perigo a ser temido.
O corpo é um
fenômeno da antiga vida que, ¯egado o momento, é deixado de
lado.
Esta imutável e incomparável salvação realiza-se pelo renascimento da alma. Esse renascimento é a ¯ave da vossa felicidade
eterna.



172
Na remota Antiguidade, o povo sabia apenas que
os príncipes existiam.
O povo amou e louvou os príncipes que vieram a seguir.
Ele temeu os que os sucederam.
Ele desprezou os que vieram em seguida.
Quem não con a nos outros não recebe sua con ança.
Os antigos eram lentos e sérios com suas palavras.
Quando eles haviam adquirido valores e levado as coisas a bom
termo, o povo dizia: “Estamos aqui por nós mesmos”.
Tao Te King, capítulo 17

17317
O POVO E SEUS PRÍNCIPES
Ao estudar o décimo sétimo capítulo do Tao Te King e refletir
sobre ele, rapidamente compreendereis que a palavra “príncipes”
designa o grupo de guias espirituais da humanidade em suas diversas nuances. É preciso entender que, na Antiguidade, o soberano
era também o guia religioso, ou seja, os guias espirituais eram igualmente ¯efes de Estado. Vemos um vestígio simbólico disso na
Casa Real Inglesa, onde a rainha também é a autoridade máxima
da igreja anglicana.
No início de um novo período, de um novo dia de manifesta­
ção, o remanescente da humanidade decaída é levado novamente
à manifestação. Então, os microcosmos, puri cados do passado
da natureza, são novamente retirados da noite cósmica e conduzidos para um período dialético de atividade onde recebem a
oportunidade de abarcar uma personalidade. Na aurora de tal
dia de manifestação, a humanidade recebe uma liderança espiritual. Uma liderança que de ne o objetivo e impele a esse objetivo,
rumo à libertação. Deve estar claro para vós que tal liderança, no
início, não pode vir das bases, pois a jovem humanidade ainda
não está pronta para isso.
Por isso, nesse primeiro estágio de desenvolvimento da humanidade, o último elo das Fraternidades precedentes, o grupo do
elo mais baixo da corrente de almas imortais, desempenhou os

174A GNOSIS CHINESApapéis de soberanos e líderes. Por terem se libertado antes da
última noite cósmica, evidentemente havia uma grande distância
entre esses sublimes soberanos e líderes e a jovem humanidade
remanescente. Essa incomensurável distância tornava, portanto,
impossível qualquer contato. Existia, quando muito, uma liga­
ção impessoal que operava através da percepção sensorial e da
vida onírica. Nesse estágio, era impossível para as entidades humanas observarem pessoalmente seus guias espirituais, mas todas
estavam convencidas de sua presença através de experiências interiores pessoais. Elas vivenciavam a presença de deuses, por isso é
dito:
Na remota Antiguidade, o povo sabia apenas que os príncipes
existiam.
A segunda hierarquia de soberanos proveio em parte do pró­
prio povo, sob condições muito especiais, porque, nesse ínterim,
o corpo racial da jovem humanidade havia se desenvolvido. Algumas entidades com predisposição para isso poderiam ser obumbradas pelos deuses do último elo. Mais tarde ainda, alguns deuses
se manifestaram de forma mais direta em microcosmos, primeiro
pelo deslocamento da consciência do ser, nos templos, e depois
pelo nascimento. Dessa forma, houve uma ligação mais direta e
pessoal entre os príncipes do espírito e a humanidade. Essa liga­
ção direta e pessoal era também necessária porque a visão interior
obscurecera devido ao mergulho cada vez mais profundo na matéria. Por isso:
O povo amou e louvou os príncipes que vieram a
seguir.
O amor e o louvor vieram juntar-se à adoração da primeira
fase.
A terceira fase surgiu com o ulterior progresso da manifesta­
ção dialética da humanidade. Os soberanos espirituais do último
elo retiraram-se após haverem transmitido os ensinamentos, as
instruções, todo o caminho da magia e toda a verdade, visto que
o corpo racial e o estado microcósmico dos homens estavam su ­
cientemente desenvolvidos para que fosse possível, pela primeira
vez na recente história humana, recrutar da própria humanidade

17517 · O POVO E SEUS PRÍNCIPESa hierarquia de líderes espirituais. Foi nessa fase que se formou
o sacerdócio humano, a m de assegurar, pelo maiortempo possível, a correta ligação com os antigos príncipes espirituais que
retornavam periodicamente à terra para suscitar um despertar.
Tratava-se de uma necessidade premente, pois o crescimento
do egoísmo provocava um rápido declínio. A nova hierarquia de
reis-sacerdotes, recrutada da própria humanidade, desagregou-se
emdecorrênciadequerelassobreesferasdepoder,inveja,ciúmee
toda a gama de impulsos humanos. E como essa hierarquia havia
sido treinada em magia e o corpo racial ainda era muito sutil,
portanto não estava ainda condensado como hoje, as práticas
de magia tinham grande impacto. Dessa forma, uma conjuração
mágica feita por um soberano desarmonioso podia provocar a
morte súbita. O bem e o mal, em sua forma extrema, estavam
fo
rtemente misturados. O povo tinha, portanto, toda a razão de
temer seus soberanos. Daí:
Ele temeu os que os sucederam.Lao Tsé percorre com grande velocidade a história da humanidade. Não é a história que o interessa, mas o presente. Por isso
ele esboça, com poucas palavras, o período seguinte. O tempo
das teocracias absolutas tinha passado e o nível espiritual continuava em queda. Não podia ser de outro modo. O adensamento
docorporacialeadegeneraçãodossoberanos-sacerdotescausaramarupturadaligaçãocomos príncipesdoúltimoelo.Visto
espiritualmente, restou apenas a presença do campo de irradiação gnóstico e das escolas espirituais que haviam retomado a
tarefa dos soberanos-sacerdotes degenerados. Essas escolas tiveram de trabalhar com a maior cautela, pois eram objeto de todo
tipo de perseguições mortais. Por isso a fase seguinte só poderia ser: primeiro, a degeneração do sacerdócio em magia negra
e, emsegundo lugar, odesenvolvimentoda teologiacomosaber
puramente intelectual, sem dimensão interior nem sacerdotal,
sem legitimidade nem qualidades, bem como a formação de uma
classe popular mística e autoritária.

176A GNOSIS CHINESACom isso, surgiu e cresceu o desprezo no homem das massas.
A adoração, o amor e o temor desapareceram completamente.
Os sacerdotes e os teólogos já não eram levados a sério, razão pela
qual é dito:
Ele desprezou os que vieram em seguida.Vivemos numa época em que a maior parte da humanidade cortou completamente seus elos com a Gnosis. Essas ligações foram
traídas e destruídas devido a contínua cristalização e degenera­
ção. A massa está envolvida e impregnada com um sucedâneo de
vida espiritual que, na verdade, ela despreza e do qual descon a
completamente.
Entretanto, nos meios teológicos atuais, existe certo autoconhecimento, e percebe-se que não se consegue nada e que nada
se sabe. Apesar disso, inúmeros teólogos ainda pensam que são
¯amados a exercer uma direção espiritual. Além disso, no decorrer dos séculos, seus antepassados derramaram tanto sangue,
causaram tanto mal, perpetraram tantos atos de impiedosa crueldade, que, com o peso de semelhante herança sanguínea, eles
estão totalmente acorrentados. Lembrai-vos aqui da caça às feiticeiras nos séculos passados e das inúmeras perseguições contra
os servidores das escolas espirituais, como a Fraternidade dos Cá­
taros. Lembrai-vos de Calvino, que perseguiu Mi¯el Servet. Em
nossa era, milhões de homens foram assassinados. Isso explica as
reações do sangue, cada vez mais fortes, a descon ança e o ódio
generalizados. E conheceis a lei:
Quem não con a nos outros não
recebe sua con ança.
Esforços têm sido envidados para desenvolver um movimento
ecumênico, uma nova Internacional da espiritualidade. Mas de
que forma uma situação nova, no sentido de um restabelecimento
da ligação com a Gnosis, poderia instaurar-se, tendo por base a
ignorância, a degenerescência e uma herança tão pesada? Ora, já
há muito tempo foi retirado o direito de progenitura do clero
atual. Já há milênios esse direito foi transferido para as escolas

17717 · O POVO E SEUS PRÍNCIPESespirituais. Estas escolas, há milênios, já estabeleceram seu movimento ecumênico. Além disso, o ecumenismo teológico consiste
em congressos sucessivos e publicações retumbantes, quando é
claro que o caminho a seguir é completamente diferente.
Examinai, desse ponto de vista, os últimos versículos do dé­
cimo sétimo capítulo do
Tao Te King:
Os antigos eram lentos e sérios com suas palavras.
Quando eles haviam adquirido valores e levado as coisas a
bom termo, o povo dizia: “Estamos aqui por nós mesmos”.
Osverdadeiroseoriginaisobreirosnasvinhasdaluzsãolentos
e sérios com suas palavras. Isso quer dizer que eles falavam, e falam,apenasoestritamentenecessárioenãoseperdememinúteis
jogos de palavras, nem em eloquência ¯eia de brilho. Trata-se,
primeiro, de “adquirir valores e levar as coisas a bom termo”. Portanto, que cada obreiro e cada aluno evite torrentes de palavras,
demonstrações exteriores e especulações, e que demonstre a realidade de seu estado através de sua própria vida, tanto exterior
como interiormente. Unicamente os fatos falam e dão testemunho. Unicamente a verdade, a realidade, liberta. Unicamente o
renascimento da alma pode elevá-la acima do tempo e do espaço.
Agora, após grande luta, o instrumento de trabalho sob nossa
direção adquiriu valores interiores. Agora a antiga sabedoria foi
libertada de seu envoltório material. Agora a ligação com os príncipes do último elo foi restabelecida e o corpo-vivo se tornou
sétuplo. Agora estamos prontos para a obra, para recolher imediatamente a colheita no mundo todo. A forja foi construída,
a bigorna foi instalada, o fogo foi aceso, ativado, e sobe em ¯amasardentes.Porissoénecessárioque,agora,osgolpesdemartelo sejam desferidos. Uma nova falange sacerdotal deve agora
comprovar-se.

178A GNOSIS CHINESAEssa prova é fornecida por uma demonstração pessoal de um
novo estado de ser. Não com palavras, mas em atos. Essa é a
¯ave para romper o estado sanguíneo da humanidade atual. A
humanidade está mergulhada na descon ança e no desprezo em
consequência de sofrimentos indescritíveis. Não vos aproximeis
dos homens unicamente com palavras: não obtereis o menor sucesso. Não vos aproximeis deles com os métodos habituais, com
uma série de palavras piedosas e doces, porém aproximai-vos deles
com um novo estado de alma.
Quando, dessa forma, houverdes
adquirido valores e levado
as coisas a bom termo,
os homens que para isso estiverem enobrecidos, dirão: Estamos aqui por nós mesmos, nós viemos a vós,
estamos convosco espontaneamente; inclinamo-nos diante dos
fatos. Nós viemos por nós mesmos, por impulso interior”. Então,
eles colocarão em prática o não fazer, como vós também o teríeis
fe
ito. E eles quererão alcançar o que vós teríeis alcançado. Eis a
prática, no presente: essa é a receita da libertação. É a prescrição
dos antigos.


180
Quando o Tao foi negligenciado, surgiram o humanitarismo e a
justiça.
Quando a sagacidade e a astúcia se manifestaram, surgiu a grande
hipocrisia.
Quandoafamíliadeixoudeviveremharmonia,surgiramaafeição
paterna e o amor lial.
Quando os estados do reino soçobraram na desordem, surgiram
súditos éis e submissos.
Tao Te King, capítulo 18

18118
QUANDO O TAO FOI NEGLIGENCIADO,
SURGIRAM O HUMANITARISMO E A JUSTIÇA
À luz da Doutrina Universal, tornar-se-á claro para vós que o
colapso e o naufrágio da humanidade nada têm de enigmáticos.
Quando, por ocasião de um novo dia de manifestação, um novo
período para a humanidade inicia-se e todos os microcosmos
recebem uma série de novas possibilidades de elevação, então,
na aurora desse dia, são abertas oportunidades de libertação a
absolutamente todos.
Todavia, essas oportunidades não podem permanecer abertas, pois numa dispensação dialética isso é impossível. É por isso
que cada dia de manifestação apresenta um nascimento, um crescimento, uma maturidade e, em seguida, um declínio. Naturalmente, durante esse desenvolvimento o corpo racial se adensa
cada vez mais e um estado de separação máxima é alcançado.
Como veri camos: a Gnosis  o Tao  vai ao encontro da jovem
humanidade, na aurora de um dia cósmico, e caminha a seu lado
pelo tempo que for possível, numa tentativa de permanecer junto
a ela.
Com efeito, a colheita é grande, porém infelizmente ¯ega,
para a parte que ca para trás, um momento histórico trágico de

182A GNOSIS CHINESAdespedida. Nós mesmos e nossos semelhantes já passamos por
esse momento. Pertencemos ao grupo remanescente, aos que, até
agora, não quiseram seguir a senda de libertação.
No decorrer dessa separação histórica, um último meio de
salvação foi con ado às escolas espirituais da sétupla Fraternidade Mundial, e preferimos já não falar do trágico declínio da
hierarquia sacerdotal. Sabeis, porém, que somente um pequeno
percentual da humanidade  se virmos isso com o maior otimismo  está em condição de ser ajudado pela Escola Espiritual
e que um grupo ainda menor está fundamentalmente quali cado
para tanto, pois somente poucos apresentam uma fraca reação às
radiações magnéticas gnósticas.
Para os demais, pode-se dizer que, após o período de “negligência ao Tao”, ocorreu uma completa ruptura com o Tao, uma
ruptura de natureza fundamental.
Mas não faríamos jus à verdade se não veri cássemos também
que em uma grande parte da humanidade ainda estão presentes
elementos que dão um claro testemunho de que ela é ¯amada
a um destino melhor e a um bem superior. Um cão de raça maltratado pode ter uma aparência miserável, mas sempre é possível
perceber sua raça, sua origem. Isso também ocorre com a humanidade. A posse da rosa, talvez extremamente negativa e caricatural,
fala por si e o demonstra de diversas formas. A humanidade demonstra que ela tem “raça”, algo como um impulso régio. Ela dá
provas de sua nobre origem.
Infelizmente, porém, como retrata Johann Valentin Andreæ
em seu livro
As núpcias químicas de Cristiano Rosa-Cruz: a humanidade jaz acorrentada num obscuro calabouço, onde os homens
estão muito ocupados recriminando uns aos outros pelas trevas,
pela miséria e pelos grilhões. Eles brigam e ¯egam à violência.
Ao mesmo tempo, estão muito ocupados, na teoria e na prá­
tica, em ordenar e melhorar esse caos. Mas não têm sucesso. A
tentativa é inútil, embora o esforço seja compreensível. É por

18318 · QUANDO O TAO FOI NEGLIGENCIADO. . .isso que Lao Tsé diz: Quando o Tao foi negligenciado, surgiram o
humanitarismo e a justiça.
Acaso sabeis que já vivemos quatro séculos de desenvolvimento
e aplicação do humanismo prático? Em 1953 foi realizado em Genebra um congresso humanista por ocasião dos quatro séculos
do suplício de Mi¯el Servet, morto na fogueira por instigação
de Calvino. Nessa época, houve o veemente protesto humanista
de Castellio e, desde então, o humanismo não cessou de crescer
e de se desenvolver. Realmente, ele deixou sua marca em nossa
sociedade. Os humanistas dão o melhor de si, e quem ousaria
deixar de praticar o humanitarismo e a justiça?
Porém, não estaria tudo isso acelerando, ao mesmo tempo,
acentuadamente a descida da humanidade aos infernos? Quatrocentos anos de humanismo, mas também quatrocentos anos
de sofrimentos e desespero. As mais terríveis guerras e destrui­
ções, a fúria do assassinato e do homicídio: um empastamento
de sangue e lágrimas, polvilhado com lantropia e justiça. O homem apresenta duas naturezas. Ele é potencialmente um deus,
mas também um demônio. E tudo isso turbilhona e fervilha no
calabouço! Que condição horrível!
Acaso, então, não devemos ser caridosos? E por que não? Se o
fazeis, é porque é mais forte do que vós. Mas vede que isso não traz
a solução. Por que, então, não aderis à justiça? E o que é a justiça
para essa extremamente complexa massa que se contorce em sua
sombria cova? Não divergem esses interesses de maneira irreconciliável? Acaso cada indivíduo não busca o direito de atingir seus
próprios ns? Percebeis como se pode facilmente ¯egar à hipocrisia em nome do direito? É por isso que Lao Tsé diz:
Quando a
sagacidade e a astúcia se manifestaram, surgiu a grande hipocrisia.
Se vossos interesses, vossos deveres e a necessidade de vos manter,
portanto, vossas preocupações, estão na linha horizontal, então
desenvolvestes, no decorrer dos anos, sagacidade e habilidade.

184A GNOSIS CHINESAAplicais uma tática, um jogo sutil para atingir vossos ns. E, nesse
jogo, buscais agora colocar o direito do vosso lado, não para praticar a justiça, mas para atingir vosso objetivo. Portanto, vossa
ação é hipócrita. Isso provoca todo tipo de perturbações, e as situações tornam-se mais e mais complicadas. Se seguirdes as lutas
políticas da humanidade à luz do
Tao Te King, só podereis sentir
uma contínua e compreensível náusea. No tocante à política e
à economia, a mentira e os enganos reinam seguindo um plano
determinado, e podemos ouvir os duros golpes desferidos recí­
proca e o cialmente pelos partidários nesse cárcere que é a nossa
sociedade. Com certeza, a grande família humana não vive em
harmonia. É uma situação horrível.
Todavia, mesmo assim, ela não nega sua origem superior, seu
status. A grande família humana não vive em harmonia, vós o
sabeis, vós o experimentais. E assim:
Quando a família deixou de viver em harmonia, surgiram
a afeição paterna e o amor lial.
Como ilhotas em meio ao mar furioso, existem, aos milhares,
famílias que vivem em paz. O amor dos pais e a piedade lial
existem, apesar das inúmeras exceções. Seria isso um mal? Ao
contrário! Que a tranquilidade de vossa vida familiar e o amor
dos pais e dos lhos sejam um conforto mútuo. Talvez sejam
mesmo vosso único local de repouso na tempestade da vida.
Todavia, não deveis superestimar a qualidade dessa situação.
Acaso vosso coração bate com o mesmo amor pela família vizinha? Vivemos em apartamentos que se empilham como gaiolas de
pássaros, onde, em muitos casos, arrulhamos harmoniosamente.
Isso não impede que os habitantes não cessem de lutar no cárcere.
Em certos grupos, os dirigentes proclamam a elevada nobreza da
família como célula básica da sociedade. Eles têm razão; ela é um
colete salva-vidas que preserva os homens do afogamento. Porém,

18518 · QUANDO O TAO FOI NEGLIGENCIADO. . .não idealizeis muito isso tudo, pois é apenas um triste vestígio,
um pequeníssimo reflexo da vida original no Tao.
O mesmo se aplica aos povos como às famílias. Cada povo
é uma grande família, porém muitas dessas grandes famílias se
desintegraram, pois há muito a ser feito e aqui se combate bravamente. Na vida desses povos, porém, ainda se percebe algo da
natureza divina. Por exemplo, no amor à pátria, no sentimento
nacional. Quer o sintais quer não, e qualquer que seja a maneira
pela qual isso se manifesta, pouco importa, veri camos somente
que tais sentimentos existem nos povos, razão pela qual cada povo
tem seus súditos éis. Nenhum ser humano está isento de patriotismo, pois trata-se de um estado sanguíneo. E sabeis até onde ele
pode levar-nos, embora, fundamentalmente, seja uma qualidade
semelhante a um clarão fugitivo do original. No entanto, por
vezes até onde o sentimento nacional pode levar a humanidade?
Compreendereis, pois, perfeitamente o que diz Lao Tsé:
Quando os estados do reino soçobraram na desordem,
surgiram súditos éis e submissos.
É desnecessário entrar em detalhes para vo-lo explicar. Vós mesmos tivestes vossas experiências nesse assunto e, quando penetrais
em vosso imo e ¯egais a uma conclusão sobre esse assunto, como
aluno da Escola Espiritual, sabeis que ainda há muito a ser feito
antes de vos libertardes dessa ilusão. Acaso não é ilusório afagar­
-vos sob um reflexo caricatural da luz? Acaso não é necessário
retornar ao Tao enquanto ainda é possível? Tendes ouvido o
apelo da Escola Espiritual, e agora que destes atenção a esse apelo
e percebestes que ele traz a paz eterna, trata-se de encarar as
consequências!
Ficamos perplexos ao pensar que o
Tao Te King foi transmitido à humanidade pelo menos seis séculos antes de Cristo. Em
nossa opinião, essa obra remonta a vários milhares de anos antes.

186A GNOSIS CHINESANão seríamos, pois, pioneiros, mas retardatários! Apesar de tudo,
ainda que retardatários, caminhemos, pois ainda há tempo. Abandonemos o cárcere e entremos na liberdade pelo renascimento
da alma:
Ser Tao é durar eternamente. Mesmo que o corpo morra,
nenhum perigo pode ser temido.


188
Livra-te da sabedoria e bane o saber, e o povo será cem vezes mais
feliz.
Livra-te da lantropia e bane a justiça, e o povo reencontrará o
amor paterno e o amor lial.
Livra-te da destreza e bane a cupidez, e já não haverá ladrões nem
salteadores.
Afasta-te dessas coisas e não tomes gosto pelas aparências.
Eis por que eu te mostro ao que deves te apegar: considera-te, tu
mesmo, em tua simplicidade original e guarda tua pureza original.
Tem pouco egoísmo e poucos desejos.
Tao Te King, capítulo 19

18919-I
BANE O SABER!
É de vosso conhecimento que a humanidade, com os farrapos
remanescentes da vida original, gira em círculos no poço tenebroso da natureza da morte. Através do humanismo e da justiça,
do amor paterno e lial, portanto pelo culto à família e à pátria,
ela tenta consertar as coisas. Por mais inúteis que sejam essas tentativas quanto ao resultado nal, devemos reconhecê-las como
a única possibilidade de expressão do potencial de bondade da
humanidade.
O Tao foi abandonado, e vimos o resultado sob diversos ângulos. E, provavelmente, tivestes vossas próprias experiências nesse
sentido. Por isso, propomo-vos uma única solução possível: que
agarreis as cordas lançadas para vossa salvação no poço da morte, a
m de percorrer o caminho do regresso, caminho esse que começa
pelo renascimento da alma, dando-lhe paz imediata.
Obviamente, esse caminho de regresso apresenta diversos aspectos que deveis levar em consideração. Conheceis o processo da
Gnosis quíntupla universal e sabeis que ela corresponde a vossos
fluidos vitais, a saber:
a compreensão corresponde ao sangue;
o desejo de salvação, ao fluido hormonal;
a autorrendição, ao fogo serpentino;

190A GNOSIS CHINESAa nova atitude de vida, ao fluido nervoso;
o renascimento da alma, ao fluido astral.
AolongodosanossefezdetudoparalevarosalunosdaEscolada
Rosacruzaumacompreensãosu cientedeseuestado.Omesmo
se pode dizer com relação ao desejo de salvação. Quem tem algumacompreensãoaspiraaonovocampodevida.Edissemo-vos,
comênfase,quasediariamente,duranteanos,queaautorrendi­
ção,ouseja,oestadodenãoeu,éa¯avedoproblema.Eagora
sabeis que essas três sendas  compreensão, desejo de salvação e
autorrendiçãomantêmaligaçãocomosraioseletromagnéticos
presentesedemonstráveisnocampodeforçadaEscolaEspiritual.
No decorrer desses anos, uma nova força eletromagnética surgiu em nosso campo de força. Uma força que nos fez falar da
unidade de grupo e da nova atitude de vida; uma força que influencia principalmente o coração; uma força que vos leva a agir e a
darprovasevidentes deumdiscipuladopuro esemfalhas.Qual
avalan¯e, essa força, como o sabeis, provocou grandes mudan­
ças e desenvolvimentos em nossa Escola,mudanças essas que, se
porumladonosen¯eramdereconhecimentoealegria, poroutro também nos deram tristezas, pois foi necessário utilizar sem
reservas a espada da puri cação e da libertação. E vós o sabeis:
Nova atitude assim exige
compreensão mui clara.
Quem para a nova vida segue
recomeça tudo.
Qual um grupo, sem cessar,
nós devemos unidos ser,
o eu aniquilar.
Preparamos e realizamos esse novo começo, e os que deram prioridade ao eu e à sua ilusão, e assim criaram obstáculos à viagem,
19119-I · BANE O SABER!excluíram a si mesmos do grupo. Admitamos agora que tenhais
começadoessaviagemnanovaatitudedevidaequeestejaisperfeitamente preparados para aceitar as consequências dela decorrentes.Portanto,diversosproblemassurgemedeverãoserresolvidos.
Porque quem é incapaz de resolver seus problemas perde o bom
humor, enquanto o abatimento ou a exaltação toma o seu lugar. Ao lado das normas do caminho que conheceis e aceitais, ao
lado da atitude de vida fundamental correspondente, pensamos
em condutaspráticase maisou menosconcretasnecessáriasno
dia-a-dia.
Estais focalizados no objetivo da Escola Espiritual e, portanto,
sabeis o que se espera de vós. Mas também estais, diariamente,
voltados para a vida comum com todas as suas emoções. Frequentemente não sabeis o que fazer. Portanto, ¯egais ao ponto
de cometer erros que podem acarretar consequências deplorá­
veis. Portanto, em vossa condição de aluno, é preciso ter, na vida
comum, um comportamento ponderado. Não digais: “A vida cotidiana não me interessa. Nela não tenho nada a fazer. Já liquidei
minha dívida com ela”.
Seria tolice falar dessa maneira, pois o fato de estardes nesta
terra signi ca que a vida ainda não fez seu ajuste de contas convosco. É por isso que, de qualquer maneira, é preciso escolher
condutaspráticasnoplanohorizontal.Ora,LaoTsévosesclarece
a esse respeito.
A propósito da vida comum, em primeiro lugar é preciso rejeitar
a sabedoria e banir o saber. Tendes unicamente de irradiar a luz
de vossa alma. Isto quer dizer que, se vos aproximardes de vossos semelhantes munidos com o conhecimento e a sabedoria da
Gnosis, eles vos considerarão insuportáveis. Despertareis o ódio.
Desencadeareis a resistência. Incendiareis a guerra.
No entanto, com um pouco de conhecimento dos homens,
um pouco de conhecimento da vida e um pouco de amor, fareis

192A GNOSIS CHINESAmaravilhas, levados pela nova luz da alma. E nessa atmosfera de
harmonia e de felicidade, eles se abrirão mais do que nunca à
vossa orientação espiritual.
Assim, Lao Tsé a rma:
Livra-te da sabedoria e bane o saber, age
tão naturalmente quanto possível,
e o povo será cem vezes mais
feliz.
Dessa forma, seguirás o caminho da mínima resistência,
exatamente para romper a resistência.
O aspecto seguinte dessa importante questão é que o humanismo e a justiça lançam perturbações em todas as partes do
mundo. Inúmeros movimentos no plano dialético querem ajudar a humanidade através da lantropia e da justiça. Pensai em
todas as correntes religiosas, humanitárias e políticas que agem
no plano da natureza. Elas enviam suas acusações e suas publica­
ções para todo o mundo. Elas têm sua imprensa e sua organização.
Elas vos ¯amam e acenam para vós de todas as direções, com a
louvável intenção de converter, no cárcere, a desordem em ordem,
se possível em ordem divina.
Não zombeis deles! Não os ataqueis. Não oponde vossas concepções às deles. Considerai tudo isso muito seriamente, pois os
homens não podem agir de outra forma. Todavia, não colaboreis
com isso pessoalmente. Não vos deixeis dominar. Libertai-vos
eventualmente. Não espereis nada e agi com tato.
Seexisteumgrupoqueexerceinfluência, éexatamenteogrupo
gnóstico, graças ao seu campo de força. Se o grupo da Escola
Espiritual como um todo libertar-se da violenta agitação mundial,
ele se tornará uma poderosa alavanca para o restabelecimento
naldagrandefamíliahumanauni cada.Osesforçoshumanistas
no plano horizontal serão, então, substituídos pela realidade do
plano vertical.
Dessa forma, aceleraremos a vinda do período conhecido sob
o nome de “reino dos mil anos”. Trata-se do processo que as
escolas espirituais da sétupla Fraternidade Mundial devem seguir.
Portanto:

19319-I · BANE O SABER!Livra-te da lantropia e bane a justiça, e o povo reencontrará o amor paterno e o amor lial.Ainda estamos apenas no início desse desenvolvimento, mas se
dele quiserdes participar, descobrireis quão importante tudo isso
se tornará. Já falamos convosco sobre a atitude do aluno com
relação a seus semelhantes e, no aspecto social, sobre suas relações
com a sociedade. Todavia, ainda há muito a ser dito sobre isso:
Livra-te da destreza e bane a cupidez, e já não haverá
ladrões nem salteadores.
Que devemos compreender por essas palavras? Examinemo-las
primeiro no contexto de nossa Escola Espiritual e, a seguir, no
tocante a vossa vida social comum. Suponhamos que, na Escola,
sob certos aspectos, vossos motivos não sejam puros. Este fato
depende, evidentemente, da impureza fundamental do coração.
Sois presos pelas ¯amas de vossos desejos. E, com a ajuda da vossa
experiência, vos esforçais por atingir vossos objetivos. Portanto,
tentais obter algo que, na verdade, não vos pertence. Tentais for­
çar a obtenção de algo que ¯egará a vós no devido tempo, se
tudo for bem. Dessa forma, agis exatamente como um ladrão ou
salteador, e é evidente que, em vista disso, evocais todo tipo de for­
ças e de vibrações correspondentes. Então a Escola é colocada em
di culdade e o campo de força, perturbado. Neste caso, emanaria
dela uma radiação impura, destruidora para a humanidade, e não
libertadora. Principalmente numa escola espiritual, não deveis
evocar em vós mesmos desejos, esperteza e gosto pelo lucro, mas
renunciar a eles completamente.
Esforçai-vos por aplicar esses princípios também na vida comum, de modo consciente e fundamental. Ousai fazê-lo! Vosso
desenvolvimento no caminho da paz da alma será grandemente
bene ciado. Em vosso campo* de respiração existem inúmeros

194A GNOSIS CHINESAladrões e salteadores que vós mesmos evocastes! Quantas di culdades não provocais, assim, na vida dos outros! Isso não vos traz
nada e destrói os outros. Eis por que Lao Tsé diz:
Livra-te da
destreza e bane a cupidez, e já não haverá ladrões nem salteadores.
Colocai em prática esta atitude de vida.
19519-II
AFASTA-TE DESSAS COISAS
Retomemos os versículos ainda não comentados do capítulo 19
do
Tao Te King:
Afasta-te dessas coisas e não tomes gosto pelas aparências.
Eisporqueeutemostroaoquedevesteapegar:considera-te,
tu mesmo, em tua simplicidade original e guarda tua pureza original. Tem pouco egoísmo e poucos desejos.
Afasta-te dessas coisas.
Quais coisas? Permiti que vos lembremos
novamente.
Em vosso comportamento cotidiano, em vossas relações com
vossos semelhantes, renunciai à vossa sabedoria e ao vosso saber.
Recebestes essa sabedoria e esse saber unicamente para vosso
uso pessoal, para ajudar-vos a transformar vossa alma mortal em
alma renascida. Disso resulta particularmente uma irradiação da
alma. Essa irradiação emana de vós não segundo vossa vontade,
de maneira refletida e premeditada; e ela não pode jamais ser
ofensiva, provocativa ou desagradável para quem quer que seja.
Vossa sabedoria e vosso conhecimento, não obstante úteis para
vós, somente podem ser úteis para outros no caminho quando

196A GNOSIS CHINESAsolicitados,quando,naangústiadaalma,elestiveremnecessidade
desse alimento. Quanto aos demais, deveis comportar-vos com
amor e compreensão, com muita paciência e compaixão, pois eles
fazem parte daquele tipo de ser ao qual vós mesmos pertencíeis.
Dessa forma, é possível tornar felizes todos os seres vivos com os
quais estais em contato.
Em segundo lugar, deveis afastar-vos da lantropia e da justiça.
Dezenas de grandes movimentos e centenas de pequenos outros,
cuja violenta agitação resulta da ação de grupos religiosos, humanitários, políticos, ocultistas e econômicos, solicitam vossa aten­
ção, vossa colaboração, vossa determinação e a doação de vossa
vida. Não participeis deles de forma alguma. Considerai tudo
isso inútil e bom unicamente para manter a luta. Todavia, não
vos mostreis arrogantes, nem rudes, nem odientos. Permanecei
calados e fazei a oferenda da luz de vossa alma.
Em terceiro lugar, desprezai vossa esperteza e vosso gosto pelos
lucros, pois esses traços de caráter são armas para furtar o que não
vos pertence e a que ainda não tendes direito. Criaríeis ao vosso
redor uma atmosfera de desarmonia, roubo e morte.
No capítulo precedente, indicamos três elementos dos quais é
necessário afastar-se. Se vos decidis a isso, não o façais somente
em aparência. Saber que alguma coisa não é boa e não renunciar
a ela do fundo do coração, é um simulacro. Neste caso, obedeceis
a uma lei que vos é imposta ou à qual vós mesmos vos submeteis. Então, vos mantendes sob o jugo da lei, ou seja, na fase do
Velho Testamento. Vós vos inclinais diante da lei, sem que, no
entanto, a nova realidade se inscreva em vosso sangue. Ainda não
renunciastes à justiça comum, e tendes gosto pelas aparências. A
nova atitude de vida só faz sentido se a adotais interiormente,
impulsionados pelo sangue do coração. Caso contrário, trata-se
de simulacro, de hipocrisia. Então, vos colocais sob o julgamento
emitido no capítulo 18:

19719-II · AFASTA-TE DESSAS COISASQuando a sagacidade e a astúcia se manifestaram, surgiu a
grande hipocrisia.
Compreendei-o bem: na Escola Espiritual e na senda é impossível
dar um passo sequer e obter algum sucesso injustamente, mediante simulação. Na nossa vida comum pode-se ngir. Essa, porém,
é a causa de indizíveis tormentos, pois ngir está em pé de igualdade com o instinto de conservação, e o instinto de conservação
desencadeia a guerra. O ngimento na vida e no comportamento
penetrou a tal ponto no sangue, de geração em geração, que temos certa tendência a empregar o simulacro e seus métodos até
mesmo na Escola Espiritual para seguir a senda! Então, nesse caso,
não falais em simulacro ou impostura, pois trata-se de palavras
pejorativas. Dizeis: “Eu bem que gostaria, esforço-me ao máximo,
tenho o desejo” e outras palavras semelhantes.
Deveis compreender bem que não queremos colocar-vos sob
uma luz desfavorável nem ofender-vos, mas somos obrigados
a perguntar: “Acaso a Gnosis ainda é para vós unicamente um
simulacro, um valor ainda totalmente exterior, que gostaríeis
muito de possuir?”
Podeis, com base nisso, estudar esse valor, suas características
e objetivos, tentar aproximar-vos dele e imitá-lo graças aos meios
dialéticos ao vosso dispor. Mas isso não passaria de um falso discipulado, com aparências às vezes muito re nadas. E ele não
poderia ser considerado uma posse sanguínea.
Deveis dar provas de que estais renovados em vosso próprio
campo sanguíneo e através dele. Essa é a razão pela qual Lao Tsé
diz no m do capítulo 19:
Eis por que eu te mostro ao que deves te
apegar.
O poeta holandês de Génestet diz em um de seus poemas:Liberta-me da aparência, ó Senhor,
devolve-me a natureza e a verdade.

198A GNOSIS CHINESAConsidera-te, tu mesmo, em tua simplicidade original e guarda tua
purezaoriginal.
Quesepretendedizercomisso?Comcertezanão
setratadasimplicidadeedapurezadivinasoriginais.Éimpossível
nos vermos nelas. Em nossa condição de almas mortais, jamais
conhecemos esse estado. Não obstante, quando vos aproximais
da Escola Espiritual e decidis seguir a senda, deveis libertar-vos
de todos os véus que a ilusão, a impostura e a educação teceram
ao vosso redor e manter-vos com os pés no ¯ão com relação a
vossa verdadeira natureza e a vosso verdadeiro estado de ser.
Cada homem pertence a determinado tipo, possui determinado caráter e determinado valor. Quando houverdes adquirido
o autoconhecimento, sem superestimar-vos nem subestimar-vos,
estareis em vossa simplicidade original, conhecereis vosso tipo
pessoal. Então, com a pureza e a autenticidade de semelhante
conhecimento, podereis aproximar-vos da Gnosis com compreensão e desejo de salvação, em autorrendição e em nova atitude
de vida  um processo que pode desenvolver-se muito rápido!
Apegai-vos a
isso. Se não o zerdes, correreis sempre o risco de
vos aproximardes da Gnosis com aparência, com todas as consequências decorrentes. Vede a vós mesmos, diariamente, em
vossa perfeita simplicidade, e, sobre essa base, segui o processo
com pureza. É
isso que Lao Tsé tem em vista.
Enquanto caminhais em círculos neste mundo, tendes necessidades e interesses materiais, pois deveis manter-vos. Pois bem
 e nisso cada qual é seu próprio juiz  simpli cai e diminuí ao
máximo vossas obrigações para vos manterdes na matéria. Tende
pouco egoísmo e poucos desejos. Que o pouco de que necessitais sirva, no máximo, para assegurar as necessidades de vosso ser
biológico.
Rejeitai toda ilusão e iniciai vossa senda de aluno na simplicidade e na pureza. Então, a unidade de grupo  a grande comunidade de almas 
surgirá com força e de uma maneira maravilhosa.
Abandonai tudo o que é inútil e vos impede. Portanto:

19919-II · AFASTA-TE DESSAS COISASHoje o fardo abandonai,
mal que atacando o sangue vai.
Na liberdade agora ingressai!
Assim, tendo examinado convosco a sabedoria do Tao Te King,esperamos que os frutos dessas reflexões se façam notar em vossa
atitude de vida.

200
Abandona os estudos, e a inquietação se afastará de ti.
Que vantagem traz o conhecimento das sutilezas linguísticas? É
preferível o conhecimento que distingue o bem do mal.
Infelizmente, o mundo tornou-se uma selva, e não se vê o m disso.
Todos os homens estão contentes e alegres, como quem desfruta de
seu alimento ou como quem, na primavera, sobe a um alto terraço.
Somente eu estou calmo e ainda não me movi. Sou como uma criancinha que ainda não sorriu. Sou livre e sem entraves, como se não
houvesse nada para o qual eu quisesse retornar.
Os homens comuns vivem na fartura. Somente eu sou como um
homem que perdeu tudo. Tenho o coração de um tolo, sou caos e
confusão.
Os homens comuns são brilhantemente iluminados. Somente eu
sou como a escuridão. Os homens comuns são muito penetrantes e
perspicazes. Somente eu sou tristemente preocupado.
Sou vago como o mar, levado aqui e ali pelas ondas, sem descanso.
Todos os homens encontram razões para tudo. Somente eu sou um
tolo.
Somente eu sou diferente dos homens comuns, porque venero a Mãe
que tudo nutre.
Tao Te King, capítulo 20

20120-I
ABANDONA OS ESTUDOS
Tentemos compreender plenamente o signi cado gnóstico do
capítulo 20 do
Tao Te King. Acaso castes perturbados por estas
palavras:
Abandona os estudos, e a inquietação se afastará de ti?A humanidade, totalmente absorvida pelo intelectualismo,
a¯ará essa observação de uma grande estupidez ou então se
sentirá ofendida. Acaso não estariam essas palavras também em
contradição com as ideias da Escola da Rosacruz? Não dizemos
que o homem deve possuir conhecimento para compreender
a Gnosis? E não diz a Bíblia: Meu povo se perde por falta de
conhecimento? Acaso não é importante e necessário tomar conhecimento de nossa literatura, a m de nos aprofundarmos nos
objetivos da Gnosis? Talvez digais: “No entanto, os alunos em todos os tempos receberam ensinamentos, seja por meio da palavra,
seja por meio de escritos, ou ainda pela linguagem dos Mistérios.
Deveríamos renunciar a tudo isso? Como é possível proferir semelhante absurdo datando de seis séculos antes de Cristo e pensar
que se trata da sabedoria gnóstica?”
Examinemos o que Lao Tsé entende por isso. Começaremos,
portanto, por um exemplo bem conhecido:
Imaginai que pudestes ler todo o conjunto das obras de nossa
Escola Espiritual com base em todas as obras semelhantes que

202A GNOSIS CHINESA¯egaram a vossas mãos no decorrer dos anos. Imaginai ainda
que possuís uma boa memória e que pudestes gravar tudo o que
lestes; que se possa, portanto, dizer de vós, intelectualmente: “Ele
sabe! Ela sabe!”
Porventura esse saber trouxe-vos algo de real, por mínimo que
seja? Não existe uma diferença enorme entre conhecimento intelectual e verdadeira posse? Não são inúmeros os que se atiram
avidamente às obras da Escola Espiritual e as devoram? Acaso percebestes a reação deles ou ouvistes falar a respeito? Um capítulo
trouxe alegria; o outro, tristeza; o seguinte, aversão; e o outro,
ainda, talvez uma grande confusão. Aqui podia-se entrever novamente um pequeno sinal de esperança e, ali, novamente um
temor desmedido etc.
Todas as reações psíquicas possíveis sucediam-se num selvagem turbilhão. Finalmente, os interessados encontravam-se frequentemente com tais tensões, a ruína astral era tão completa e
preocupações de todo tipo se amontoavam como nuvens, a tal
ponto que eles atingiam um resultado contrário ao esperado.
Quando observais semelhante desmoronamento moral e psí­
quico e podeis determinar sua causa, as palavras de Lao Tsé: “Por
Deus, homens, abandonai os estudos”, não vos tocam como um
grito do coração?
Além do desmoronamento psíquico e enfraquecimento moral
devidos aos estudos, outros fenômenos também podem manifestar-se. Saciar sua sede em fontes puramente teóricas conduz, invariavelmente, a superestimar-se em excesso e a pensar: “Eu sei tudo
isso!” Podemos nos empedernir em semelhante estado psíquico.
Tentar, na prática, acumular conhecimentos puramente teóricos
pode ser extremamente nefasto para os outros. Em todo caso, isso
conduz a uma desvalorização do verdadeiro desenvolvimento do
homem.
Em nossos dias, a tendência geral para a formação intelectual
provém das circunstâncias em que a humanidade se colocou.

20320-I · ABANDONA OS ESTUDOSA vida mecanizada, a industrialização altamente desenvolvida,
nosso modelo de sociedade extremamente complexo em seus mí­
nimos aspectos tornam os estudos necessários para quase todos.
No entanto, será que, por isso, a humanidade vive mais feliz,
melhor e é realmente mais sábia? Acaso vós, que talvez saibais
tantas coisas e estais sempre estudando, estais livres de vossas preocupações? Porventura vivem livres de suas preocupações os que
fabricam os diferentes produtos destinados a inculcar conhecimentos teóricos, os que fornecem a instrução? Como eles são
muito sábios, pensamos que dispõem de grandes faculdades espirituais. Ah! Que grande engano! Que desvalorização do único
objetivo da vida!
O mundo e a humanidade foram tão longe que, se neste momento, quiséssemos mudar de rumo, escolhendo como diretriz
o conselho: “abandona os estudos”, faríamos exatamente nascer
imensa preocupação. “A nal de contas, não podemos deixar nossas crianças enfrentarem a vida sem terem aprendido nada sobre a
sociedade, sobre a vida social e sem terem recebido uma formação
que lhes assegure sua subsistência!”
Mas, será que podemos quali car tudo isso de progresso e evolução? Ora, não é o que todos fazem? A maior parte dos homens
segue o caminho que, segundo Lao Tsé, conduz diretamente para
o abismo. É por isso que o capítulo 20 faz observar:
Infelizmente,
o mundo tornou-se uma selva, e não se vê o m disso.
Em nossos dias, um homem considerado educado é, sob inúmeros aspectos, um homem marcado. No mais das vezes, a influência
da natureza da morte o acorrentou fortemente. Mas, que fazer
para dissipar essa grande inquietação que, já há seis séculos antes
de Cristo, Lao Tsé causava na vida de seus alunos?
Pois bem, não se trata de uma preocupação que, se vos empenhais em resolvê-la, criará novos aborrecimentos. Trata-se de
uma inquietação que leva à libertação, contanto que, de maneira
honesta e consequente, a olheis bem de frente.

204A GNOSIS CHINESASeriam verdadeiras estas palavras? Seria isto realmente possí­
vel? Examinaremos esse ponto no próximo capítulo.

20520-II
O MUNDO TORNOU-SE UMA SELVA
Acaso já percebestes que, se quisermos ser perfeitamente honestos com relação à vida e a nós mesmos, é preciso reconhecer que
vivemos completamente amarrados a um encadeamento de causas e efeitos? Vós mesmos vestis essa camisa de força e nela atirais
também vossos lhos. Há mais de dois mil e quinhentos anos,
Lao Tsé já ¯amava a atenção da humanidade para esse ponto e,
desde então, a situação piorou consideravelmente. Quem quer
verdadeiramente viver os ensinamentos de uma escola espiritual
gnóstica, quer fazer a experiência interior e deseja percorrer o
caminho da libertação, deve abandonar os estudos.
A m de compreender essa missão e executá-la, segundo o objetivo em vista, é preciso saber distinguir entre conhecimento
do mundo e verdadeira sabedoria. A nalidade de todo o conhecimento do mundo é tornar o homem apto para sua tarefa e
prepará-lo para seu caminho através da natureza da morte. A
seguir, os estudos têm a nalidade de tornar esse caminho tão
cômodo quanto possível e de prover o homem de todas as comodidades. Além disso, os estudos encorajam todos os estímulos
desta natureza, tais como a corrida pelas honrarias, pelo renome,
pelo poder, pela aquisição de bens, bem como todos os instintos
inferiores do homem.

206A GNOSIS CHINESATodavia, a vida tem con rmado, sempre com mais evidências,
que a aplicação desse saber prova que muitos desses pretensos
conhecimentos repousam sobre bases extremamente vacilantes.
Com efeito, eles não têm nenhum fundamento e, pode-se dizer,
são pura especulação. Daí poder-se concluir que a aplicação desses
conhecimentos deve aumentar as preocupações da humanidade.
Se examinardes o decorrer de vossa própria vida, concluireis
que, sob muitos aspectos, sois vítima da aplicação dos conhecimentos que, no cômputo geral, não eram conhecimento, mas
simples especulação, embora extremamente re nada em muitos
aspectos.
Exemplo: os vegetarianos, obrigados a alimentar-se com produtos do reino vegetal, dão-se conta de que atualmente todas as
plantas são envenenadas na raiz através da aplicação de descobertas cientí cas recentes no domínio da agricultura e, no mais alto
nível, pelas ciências modernas.
O solo e a atmosfera da esfera de vida do mundo todo e da
humanidade estão poluídos em consequência dos estudos. E, por
detrás disso tudo, agitam-se interesses econômicos, políticos, sociais e nacionais, bem como os de grupos raciais e de outros movimentos da oposição. Sem exceção, todos esses interesses acabam
provocando tensões extremas, e tudo isso como consequência
dos estudos.
Infelizmente, o mundo tornou-se uma selva, e não se vê o m
disso,
diz Lao Tsé. Essa verdade pode ser demonstrada em nossos
dias. É impossível encontrar, atualmente, uma alimentação ainda
perfeitamente sã e não poluída para darmos a nossos lhos. Que
crime, que preocupação!
É possível que vos deixeis deslumbrar pelas mentiras o ciais
 resultados obtidos pelos estudos e apresentados como excelentes!  de inúmeras agências de notícias bem como da ciência
da publicidade, lha da psicologia aplicada. O mundo tornou-se
uma selva, e, enquanto isso, tentamos arrastar outros mundos

20720-II · O MUNDO TORNOU-SE UMA SELVApara essa selva. Não se vê o m disso! Percebeis a que ponto a
humanidade cambaleia na beira do abismo?
Com certeza, muitas pessoas não aceitarão essas conclusões.
Elas pensam que temos uma visão muito sombria do mundo e
que somos pessimistas. O mesmo acontecia na época de Lao Tsé,
que dizia:
“Todos os homens estão contentes e alegres. Todos os homens
vivem na fartura. Os homens comuns são brilhantemente iluminados, muito penetrantes e perspicazes. Para todas as coisas
eles têm suas razões e seus argumentos, adquiridos e desenvolvidos muito racionalmente através dos estudos. Somente eu sou
um tolo. Somente eu sou tristemente preocupado. Somente eu
sou como escuridão. Sou caos e confusão, como um homem que
perdeu tudo.”
No entanto, toda inquietação afasta-se do homem que se encontra ao lado de Lao Tsé. Resta-lhe, porém, uma única inquieta­
ção que não quer deixá-lo, que não pode deixá-lo: inquietação por
toda a humanidade, essa humanidade que transformou este dia
de manifestação numa selva, num inferno. Por causa dos estudos!
Por causa da aplicação dos conhecimentos sem a menor centelha
de sabedoria. Pedimo-vos, portanto: não cometais o erro, como
muitos o zeram, de crer que conhecimento signi ca “sabedoria”.
Se algo da real intenção de Lao Tsé ¯egou a vós, sabereis que
são necessárias não apenas uma nova atitude de vida como também uma total revolução pessoal. É o mínimo que podeis fazer,
se quiserdes ter êxito.
Isso tudo se refere ao terceiro aspecto do
Tao Te King: a aplica­
ção de uma sabedoria universal. Não se trata do que sabeis, mas
do que fazeis! Trata-se de uma revolução pessoal tão radical, tão
total, que deve, por assim dizer, englobar tudo. Além de vossa
inegável boa vontade e vosso amor declarado pela Escola Espiritual e pela Gnosis, trata-se de saber se, na qualidade de homem
moderno deste século, estais em condição de empreender uma

208A GNOSIS CHINESArevolução pessoal radical, mediante uma inteligência nascida da
sabedoria, e não da exaltação. Porque essa mudança radical tão
necessária não se refere unicamente a vós mesmos, mas também
a todas as coisas e a todos por quem sois responsáveis.
Para semelhante revolução pessoal radical é impossível estabelecer um programa uniforme que possa ser seguido e aplicado
por todos de modo geral. Trata-se, em primeiro lugar, de um
acontecimento absolutamente interior. Essa revolução pessoal se
exprime na vida exterior através de um estilo de vida totalmente
novo, fundamentado num único objetivo de vida, um estilo de
vida reconhecido como tal.
É essencial que estabeleçais em vossa vida o reino imperecível.
Para isso também é necessário possuir certo conhecimento, conhecimento esse, porém, fundamentado na sabedoria que é de
Deus. Essa revolução pessoal, ligada a tudo o que pudestes compreender até agora do verdadeiro estado de ser do aluno, o estado
de ser da alma vivente, essa revolução salvará o grupo todo da
queda.
Como penetrar nessa sabedoria, de que forma um aluno pode
penetrar até a fonte da sabedoria, eis algo que já é do vosso conhecimento. Trata-se do caminho que leva à vida, do qual, há anos,
vos temos falado. Pois bem, se essa fonte de sabedoria jorrasse
em vós, se in ltrasse em vosso santuário da cabeça, se comunicasse a vosso poder de compreensão e nele vivi casse todos os
centros latentes, puri cando-os de suas máculas, ela desencadearia imediatamente intenso conflito, um conflito vital entre vós e
o mundo todo, entre vós e a humanidade inteira e seus caminhos.
Tornar-se-ia impossível para vós, como novo homem, viver do
mesmo modo que os demais, mesmo que vos dedicásseis a isso
até o limite máximo.
Eis por que reina a alegria no campo de trabalho, quando
os sintomas desse conflito vital surgem na vida de um aluno,
pois o mundo inteiro está deslocado, o mundo inteiro tornou-se

20920-II · O MUNDO TORNOU-SE UMA SELVAuma selva devido à aplicação dos conhecimentos deste mundo.
Toda e qualquer concessão a esse mundo nos priva, cada vez
mais, dos frutos do discipulado, nos torna cúmplices do carma
do mundo, faz perdurar nosso cativeiro e nos envia uma série
de novas preocupações que, por assim dizer, nos precipitam no
inferno.
Acaso sentis a necessidade e a urgência de uma forte interferência dos alunos e do grupo? Uma nova página do livro da vida foi
aberta. O que nos aguarda em breve nessa nova página da vida?
Será que o grupo cumprirá sua missão?
O mundo tornou-se uma selva, e não se vê o m disso. Podemos veri cá-lo! Todavia, a selva e as consequências da aplicação
da ciência mundana entravam, neste momento e sob muitos aspectos, o desdobramento dos valores novos e permanentes do discipulado, bem como a elevação até a liberdade. A senda da Rosa
Mística, que foi percorrida e o será até o campo da alma-espírito,*
é obstruída de maneira intencional!
Por isso, nós e o grupo devemos intervir, a m de dar ao indiví­
duo e ao grupo que assim o desejarem a capacidade de percorrer
a senda que leva para o alto. Compreendereis agora que parece
não existir, em lugar algum, a possibilidade de desenvolvimento
positivo da humanidade e que a revolução cósmica está muito
próxima. Apenas por autorrevolução podereis manter-vos de pé
na revolução cósmica.


21120-III
SOMENTE EU SOU DIFERENTE
DOS HOMENS COMUNS
Como sabeis, o vigésimo capítulo do Tao Te King termina com
as seguintes palavras:
Somente eu sou diferente dos homens comuns,
porque venero a Mãe que tudo nutre.
Esta sentença expressa claramente a incomensurável diferença
de orientação que existe entre o homem totalmente a nado com
a natureza da morte e o homem que mantém seu coração inteiramente voltado para a natureza da vida.
“A Mãe” de que se fala aqui designa um campo de substância
astral pura, inviolada, um campo concentrado ao redor de todo
domínio de existência, onde centelhas divinas devem ser levadas
a manifestar-se. Algumas correntes são mantidas nesse campo,
de onde emanam algumas radiações. Alguns escritos sagrados de
todos os tempos também falam do “oceano in nito de substância-raiz” e das “águas da vida”. O Apocalipse fala do puro “rio de
água viva, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e
do Cordeiro”. É esta poderosa fonte de vida que deve alimentar
todos os lhos de Deus. É esta força única que deve explicar a
vida. Sem ela, não se pode dizer que algum fenômeno, qualquer
que seja ele, possa ser designado como “vida”.
É, pois, compreensível, evidente e perfeitamente explicável que
se tenha dado o nome de “Mãe” a essa plenitude astral. Essa Mãe

212A GNOSIS CHINESAprecisou gerar o mundo todo. O plano completo da criação do Pai
deve vir à existência através da força da “Mãe”. Do Pai irradiam
centelhas divinas, microcosmos, nos quais o espírito de Deus está
presente. A centelha divina é a semente divina. Tudo o que se
mantém oculto nessa centelha divina deve conseguir crescer e
manifestar-se uma vez em contato com a Mãe do Mundo  a qual
é, portanto, o campo astral da verdadeira vida. Portanto, através
da Mãe e pela semente do Pai é criada a liação, a descendência,
uma maravilhosa realidade.
Lao Tsé vive dessa Mãe. Ele venera aquela que tudo nutre.
Por que, então, a partir daí, seria ele tão diferente dos seus semelhantes? Vós mesmos podeis responder a essa pergunta. Os
que nasceram da natureza não vivem do campo astral da Mãe
do Mundo. Eles são oriundos do campo astral da falsa mãe, do
campo astral da natureza da morte, e são mantidos por ele. Os
que veneram e servem a verdadeira Mãe do Mundo dependem de
uma orientação de vida diferente e, consequentemente, mostram
uma atitude de vida diferente, que produz efeitos diferentes.
Por isso, torna-se compreensível que o homem nascido da natureza, desprovido da mínima sabedoria e unicamente dotado de
uma faculdade de conhecimento intelectual, não possa acumular nem conservar conhecimentos outros que os deste mundo, e
ainda assim bem poucos. Esses conhecimentos, adquiridos experimentalmente, só podem expandir-se experimentalmente. Desprovidos de sabedoria, eles conduzem, invariavelmente, ao abismo e,
diz Lao Tsé, transformam este mundo numa selva.
Tendes, pois, diante de vós o grande contraste, essas duas ­
guras humanas: o homem nascido da natureza e a gura de Lao
Tsé. Ambos possuem um microcosmo, ambos provêm de uma
centelha divina. Um deles, porém, Lao Tsé, vive do campo astral
da Mãe do Mundo, no qual o espírito de Deus se manifesta, se
faz conhecer diretamente, de modo que o verdadeiro lho de
Deus, o homem verdadeiro, nascido da centelha divina, através

21320-III · SOMENTE EU SOU DIFERENTE DOS HOMENS COMUNSdela e com ela, e a sabedoria, que é Deus mesmo, liga-se direta e
perfeitamente a seu aparelho cognitivo e dele faz uso. Nenhum
aspecto sequer de seu comportamento, nenhum resultado dele
decorrente sequer, é especulativo ou lamentável. Esta é, de etapa
em etapa, de força em força, a manifestação da glória de Deus e
do plano elaborado para seus lhos.
A par disso, considerai agora o outro homem. Será ele mesmo
um homem? Não, ele não o é! Prisioneiro da natureza da morte,
separado da Mãe do Mundo, sua manifestação e seu porvir estagnaram. Ele é o manco, o paralítico, o cego que deve ser curado.
Como disse Jesus, o Senhor, ele, "tendo olhos, não vê, e, tendo
ouvidos, não ouve", é um ser não nascido. Muitos dos que dispõem unicamente de uma consciência cerebral, de um intelecto,
e que conseguiram armazenar alguns conhecimentos esotéricos
no decorrer dos anos, deixam-se acalentar pela esperança de que
essa aparência de ser humano tão dani cada ¯egará um dia a um
porto seguro, seguindo um desvio. Eles ainda fazem especulações
sobre um progresso devido aos estudos.
Compreendei, pois, Lao Tsé. Unicamente uma mudança total
no caminho que a humanidade nascida nesta natureza tomou a
salvará. Unicamente um retorno verdadeiro à Mãe do Mundo,
ao campo astral salvador do início, poderá ajudá-la.
O caminho que conduz a isso, vós o conheceis, a Escola Espiritual vo-lo indica diariamente. Começai, então, por desimpedir
vosso caminho do mais importante dos obstáculos: a misti cação
que consiste em acreditar que os conhecimentos do mundo, e
não a sabedoria que é de Deus, poderão ajudar-vos. A aplicação
prática de ambos é impossível! Eles são incompatíveis. Portanto:
Abandona os estudos, e a inquietação se afastará de ti.
214
As atividades visíveis do grande Te resultam das emanações do Tao.
Esta é a natureza do Tao.
Em sua criação, o Tao é vago e confuso. Quão confuso! Quão vago!
No entanto, o centro contém todas as imagens. Oh! Quão vago,
quão confuso! No entanto, no centro está
o ser espiritual. Este ser é muito real e detém o testemunho infalível.
Desde tempos imemoriais seu nome permanece imperecível. Ele dá
existência à verdadeira criação.
Como sei que todos os nascimentos têm sua origem nele? Através do
próprio Tao.
Tao Te King, capítulo 21

21521-I
EM SUA CRIAÇÃO,
O TAO É VAGO E CONFUSO
As atividades visíveis do grande Te resultam das emanações
do Tao. Esta é a natureza do Tao.
Com esta citação da antiga sabedoria ¯inesa, apresentamo-vos o
vigésimo primeiro capítulo do
Tao Te King. Ao ler este capítulo,
percebereis que o assunto se refere principalmente aos conceitos
de Tao e Te. Podereis melhor compreender o que Lao Tsé quer
dizer com isso, no sentido deste capítulo, se vos baseardes no
último versículo do capítulo 20, ou seja:
Somente eu sou diferente dos homens comuns, porque venero a Mãe que tudo nutre.No capítulo anterior, dissemo-vos que, neste versículo, “a Mãe”
signi ca o campo astral original do início, perfeitamente puro, no
qual o Pai se manifesta plenamente. Esse campo astral do início
não desapareceu. Ele ainda existe e é inviolável. O homem que
se aproxima do caminho gnóstico para segui-lo deve compreender isso claramente a todo instante. A grande Mãe do Mundo é

216A GNOSIS CHINESAinviolável. O espaço do qual, no qual e pelo qual deve elevar-se a
realidade é inviolado.
A partir do momento em que um homem, um grupo de homens ou uma humanidade se afasta, por pouco que seja, do plano
de evolução divino original, o campo astral desse homem, desse
grupo ou dessa humanidade separa-se imediatamente do campo
astral original, para que quem se afasta não prejudique o original
em sentido degenerativo.
Semelhante separação é uma lei universal. Essa lei preserva, por
um lado, a manifestação divina e, por outro lado, o elemento liberdade. Esse afastamento das condições astrais também pode ser
quali cado, em certo sentido, como uma “queda”. Todavia, essa
designação não poderia ser considerada completa, pois compreendei que em cada homem, em cada grupo, em cada humanidade
e em cada corpo celeste, surgem estados astrais diferentes uns dos
outros, que se afastam do estado astral da Mãe do Mundo. Só se
pode falar em “queda” quando, nesse vai-e-vem dos acontecimentos e desenvolvimentos, os elementos mal e maldade passam a
dominar e quando existe a tentativa de tornar “estático” o que
flui sem cessar.
Quando semelhante estado se manifesta  como é o caso de
nossa humanidade  a separação se acentua muito nitidamente.
Entre a natureza da morte e a natureza original da vida abre-se
um enorme fosso, um precipício escancarado. E o que acontece,
então, vós o sabeis, sem dúvida, tanto pela experiência como pelos
ensinamentos da Escola Espiritual.
O campo astral, do qual e no qual o homem vive, corresponde
precisamente a seu verdadeiro estado de ser. Todas as suas experiências, tudo o que lhe sucede na vida, todos os seus desejos,
pensamentos e atos são a consequência da natureza da esfera
astral de sua vida. Quando essa esfera astral é tão pessoal, tão
individual, que se pode quali car esse homem de marginal, as provas e as experiências, num campo astral afastado do da Mãe do

21721-I · EM SUA CRIAÇÃO, O TAO É VAGO E CONFUSOMundo, também recebem um colorido muito pessoal. Todavia,
se o comportamento de um ser humano assemelha-se muito ao
da humanidade em geral, se ele age em quase tudo de acordo com
as massas, então o destino coletivo o atingirá também com toda
fo
rça. É assim que existe um carma pessoal, um carma grupal e
um carma coletivo ou carma do mundo.
O outro ponto sobre o qual desejamos ¯amar vossa atenção é
para a certeza de que a Mãe do Mundo é intangível, exatamente
devido à lei da liberdade. Suponde que a humanidade se afaste
do plano original  e como o sabeis todos se afastaram, se extraviaram (Rm 3:12)  imediatamente surge um campo astral
delimitado, no qual se realiza um desenvolvimento dialético. O
“subir, brilhar e decair” signi ca, então, sempre a perdição total,
a destruição de tudo o que é ímpio e mortal no campo astral em
questão. Reconstruí-lo até o ponto original em que houve o afastamento ocorre repetidamente. Nessas condições, por ocasião
de um novo início, ou seja, no dia de manifestação seguinte, esse
afastamento é facilmente anulado.
Com isso tentamos demonstrar claramente que todo e qualquer campo astral que se afaste da Mãe do Mundo jamais poderá
atacar, ultrapassar e destruir a manifestação universal. Todo afastamento começa e se destrói por si mesmo, embora recebendo a
possibilidade de recomeçar e de retornar ao original. É por isso
que, tendo se ligado novamente ao campo astral original, Lao Tsé
diz:
Somente eu sou diferente dos homens comuns, porque venero a Mãe que tudo nutre.O capítulo 21 do Tao Te King começa explicando como um
homem que deseja semelhante retorno pode realizá-lo; e, em particular, sobre qual base cientí ca irrefutável ele fundamenta esse
retorno. É sobre isso que desejamos falar-vos.

218A GNOSIS CHINESAAs atividades visíveis do grande Te
resultam das emanações do Tao.
Quando um homem  por exemplo, um aluno da jovem Gnosis
 toma a decisão de percorrer a senda de retorno, ele está seguro
de que somente poderá fazê-lo se afastar-se totalmente do campo
astral da natureza da morte e voltar-se para o campo astral da
Mãe do Mundo. Esta é a condição essencial.
Tudo isso diz respeito a uma mudança total em sua vida, a uma
revolução de natureza tríplice.
Em primeiro lugar, em virtude de vosso nascimento na natureza, mantendes ao vosso redor um campo astral muito individual, e em consequência vosso corpo astral encontra-se em
determinado estado.
Em segundo lugar, estais ligados a determinado grupo de homens que possuem o mesmo tipo. Essa ligação é de natureza
mais ou menos ampla. Podem existir características típicas, por
exemplo, de natureza material, astral egocêntrica, nacional ou
outras.
Em terceiro lugar, sois solidários com a humanidade em sentido amplo.
Dessa forma, sois prisioneiros de vosso próprio campo astral,
do campo astral do grupo a que pertenceis e do grupo da humanidade como unidade social comunitária. Portanto, se desejais ter
sucesso na mudança que tendes em vista como aluno da Escola
Espiritual, ela deve ser tríplice. É preciso destruir, de maneira
tríplice, as condições astrais existentes e colocar-vos em total harmonia com o campo astral original da Mãe da vida, como nos
recomenda Lao Tsé. Caso contrário, simplesmente deslocareis os
fatos importantes de vossa vida dentro do conjunto da natureza
da morte.
Suponhamos que algumas pessoas se tornem alunas de nossa
Escola, porém não realizem, de maneira alguma, uma revolução

21921-I · EM SUA CRIAÇÃO, O TAO É VAGO E CONFUSOpessoal. Que suas decisões se limitem a ser vegetarianas, a não
fumar e a abster-se de bebidas alcoólicas. Elas falam, sentem-se e
pensam como se faz normalmente na Escola Espiritual, porém
de forma dogmática. Além disso, elas possuem ideais sociais, comunitários e outros hábitos que podem ser combinados com
o discipulado. A consequência será que elas formarão entre si
um novo grupo, mas no âmbito da natureza da morte. Portanto,
um grupo como tantos outros no mundo. O aguilhão da morte
nelas, a verdadeira causa de seu aprisionamento, não seria absolutamente atacado, porque elas permanecem exatamente as mesmas
quanto ao seu caráter, seu ser, sua aparência e sua natureza em
geral. A única coisa que zeram foi estabelecer entre si um novo
cemitério. Além de um cemitério católico romano, de um protestante, de um judeu e de um público, surgiria um cemitério para
as pessoas que se denominam rosa-cruzes. No fundo, elas não se
teriam tornado em nada diferentes das outras.
Então, por que Lao Tsé tornou-se tão completamente diferente? Pois bem, sua veneração pela Mãe original, pela verdadeira
liação divina, está ligada a uma tríplice revolução pessoal, a
uma tríplice libertação do aprisionamento astral no qual ele vivia,
juntamente com um desejo in nito pelo campo astral original,
aspiração que adquire forma e força no coração de semelhante
ser.
Talvez digais: “Que tarefa imensa! E tão pesada para realizar-se!” Pensar dessa forma seria o maior erro de vossa vida. Quando
o desejo a que nos referimos aqui adquire realmente forma no
coração, a alegria interior, a força e o poder de tomar todas as
medidas necessárias, bem como o entendimento exigido, levam
ao sucesso absoluto. Isso poderia estar relacionado, por exemplo,
ao fato de renunciar a uma posição social que, sem sombra de
dúvida, estivesse obstaculizando vosso discipulado, ou romper
numerosos laços e de tomar medidas radicais para adaptar vossa
vida às consequências do discipulado.

220A GNOSIS CHINESAAo ouvir isso, muitos serão, talvez, de opinião que a hipótese
de trabalho gnóstico constitui, por enquanto, uma base incerta
num mundo como o nosso: “Seria realmente justi cável, frente
a nós mesmos e à nossa família, adotar a tríplice prática gnóstica?
O fundamento que nos propondes parece, por enquanto, muito
vago, muito confuso.” “Oh, quão vago…!”
Lao Tsé, porém, responde:
As atividades visíveis do grande Te resultam das emanações
do Tao. Esta é a natureza do Tao.
Para os que nasceram da natureza, para todos os que, por antecipação, já têm um lugar garantido neste ou naquele cemitério, o
Tao é, na sua criação, extremamente vago e confuso. Não existe
nada mais vago e confuso. E não poderia ser de outra maneira
num campo astral separado da Mãe original.
No entanto, o centro da criação do Tao  contém todas as imagens.Refleti sobre essas palavras, a m de dissipar em vós literalmente tudo o que é vago e incerto no tocante ao discipulado real
e concreto.

22121-II
TAO, A GRANDE FORÇA NO CENTRO
As atividades visíveis do grande Te resultam das emanações
do Tao. Essa é a natureza do Tao.
Para os seres humanos nascidos da natureza, para todos que já de
antemão pertencem ao “cemitério”, Tao, em sua criação, é extremamente vago e confuso. Mais vago e mais confuso é impossível.
Isso é uma coisa inevitável no campo de vida separado da
Mãe primordial. Contudo, o centro contém todas as imagens
da criação do Tao.
Certos autores traduzem a expressão
o grande Te como “a
grande virtude”. Embora o Te, com certeza, seja uma grande
virtude, é melhor traduzi-lo como “a senda da libertação” e “o
resultado obtido ao percorrer a senda da libertação”. Se nos aproximamos dessa forma da essência do Te, é para evitar que a grande
virtude seja considerada um aspecto da vida oriunda da natureza.
Na natureza da morte existem coisas que podemos quali car
de virtuosas e boas, porém a virtude e o bem desta natureza jamais
são perfeitos. Eles não têm nenhum vínculo com o bem único de
que fala Hermes Trismegisto.
É por essa razão que o capítulo 21 do
Tao Te King fala de atividades visíveis como resultado de percorrer a senda, como resultado
222A GNOSIS CHINESAda aplicação da tríplice prática gnóstica de que vos falamos no
capítulo anterior; de efeitos que, por conseguinte, não devem,
de forma alguma, ser vagos, pois resultam das emanações, dos
influxos do Tao.
O Tao é o Um divino, o Absoluto, ele é o próprio “Isso”. Não
seria esta de nição, no entanto, bem vaga? Não necessariamente.
Por três razões. A primeira é que essas emanações são a natureza
do Tao; a segunda, é que o Tao se situa “no centro”; e a terceira é
que esse centro traz em si “todas as imagens”. Tentaremos explicar­
-vos isso.
Em toda a manifestação divina, em todo o espaço da criação, o
Tao  o Um divino  mantém-se “no centro”. Nesse insondável
espaço existem campos de natureza astral muito diferentes uns
dos outros. A respeito dessa diversidade compreendida numa
unidade pode-se dizer que o “Tao está no centro”.
Visto isoladamente, isso é muito importante e reconfortante;
mas é muito mais importante veri car que dessa força divina “no
centro” provêm emanações, influxos, irradiações e atividades. Essas emanações preen¯em, com sua majestade, todo o insondável
espaço.
E isso se torna de capital importância quando descobrimos
que as miríades de sistemas estelares que englobam os sistemas
zodiacais que englobam os sistemas solares, que, por sua vez, englobam os corpos planetários, possuem todos em seu centro, em
sentido literal, o Tao.
Cada planeta, cada sol, cada sistema é envolvido e penetrado
pela essência do Tao, essência essa que forma um núcleo no centro
desses corpos e sistemas celestes. Portanto, o planeta em que vivemos traz o Tao em seu coração no sentido mais absoluto. É por
isso que se diz que o Espírito de Cristo reside no estrato central
de nosso planeta.
Também por isso deve-se fazer uma clara distinção entre o
Espírito planetário e o Logos planetário. O Espírito planetário

22321-II · TAO, A GRANDE FORÇA NO CENTROé a expressão do aspecto dialético, o portador da imagem da
natureza da morte em escala planetária. Reconhecendo a terra
como o planeta em que habitamos, poderíamos compará-la à personalidade do homem. Já o Logos planetário é a existência e a
presença do Tao. Ele é a existência da verdadeira terra nascida
de Deus que podemos comparar ao microcosmo. É o céu-terra
evocadono Apocalipse,umplanetatotalmentediferentedeste
que conhecemos e, no entanto, muito próximo de nós.
E é mais surpreendente ainda veri carmos que o Tao não só
está presente no coração de cada cosmo e de cada macrocosmo,
mastambémnocoraçãodomicrocosmo.“Assimcomoéemcima,
assim é embaixo.” Compreendei este adágio hermético. O Tao
também está presente no microcosmo e, além disso, “no centro”,
no centro que corresponde ao coração físico! E nesse “centro”
podemos claramente distinguir as emanações.
Assim,indicamo-vos,emboradeformaumtantobreve,anaturezadoTao.OTaoestápresenteemtodasasparteseemcadaum
denós“nocentroabsoluto”.Eisaíograndemilagredo Tao.Essa
grande força vivente e divina fala, vive e irradia no coração de
tudo e de todos. Essa é a natureza prodigiosa do Tao, o atributo
de Deus.
Podereis, então, perguntar:“Por quea vozdo Taoétãovaga
em mim? Por que ela me lança na confusão?” É porque o Tao,
embora esteja
em vós, não é vosso. O Tao não encarnou em vós,
ele não faz parte da vida proveniente da matéria, enquanto que
vossa existência particular, vossa personalidade, possui uma consciência própria, uma voz própria. Sois de natureza diferente, e a
natureza divina só destaca em vós uma voz, uma irradiação. É o
Verbo que era no princípio.
Quandoumhomemse limitaapenasaoquepertenceaonascimento natural, quando aí encontra espaço su ciente, quando
aí se deixa absorver por completo, quando ele sequer sabe algo
acerca da possibilidade de outra natureza, cuja voz ressoa em si,

224A GNOSIS CHINESAentão é lógico que não compreenda essa voz e que ela só traga
confusão.
Quando um homem conhece a presença da outra natureza,
mas não se aproxima dela positivamente devido ao seu comportamento, além de confusão, ele só sente algo extremamente vago.
Então a Luz, o Verbo, brilha nas trevas, mas as trevas não podemounãoqueremcompreendê-la.Percebeisquãoconcretoéo
prólogo do Evangelho de João?
Se desejais libertar-vos dessa confusão e transformar essa inde nição numa clara luz, jamais vos esqueçais de que em toda
a onimanifestação existem duas naturezas: a natureza absoluta,
queéoTao,eumanaturezaemdevirquenãoé,ouaindanãoéo
Tao.Porconseguinte,comrelaçãoaovossomicrocosmo,existem
duasvidas:anaturezadivinaeanaturezaemdevir,cujodesenvolvimento estagnou eventualmente em sua subida  como a vossa
 e daí mesmo é arrastada para trás e deve retornar ao ponto de
partida: é a roda do nascimento e da morte.
Observaibemque,seexistemduasnaturezas,existemtambém
dois estados de consciência, separados um do outro: o estado
de consciência da natureza em devir e o da natureza absoluta; a
consciência da personalidade e a consciência do microcosmo. O
estado de consciência inferior deve dar lugar ao outro ou fundir-se nele. É principalmente a consciência do ser da natureza
estagnada, da natureza que se tornou má, que deve car atenta a
isso. O estado dessa consciência deve ser debilitado a m de dar
lugarànaturezadivina,paraque,umdia,aentidadelibertapossa
dizer: “O Pai e eu somos
um”.
Falamo-vos aqui de coisas que já conheceis há muito tempo,
mas a¯amos interessante torná-las viventes para vós neste momento. Acaso tendes consciência de que o Senhor do Universo
encontra-se, agora mesmo, em vosso centro, no “estábulo” de
vosso ser dialético, no centro do templo, no centro de vosso
microcosmo?

22521-II · TAO, A GRANDE FORÇA NO CENTRONo passado, sem dúvida vos perdestes, sob vários aspectos, no
erro e na confusão. Então, compreendereis agora as palavras de
Lao Tsé:
No entanto, o centro contém todas as imagens. No centro está o ser espiritual. Este ser é muito real e detém o
testemunho infalível.
Será possível exprimir-se mais concretamente do que a linguagem
sagrada de Lao Tsé? Do coração do Tao flui a essência espiritual
divina, a Voz de Deus, o Verbo divino. Essa Voz, esse Verbo,
engloba o plano inteiro.
Os caracteres desse Verbo divino consistem em representações
e impressões muito concretas. Do princípio central do microcosmo, da rosa do coração, emana uma força-luz irradiante, uma
fo
rça-luz que traz em si e consigo várias séries de imagens da
grande realidade, imagens essas que deverão ser realizadas no
homem e pelo homem. Pensai no rádio e na televisão. Esse exemplo banal pode mostrar-vos claramente que formidáveis séries de
sons e de representações provêm do coração do Tao e podem ser
percebidos pelo homem, se o instrumento que é seu sistema for
capacitado para tanto.
Essa linguagem representativa dirige-se a vós a cada instante,
¯ega até vós a cada instante, partindo de vosso centro. A linguagem divina que fala em nós é igual à que fala em vós. Dispomos
assim de um meio de comparação, de percepção. O Logos planetário nos fala nessa mesma linguagem divina. Lembrai: não
se trata do Espírito planetário. Resumindo, essas palavras e essa
linguagem ¯egam a nós de inúmeras direções.
Essas palavras contêm um conhecimento altamente real. Elas
detêm o testemunho infalível, a rma Lao Tsé, referindo-se a toda
a gênese do Universo, ao que ela deve ser, em que ela está errada e
como ela pode, novamente, ser corrigida em sua totalidade. Todo

226A GNOSIS CHINESAproblema que submeteis ao tribunal interior do microcosmo, do
cosmo e do macrocosmo vos é retransmitido em representações
multidimensionais, transmutado numa imagem que podeis ver,
compreender e assimilar.
Cada homem que, dessa forma, se aproxima verdadeiramente
do “Senhor no Centro” participa da universidade do mundo divino. Unicamente o conhecimento assim assimilado constitui
um testemunho infalível. É por isso que Lao Tsé a rma no capítulo 20:
Abandona os estudos, e a inquietação se afastará de ti.Apenas o conhecimento de Deus em suas aplicações práticas é
útil ao mundo e à humanidade e serve ao plano.
Compreendeis agora por que insistimos para que façais todo o
possível, a m de que o ser espiritual que habita em vós fale, e que
o testemunho infalível se ilumine? Um testemunho imperecível
de tempos imemoriais. Uma força que pode gerar a verdadeira
criação. Uma criação que se realiza perfeitamente segundo leis
cientí cas. Um processo que o candidato à ciência sagrada pode
seguir passo a passo, pois o nascimento completo, o renascimento,
tem sua origem no Tao, no Tao que está em vosso centro, que vos
dá a força e pode ser compreendido através de seu poder criador
de imagens.

22721-III
O RENASCIMENTO NO TAO
Como já deve ser de vosso conhecimento, comenta-se que Lao
Tsé teria escrito novecentos e trinta livros sobre ética e religião e
setenta sobre esoterismo. Todavia, nada mais resta desses escritos,
dentre os quais havia até mesmo exemplares impressos. Eles desapareceram sem deixar vestígios. O único texto de Lao Tsé que a
humanidade possui é o
Tao Te King, que compreende cerca de
cinco mil palavras que poderiam ser escritas numa dúzia de páginas. Em geral, esse texto é considerado totalmente ininteligível,
sendo essa, sem dúvida, a razão pela qual ele foi preservado para
a humanidade.
A velha história que já ouvistes muitas vezes se renova sempre.
O adversário do início, aquele que se manifesta através de todos
os séculos, de diferentes formas, e nunca para, também aqui fez
o possível para destruir os textos que pareciam perigosos para a
manutenção da natureza da morte e poderiam esclarecer a humanidade sobre a grande realidade das duas naturezas. Vós sabeis o
que muitos sinólogos pensam do
Tao Te King, bem como o que
devemos pensar de suas traduções. No entanto, no Oriente, em
numerosas livrarias, podem ser encontrados muitos grossos volumes sobre essa obra. Em sua maioria, trata-se de textos truncados,
destinados a levar os verdadeiros pesquisadores por falsas pistas.
Portanto, não podemos censurar os sinólogos que pesquisam em

228A GNOSIS CHINESAtais fontes, pois no decorrer dos séculos muitos já caíram vítimas
do adversário. No campo da natureza da morte, efetivamente
tudo é feito para apagar os vestígios dos mensageiros divinos.
É por isso que existe apenas
um caminho, um método para
suprimir as imprecisões e as confusões que mascaram a grande
realidade. É o caminho, o método do qual vos falamos. Deveis
aproximar-vos da natureza do Tao que também está em vosso
“centro”. Deveis ir ao encontro da natureza do Tao numa perfe
ita oferenda do coração, animados por um ardente e profundo
anseio. Descobrireis, então, que se trata, realmente, de um infalível testemunho de Deus, do reino de Deus em vós. Desde
tempos imemoriais, diz Lao Tsé, o ser de Deus, que está tão pró­
ximo de nós, é imperecível. É esse fato que pode dar nascimento
à verdadeira criação, ao verdadeiro renascimento.
Tentaremos agora lançar um rápido olhar sobre a maneira como
essa criação pode realizar-se, e se realiza, no homem que aplica a
tríplice prática gnóstica.
Em primeiro lugar, ele deve subtrair-se ao seu próprio campo
astral, o campo da natureza que se afasta de Deus. Em segundo lugar, ele deve afastar-se do campo astral do grupo ao qual pertence
devido ao seu nascimento na natureza.
Em terceiro lugar, ele deve romper, no plano astral, todos os
laços que existem entre ele e o mundo da natureza da morte.
À primeira vista, essa tríplice tarefa parece um muro intransponível que nos impede a passagem. No entanto, essa foi, em todos
os tempos, a tarefa de todos os grandes da história, de todos os
lhos de Deus. Ela é nada mais nada menos do que a senda que
Jesus, o Senhor, exempli cou em sua
via dolorosa. Ele buscou e
encontrou esse Reino que, desde o início, nunca foi deste mundo.
Porisso,eletornouretososcaminhos.Porisso,elesubmergiunas
águas do Jordão, o rio da vida. Por isso, ele venceu o adversário
astral.

22921-III · O RENASCIMENTO NO TAOPortanto, se verdadeiramente desejais imitar Cristo  e podeis
fazê-lo, pois o reino de Deus está em vós  deveis começar de
maneira concreta. Deveis voltar-vos para o “Senhor no centro”,
com um grande anseio, com todo o interesse de vosso coração.
Se ainda não sois capazes de fazer nascer em vós tal anseio, se isso
ainda é muito difícil para vós, pois bem, é que vosso tempo ainda
não ¯egou. Ninguém pode forçar-vos a conceber esse anseio in ­
nito do coração. E é impossível atingir isso por meio de exercícios
ou por uma decisão do intelecto. Trata-se de um estado de ser
comparável ao amor.
Se verdadeiramente amais um ser humano, ou ainda se conheceis semelhante amor, sabeis então que o coração todo se
sublima através desse amor e que dele provém uma emanação,
uma corrente que estabelece a ligação.
Pois bem, é com semelhante amor que o coração deve elevar-se
até a rosa espiritual em seu interior, localizada em vosso centro. E
é justamente por essa rosa estar tão próxima de vós, por procurar­
-vos já há muito tempo e aguardar vossa ¯egada, que a ligação
se estabelece com força. Este é o fundamento do renascimento,
do renascimento da alma. Por essas razões é dito na Bíblia que
somente o amor liberta.
Quando os fundamentos do renascimento tornam-se verdadeiramente evidentes, as forças do Tao penetram todo o sistema da
personalidade. Então, a natureza do Tao pode realizar seu trabalho. É preciso essencialmente que o homem, objeto desse milagre,
mantenha seu coração na luz do Tao e não deixe os desejos de
seu coração se perderem nos caminhos e nos vales da natureza da
morte. Então, a personalidade toda romperá, progressivamente,
todas as ligações astrais com a natureza que se afastou de Deus.
A criação vem à existência!
Podereis ainda perguntar: “Como posso saber com certeza
que o renascimento origina-se realmente no Tao? Não poderia
eu estar cometendo um erro?”

230A GNOSIS CHINESAA resposta a esta pergunta é: “Caro amigo, dia após dia, hora
após hora, com uma certeza indestrutível, vós o sabereis através
do próprio Tao”, diz Lao Tsé. O Senhor no centro fala a todo
instante em sua linguagem imagética ao ser que, em amor, descobriu o Deus interior e a ele se uniu. Para ele, o “relacionamento
secreto” com o Altíssimo tornou-se realidade para sempre.


232
O imperfeito se tornará perfeito. O curvo se tornará reto. O vazio se
tornará preen¯ido. O desgastado se tornará novo.
Com pouco, obtemos “Isso”. Com muito, dele nos afastamos.
Por essa razão o sábio abraça o Um e, desse modo, transforma-se
num exemplo para o mundo.
Ele não deseja irradiar luz, e justamente por isso é iluminado. Ele
não se superestima, e justamente por isso se destaca. Ele não se
vangloria, e justamente por isso tem mérito. Ele não se enaltece, e justamente por isso é superior. Ele permanece no não lutar, e justamente
por isso ninguém pode vencê-lo.
Como podem ser vazias as palavras que diziam os Antigos: “O
imperfeito se tornará perfeito”? Quando alguém alcança a perfeição,
tudo vem a ele.
Tao Te King, capítulo 22

23322-I
AS QUATRO GRANDES POSSIBILIDADES
Com certeza, já percebestes que os diferentes capítulos do Tao
Te King
devem ser compreendidos como um conjunto coerente.
Considerai, portanto, o conteúdo do capítulo 22 à luz do precedente.
Vimos que no centro absoluto de cada microcosmo, que no
homem nascido da natureza corresponde ao santuário do cora­
ção, vive e existe “o ser espiritual”. É desse centro, dessa rosa do
coração, que procede a verdadeira criação, o renascimento do
espírito, da alma e do corpo. Se o homem encontra “o caminho”,
reconhece “a verdade” e vive “a vida”, semelhante vitória não se
fará esperar. Esta é a explicação para o axioma que Lao Tsé coloca
no capítulo 22:
O imperfeito se tornará perfeito. O curvo se tornará reto. O
vazio se tornará preen¯ido. O desgastado se tornará novo.
É inegável e absolutamente certo que o plano de Deus para o
mundo e a humanidade terá êxito em sua totalidade. E o propó­
sito de Lao Tsé é demonstrar isso claramente para seus alunos.
Percebestes que as palavras concisas do
Tao Te King, exprimindo
tudo em poucas linhas, não são destinadas aleatoriamente a um
público mais ou menos pesquisador. Lao Tsé dirige essas lições
e essas ideias, formuladas de maneira tão sucinta, a seus alunos e

234A GNOSIS CHINESAcolaboradores, aos emissários da Corrente Universal e seus auxiliares. Trata-se de obreiros que têm uma pesada tarefa e que, por
vezes, sentem-se desencorajados e invadidos pela tristeza.
Trata-se de um estado psíquico de que fala o Evangelho que
conhecemos e que pode acontecer a qualquer obreiro nas vinhas
do Senhor. É a eles que o mestre dirige estas palavras:
O imperfeito se tornará perfeito. O curvo se tornará reto. O
vazio se tornará preen¯ido. O desgastado se tornará novo.
Estas palavras devolvem aos obreiros a coragem para perseverar.
Porquecada lhodeDeusatingirá,sim,deveráatingir,oobjetivo
nal. Cada um encontrará a senda da perfeição, cada um tornará
retos os caminhos, cada um conseguirá preen¯er o que foi esvaziado, e o resultado triunfal será a renovação de tudo o que foi
desgastado.
Todos os que se aproximam da Escola Espiritual e aceitam
o discipulado tornam-se colaboradores potenciais do grande e
santo trabalho. Um trabalho totalmente consagrado à elevação e
a serviço do que é imperfeito, desviado, vazio e degradado.
Por isso, precisais ver claramente diante de vós “as quatro
grandes possibilidades”. Essas quatro possibilidades são indicadas na loso a de Buda como “as quatro verdades”. As quatro
possibilidades a que se refere Lao Tsé são:
1. o caminho da perfeição,
2. o tornar retos os caminhos,
3. o preen¯imento do que foi esvaziado,
4. a renovação pela trans guração.
Ao abordar essas quatro possibilidades e certezas nais, devereis
levar em conta a ordem em que elas foram citadas, pois elas se
referem a um processo que se realiza nessa ordem.

23522-I · AS QUATRO GRANDES POSSIBILIDADESAo lerdes o primeiro versículo do capítulo 22, talvez pensastes
tratar-se de palavras místicas e reconfortantes, do tipo: “Perseverai, apenas caminhai e tudo dará certo!” Neste caso, o que foi
dito e a maneira como foi dito não é assim tão importante, porém
a demonstração de uma espécie de bondade amigável: “Não se
preocupe. O que está torto, um dia acabará por ser endireitado!”
Não, a essência dessas palavras, a ordem em que são colocadas,
portanto sua estrutura, estão totalmente de acordo com uma lei
natural divina, segundo a qual se cumpre a manifestação universal
da criação e da criatura.
Sabeis que, no que se refere à criatura de Deus, o homem, está
destinado o seguinte:
Depois de um período de preparação, ¯amado involução, ele
é colocado perante uma tarefa designada evolução. Ao contrário
do que muitos alegam, essa evolução não é um processo automático. O homem não evolui passivamente, porém deve evoluir
por si mesmo, pela autorrealização. Ele deve permitir que o objetivo divino cresça nele e através dele. Sem coação e num amor
perfeitamente conhecedor.
É por isso que, no início do caminho da autorrealização, do
crescimento do Deus em si, o homem é colocado, hoje como
ontem, diante da senda da perfeição. É-lhe dado o conhecimento
total do plano. O axioma: “O imperfeito se tornará perfeito” está
oculto no primeiro aspecto. Quem quer que esteja preparado
para isso, verá diante de si a senda da perfeição.
O plano então revelado deve ser executado. Ele deve ser realizado pelo próprio homem, voluntariamente e com devotamento,
portanto com pleno interesse e imenso amor. A essência espiritual, que está “no centro”, torna cada um capaz de atingir o
objetivo.
Quem não o faz ou não quer fazê-lo põe em ação imediatamente a contranatureza, a natureza que pune e corrige a si mesma.
Caso necessário, entra em ação a natureza da morte, que sempre

236A GNOSIS CHINESAreconduz as referidas pessoas à razão superior da centelha divina
nelas presente.
O caminho da perfeição está, por assim dizer, em vosso centro
desde o primeiro início. A razão superior é eterna e permanece
eternamente a mesma. O homem em nossa natureza sofre no
próprio corpo e em seu ambiente as consequências por ter-se desviadodoplanodeDeus.Eleestátãoperdidoque“esqueceu”tudo
e, estruturalmente, está tão desnaturado que, diante da senda da
perfeição, não é mais capaz de compreender, e vê, quando muito,
uma “razão obscura”. Torna-se, portanto, fundamentalmente
necessário trazer sempre à vossa presença a senda da perfeição,
para, em seguida, esclarecer todos os seus aspectos.
Se um homem nascido da natureza e a ela ligado leva tantos
golpes que sua natureza inferior acaba por enfraquecer-se, pode
ser que ele perceba o grito do coração que emana do átomo original. Então, a escura nuvem  situada entre a razão superior
do Tao, que está “no centro”, e o coração abatido da criatura 
tem a possibilidade de se dissipar, permitindo, assim, ao buscador
enxergar novamente face a face a senda da perfeição.
Emumadasproposiçõesda
ÉticadeEspinosaéfeitaaseguinte
asserção: “Quem, levado pelo medo faz o bem com receio do
mal, não é guiado pela razão”. Todavia, o homem tocado pela
razão que está no coração das coisas (no centro) terá unicamente
sensações de alegria e intenso anelo.
Suponde que tenhais sido muito golpeados pela vida e castes
tão ¯ocados que, por medo de sofrer ainda mais profundamente,
vosrefugiastesnaEscolaEspiritualdaRosacruzeque,sobodomí­
niodesseintensomedo, vostornastesalunos.Poisbem, éimpossí­
vel que, ao tomardes conhecimento da loso a gnóstica, possais
vislumbrar diante de vós, por um segundo que seja, um único
clarão da senda da perfeição. Pode ser que a razão, que está “no
centro”, jamais vos tenha falado. Então, a rosa do coração ainda
está totalmente oculta no botão, o ensinamento gnóstico ainda

23722-I · AS QUATRO GRANDES POSSIBILIDADESnão faz sentido algum para vós, não tem o menor signi cado, a
menor força.
Uma escola espiritual como a nossa jamais se enquadra numa
religião natural, porque, como diz Espinosa: “Aqueles que se
esforçam por pressionar o homem através do medo”  ele se
refere ao medo de uma justiça vingativa  “levando-o assim a
fugir do mal em vez de amar a virtude, buscam unicamente tornar
o homem tão infeliz quanto eles mesmos”.
Portanto, prestai atenção nesta característica: o ser humano
que ¯egou ao nal de seu caminho na natureza da morte e que
atingiu o fundo do poço; que foi consumido pela angústia, preocupação e medo, bem como pela luta e pelo instinto de conservação,
deve interrogar-se para saber se ainda se sente levado a buscar
novos objetos ou causas de angústia, preocupação e medo e a
criar novas justi cativas para começar ou prosseguir uma luta
qualquer. Em caso positivo, ele ainda não terminou sua travessia
pelo país da desesperança, e o nadir de seu sofrimento ainda não
foi atingido.
Quando o m psicológico ¯ega, nasce o silêncio, a resignação,
e a voz da rosa ressoa através de vosso sofrimento, a palavra da
razão que está no centro. Então não vos afastais novamente; ao
contrário, a alegria e o anseio invadem o vosso ser: “O homem tocado pela razão terá unicamente sensações de alegria e um intenso
anelo”.
Por que alegria? Porque o caminho da perfeição manifesta-se
pela primeira vez na plenitude de sua beleza irradiante.
Por que um intenso anelo? Porque, após sofrimentos e provas
indizíveis, após ter sido ferido até o âmago de seu ser, o indivíduo vê a sabedoria e a plenitude da vida libertadora brilhar
tão claramente e oferecer perspectivas tão vastas, que um desejo
incomensurável de ter êxito faz sobressaltar o coração.
É assim que, na alegria e no anelo, deverá estabelecer-se o
verdadeiro discipulado. Então já não há problema, e já não nos

238A GNOSIS CHINESApreocupamos em saber se aceitamos ou não as consequências da
nova atitude de vida. Então, alegremente, num grande impulso e
com uma energia quase ilimitada, queremos realizar o segundo
aspecto do processo quádruplo: tornar retos os caminhos.

23922-II
O SÁBIO FAZ DE SI MESMO
UM EXEMPLO PARA O MUNDO
Em nossas considerações precedentes, pudestes veri car se já
destes início ao discipulado real e contemplastes o caminho da
perfeição. E cou evidente que os que conhecem esse discipulado
não têm a menor di culdade em “tornar retos os caminhos”. Eles
aproveitam naturalmente e com grande interesse todas as ocasiões e utilizam todas as possibilidades de percorrer a senda da
perfeição que contemplaram.
“Tornar retos os caminhos” assenta-se na prática da Rosacruz
joanina, prática essa na qual podemos empenhar-nos assim que
a iluminação interior se torne realidade. Portanto, é muito marcante e importante que as quatro grandes possibilidades mencionadas 
O imperfeito se tornará perfeito. O curvo se tornará reto.
O vazio se tornará preen¯ido. O desgastado se tornará novo
 estejam em total conformidade com a mensagem de salvação que
todos os grandes instrutores do mundo nos deram a conhecer.
Cada homem que se desviou da senda de Deus deve poder
primeiro contemplar o caminho verdadeiro, a senda única. É a
primeira condição, após a qual, evidentemente, pode e deve ter
lugar o discipulado de João Batista. Este consiste pura e simplesmente em tornar retos os caminhos, isto é, tudo preparar para o
grande retorno. Quem coloca em prática tal discipulado corrige
tudo o que poderia impedir esse retorno. Consequentemente, ele
adota um novo comportamento revolucionário.

240A GNOSIS CHINESANós o a rmamos: somente assim tornamo-nos verdadeiros
alunos da Escola Espiritual gnóstica. Ou, falando na linguagem
dos Antigos: é unicamente dessa forma que nascemos em Nazaré,
que nos tornamos nazarenos. Em outras palavras, somente então
nostornamosesomosumramodaárvoredavida.Somenteentão
nos tornamos alguém que se separou, que se excluiu, da natureza
da morte.
Portanto, quem ¯ega ao nal de seu caminho na natureza da
morte e, de seu nadir, pode contemplar, em um lampejo, a amplitude e a glória da verdadeira vida, esse homem utiliza totalmente
a segunda possibilidade de que vos falamos: tornar retos os caminhos, isto é, seguir o caminho de retorno em direção ao seu ponto
de partida. Nesse caso, o que foi esvaziado será preen¯ido.
O homem nascido da natureza é vazio do prana da vida. Essa
irradiação astral original, a força vital original da Mãe da Vida,
deve, portanto, afluir novamente ao sistema da personalidade.
Trata-se de uma fase no decorrer da qual uma nova força de alma
animaocandidato:aquiloquefoiesvaziadoédenovopreen¯ido
por uma força vital.
Aqui podemos empregar a quarta grande possibilidade:
O
desgastado se tornará novo.
A renovação da trans guração será
realizada. Assim, portanto, aparece a verdade das palavras:
Com
pouco, obtemos “Isso”. Com muito, dele nos afastamos.
Agora prestai atenção para não minimizar a linguagem em estilo telegrá co de Lao Tsé, pois ela traduz de modo completo o
caráter altamente revolucionário da senda gnóstica da autorrealização.
Para que o verdadeiro eu torne-se algo, é preciso que nos despojemos totalmente do antigo homem; é preciso que atinjamos o
não ser e renunciemos totalmente à cultura do reino dos mortos.
O buscador deve ter a coragem de diminuir até tornar-se menos
do que nada. Tornando-se menos do que nada, ele obtém “Isso”.
Com muito, dele se afasta.

24122-II · O SÁBIO FAZ DE SI MESMO UM EXEMPLO PARA O MUNDOSe diminuímos, o Outro pode crescer; a voz da rosa do coração
ressoa e tem lugar o encontro com “Isso”, com o Tao.
Por essa
razão,
a rma Lao Tsé, o sábio abraça o Um e, desse modo, transforma-se num exemplo para o mundo. Um notável exemplo para o
mundo é o homem que coloca em prática a palavra da Rosacruz
joanina.
Lao Tsé descreve detalhadamente o processo que está resumido
na expressão diminuir para que o Outro possa crescer:
1. não luzir,
2. não superestimar-se,
3. não vangloriar-se,
4. não elevar-se,
5. permanecer na ausência de luta.
Quem se aproximar das quatro grandes possibilidades, sem dú­
vida realizará essa quíntupla revolução pessoal.
Deveis atentar para o fato de que o homem nascido da natureza,
muito consciente de si mesmo  e é precisamente este tipo de
homem que temos em vista neste momento  é obcecado pela
cultura. Em nossos dias, existem milhões deles no mundo. É uma
tendência característica da maioria da raça atual. É por isso que
os dias do m aproximam-se a passos largos.
Quando o homem nascido da natureza atinge os limites de
suas possibilidades terrenas, surgem, de um lado, a degenerescência e, de outro, um poderoso impulso cultural. Entre as massas e
entre os que são psiquicamente fracos ou moralmente de cientes,
devido ao meio em que vivem, a transformação acontecerá rapidamente num sentido degenerativo. Todavia, no homem muito
consciente  que ¯egou ao limite e não adquiriu conhecimento
das condições reais da vida  produzir-se-á grande tensão. Ele
quer ir sempre mais adiante, ele quer adquirir coisas maiores, mais

242A GNOSIS CHINESAgrandiosas. O instinto de poder o fustiga. E a tensão o espreita,
pois a lei da natureza ordena-lhe que pare de modo absoluto.
Este impulso irresistível para a cultura leva uma parte cada vez
maior da humanidade para os estudos, ou ao que se entende por
isso.
Esse fenômeno acontece no mundo todo  prova de que ¯egamos ao nal de um período, pois a consciência do eu atingiu
seus limites. Homens de todas as raças atiram-se aos estudos.
Muitas escolas secundárias, institutos e universidades crescem
progressivamente. Toda a educação a isto se ajusta. Todavia, no
mesmo ritmo diminui, decresce, o número de técnicos, os que
verdadeiramente mantêm o mundo. Em todos os países ditos
desenvolvidos diminui o número de trabalhadores braçais, e há
carência nesse campo. A falta deles é preen¯ida com imigrantes,
ao passo que em todos os ramos e especialidades vemos aumentar
sensivelmente o número de estudantes.
Compreendeis que essa situação vai acarretar muitas crises, se é
que elas já não começaram. É o grande sinal da tensão surgida nos
limites da natureza dialética. Os homens nascidos da natureza,
muito conscientes de si mesmos, querem, eles mesmos, irradiar
a luz! Nessas condições, eles se superestimam imensamente; sua
função, sinal de seu nível cultural, é envolvida por uma auréola
de glória. O homem se aferra a subir tão alto quanto possível.
Quanto mais alto o degrau alcançado, melhor.
Não surpreende que isso traga intenso conflito e extrema autoconservação. No campo de tensão da consciência nascida da
natureza a batalha pela autoconservação palpita em todas as frentes. É provável que vós também estejais mais ou menos nessa
situação!
É assim que não tardará a aparecer, por necessidade  devido
à crescente falta de mão de obra  o homem mecânico, o robô,
com todas as consequências decorrentes. Assim, antes mesmo que
todos os nascidos da natureza se tornem intelectuais, doutores e

24322-II · O SÁBIO FAZ DE SI MESMO UM EXEMPLO PARA O MUNDOprofessores, um imenso precipício abre-se diante de todos os que
sabem tudo, com exceção do “único necessário”.
E vós sabeis isso melhor que nós, visto que, em razão de vossa
posição social, ocupais os melhores lugares. O mundo e a humanidade já conheceram muitos períodos semelhantes. Porventura
as palavras do capítulo 22 do
Tao Te King não interpretam a
realidade de nossa época?
Portanto, como nós, sentis, por assim dizer, o grito do cora­
ção de Lao Tsé, transmitido a seus alunos para tornar a humanidade consciente do único necessário, relembrá-la das quatro
grandes possibilidades, prescrever-lhe a quíntupla revolução pessoal, antes que seja tarde demais, antes que, em nossa época, o
suicídio fundamental aconteça de fato mais uma vez. Revolução
pessoal ou suicídio, eis a realidade diante da qual se encontra a
humanidade!
É por isso que o sábio, que compreende, mantém-se totalmente
afastado das corridas e perseguições desenfreadas no campo de
tensão da natureza dialética. Ele recusa categoricamente todos
os meios de ir ao campo de batalha e mantém seus adversários à
distância. Ele segue o caminho da rosa e da cruz e ¯ega a uma
sabedoria totalmente diferente. Então, ele contempla a aurora
da verdadeira vida e descobre que as fronteiras desapareceram. E,
oh, milagre, é exatamente quando sua consciência diminui que
ele se reveste do “Outro”!
No não lutar segundo a natureza, o sábio obterá uma vitória
positiva e clara. Neste vale de lágrimas que é a terra, na natureza
da morte, ele realizará uma grande tarefa a serviço da humanidade, de forma que lhe será concedido um lugar no panteão dos
imortais. É a isso que se referem as últimas palavras do capítulo 22:
Como podem ser vazias as palavras que diziam os Antigos:
“O imperfeito se tornará perfeito”? Quando alguém alcança
a perfeição, tudo vem a ele.


24522-III
O IMPERFEITO TORNAR-SE-Á PERFEITO
Certamente conheceis as palavras de Jesus, o Senhor, mencionadas por Lucas (9:24): “Porque, qualquer que quiser salvar a sua
vida perdê-la-á; mas, qualquer que, por amor de mim, perder a
sua vida, a salvará”. No Evangelho de Marcos (8:35), algumas palavras foram introduzidas: “Pois qualquer que quiser salvar a sua
vida perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida, por amor de
mim e do evangelho, esse a salvará”.
Em vista de tudo o que foi dito no capítulo anterior, percebereis que essas palavras correspondem inteiramente às do
Tao Te
King.
Novamente veri ca-se que a verdade eterna foi anunciada
em todos os tempos. Portanto, é impossível que as palavras dos
Antigos, dos grandes servidores do Espírito, sejam vazias 
o imperfeito se tornará perfeito  se seguirmos o reto caminho e se
aplicarmos o método correto. O eu deve diminuir e a alma deve
crescer. Dessa forma, o verdadeiro homem poderá manifestar-se
graças à alma vivente. Esta é a Doutrina Universal, que nos foi
trazida ao longo dos séculos como mensagem de salvação, como
verdade imutável, portanto como um evangelho.
Visto que nossas reflexões se baseiam nessa certeza  certeza
essa que não deve deixar qualquer traço de dúvida para o aluno
da Escola Espiritual  voltemo-nos para as palavras nais do
capítulo 22:

246A GNOSIS CHINESAQuando alguém alcança a perfeição, tudo vem a ele.Quem,atravésdaquíntuplarevoluçãopessoal,realizaplenamente
em si as quatro grandes possibilidades de que vos falamos, ou
quem tira os véus das quatro verdades, veri cará que tudo vem a
ele, isto é, que ele se liberta de tudo o que é dialético.
Trata-se de um acontecimento maravilhoso, do qual é útil
fazermos uma ideia. Uma ferramenta só mostrará sua utilidade
se a utilizarmos. E ela provará para que serve, se a utilizarmos de
fo
rma correta. A personalidade humana é uma ferramenta. Sua
tarefa, sua missão, é prová-lo. Nos dias atuais, ela nasce repetidas
vezesdanatureza,porque,devidoàmáutilizaçãodaferramenta,a
morte a aniquila. Porém, logo que a alma vivente começa a dirigir
a personalidade, a morte torna-se mera lembrança do passado, e
o nascimento na natureza é vencido. Sem uma alma vivente, a
personalidade é e permanece sempre absolutamente imperfeita.
Trata-se de algo perfeitamente compreensível. Portanto, devemos perguntar-nos como é possível que os seres humanos não
compreendam essa lógica. A causa é que a personalidade, por ser
nascidadanatureza,édotadadeumestadodeconsciêncianatural.
E a misti cação consiste em considerar essa consciência natural
como estado de alma vivente. E como veri camos carências, supomos que elas desaparecerão gradativamente se cultivarmos de
modo su ciente a consciência natural.
Infelizmente,ohomemnascidonanaturezasomentedescobre
depois de buscas profundas, penosas e geralmente muito longas,
que o imperfeito jamais pode tornar-se perfeito, a menos que
todos os elementos do que é perfeito sejam reunidos e funcionem
completamente em conjunto.
O grande milagre da criação de Deus é justamente esse, isto é,
que cada aspecto do homem completo seja um aspecto vivente e
que se possa falar, portanto, de uma vida tríplice: a vida da personalidade, a vida da alma e a vida do espírito. E somente quando

24722-III · O IMPERFEITO TORNAR-SE-Á PERFEITOessestrêsaspectossereúnem,cadaqualnoestadodesejadopelaintenção divina, somente assim, o verdadeiro homem divino pode
viver e existir.
Se compreendeis isso e se a personalidade quiser fazer os esfor­
ços necessários para atingir o grande objetivo, não soarão mais
vazias as palavras dos Antigos:
O imperfeito se tornará perfeito.Quandoummortal,¯eiodeaspiração,vêrealmentediantedesi
atríplicesendadaperfeiçãoeaceitaasconsequênciasdecorrentes,
tudo e todos se rendem a ele.
“Por quê?”, perguntareis. “Pode-se ter certeza disso?”
O Universo todo é movido por leis naturais. Há inúmeras
leis na natureza e muitos fenômenos produzidos por essas leis,
quesãosuprimidosoutransformadosporleisnaturaissuperiores.
Porém, a mais elevada das leis é a lei do próprio Tao. Essa lei é
plenamente realizável. E ela anula, como deve ser, tudo o que
não se harmoniza com ela. Tudo o que é inferior, tudo o que é
não divino, tudo o que provém da personalidade deve unir-se ao
superior, que é o próprio Tao.
TodososquevivememharmoniacomoTao,queseorientam
para o Tao e que de três fazem um, são revestidos de um grande
poder, o maior poder no céu e na terra. Nenhum poder ultrapassa o do mago gnóstico. Por isso ele é como uma autoridade
no mundo.
Talvez compreendais que quem possui semelhante poder não
farámauusodele,seguindoeaplicandoosmétodosre nadosdas
personalidades humanas imperfeitas. A personalidade humana
impõe sua vontade, suas decisões e sua orientação assim que a
oportunidade para tanto se apresenta. O gnóstico não combate,
não luta contra a obstinação, a impotência e a ignorância. Se ele
adentrasseocampodebatalhadessaforma,issodenadalheadiantariacomrelaçãoàluzdaperfeição.E,acimadetudo,eleperderia
suaalma.“Poisqueaproveitaaohomemganharomundointeiro,
se perder sua alma?” (Mt 16:26).

248A GNOSIS CHINESAVós, alunos da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea, sois uma
personalidade humana. Possuís uma alma, no mínimo uma alma
em desenvolvimento. E tendes, como um Senhor em vosso centro, a força nuclear de vosso microcosmo, como uma rosa vivente. Sem a fusão total desses três num só, segundo a lei divina,
permaneceis imperfeitos.
Mas nada, nem ninguém, é capaz de vos impedir de estimular
o imperfeito a atingir a perfeição, seguindo a senda que vos indica
a Escola Espiritual. Então, tudo, absolutamente tudo virá a vós!
Se percorrerdes essa senda, as palavras de Jesus, relatadas por
Marcos, no capítulo 9, versículo 1, também se aplicarão a vós:
“Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não
provarão a morte sem que vejam ¯egado o reino de Deus com
poder”.


250
Quem fala pouco é “espontâneo” e natural.
Como pode ser que uma borrasca não dure uma manhã inteira e
nem um aguaceiro um dia todo? Tal é a atividade do céu e da terra.
Se o céu e a terra não podem durar muito tempo, menos ainda o
homem.
Por isso quem regula todo seu comportamento pelo Tao torna-se semelhante ao Tao. Quem se regula pela virtude torna-se semelhante
à virtude. Quem se regula pelo crime torna-se semelhante ao crime.
Quem é semelhante ao Tao recebe o Tao. Quem é semelhante à
virtude recebe a virtude. Quem é semelhante ao crime recebe o
crime.
Não ter fé su ciente é não ter fé.
Tao Te King, capítulo 23

25123-I
QUEM FALA POUCO
É “ESPONTÂNEO” E NATURAL
Quem fala pouco é “espontâneo” e natural. Estas palavras de Lao
Tsé não vos soarão estranhas, pois conheceis essas horas de silêncio em nossas conferências de renovação, e por diversas vezes
já ¯amamos vossa atenção sobre o profundo signi cado desse
silêncio. Sabeis também que a linguagem muito sucinta de Lao
Tsé oculta muitas coisas. Uma única palavra sua frequentemente
desvenda para nós a inteira loso a gnóstica.
É por isso que dedicamos especial atenção ao primeiro versículo do capítulo 23, na tentativa de, assim, avaliar toda a sua
profundidade. O mistério da palavra e do som deve ser revelado
se quisermos compreender as intenções de Lao Tsé.
Reconhecereis que a linguagem de um ser humano está sempre
em estreita ligação, por um lado, com a respiração e, por outro
lado, com o seu intelecto. Não podemos falar sem respirar; da
mesma forma, sem o intelecto não podemos emitir nenhuma fala.
A laringe, o órgão que nos permite emitir sons articulados, tem
uma importância apenas secundária com relação à respiração e
ao intelecto.
Diversos autores a rmam que o homem distingue-se dos animais porque possui uma laringe vertical que lhe permite falar.

252A GNOSIS CHINESATrata-se aí de uma meia-verdade, pois todos os órgãos do corpo*
físico são indispensáveis para que, efetivamente, o homem possa
expressar-se na matéria.
Encontramos na cabeça e no coração do homem e do animal
uma quantidade de órgãos muito pequenos que os ligam diretamente à esfera de vida astral. Para numerosas espécies animais e
para os diferentes tipos de homens não é tanto o coração, mas
o plexo solar que tem um papel predominante. A ligação fundamental da criatura física viva com a esfera astral determina a
qualidade, a total natureza dessa criatura.
A esfera de vida astral não é uniforme e contém inúmeros
campos de qualidades muito diferentes. Em cada campo astral
manifesta-se uma grande quantidade de situações e de possibilidades. Assim, é fácil compreender que cada homem possui um tipo
astral próprio, uma ¯ave astral própria. Essa ¯ave é expressa
por todo o ser do homem e está presente não apenas dentro dele,
mas também ao seu redor. Dessa forma, a criatura depende da
respiração.
Queremos dizer com isso que, embora vivamos todos no mesmo
campo de respiração, na mesma atmosfera, possuímos cada qual
um campo de respiração muito particular, elaborado e formado
pelas nossas condições astrais pessoais.
A cada respiração, a cabeça e o coração funcionam segundo
as condições astrais do momento. Em mais de um sentido, da
respiração provém a vida. A respiração determina não apenas a
atividade intelectual, mas também o desejo. Há uma base astral
interior, que se manifesta pelos ¯acras, e uma atividade astral
exterior, que se conecta com a base astral interior pela respiração.
Quando um pensamento é produzido pelo cérebro ou um
desejo nasce no coração, e ambos emanam da cabeça e do coração,
então se projetam na substância astral que nos envolve de todos os
lados, assim como o peixe é envolvido pelo elemento água. Essas
projeções são refletidas de volta e mantêm assim nossa natureza

25323-I · QUEM FALA POUCO É “ESPONTÂNEO” E NATURALastralfundamental,nossocampoderespiraçãoenossarespiração,
bemcomotodaanossavidadepensamentosedesejos,encerrados
em determinada esfera de ação.
Suponde que despertem em vós alguns pensamentos e alguns
sentimentosquenãotêmnenhumarelaçãocomvossotipoastral
fundamental,sendo,portanto,totalmenteestranhosaele.Então,
eles são sempre causados por alguma influência em vosso campo
de respiração, pois o outro caminho, através dos ¯acras e do
corpoetérico,estáfortementeobstruídopelosangue,pelofluido
nervoso e pela secreção interna. Como, então, essas influências e
seus subsequentes resultados puderam penetrar em vosso campo
de respiração? Pois bem, foi através da palavra. Se uma pessoa
fala, ela o faz no momento em que expira. Ninguém fala quando
inspira. Isso só será possível se vos forçardes  intencionalmente,
portanto  e apenas durante momentos muito curtos, e a voz
não soará, então, de modo natural.
Quando inspirais, a matéria astral penetra na cabeça através
de vosso campo de respiração e vos leva a determinada atividade
mental. Quando expirais, vossa voz ressoa e, através da palavra,
ativaisaimagem,aforçaeavibraçãotrazidasavóspelasubstância
darespiração,transmutando,dessaforma,osvaloresastraisnuma
realidade vivente, ativa e mágica. Portanto, falar é uma atividade
criadora, devida ao ar expirado.
Ao exalar o ar, o prana é dividido em várias condições vibrató­
rias carregadas com as respectivas imagens-pensamentos, e desse
modooprana,emsuasváriasgradações,étransportadovialaringe,
tornando,assim,audíveisomentaleoastral.Issosetransforma
emsons.Vogaiseconsoantescompõem, emcaracteresmágicos,
imagens sonoras.
Todasessasimagenssonorastêmsuaorigemnoastral.Essaorigem, através da magia da palavra, é, portanto, evocada, vivi cada,
liberada e ativada. Essa atividade, essa magia, tem evidentemente
consequências,elacausaimpactosdiretos.Essasconsequências,

254A GNOSIS CHINESAàsvezes,podemsersalvadoraselibertadorase,àsvezes,aprisionadoras e muito perigosas, tanto para quem fala quanto para quem
ouve.
Eis por que Lao Tsé faz esta advertência:
Quem fala pouco é
“espontâneo” e natural.
Como já dissemos, cada ser nascido da natureza possui sua própria natureza astral fundamental. Portanto,
sua primeira preocupação deveria ser não piorar a qualidade
de seu estado de ser nem deixá-la cristalizar-se. Por sua paixão
pela fala, o homem não somente desperdiça sua energia criadora,
como também prejudica seriamente a si mesmo e aos outros.
Quemfalapouco,quedissoestáperfeitamenteconsciente,que
sabe o que faz, que conhece suas responsabilidades, permanece
totalmente espontâneo e perfeitamente natural. Então, a base
para uma realização autônoma e libertadora está presente.
Protegei-vos, portanto, dos faladores, dos tagarelas e dos bisbilhoteiros. A força criadora superior é muitíssimo mais danosa
do que a força criadora inferior. Protegei-vos de todos os que
vosabordamcomoparaagarrar-seavós,perturbando-voscom
suas emanações, inundando-vos com um mar de palavras, impondo-vossuaspreocupações,injetando-vosseuspensamentos,
bradando suas críticas e infectando-vos com seu estado de ser
astral.
Suponhamos agora que as palavras oriundas da Gnosis despertememvóspensamentosesentimentosquenãotenhamnenhuma relaçãocom vosso tipoastralfundamental. Ouseja, que
as palavras pronunciadas nos templos da Rosacruz evoquem em
vossocampoderespiraçãoforçasperfeitamentecontráriasavosso
estadodesercomum.Sóvosrestainalaressesvalores,quevossão
tão estranhos, pois ao ouvirdes o testemunho da Gnosis, abristes
vosso ser a eles.
A princípio, na maioria dos casos, o coração e a cabeça respondem como que tomados por um forte vendaval e um violento
aguaceiro. Porque vossa natureza profunda foi tocada não na

25523-I · QUEM FALA POUCO É “ESPONTÂNEO” E NATURALharmonia, mas na desarmonia. Pensamentos e sentimentos de
natureza estranha vos perturbam. Vossa natureza fundamental
foi atacada e ela se defende.
Trata-se, então, de saber que palavras proferireis. Serão palavras de oposição, protesto ou incompreensão? Ou serão palavras
de autorrendição? No primeiro caso, os vendavais e os aguaceiros se intensi carão. No segundo caso, tudo se aquietará muito
depressa.


25723-II
QUEM É SEMELHANTE AO TAO
RECEBE O TAO
Em nossos comentários do capítulo 23-I, vimos como a utilização
do poder da palavra concedido ao homem pode causar grandes
tensões e di culdades. No estado de ser em que a raça humana
nascida da natureza se encontra atualmente, as situações de conflito são inevitáveis, quer em sentido libertador, quer em sentido
degenerativo. Isso porque a palavra tem um poder criador, ela
é um órgão criador. Esse poder criador vivi ca as forças astrais
evocadas que circulam em vosso sistema vital e as transmite ao sistema respiratório, com todas as consequências decorrentes, como
já o demonstramos.
Todos os que se veem confrontados com esse grande problema
são compelidos a resolvê-lo completamente, pois as irradiações
intercósmicas, que se impõem atualmente ao conjunto do campo
terrestre forçam-nos a encontrar uma solução. O órgão criador
superior deve ser libertado e utilizado de maneira correta se não
quisermos cair sob a grande degeneração dos instintos inferiores.
Durante o longo curso de sua existência, a humanidade, periodicamente, teve de satisfazer a essa exigência. Eis por que as
palavras de Lao Tsé são muito atuais, e todo homem tem o dever
de encontrar a solução para esse grande conflito.

258A GNOSIS CHINESAE para conseguir isso é preciso começar falando pouco. Dessa
fo
rma sois “vós mesmos” e “naturais”, protegendo-vos dos delí­
rios verbais de certas pessoas, não prestando ouvidos a conversas
delirantes que são negativas e vos transmitem influências astrais
totalmente indesejáveis.
Poderíeis observar que, mesmo sem falar, as atividades mentais
e sentimentais de vossa cabeça e de vosso coração vos atrapalham,
pois não devem os pensamentos, os sentimentos e os desejos que
descem abaixo de certo nível ser considerados perigosos? Certamente, mas ao transformar esses pensamentos, esses desejos e
esses sentimentos em palavras, vós os “concretizais” e os tornais
incontáveis vezes mais ativos; pois o que é criado é mais ativo do
que o que permanece latente.
Deixemos, porém, o lado negativo desse tema, apresentado
para ajudar-vos a encontrar uma solução. Suponhamos, novamente, que vosso sistema natural seja tocado em seu campo de
respiração pela palavra da Gnosis, que se dirige a vós e para a
qual vos abristes. Assim sendo, sois tocados por forças luminosas
astrais que não são as vossas, ou ainda não o são. Daí resultam,
evidentemente, tensões interiores, pois vossa natureza astral fundamental a elas se opõe espontaneamente; aguaceiros e temporais
são desencadeados, a menos que… vos torneis “espontâneos”!
Lao Tsé utiliza aqui uma imagem que ¯ama a atenção para a
conhecida noção do
wu wei, o não fazer. Tão logo tenhais certeza
de que a Gnosis vos tocou e perturbou vosso campo de respiração,
não exteriorizeis vossas tensões pela conversa. Cessai todo comentário sobre os temporais interiores, e conduzi-vos ao estado
do “não fazer”. Suspendei toda a luta e rendei-vos totalmente à
Gnosis.
Se assim zerdes, se adentrardes esse estado, os temporais cessarão. Ingressando no não fazer, no silêncio interior, na autorrendição e permanecendo calados, vós vos ligareis ao que Lao Tsé
denomina “a virtude” e vos encontrareis na senda que leva ao

25923-II · QUEM É SEMELHANTE AO TAO RECEBE O TAOTao. Quem é semelhante ao Tao recebe o Tao. Quem é semelhante
à virtude recebe a virtude.
Quem não age dessa maneira submete-se ao crime e comete
crime. Ao utilizar, como Lao Tsé, a palavra “crime”, não deveis
pensar num crime horrível, mas deveis refletir que qualquer ação
ou comportamento que vos afasta da Gnosis e vos mantém em
vosso estado de ser nascido da natureza é absolutamente “errado”.
Aprofundemo-nos um pouco nesse assunto para que ¯egueis
a uma compreensão correta. A maioria dos alunos da jovem Gnosis, além de conservar tudo o que neles é louvável, mantém sua
antiga base de vida de nascidos da natureza. Em outras palavras,
eles conservam seu estado astral fundamental. As representações
comuns do bem e do mal, do positivo e do negativo agitam-se
neles frequentemente.
Não obstante, a Gnosis lhes fala e toca interiormente seu cora­
ção e sua cabeça. Um conflito maior ou menor torna-se inevitável.
O que, dessa forma, neles penetra, é contrário à sua natureza astral fundamental e a transpassa como uma espada, embora não
seja contrário ao
wu wei, ao aluno que é “espontâneo” e “natural”,
ou seja, ao aluno que está pronto. Nos que não estão prontos, isso
desencadeia duradouros temporais.
Então, eles se procuram mutuamente, se visitam, e a conversa
recai sobre assuntos do templo e do toque no templo. Isso pode
suscitar uma desordem infernal, pois, com efeito, quem se exprime e dá testemunho? Acaso seria a nova palavra neles? Não,
porque ela ainda não nasceu. Por quê? Porque eles mantiveram
sua natureza astral fundamental. Porventura a alma, a nova alma
neles, irá expressar-se? De forma alguma! A força da nova alma
permanece con nada no duplo etérico, sem poder penetrar no
santuário da cabeça, onde a antiga base astral não mudou. Durante a conversa, surgem constantemente desacordos. O que
existe não é um acordo de entendimentos na base do
wu wei,porém todo tipo de opiniões frequentemente contraditórias e
260A GNOSIS CHINESAopostas. Um desacordo é uma má ação, um crime, pois se trata
de polemizar para ter razão. Qual razão? A razão da natureza
fundamental de um dos participantes. E assim nos obstinamos,
entramos em ¯oque, não raro de modo doentio, o que é um
crime!
Se fosse apenas isso, desse crime restaria apenas certa esterilidade. Porém, esses debates, essas orgias de palavras que acarretam
um frenesi de criações, constituem uma grande impureza. A
algazarra de vozes dos participantes faz surgir inúmeras forças astrais. Um turbilhão de influências astrais presentes sobrecarrega
o campo de respiração. Essas pessoas se agrediram mutuamente,
cometeram um verdadeiro crime, enquanto tudo o que a Gnosis queria fornecer-lhes retirou-se desde o início do encontro.
O toque não somente foi inútil, mas sobretudo a ocasião de um
grande dano moral. Deixai, pois, penetrar estas palavras no fundo
de vossa consciência:
Quem é semelhante ao crime recebe o crime.Compreendei que existem diversos aspectos e formas de danos morais. Porém, aquela a que nos referimos aqui é a pior de
todas. Toda discussão é um crime, é uma afronta a todas as pessoas envolvidas. E atentai para o fato de que esse tipo de crime
não se limita a algumas pessoas. Os efeitos astrais dessas querelas,
de qualquer tipo que sejam, envenenam a esfera vital inteira da
humanidade. É uma grande imoralidade! E não é terrível que
uma escola espiritual gnóstica possa causar isso em seu trabalho
a favor de toda a humanidade?
Como isso é possível? Pois bem, por falta de fé e de con ança,
com todas as consequências decorrentes. É assim que o estado
astral fundamental é mantido.
Não ter fé su ciente, a rma Lao
Tsé,
é não ter fé.
26123-III
NÃO TER FÉ SUFICIENTE É NÃO TER FÉ
Nocapítuloanterior,demonstramosemdetalhescomoohomem
vive totalmente dominado e dependente de seu estado astral. Se
a orientação astral fundamental do ser nascido da natureza não
mudar, se nesse ponto o homem não se libertar desse aprisionamento, ele não poderá ter a esperança de seguir um aprendizado
libertador.
Atarefaé: tornar-sesemelhanteaoTao, tornar-sesemelhanteà
virtude. Ora, a força que nos confere essa semelhança é a força da
fé. Quando um ser humano possui uma fé sólida na realidade e na
verdade da Gnosis e ao mesmo tempo está presente um intenso
desejo de participar dessa sublime realidade, todos os obstáculos
que poderiam interpor-se entre ele e seu objetivo são removidos.
A fé triunfa sobre tudo! É por isso que a maravilhosa faculdade da
fé deve ser completamente desenvolvida para que um resultado
seja alcançado. E as palavras de Lao Tsé:
Não ter fé su ciente é não
ter fé,
são de uma clareza inegável.
É melhor perguntar-se primeiro onde se aloja a faculdade da fé.
Em qual parte do corpo está ela centralizada? Estaria ela ligada a
algum órgão? Ou seria ela um órgão?
Se buscais seriamente uma resposta a estas perguntas, descobrireis que a fé é não somente um estado afetivo, mas também uma
questão de compreensão e, sobretudo, de vontade. Emanando do

262A GNOSIS CHINESAcoração e da cabeça, a fé envolve o ser inteiro. Somos penetrados
e inflamados por ela. É correto a rmar que os que sentem despertar em si a faculdade da fé têm uma comoção psíquica, com
acorrespondenteconsequênciafísica.Nocorpo,oestadodefé
revela-se no sangue, no fluido nervoso e na secreção interna, os
quais são atingidos pelas vibrações da fé. Caso contrário, não se
trata da fé que tudo penetra.
Essa atividade, às vezes tão poderosa, deve ser claramente sustentada pelo corpo etérico, que, por sua vez, deve ser sustentado
pelo corpo astral. Os sete ¯acras do corpo astral abrem-se à luz
da Gnosis com todas as consequências decorrentes.
Observai a enorme diferença que existe entre uma fé positiva
e sua força e a fé em seu aspecto negativo. Depois de tudo o que
dissemos acerca da fé, podereis facilmente concluir a diferença.
A fé positiva, bem como a força que está ligada a ela, desenvolvem-se com base em dois elementos astrais: a respiração astral
dos ¯acras e a respiração comum. A primeira se desenvolve pelo
seguinte caminho: ¯acras, corpo etérico e corpo* físico; a segunda, pelo: campo de respiração pessoal, santuário da cabeça,
respiração, fala. Quando essas duas influências astrais, esses dois
processos, fundem-se um no outro, e quando o que está no mais
profundo do ser torna-se semelhante ao que está no exterior
fala-sedefépositiva.Esperamosquepossaisagoraverclaramente
quesemelhanteestadodefésóépossívelseseguirmosocaminho
em completa autorrendição.
Examinemosagoraoaspectonegativodafé.Umhomempode,
sejaporrazõescármicasouinfluênciashereditárias,sejaporcausa
de grandes sofrimentos, demonstrarinteresse por determinada
corrente religiosa. Para que esse interesse produza um resultado
positivo,seránecessárioqueessaorientaçãosejaseguidadeum
comportamento libertador. Sem esse comportamento, os sete
¯acras docorpo astral não poderão girar em sentidoinverso, e
ao homem em questão resta apenas a influência astral que passa

26323-III · NÃO TER FÉ SUFICIENTE É NÃO TER FÉpela respiração direta, pelo cérebro e pela fala. Então, uma parte
da personalidade é tocada pela nova influência, enquanto que a
outra, a mais importante, permanece imperturbada.
Fica evidente que essa situação deverá provocar todo tipo de
estados indesejáveis. Os oradores religiosos, ávidos por converter
as multidões através de uma influência astral unilateral, conseguirão, nessa exaltação, injetar-lhes uma pequena dose de fé, mas será
uma fé negativa, um fogo de palha, que queimará muito depressa,
deixando com frequência vestígios deploráveis atrás de si.
Agora que sois capazes de distinguir entre a fé positiva e a fé
negativa, podeis perguntar-vos do que a fé é capaz.
Tomemos como exemplo um homem que realmente aspire
à salvação vivente da Gnosis. Esse anseio, nascido no coração,
irá manifestar-se na cabeça, seguido da compreensão e também
da vontade. Esse homem compreenderá que, se quiser que esse
anseio resulte em realização e em posse, um novo estado de vida,
uma nova atitude de vida, é exigido dele, uma nova atitude de
vida, próxima da “virtude” e longe do crime.
Naquele que segue semelhante caminho tem lugar uma grande
mudança, prenúncio da trans guração. Os ¯acras começam a
girar no sentido inverso de seu estado natural. As forças da alma se
concentram no corpo etérico. Os quatro alimentos santos tocam
todo o sistema físico.
Após esse prólogo da fé, após essa preparação da fé, nasce, em
dado momento no curso de vida, a fé verdadeira e triunfante.
Ela se anuncia como uma forte vibração no ser todo, que será
preen¯ido com a verdadeira força da fé. A respeito desse poder
diz a Bíblia: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a
este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar” (Mt 17:20), e:
“Ora, a fé é o rme fundamento das coisas que… se não veem”
(Hb 11:1).
Tudo isso refere-se a uma nova força astral, a força-luz da
Gnosis, que pode ser magicamente empregada para a salvação

264A GNOSIS CHINESAda humanidade por aquele que para isso se preparou e disso deu
provas. Essa força mágica é aplicada através do órgão criador superior. A palavra vivente é pronunciada, do mesmo modo que
Jesus, o Senhor, a pronunciou: “Quero, sê limpo” (Mt 8:3). Dessa
fo
rma, estareis em condição de saber e de experimentar do que a
fé é capaz, tal como Lao Tsé a compreende.


266
Quem ca na ponta dos pés não se mantém ereto. Quem estica muito
as pernas não pode andar.
Quem quer irradiar luz não é iluminado. Quem quer ser o homem
verdadeiro não sobressai entre os demais. Quem se vangloria de seu
trabalho não tem mérito. Quem se promove não é superior.
Tais condutas comparadas ao Tao são como restos de comida ou
outras coisas repugnantes, que sempre são abominadas.
Portanto, quem vive no Tao delas se afasta.
Tao Te King, capítulo 24

26724-I
O EGOÍSMO
Ao lerdes o capítulo 24 do Tao Te King, sem dúvida compreendestes tanto seu tema quanto sua intenção. O per l do homem
nascido da natureza, em seus atos e gestos habituais, ali está retratado com algumas hábeis pinceladas. É um retrato tão moderno,
tão atual, que não sabemos o que é mais espantoso: se, há milênios,
Lao Tsé descreveu o homem do século vinte, ou se, em todos esses
anos, o homem da natureza não mudou.
Todavia, vosso espanto desaparece imediatamente quando
compreendeis uma vez mais que, em vista de seu estado psíquico,
o homem nascido da natureza nada pode mudar. As circunstâncias externas mudam, em geral e nos detalhes, mas o homem
nascido da natureza permanece invariavelmente do mesmo tipo,
isto é, do tipo correspondente ao seu egoísmo. O egoísmo é o impulso original da natureza, ao qual o ser humano se acostumou
em diversos níveis. Ninguém pode libertar-se do egoísmo sem,
antes, renunciar totalmente ao seu eu.
A forma mais forte e mais cristalizada do egoísmo é a do homem egocêntrico, empedernido que, do berço ao túmulo, considera unicamente seu eu e seus próprios interesses. Tal pessoa não
nutre qualquer tipo de laço afetivo ou familiar, tal como afeição
por sua mãe ou um bom entendimento com seu cônjuge ou seus

268A GNOSIS CHINESA lhos. Essa forma de egoísmo, que tudo exclui, está mesmo abaixo
do animal, pois mesmo no reino animal observamos que existe
um elo, embora passageiro, que une mãe e lhos, e que os animais
podem até mesmo sacri car-se para proteger seus lhotes.
É por isso que, em nossos dias, só conhecemos essa forma de
egoísmo numa manifestação psíquica degenerativa, ou seja, em
pessoas que, psiquicamente perturbadas, tudo sacri cam por sua
cupidez e sua luxúria subanimais.
Observai, no entanto, que essa forma de egoísmo cresceu muito
rapidamente em nossos dias, em todos os países e em todos os
povos. Isso demonstra que a humanidade está caindo rapidamente abaixo do nível quali cado de humano, o que é uma clara
indicação de que o m está próximo.
Uma forma mais elevada de egoísmo é aquela em que, embora
colocando-se o eu no centro, também a família é incluída. Nesse
grupo, os elos sanguíneos falam de forma mais ou menos forte,
num tempo mais longo ou mais curto. E é necessário compreender esse fenômeno, pois é claro que a solicitude e a dedicação à
família são uma forma de realização e de rea rmação pessoais, portanto são uma expansão do eu. É uma forma de egoísmo onde se
expressam todas as virtudes altamente estimadas da paternidade
e da maternidade.
Esse egoísmo tem sido objeto de várias formas de condicionamento cultural e é regulado e sustentado por inúmeras leis. E não
restam dúvidas de que se trata de uma forma evidente de egoísmo,
como o demonstram os esforços e as alegrias, os cumprimentos
e o orgulho que se seguem aos sucessos obtidos pelos membros
da família, mesmo que muitas vezes não tenha ocorrido em bases
morais muito elevadas.
O egoísmo torna-se ainda mais evidente quando duas famílias
têm o mesmo objetivo e as mesmas cobiças. E até mesmo quando
a vida e a solidariedade familiar e o nível cultural seriam o que se
poderia ¯amar de elevados, uma luta terrível se declara. Essa luta

26924-I · O EGOÍSMOtem a mesma base e a mesma força astral dos ferozes combates do
homempré-histórico.Asformasdoconflitopodemserdiferentes,
porém o fundamento e o resultado são sempre os mesmos: luta e
derrota.
Aseguir,oegoísmoseampliaesetornaoegoísmodeumgrupo,
o egoísmo de um povo e de uma raça. Os desenvolvimentos e as
consequências daí resultantes são muito conhecidos de todos. E
quando alguém é atingido pela psicose do egoísmo de um grupo
ou de um povo, isto não exclui de forma alguma as outras formas
de egoísmo de nidas anteriormente. Ao contrário, elas podem
ser fortalecidas em decorrência disso, pois os interesses do indivíduo podem, facilmente, ser entravados pelos interesses do
grupo. A força do egoísmo individual experimenta então uma
tensão muito mais forte. E as consequências são evidentes: a luta
explode.
Para podermos compreender bem as intenções de Lao Tsé, não
nos esqueçamos de que o desenvolvimento do egoísmo numa
curva ascendente sempre é acompanhado pelo desenvolvimento
moral. Existem inúmeros exemplos de homens que sacri caram
seusprópriosinteressesafavordosinteressesdafamília, dogrupo,
dopaís,dopovo,danaçãoe,emmenorproporção,aosdesuaraça.
A literatura nos fornece exemplos ilustres. Sem dúvida, devemos
considerá-los com a maior reserva, pois a disposição e o ardor
para o sacrifício estão sempre entremeados por uma forma de
egoísmo. Entretanto, é certo que o desenvolvimento do egoísmo
pode ser sempre acompanhado de um desenvolvimento moral
estimulado pela religião e pelo humanismo e mantido pela lei.
Atualmente, no que diz respeito à cultura do egoísmo, a humanidade prepara-se para subir o último degrau da escada, naturalmente sob diversos pretextos morais. Uma vez alcançado
esse degrau, e conservando-se todos os degraus inferiores, como é
normal numa escada, não haverá nenhum degrau mais alto. Isso
signi cará o m da inteira época Ariana, da mesma forma que

270A GNOSIS CHINESAjá ¯egamos ao m de certo período dessa época. Nesse último
degrau, veremos a confluência, a reunião, a uni cação de toda a
humanidade. Primeiro, o indivíduo, depois a família, a linhagem,
o povo, a raça e nalmente toda a humanidade. A cada período,
a cada era, os homens percorrem todo esse caminho até o m. O
desaparecimento total da oposição que existe atualmente entre
os povos, as nações e as raças indicará o m.
Os sinais precursores dessa próxima grande revolução mundial
são claramente perceptíveis. Ouvimos sem cessar pregações sobre
a integração total. Em todos os lugares homens trabalham para
neutralizar as diferenças entre as religiões. Alguns blocos políticos
já se formam; e já se vislumbram claramente dois grandes grupos
entre os quais se divide a humanidade: o leste e o oeste. Ambos
sabem que, se conservarem seu ponto de vista sobre sua própria
cultura do egoísmo, o aniquilamento total da humanidade tornar­
-se-á um fato.
Ao mesmo tempo, muitos veem nitidamente que terminou o
tempo em que os combatentes formavam uma frente na linha de
combate, onde tombavam os mortos e os feridos, enquanto que,
atrás, em segurança, o estado-maior orquestrava a guerra e, mais
atrás ainda e em maior segurança, os diferentes grupos econômicos dirigiam tudo de seu abrigo. Como o princípio fundamental
do egoísmo é a autoproteção, e a possibilidade de atacar e aniquilar de surpresa não existe mais, e as armas técnicas interditam de
fo
rma absoluta o extermínio improvisado, seremos obrigados a
nos unir.
Pode até ser possível, e é mesmo verossímil, que antes que o
mundo todo sinta que essa obrigação é inelutável ainda tenhamos
de travar muitos combates; o que já não podemos é impedir o
progresso desta última fase.
Um grande número de autoridades está profundamente convencido da necessidade de implementar uma nova ordem. Fala-se
de contatos diários e incessantes entre os grupos dominantes dos

27124-I · O EGOÍSMOdois lados, tanto no plano político como no religioso, embora
nem tudo seja noticiado na imprensa mundial.
E o que devemos perguntar-nos não é “Vamos fazê-lo?”, porém
“Como fazê-lo? Como fazer para que o povo, a massa, aceite isso,
e como justi car essa grande revolução de todos os valores até
então considerados invioláveis?”
Mas, compreendei-o, a humanidade não tem saída, ela está
encurralada. Pensávamos poder limitar aos outros os efeitos da
explosão da bomba atômica, porém os riscos tornaram-se tão
grandes que, brevemente, cantaremos em coro: “Todos os homens são irmãos!” Muitas igrejas e movimentos religiosos buscam
igualmente a unidade forçada.
Por que tudo isso? Bem, porque a cultura do egoísmo, a luta
pela existência e o medo da morte e do aniquilamento impulsionam a humanidade para esse último passo. A unidade forçada ou
o aniquilamento recíproco: a humanidade deve escolher entre
estes dois extremos!
Compelida pelo sofrimento e pelo temor à morte, a humanidade escolheu a primeira alternativa, ou ainda está em vias de
fazê-lo. Dessa forma, a cultura do egoísmo humano atingirá seu limite, conservando, entretanto  e atentai bem para isto  todos
os outros aspectos que não podem ser erradicados.
Então, logo essa grande unidade dos povos e das raças será
mantida unicamente através de coerção, com a colaboração e sob
a direção de todas as autoridades. No m, o mundo todo se verá,
portanto, debaixo de um regime fascista e corporativo. Todos os
homens serão obrigados a serem mutuamente “irmãos”: último
artigo da lei da autoconservação.
Enquanto isso, todos se esticarão tanto quanto possível na
ponta dos pés para agarrar o máximo de presas e obter o maior
lucro. Eles esticam o passo para atingir seu objetivo tão depressa
quanto possível. No início, os pobres éis das religiões naturais só
falarão da luz que se concretiza para irradiar sobre a humanidade

272A GNOSIS CHINESAtoda,aluzdesejadaporCristo.Masagrandelutaparasaberquem
será ou parecerá ser o maior e o mais importante prosseguirá. A
indústria se aproveitará do egoísmo para explorar a humanidade
em proporções monstruosas.
Osque,comoobservadoresmaisoumenosobjetivosedotados
de algumas qualidades de alma, observarem todas essas tramas,
bem como a próxima aceleração da corrida para o abismo, carão profundamente desgostosos com esse imenso embuste. Essas
fo
rmas de agir,
comparadas ao Tao, são como restos de comida ou
outras coisas repugnantes, que sempre são abominadas.
Porventura tendes a intenção de vos unir a semelhante engano? Ou escolhereis  buscando a senda do Tao  o outro
caminho?

27324-II
OS MUROS DE JERICÓ
Nossas considerações iniciais sobre o capítulo 24 do Tao Te Kingde Lao Tsé demonstraram para onde, nalmente, leva o egoísmo
humano. E podemos sentir-nos desolados, principalmente se levamos a pior na luta pela existência ou pela defesa de nossos
interesses. Todavia, nãonosesqueçamosqueoegoísmo, portanto
o egocentrismo, é uma característica do homem nascido da natureza. Quando a vida desponta na natureza da morte, a criatura é
ameaçada de todos os lados. Dessa forma, manifesta-se o egoísmo,
o instinto de conservação. Em sua condição de seres nascidos da
natureza, todos os homens, sem exceção, são egoístas.
Ao lerdes isto, certamente sereis tocados por uma série de
sentimentos e pensamentos, pois não é de vosso agrado serdes
¯amados de egoístas. Tendes, mais ou menos, a impressão de terdes sido ofendidos. Com exceção de um grande grupo de homens
que vivem sua condição de nascidos da natureza com tal paixão
que a¯am perfeitamente natural essa característica fundamental
do gênero humano, os demais sentem-se um pouco ofendidos
por essa fria veri cação: o homem é egoísta.
Esse é um fenômeno notável, porque semelhante reação com
certeza não é uma característica do ¯amado ser natural. Mas,
observai que não estamos falando do desgosto causado pelo insucesso de uma atitude egoísta, mas de um sentimento de decepção,
do sentimento de ter sido enganado, de ter sido derrubado de

274A GNOSIS CHINESAseu pedestal. Sofreis, principalmente por causa de vosso conhecimento da Bíblia e da Doutrina Universal, no qual o egoísmo,
como fonte de calamidades, é desmascarado. E a voz da rosa em
vós, vossa consciência, apela continuamente à vossa atitude de
vida.
Aflui, então, a corrente ininterrupta de reflexões: “Isso, entretanto, deve ser diferente; deve ser melhor. E isso deve desaparecer
o mais depressa possível”. Assim prossegue a famosa luta pela existência. As considerações de ordem moral declaram guerra contra
vosso comportamento egoísta. E cada um conhece o des le de
moralistas, místicos, humanistas e outros que atiçam o combate
interior.
A rmamos, porém, que esse combate é totalmente sem esperança,poiséimpossívelmudaranaturezafundamentaldogênero
humano! Está fora de cogitação! É por isso que, quando vós e
vossos coirmãos e coirmãs estais em plena luta  e vós estais! 
e vivenciais ao máximo o combate que opõe o egoísmo à moralidade, tentais fazer triunfar a moralidade. Descobrireis que vós e
vossos amigos sempre levais a pior e, apesar disso, permaneceis
os mesmos.
Tendes uma moralidade mais ou menos elevada. Podemos
aprendê-la, seja através da necessidade, da morte ou da dor, da
mesma forma que aprendemos os usos e costumes culturais. Podemos aprender a fazer como se irradiássemos luz, como ser
agradáveis, como aparentar ser místicos. Sem ter a intenção de
ser hipócrita, podemos imaginar-nos um gnóstico, possivelmente
um homem com a alma renascida. Da mesma forma que aprendemos a apresentar-nos como pessoas simpáticas e agradáveis,
também aprendemos a parecer místicos.
Mas não podeis fazer o egoísmo desaparecer. O egoísmo é
inerente ao homem nascido da natureza. A intenção de Lao
Tsé no capítulo 24 do
Tao Te King é fazer que seus discípulos
compreendam isso.

27524-II · OS MUROS DE JERICÓE não existe um aluno sequer que, com uma série de considerações morais, mantendo a si mesmo em rédeas curtas, não tente
seguir seu discipulado sob o signo de semelhante “rearmamento
moral”.
Pobres de vós! Sabei que vossa armadura moral serve apenas a
um único objetivo: a proteção de vosso egoísmo, sem nenhuma
exceção. E pensais assim: “Seria tão bom, seria maravilhoso se
eu conseguisse ser um bom aluno; se eu conseguisse um novo
estado de alma; se eu preen¯esse as condições do discipulado; se
eu conseguisse isso ou aquilo no sentido da Gnosis etc.” Em geral,
substituís o “eu” pelo “nós”; isso soa melhor. Mas o “nós”, ou o
“eu”, não melhora as coisas, pois tudo o que o “eu” quer e deseja
não passa de uma tentativa de abrigar o eu com toda segurança
em determinado aspecto do egoísmo.
Esse impulso de autoconservação preen¯e todo o vosso ser.
Então vos esforçais consideravelmente. Ficais nas pontas dos pés
e vos esticais o máximo possível para agarrar o que cobiçais. Mas
não conseguis car em pé nem permanecer eretos. Tentais dar
certa velocidade à vossa vida, e tanto quanto possívele atéonde podeis esticar as vossas pernas, tentais avançar na direção cobiçada.
Mas inutilmente!
Após inúmeras tentativas desesperadas, todas infrutíferas, ­
cais totalmente à vontade, pois não demorais muito a perceber
que os outros tampouco têm sucesso em sua empreitada de rearmamento moral! É quando o eu começa a “fazer de conta”. Ele
põe-se a falar da luz, ele “irradia” uma suposta luz. O resultado é
um estado astral que não tem a menor relação com a luz, mas é
uma parte de vosso equipamento moral e vos tranquilizais com
isso. Vós vos afadigais e vos dedicais totalmente à Escola da Rosacruz e ao seu trabalho, mostrando assim vossa personalidade.
Fazeis uma tentativa de personi car o homem verdadeiro  sem
sucesso algum. Falais muito a respeito de vossa dedicação  mas
isso não traz o resultado esperado. Fazeis uma tentativa de dar

276A GNOSIS CHINESAum salto  mas caís novamente por terra, em vosso estado de
ser habitual. O que quer que façais é sempre e de nitivamente
negativo. Não sois hipócritas  apenas vos submeteis ao jogo do
rearmamento moral. Mas vossas armas não são verdadeiras, elas
não são mais do que ilusão.
Somos, portanto obrigados a concluir:
Tais condutas, comparadas ao Tao, são como restos de comida ou outras coisas repugnantes,
que sempre são abominadas.
Quem tenta a autorrealização da maneira acima descrita termina
por seguir o caminho da evolução de que falamos no capítulo precedente: ele vai do individualismo primitivo à uni cação forçada,
sinal do m.
Imaginai agora a realidade de nossa Jovem Fraternidade Gnóstica. Sem dúvida, nossos alunos constituem um grupo. Todos eles
conhecem mais ou menos a unidade de grupo. Mas, será que eles
fo
rmam realmente uma comunidade de almas viventes? Teriam
eles ultrapassado seu estado de nascidos da natureza e, portanto,
seu egoísmo essencialmente animal, como dito acima?
Se a resposta a essas questões for negativa, não será então o
rearmamento moral que mantém esse grupo? Eles não cessam
de tomar resoluções, de mergulhar em novas reflexões, de se aplicar normas corretivas  e são sempre decepcionados, porque o
egoísmo não desaparece. Eles se ferem mutuamente devido a diferentes tipos de caráter, de comportamento, e isso acarreta muito
sofrimento.
No fundo, vossa vida não se tornou mais fácil. Seguistes determinado caminho na condição de individualista convicto, e eis
que ¯egastes em uma comunidade! E como vosso egoísmo está
sempre presente, vos colocastes sob a lei: inúmeras regras ordenam a vida da comunidade! Tudo o que acontece retorna de uma
ou outra forma. O sol se levanta, o sol se põe, e tudo permanece
o mesmo. Um grande cansaço se apodera de todos.

27724-II · OS MUROS DE JERICÓE para onde quer que se dirija a humanidade como um todo, a
comunidade dos individualistas é a primeira a ¯egar. Ela atingiu
o limite de seu desenvolvimento. Não há maiores moralistas do
que vós  isso é impossível! Tirastes disto tudo o que pudestes, e
agora ¯egastes a uma fronteira. A partir daí, como escola, como
grupo, estais diante do m, do m absoluto  pois, que mais
pode haver?  ou então de um irrompimento!
Quando um indivíduo ou um grupo quer livrar-se do egoísmo
fundamental, ele deve começar por lançar-se à frente no caminho
dos homens até o m inelutável, até os limites do que é humanamente possível alcançar. Todo o arsenal do rearmamento moral
deve ser dissipado antes que seja possível transpor esses limites.
Entretanto, ele sempre retorna ao deserto pela força de atração
do egoísmo e do instinto de autoconservação.
Seria, então, inútil salvaguardar uma moralidade elevada? Seria,
então, injusti cada a manutenção de uma moralidade de grupo,
quando isso parece trazer tanta tristeza e fracassos?
Não, isso torna o indivíduo e o grupo aptos para a grande autorrendição. Em outras palavras: vós vos dispondes a renunciar a
cada exigência egoísta  por exemplo, a necessidade de impordes
uma opinião pessoal  a favor da única vida que é a vida da alma,
que é a vida da verdadeira terra prometida. Somente quem vive
no Tao vence o egoísmo.
As qualidades de alma, que se acumulam em vosso corpo vital
devido à vossa participação na Escola Espiritual, devem ser capazes de manifestar-se, devem poder transformar-se no Outro. Por
isso, para tornar desperto esse Outro que dormita em vós, deveis
fazer o velho homem calar-se, dia e noite; deveis subordinar e
renunciar a cada impulso da natureza em favor do Outro em vós.
Somente os que vivem no Tao ultrapassam o egoísmo. A alma,
que deve tomar forma no corpo vital e nele crescer, segue normas de vida completamente outras. O campo de vida da alma é
completamente diferente da esfera terrestre grosseira. Se desejais

278A GNOSIS CHINESAabandonar o deserto onde vacilais a cada passo, apenas existe um
meio: praticar conscientemente a autorrendição até os mínimos
detalhes.Sempreconsiderarooutrosuperiorasimesmoeaplicar
a mais elevada moralidade.
Isto quer dizer: manter as normas da Escola Espiritual, a lei
do Tao, à frente dos vossos interesses, à frente dos interesses dos
vossos familiares, dos vossos amigos e amigas e de todas as vossas
relações,eissoatéosmínimosdetalhes.Estaéaaplicaçãodalei
de amor em sua própria essência. “Ama a Deus sobre todas as
coisas e a teu próximo como a ti mesmo”.
Se vos colocardes a vós mesmos sob as leis do Tao, mediante
vossocomportamentoparacomopróximo,confrontareisvossos
companheiros com essa lei única do amor divino, e os auxiliareis
e os impulsionareis adiante.
Quando essa atitude de vida for absolutamente certa e puder
ser ¯amada fundamental, é sinal de que a alma nasceu, e o Espírito Sétuplo entra progressivamente em ligação com ela. No
decorrerdesseprocessocompreendei osimbolismo!dareis
setevoltasaoredordolocal¯amadoJericó.Trata-sedoespaço
maravilhoso designado como “o novo campo de vida”. E por
m, na sétima volta, os muros que vos separam da renovação
fundamental caem  e estareis livres!
Vossa vida se desenvolve, portanto, entre dois polos: egoísmo
e moralidade, os quais se opõem mutuamente e procuram neutralizar-se, porém sem resultado. No sentido negativo, é possível
que o egoísmo saia vencedor. O homem, então, cai a um nível
subanimal. No sentido positivo, ele é levado até o limite. Caso
nãoconsigatranspô-lo,continua,conformeasantigaslendaso
enfatizam, a perambular através do deserto durante quarenta
anos, o número da plenitude, sob o domínio do egoísmo e da
moralidade sem esperança.
O egoísmo é sempre a víbora que vos engana e vos pica. A moralidadetentaimunizar-voscontraosperigos.Éofogodevorador

27924-II · OS MUROS DE JERICÓno qual se consome o ser nascido da natureza. É o inferno que ele
criou para si mesmo até no mais elevado estado de moralidade.
O grupo todo da jovem Gnosis está no limite, graças a Deus! É
por isso que ele sente o violento sofrimento do desespero, graças
a Deus! O fogo arde intensamente, graças a Deus! E por isso
o desespero: “O que mais, em nome de Deus, podemos fazer?”
Quem do coração solta esse grito compreende o que deve ser
compreendido, graças a Deus!
Porque existe um estado de vida completamente diferente.
Existe outra moralidade que não pode e nem deve ser ¯amada
dessa forma; nós a ¯amamos: autorrendição. Em outras palavras,
trata-se de fazer que toda a vossa existência, todos os vossos interesses, tudo o que caracteriza vosso egoísmo, do mais individual
ao mais abrangente, tanto o egoísmo pessoal como o impessoal,
dependam da vida no Tao, do ser do Tao. É necessário fazer que
tudo dependa da Escola Espiritual e da Gnosis e, como Jesus,
ocupar-se inteiramente “dos assuntos do Pai”. A rmar, como o
menino Jesus a seus pais: “Mulher, que tenho eu contigo?” (Jo
2:4) Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”
(Lc 2:49). Essa é a vida no Tao, isso é participar do amor divino.
Isso signi ca a libertação da alma, a queda dos muros de Jericó.
Estamos diante desses muros como Escola Espiritual e como
grupo. Não sejamos infelizes nem nos desesperemos por causa da
incompreensão, e não nos critiquemos mutuamente por causa
do egoísmo que é absolutamente natural, mas permaneçamos na
alegria e façamos sete voltas ao redor dos muros de Jericó.


28124-III
DEVOTAMENTO AO TAO
Com referência a nossas explicações do capítulo 24 do Tao Te
King
de Lao Tsé, talvez seja importante dirigir vosso olhar para
o que segue. Na Doutrina Universal é grandemente enfatizado
que enquanto o eu da personalidade, ou o egoísmo como estado
de consciência, ainda não está dissolvido completamente naquilo
que denominamos alma, não se pode falar, nem se falará, de novo
estado de vida.
Contudo, ninguém deve partir do pressuposto de que é preciso começar pelo aniquilamento total do eu, pois enquanto o
instrumento de consciência superior, isto é, a alma, ainda não
cresceu em vós, tendes necessidade de um instrumento de consciência inferior para a coesão dos veículos da personalidade em
sua tríade. Além do mais, o eu, em seu sacrifício, deve, primeiro,
conduzir a personalidade através da noite, até a aurora do dia em
que a alma possa tomar a direção da personalidade.
Portanto, vede-o claramente: uma tarefa é atribuída ao homem-eu, ao homem egocêntrico. É por isso que os escritos sagrados nos advertem que, durante a peregrinação do eu inferior, do
eu terreno, o viajante jamais atinge o objetivo situado no outro
lado do rio.
Se compreendêsseis isso, os problemas que vos preocupam atualmente tomariam outro aspecto. O homem nascido da natureza,

282A GNOSIS CHINESAo homem egocêntrico, tem uma tarefa a cumprir. Fundamentalmente, ele tem um objetivo a atingir. Como ser egocêntrico, ele
não é mau, nem pecador, nem anormal na onimanifestação. Mas,
em sua atual situação e no campo de vida em que vive, tanto
sua consciência como sua natureza devem servir para libertar
o Outro em si, ou seja, o homem-alma. Ele só se torna pecador,
anormal e mau se ele não realizar a tarefa que está no fundamento
de seu ser.
Todas essas ideias estão contidas na imagem familiar da gura
dupla João-Jesus: João é o homem que cumpre sua tarefa de autorrendição; Jesus, o homem-alma, é liberto e batizado por João.
Jesus, o Senhor, a rma, acerca de João, que ele é o maior dentre os
nascidos da natureza, pois é ele quem torna possível o nascimento
do verdadeiro homem, do verdadeiro homem-alma.
Provavelmente compreendeis a extrema importância não somente de ver claramente vossos limites e vossas possibilidades
terrenas de homem nascido da natureza, mas, ao mesmo tempo,
de descobrir vossa missão e de colocá-la no centro de vossa vida.
É por essa razão que vos falamos sempre da nova atitude de vida,
da atitude de vida de quem quer cumprir a única missão que lhe
fo
i con ada por Deus. Se essa for a vossa vontade, se seguirdes
essa senda, então, e só então, o Cristo em vós se revelará.
Compreendei, entretanto, o signi cado das palavras, que talvez conheçais muito bem, segundo as quais Cristo  a alma com
a qual o Espírito Sétuplo está em ligação  toma para si todos
os vossos pecados. As palavras: “Ainda que os vossos pecados
sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve”
(Is 1:18). Se, como um dos ¯amados, percorrerdes a senda da
endura, a senda da autorrendição, e se em vós a alma tornar-se
realmente vivente, então essa alma vivente atrairá e elevará para o
novo campo de vida tudo o que se encontra oculto em vosso microcosmo, conferindo a essa entidade completa as características
do novo estado de vida. Portanto, o Filho divino se manifestará

28324-III · DEVOTAMENTO AO TAOem vós como o Salvador, o sublime Redentor. E ele tomará para
si todos os pecados.
Como percorrer essa senda? O caminho já vos foi demonstrado e explicado muitas vezes, bem como o método que se deve
seguir para realizar essa peregrinação. E ele consiste no devotamento ao Tao. Deveis realizar uma “conversão” em vosso caminho de vida, como o fez Cristiano Rosa-Cruz na véspera da
Páscoa. Nessa reorientação, devereis abandonar e rejeitar conscientemente vossa personalidade nascida da natureza, que é vosso
egoísmo,e,comtotallucidez,renunciaraservirunicamentevossa
própria pessoa, atitude esta que engendra todos os pecados e todos os sofrimentos. E, a partir desse momento, devereis servir e
obedecer ao Tao, que é o amor impessoal.
O homem nascido da natureza do período atual é um ser cuja
personalidade está muito cristalizada. Sua natureza, sua consci­
ência e seus órgãos estão totalmente de acordo com a esfera vital
em que ele permanece. A alma não pode permanecer nessa esfe
ra vital. Quando muito a alma pode ¯amá-lo e estimulá-lo a
buscar o reino da alma e dele aproximar-se. Porque o reino do
príncipe-alma não é deste mundo.
Se o homem obedecer e escutar esse ¯amado, ele ainda terá
necessidadedeseuestadodeconsciênciaparticular,adaptadoa
suas necessidades, a m de dar início ao trabalho de tornar retos
os caminhos até o limite inelutável, até as margens do Jordão.
Somente então o Outro tomará a si a tarefa e o conduzirá por caminhos que, como homem-personalidade, ele não poderia seguir.
O Outro nele fará seu ser inteiro progredir de magni cência em
magni cência.
O homem da mais remota Antiguidade sempre teve consci­
ência desse poderoso processo de salvação. No entanto, ele caiu
prisioneiro do esquecimento. Não obstante, os Mistérios sempre
conservaram a sublime ciência da libertação. Da mesma forma
que alguém quemergulha nasprofundezasdo mar necessita de

284A GNOSIS CHINESAum equipamento especial, também o homem que mergulhou no
nadir da materialidade necessita de um estado de consciência
especial. Se ele deseja escapar do nadir, é preciso que abandone o
estado de vida do nadir, que renuncie a ele. Isso quer dizer que,
em dado momento, um estado de consciência absolutamente dife
rente, novo, o estado de consciência da alma vivente, toma o
lugar do antigo: “Quem perder a sua vida por amor de mim”, diz
Jesus o Senhor, “a¯á-la-á”  isto é, encontrará o Tao.
Se considerais tudo isso simplesmente como uma questão de
moralidade, como um novo aspecto da armadura moral que já
possuís, então o nadir, o limite, vos reterá. Todavia, se adotardes
uma atitude de vida totalmente oposta ao vosso egoísmo, esse
comportamento colocará um m em vosso estado natural e ao
mesmo tempo vos libertará completamente.


286
Antes que céu e terra existissem havia um ser inde nido.
Quão quieto e calmo. Quão imaterial.
Ele se mantém só, em si mesmo, e não se modi ca.
Ele flui através de tudo e, no entanto, não corre perigo.
Poder-se-ia designá-lo a Mãe de tudo o que existe debaixo do céu.
Não sei seu nome.
Mas, querendo atribuir a “isso” um nome, eu o denomino Tao.
Se sou forçado a descrevê-lo, então eu o ¯amo grande.
Além de grande, eu o ¯amo fluente.
Além de fluente, eu o ¯amo distante.
Além de distante, eu o ¯amo aquele que sempre retorna.
Por isso o Tao é grande, o céu é grande, a terra é grande, o Rei é
grande.
Existem quatro grandes potências no mundo, e o Rei é uma delas.
A lei do Rei é terrena, a lei da terra é celeste e a lei do céu é do Tao.
Porém a lei do Tao é dele mesmo.
Tao Te King, capítulo 25

28725-I
RELIGIÃO E TEOLOGIA
Antes que céu e terra existissem havia um ser inde nido. Assim
começa o capítulo 25 do
Tao Te King. Com estas palavras, compreendeis, sem dúvida, que este capítulo visa dar-nos indicações
sobre a evolução das coisas sob seus dois aspectos: o cosmo e o
anthropos, ou seja, o mundo e o homem. Para isso, ele dirige nossa
atenção ao fato de que, antes da existência do céu e da terra, existia “outra coisa”. A maioria dos que se dedicam à metafísica, ao
estudo do supra-sensorial, esqueceu completamente essa ideia. O
que é lamentável, pois, sem esse conhecimento, indubitavelmente
cometemos erros.
Se prestardes atenção a esse primeiro versículo do capítulo
25, compreendereis que, desde o início, existem efetivamente
dois campos de natureza astral, dois espaços. Essa ideia é absolutamente familiar àqueles que pertencem à jovem Gnosis. Com
efeito, a rmamos sempre a existência da natureza da morte e da
natureza da vida, da natureza dialética e da natureza original. E
esse conceito não é puramente losó co, porém cienti camente
demonstrável.
Certamente, toda a manifestação da salvação gnóstica baseia-se
nele: a senda da natureza dialética leva à natureza original. A
loso a gnóstica de todos os tempos sempre mencionou esses
dois espaços, essas duas naturezas, sempre falou sobre as regiões
de vida e as regiões da libertação.

288A GNOSIS CHINESAA esse respeito é preciso fazer uma distinção sutil que nem sempre é notada. Existe uma grande diferença entre as águas da vida
e a água viva. A Doutrina Universal a rma que a água viva serve
para a libertação daquele que se encontra nas águas da vida. Outrora existia uma cooperação interior entre a água viva e as águas
da vida, quando estas ainda não estavam corrompidas, quando
ainda não se tratava de uma queda, porém de um campo de desenvolvimento em equilíbrio com a natureza única, a de Deus
mesmo. Portanto, o que outrora servia para a criação serve atualmente para a regeneração. Trata-se de dois poderosos campos de
natureza astral: um campo que tenta, sem cessar, criar e manter a
ordem no outro campo astral.
Na Bíblia, encontramos igualmente o antigo ensinamento sobre as duas naturezas. As palavras: “No princípio, Deus criou o
céu e a terra”, por exemplo, referem-se a essa ideia. Isso se torna
evidente se pensarmos que os escritos originais não utilizam a
palavra “Deus”, porém uma forma no plural, como Se rotes e
Elohim. Essas denominações revelam-nos a existência de ondas
de vida bem superiores à nossa e quali cadas como absolutamente
puras, perfeitas e divinas.
Os teólogos das diversas tendências religiosas suprimiram deliberadamente essas denominações, porque sua teologia, hoje
como ontem, não passa de uma “ciência” no sentido comum, portanto não se baseia na sabedoria universal. Eles queriam impedir
que seus adeptos, que os viam como oniscientes, perguntassem
quem eram exatamente os Se rotes ou os
Elohim. Eles não poderiam dar nenhuma resposta sem referir-se aos lósofos gnósticos,
que nunca temeram a verdade, porque a possuíam e tinham a
capacidade de compreendê-la. Esses teólogos prefeririam a morte
a ter de se mostrar tão claramente inferiores àqueles que eles
renegavam, perseguiam e mandavam matar. Além disso, eles perderiam todos os seus adeptos. Portanto, eles esconderam-se atrás
da designação abstrata “Deus”.

28925-I · RELIGIÃO E TEOLOGIAO prólogo do Evangelho de João também mostra claramente a
existência de dois campos de vida: “o Verbo” e “as trevas”. Porque
as trevas não compreenderam o Verbo, os enviados do Verbo
vêm até as trevas. E veri camos, sempre novamente, que a cada
era são justamente os enviados da luz e seus servidores que são
perseguidos pelos grupos de teólogos. E quer os ¯amemos de
teólogos, escribas ou fariseus, os fatos permanecem os mesmos.
Jesus, o Senhor, foi perseguido e condenado à morte pela igreja de
seu tempo, com a anuência das autoridades. Enquanto o mundo
dialético, a natureza da morte, perdurar, nenhuma modi cação
ocorrerá nesse sentido.
Podeis observar que as grandes calamidades que, desde o início
da nossa era, se espargem sobre nosso campo de vida não são o
resultado do que temos o costume de ¯amar de “religião”, mas
unicamente daquilo que tomamos por ciência. A teologia é somente o produto de uma atividade intelectual. Por essa razão,
ela só pode ser desastrosa, como todas as demais ciências, a menos que seja baseada na sabedoria universal e provenha da fonte
da água viva. Toda ciência cujo desenvolvimento não se originou dessa fonte invariavelmente provocou desastres através da
história da humanidade.
Seria muito importante que os homens compreendessem a
única exigência que lhes é imposta. Primeiro, em meio à degradação da vida atual, é preciso que o coração expresse o desejo de
resolver a confusão e os problemas que esmagam cada vez mais
o mundo e a humanidade. O impulso do coração, o anseio do
coração e o ímpeto para a sabedoria, é a matriz da verdadeira religião e da verdadeira ciência. Se conheceis esse estado de ser, essa
opressão do coração, essa aspiração, esse impulso do coração que
nos faz procurar resolver os problemas da vida, então o desejo de
sabedoria nasce em vós.
O que é o mundo e o que é a humanidade? Qual é a missão e
o caminho da humanidade?

290A GNOSIS CHINESAPelo impulso do coração os órgãos intelectuais são colocados
em movimento. O processo do pensamento sustenta o impulso
do coração. A mente busca, procura uma solução por todas as
partes. Desse modo, primeiro surge uma loso a especulativa.
A boca fala e dá testemunho do desejo, da busca, do raciocínio
intelectual e de tudo quanto foi encontrado e descoberto. Daí
resulta um longo caminho de experiências.
Então, o homem segue seu caminho através das contradições
da natureza da morte e descobre que tudo vai e vem, sem que
nada se modi que. Desse modo, o desejo  como atividade do
coração  e a pesquisa intelectual  como atividade do santuário
da cabeça  são estimulados, levando cada vez mais o homem a
pesquisar e desejar e tentar servir a humanidade.
Então, no devido momento, todas essas especulações ¯egam
ao m, pois, subitamente, no decorrer do processo, a luz do outro
reino penetra até as profundezas do ser. Pela graça e pela verdade,
o Verbo fende as trevas, e a loso a do pensamento especulativo é substituída pela grande realidade mesma, pela força e pela
sabedoria únicas e perfeitas que pertencem ao Tao.
É somente dessa sabedoria, dessa Doutrina Universal, como
posse de primeira mão, que serão geradas a religião e a ciência
capazes de dar à humanidade a alegria, a paz, o amor e a felicidade
verdadeiros. É por isso que se diz que somente o amor liberta e
que Deus é amor. Daí as palavras: “Ama a Deus sobre todas as
coisas e a teu próximo como a ti mesmo”.
Deveis compreender isso muito bem, pois todos os homens
têm muitos amores neste mundo: sexo, família, matéria, país,
povo, raça, amigos, amigas e sua vida  e sob o impulso de sua
condição humana, eles retêm e abarcam muitas coisas e muitas
pessoas, inclusive a Escola Espiritual da Rosacruz.
Mas, tudo isso, sem exceção, só se refere às primeiras fases do
processo inevitável, o desejo e o pensamento especulativos  até o
momento em que a verdade vivente mesma desperta no homem.

29125-I · RELIGIÃO E TEOLOGIAEntão, a Divindade, que é amor, desce até ele como posse de
primeira mão. E ele próprio se torna amor, como Deus é amor.
Amai a Deus sobre todas as coisas. Se, dessa maneira, encontrastes Deus  e cuidai para não tomar essas palavras como uma
expressão mística da qual constantemente se faz mau uso  se
encontrastes Deus no caminho da consciência gnóstica, somente
então podereis amá-lo verdadeiramente. E quando, em verdade e
em realidade, vos tornais desse modo semelhantes a Deus, podereis aproximar-vos de vosso próximo como sois, com a força que
possuís; e somente então podereis amá-lo como a vós mesmos.
Então,somenteduascoisassãopossíveiscomocomportamento
inatacável e inviolável: servir e amar a Divindade, o ser que está
acima e além da terra e do céu, a realidade essencial do outro
reino  e porque vos tornastes semelhantes a essa realidade, a
essa natureza, servireis e amareis igualmente ao vosso próximo
graças ao vosso estado de ser. Não podereis fazê-lo de outro modo.
E, então  porque não podeis fazê-lo de outro modo  apenas
vos restará apresentar ao vosso próximo as exigências da senda e
oferecer-lhe a força para corresponder a elas.
Suponde que, em vista de vossa existência, vos tenhais transfo
rmado em luz. Acaso vos acercaríeis de vosso próximo com as
trevas? Seríeis capazes de permanecer impassíveis enquanto vosso
próximo servisse as trevas? Aquilo que sois, isso manifestais nos
outros e para os outros. É a única coisa que podeis oferecer a vosso
próximo para revelar-lhe a força necessária ao cumprimento da
exigência única. E, caso ele não possua nem a capacidade nem
a vontade de satisfazer a essa exigência de amor, então vós o
amareis a ponto de deixá-lo completamente livre, de libertá-lo.
Porque, vós o sabeis, quem não é da Gnosis, quem ainda não pode
sê-lo, não entra no outro reino. Reter esse homem signi caria
queimá-lo. E isso não é amor.
É por isso que o grande amor ao próximo, que pertence à realidade mesma, está sempre pronto a esperar. E esperará até que

292A GNOSIS CHINESAo equilíbrio entre as duas naturezas seja atingido: uma, a natureza única, que é de Deus, e a outra natureza, a do campo de
desenvolvimento. Assim que esse equilíbrio é atingido entre esses
dois campos de vida, entre essas duas naturezas, eles se fundem
num só. Refleti sobre tudo isso antes que passemos à análise do
capítulo 25.

29325-II
ANTES QUE CÉU E TERRA EXISTISSEM
HAVIA UM SER INDEFINIDO
Como dissemos, existem dois espaços, duas naturezas. Designamo-los como a natureza da vida e a natureza da morte, a natureza dialética e a natureza divina. Na natureza dialética opera continuamente o movimento das forças opostas. Como os homens
não compreendem as forças opostas, elas ocasionam muito sofrimento e tristeza, principalmente quando os homens se agarram
a um desses aspectos para retê-lo.
A natureza dialética foi concebida como a escola de aprendizado da eternidade. Por isso é necessário que as coisas não parem
de mudar, de ir e vir, de se suceder alternadamente em seus dife
rentes aspectos. Portanto, no grande espaço da natureza da
morte vemos não somente mudanças nas diferentes sociedades
humanas  mudanças essas provocadas pela rotação e pela alternância das irradiações  mas também transformações estruturais
fundamentais.
É dessa forma que a estrutura de nosso planeta se modi ca
de tempos em tempos. Continentes desaparecem no fundo do
mar e outros dele emergem. Pela precessão dos equinócios, os
climas se modi cam segundo o deslocamento dos polos. Existem
igualmente períodos em que o planeta todo se dissolve, morre e
desaparece. O sistema solar, igualmente, representa uma forma

294A GNOSIS CHINESAde vida submetida a diversas encarnações. Não é apenas a personalidade que surge para, a seguir, volatilizar-se, mas também
a manifestação planetária. A inteira vida solar, igualmente, está
sujeita a um m e a uma revivi cação.
O que queremos, agora, é que vivi queis essa imagem o mais
que puderdes dentro de vós. Considerai com muita atenção o
fato de que, antes de vossa existência, havia algo mais: vosso microcosmo ou mônada. Antes de vossa existência, havia um ser
inde nido, imaterial e, em comparação com vosso estado de vida,
tranquilo e calmo. Que diferença! Vós, uma criatura que provém
e vive no movimento, e vossa mônada, que provém e vive de algo
totalmente diferente. O mesmo acontece com a terra. Antes de
seu surgimento havia um ser inde nido, perfeitamente imaterial. Periodicamente, a terra se contrai pela ação dos movimentos
que a atormentam e emergem em sua superfície a partir de suas
profundezas. Porém, a outra terra, aquela que João viu descer e
revelar-se diante dele, essa outra terra, é completamente imaterial.
É preciso distinguir entre o Espírito planetário, que é uma manifestação material, e o Logos planetário, a existência monádica do
planeta. A mesma relação existe para a vida solar, para a vida no
zodíaco, nas galáxias e no espaço dialético como um todo.
Contemplando e vivenciando tudo isso, podemos concluir que,
no fundo, o espaço dialético inteiro, com todas as suas formas e
aspectos aparentes,
não existe. Podemos ¯amar algo que aparece
e desaparece de realidade superior? Trata-se de uma ilusão que
se dissipa por si mesma.
Quanto a vós, o que não é uma ilusão, porém uma realidade, é
o microcosmo. O microcosmo é a eternidade, o real; a personalidade: o nito, o irreal.
Quanto ao nosso cosmo, o que é real é o Logos planetário, o
qual se manifesta eternamente; quanto à vida solar, é Vulcano.
No que diz respeito ao todo, é a outra onimanifestação, a grande
realidade superior, a natureza da água viva verdadeira, o Tao. Do

29525-II · ANTES QUE CÉU E TERRA EXISTISSEM . . .Tao provêm e vivem os microcosmos, todos os Logoi planetários,
Vulcanianos e todos os Cosmocratas.
Assim, podeis ver claramente o contraste entre o material e o
imaterial. O imaterial  a grande realidade da verdadeira onimanifestação divina da qual se trata aqui  se mantém por si mesma
e não se modi ca. Ela flui através do todo e, no entanto, não corre
perigo. Ela é, em essência, o Pai-Mãe da outra onimanifestação, a
material.
Dessa forma, levados por Lao Tsé, invertemos todas as relações.
A grande realidade da imutabilidade é diametralmente oposta
ao que o homem denomina realidade. Esta, no fundo, não existe.
Acaso não a rmais diariamente: “Preciso considerar bem isso, é
a minha realidade, é a minha vida”? Se pensais assim, ainda não
viveis. Ah, se vivêsseis de fato! Se assim falais, vós, no fundo, não
existis.
Não existir? Perguntamo-vos, porém: podemos ¯amar de real
algo que desaparece continuamente, que se volatiliza completamente? Vós o vivenciais sempre como sendo real, porque vos
esforçais para vê-lo desse modo e porque vos agarrais a ele para
retê-lo.
Se, interiormente, considerásseis e percebêsseis como irreal
essa aparente realidade, como algo que, do ponto de vista taoístico,
efetivamente
não existe, e se vivêsseis esse não ser psiquicamente
de modo real, assumiríeis verdadeiramente vossa grande realeza.
O microcosmo é uma realidade. A personalidade é apenas uma
projeção, uma imagem refletida. Uma imagem refletida não é,
entretanto, a realidade!
No entanto, através da imagem refletida, a única realidade
poderia efetuar um poderoso trabalho pelas irradiações e pelos
efeitos refletores. A única realidade absoluta manifestar-se-ia através da imagem refletida. Um poderoso trabalho de irradiação seria,
então, realizado. Quando a ilusão vos abandona, quando arrancais vossas vestes de bufão e vos redescobris como uma projeção

296A GNOSIS CHINESAda eternidade, desenvolve-se um poderoso trabalho de irradia­
ção. Então a luz consegue brilhar nas trevas, onde quer que elas
apareçam.
Eis aí a realidade acerca do não ser. Esta é a razão por que
dizemos: “Não eu, mas o Deus em mim; não eu, mas o Outro.
Não eu, mas o Pai em mim”. Da mesma forma que a projeção é
causada por aquilo que se projeta, assim o Filho provém do Pai.
É por isso que o Filho pode dizer: “O Pai e eu somos um”.
Quando o instinto de conservação desaparece, quando ele vos
abandona completamente, quando a ilusão que vos faz a rmar
“Eu sou isto, e possuo aquilo” cede, quando tudo isso se dissipa, então também vós podeis declarar: “O Pai e eu somos um”. Quando
vos elevardes ao não ser, quando encetardes a endura e praticardes
a grande autorrendição, portanto quando neutralizardes completamente a ilusão de vossa própria existência, então vos tornareis
um com o Outro.
Então se con rmarão as palavras: “Quem perder a sua vida” 
sua existência egoísta  “por amor de mim, esse, justamente por
isso, a conservará”. A personalidade deve novamente responder
à lei da outra natureza. Este é o segredo da existência: há uma
atitude de vida que, se adotada por vós, permitirá à realidade, ao
Único, projetar-se através de vós.
Nessas condições não é, pois, evidente, não é importantíssimo
falar com insistência acerca desse único imperecível? E nos fundirmos nele, em autoesquecimento e num total não ser, buscando
já não conservar-nos? Então, tudo vem. Então, tudo
é. Então,
uma poderosa luz invade as trevas da existência para a bênção de
incontáveis. A natureza da morte deixa de ser apavorante.
Se compreendeis agora tudo isso como deve ser compreendido,
então, em vós, no tão embaciado e man¯ado espelho do coração,
a voz da rosa, a voz da mônada, poderá emitir seu ¯amado. E isso
através do
wu wei, do não ser, da endura. E vosso coração cará
pleno do desejo da única solução possível.

29725-II · ANTES QUE CÉU E TERRA EXISTISSEM . . .Como dito anteriormente, essa aspiração engendra o desejo
de liberar essa sabedoria. Quando a loso a especulativa ¯egar a
seu m inevitável, o espelho embaciado será limpo pela luz e pela
fo
rça do outro reino. Em determinado momento, o homem vê
“face a face”. A grande realidade se desvenda para ele em primeira
mão. A religião “dos que veem o invisível”, segundo a expressão
de Paulo, torna-se, então, uma atitude de vida. A ciência do pensamento divino, que se projeta no intelecto, leva à prática da grande
arte de viver.
É assim que tudo é libertado através da compreensão e da atitude de vida do não ser. O não ser tem a capacidade de refletir o
ser, o absoluto. A grande maravilha espalhará, qual novo sol, sua
aurora na natureza das forças opostas, a qual volta a tornar-se a
escola de aprendizagem da eternidade.
Como de nir, em semelhante alegria, tal magni cência? Não
conhecemos seu nome, nós a denominamos Tao. Se devêssemos
descrevê-
lo, diríamos que ele é grande, sublime. Sendo grande,
diríamos que ele é fluente. Além de fluente, diríamos que ele
é distante. Além de distante, diríamos que ele sempre retorna.
Porque existem forças poderosas, que brilham e turbilhonam,
que tudo envolvem. Na base da onimanifestação existe um plano
sublime. Esse plano deve ser realizado. E se realizará!
Como? De que maneira? Ele se projeta, ele se reflete e, ao
projetar-se,elesetransformanumao cina,umao cinaalquímica.
Essa o cina torna-se uma realidade astral. A essa o cina, a essa
fo
rja, os microcosmos descem, bem como os Cosmocratas e as
entidades sublimes de geração divina.
Os golpes de martelo retinem e os cânticos se elevam, os hinos
de louvor dos que trabalham no único grande plano da realização
universal. O arquiteto é aquele que se projeta a si mesmo. Os
realizadores são as forças e os seres vivi cadores projetados.
O grande milagre torna-se realidade  o
Mysterium Magnum,a Grande Obra!

29925-III
A LEI QUÁDRUPLA DO TAO
No nal do capítulo 25 do Tao Te King, podemos ler:Por isso o Tao é grande, o céu é grande, a terra é grande, o
Rei é grande. Existem quatro grandes potências no mundo,
e o Rei é uma delas. A lei do Rei é terrena, a lei da terra
é celeste e a lei do céu é do Tao. Porém a lei do Tao é dele
mesmo.
A imagem da manifestação completa apresentada aqui mostra­
-nos claramente dois extremos: de um lado o Tao, do outro o
Rei.
QueméesseRei?Éapersonalidadehumanaque,emsuaforma,
manifesta a realeza. Qual realeza? Pois bem, o reflexo puro de
todas as intenções latentes no Tao.
É por essa razão que, em todos os escritos sagrados, a verdadeira personalidade humana é comparada a um templo e de nida
como tal. E não é dito aos homens, periodicamente e em tom de
reprimenda: “Acaso não sabeis que sois um templo de Deus?”
O templo de Deus é o templo da realeza do Espírito, o templo
dos homens da raça dos reis e sacerdotes. O templo no qual o
mais elevado desígnio do Tao deve nalmente exprimir-se. Do
Tao emana uma irradiação. Dos que são provenientes do Tao,
os microcosmos ou as mônadas, portanto também emana uma

300A GNOSIS CHINESAirradiação. Essa irradiação pode expressar, projetar tudo o que
está contido no microcosmo.
Compreendei e veri cai uma vez mais, perfeita e claramente,
o que Lao Tsé deseja fazer-vos compreender. O homem personalidade é a projeção, a expressão do ser. Sem a personalidade,
essa projeção é o não ser. Somente juntas elas formam a realidade do divino. Sem essa cooperação, em perfeita harmonia e
compreensão recíproca total, a personalidade humana é como
uma maldição e destinada ao aniquilamento. Sem essa coopera­
ção, a mônada é semelhante a um morto-vivo, como a es nge dos
mistérios egípcios.
Mas todos os que desejam participar da nova consciência deverão esforçar-se muito para atingir o objetivo xado. Trata-se
de uma atitude de vida nova e concreta, uma atitude de vida que
nunca está no meio-termo, uma atitude de vida orientada para
todas as irradiações que emanam do núcleo fundamental e em
total harmonia com elas.
A personalidade não recebe unicamente a vida da Divindade,
mas também um ensinamento vivo, irradiante. É por isso que, no
princípio, sempre há o Verbo.
A esse respeito, é sem dúvida interessante notar que o conceito
original de “religião” era completamente diferente em signi cado
e essência do das atuais condições de vida. Originalmente, o sacerdote não era um servo que celebrava os rituais sacerdotais ou
recitava as orações ritualísticas, porém quem vivenciava o divino
de maneira prática, direta. O que a mônada projetava, como efusão radiante, era compreendido e aplicado diretamente e, assim
convertido, tornado utilizável.
Para compreender isso, precisais apenas observar o antigo signi cado da palavra “sacerdote”. Os sacerdotes da antiguidade
não eram ministros de cerimônias e rituais religiosos. No longínquo passado, a palavra “sacerdote” signi cava “ lósofo”. Graças
ao estado de alma vivente desse lósofo, o Espírito projetava-se

30125-III · A LEI QUÁDRUPLA DO TAOna personalidade. Dessa força, por ela e nela, o sacerdote vivia e
existia em perfeita harmonia com o Tao. Ele não podia agir de
outra forma.
Portanto, o grupo de entidades da raça dos reis-sacerdotes formava a verdadeira Fraternidade dos homens-deuses, a Ordem
de Melquisedeque, da qual Jesus Cristo é, de pleno direito, ¯amado o sumo sacerdote. Essa Ordem observava uma lei, a lei do
verdadeiro estado humano, a lei do Tao em sua realidade vivente.
Foi desse modo que o “assim como em cima” tornou-se o “assim
embaixo”. A lei do Tao era a lei do Rei, do homem que adquirira
a realeza. Evidentemente, essa lei refere-se a uma missão a ser
cumprida na terra.
Se um grupo de reis-sacerdotes realmente realiza sua tarefa
na terra, disso emana obrigatoriamente uma influência santi cadora e abençoada sobre toda a terra. A terra é, pois, glori cada
pela realeza do homem. Uma terra glori cada torna-se una com
o céu, com um campo astral puri cado. E não poderia ser diferente, uma vez que, nessa elevação, a majestade do Tao acaba por
manifestar-se.
Portanto, se compreendeis tudo isso verdadeiramente, inclinai­
-vos diante das quatro grandes potências e da lei quádrupla: a do
rei, a da terra, a do céu e a do Tao. Observai bem o fato de que
Deus é luz. Mediante essa luz, a Divindade, a realidade e a verdade
do Tao se manifestam em vós, através do céu e da terra.
Que é exigido da personalidade para a realização dessas quatro
verdades? Em primeiro lugar, a grande puri cação do
wu wei, do
não ser, do não fazer, da autorrendição. Em segundo lugar, como
resultado, o renascimento da alma. Em terceiro lugar, consequentemente, a unidade de irradiação é estabelecida. E, em quarto
lugar, vem a comovimentação com o divino de que fala Hermes.
Assim, a lei quádrupla é restabelecida, a lei da plenitude divina.
Quem ingressa no comovimento restabelece em si o antigo
ritmo do Tao. É por isso que, outrora, esse comovimento era

302A GNOSIS CHINESAcomparado a uma dança. O ritual ulterior da dança tornou-se,
no melhor dos casos, uma aproximação de algo que foi perdido,
suscetível de ser restabelecido pelo verdadeiro homem que vive
no Tao. As irradiações da luz dão aos átomos um movimento
giratório. A substância astral forma, assim, as rodas dosmistérios,
as rodas do vir-a-ser universal. Quem percebe essas rodas ígneas
deve,conscienteepositivamente,acompanharessasforçasemseu
movimento e mover-se em harmonia com elas até a realização:
“Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte,
eumagrandenuvem,comumfogorevolvendo-senela;e
um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa,
como de cor de âmbar que saía do meio do fogo. E, do
meiodela,saíaasemelhançadequatroseresviventes[…]
Cada um deles tinha quatro asas […] E o fogo resplandecia e do fogo saíam relâmpagos […] Eu os observava e
eisquehaviaumarodanaterrajuntoaosseresviventes,
brilhante como berilo […] andando eles, andavam elas”
(Ez 1:4,21).


304
O pesado é a raiz do leve; o descanso é o mestre do movimento.
Por isso o sábio jamais desiste do pesado e do descanso.
Pormaisqueaindahajabelezasaseremvistas,elepermanecena
paz e se afasta delas.
Mas, infelizmente, o Senhor das dez mil carruagens considera o
reino leve para si.
E, considerando-o leve, ele perde seus ministros. Deixando-se arrastar, ele perde sua soberania.
Tao Te King, capítulo 26

30526-I
O PESADO É A RAIZ DO LEVE
Certamente conheceis a força da gravitação, seus efeitos e sua
origem. Para o homem atual, ela é determinante levando-se em
conta os consideráveis esforços empreendidos pelos físicos para
vencer as forças gravitacionais da terra.
É sabido que todos os corpos celestes, inclusive a terra, possuem uma força de atração magnética. Consequentemente, tudo
o que pertence à terra, tudo o que é de sua natureza, não podendo
desprender-se dela, é mantido em seu lugar, e portanto tem a
possibilidade de vida.
A força da gravidade tem dois aspectos, duas propriedades. A
mais conhecida é a força de atração; a outra, a de repulsão. Através
da força de repulsão, tudo o que não é da mesma essência da terra
e que, portanto, poderia sernocivo a ela e suas criaturas, é repelido
e mantido afastado de seu sistema.
Essa dupla ação da força da gravidade provém do décimo estrato terrestre, notadamente do coração da terra, onde se encontra o núcleo central do Espírito planetário. Esse foco determina
a atividade gravitacional dos outros nove estratos. Daí resulta
que, além da esfera material com seus dois aspectos, isso também
se refere à esfera etérica com seus quatro aspectos, bem como às
esferas astral e mental com seus dois aspectos. Portanto, todos os

306A GNOSIS CHINESAcampos de manifestação da personalidade estão sob o controle
das influências gravitacionais que emanam do Espírito da terra.
A personalidade possui, além docorpo material, o corpo eté­
rico, o corpo astral e uma pequena parte da faculdade mental. A
faculdade mental ainda não está totalmente desenvolvida como
corpo da personalidade. Os veículos da personalidade estão, portanto, perfeitamente submetidos à atividade gravitacional dos
diversos aspectos de nosso planeta. Portanto, não é somente o
corpomaterialqueéatraídopeloEspíritodaterra,mastambémo
corpoetérico,ocorpoastraleaspartesmentaisdapersonalidade.
Isso explica por que a rotação da roda do nascimento e da
morterefere-seunicamenteaosdiversoscamposdemanifestação
doEspíritodaterra.Quando,nodecorrerdeumaviagemespacial,
um cosmonauta escapa mecanicamente do poder de atração direta da esfera material, automaticamente ele passa para o campo
etérico, depois para oastral e, a seguir, para ocampo situado na
fronteira da esfera mental. Adiante disso, existe apenas o nada
absoluto para a personalidade, um vazio, pois ali outras forças
eletromagnéticas de gravidade exercem sua influência, exigindo
diferentes condições astrais, mentais, etéricas e materiais.
Essa última fronteira é válida para todo mortal cujo coração
está inteiramente ligado ao coração da terra. No interior desse
limite, as vidas das personalidades se sucedem no microcosmo, o
qual está ligado ao Espírito planetário. O Espírito planetário é o
centrodegravidadetantodomicrocosmocomodapersonalidade.
Nenhum microcosmo pode, facilmente, libertar-se da reclusão
nessaesferaeletromagnética.Porém,oscapítulosprecedentesvos
mostraram que existe outra terra, absolutamente invisível para
o mortal nascido da natureza, embora loso camente demonstrável. Trata-se da terra santa, do sistema planetário do Logos
planetário.
A Doutrina Universal mostra a diferença entre o Espírito planetário, que é responsável pela vida material grosseira, e o Logos

30726-I · O PESADO É A RAIZ DO LEVEplanetário. O Logos planetário é o Senhor do planeta original, inviolável e divino, região essa de um indescritível esplendor eterno.
Nosso planeta é proveniente dessa terra santa, desse planeta original, e é a escola de aprendizado, o campo de evolução, onde o
microcosmo deve entrar e de onde ele se elevará, quando terminar seu aprendizado, para retornar à Pátria. O Logos planetário
é, pois, o princípio  o Alfa  e também o m  o Ômega.
Portanto, a grande missão em que se baseia a existência de cada
microcosmo é, depois de completada a viagem, a de celebrar seu
retorno ao Ômega e ouvir as palavras: “Eis que faço novas todas
as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são éis e
verdadeiras […] Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o m. A
quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da
vida”.
Vede, portanto, claramente a que ponto as duas naturezas, de
que a Gnosis dá testemunho, estão estreitamente ligadas. Vede
como os dois sistemas solares com seus planetas, portanto, com
nossa terra e a terra santa, elevam-se completamente um no outro,
embora separados. Vede como o microcosmo encerra em si ao
mesmo tempo “a Pátria” e “a terra do exílio”. E compreendei por
que vos é dito periodicamente: “O reino de Deus está em vós”.
O microcosmo que nos envolve é o aspecto absoluto do planeta
original, a terra santa. A personalidade pertence à terra terrena.
O microcosmo provém da terra do Pai, do lar do Pai; a personalidade provém da natureza dialética. À personalidade são dirigidas
as palavras: “O reino de Deus está em vós”.
Estaríamos exagerando? Não seria mais adequado dizer: “O
reino de Deus está muito próximo”? Não! Para bem compreendê-lo, observai a relação que existe entre o Espírito planetário
e o Logos planetário. Sobre o Espírito planetário é dito que sua
realidade é um mistério. Trata-se de uma entidade em desenvolvimento numa curva ascendente. O Espírito planetário está
estreitamente ligado ao Logos planetário e executa suas ordens.

308A GNOSIS CHINESAEle é a projeção do Logos planetário e, como o sabeis, seu núcleo
está situado no coração da terra.
Vede a vós mesmos: existe um microcosmo e uma personalidade. O microcosmo é de liação divina, enquanto a personalidade está submetida às leis do espaço-tempo. Toda a esfera de
atividade da personalidade, tanto no seu aspecto material, como
no etérico, astral e mental, é determinada pelo coração da personalidade. A inteira condição eletromagnética, a inteira qualidade
da personalidade, seja quanto ao que ela atrai ou ao que ela repele
ou ao que lhe é indiferente, tudo isso é determinado pelo estado,
pela natureza do coração. Portanto, o coração é, para cada mortal,
o grande foco da vida. Esta é a razão por que um irmão da Rosacruz certa vez a rmou: “O que o coração não quer não entra na
cabeça”.
Compreendereis agora por que o texto do capítulo 26 do
Tao
TeKing
refere-se ao centro de gravidade da vida mortal e ao local
onde ele se situa. Em vosso caso, onde ele se encontra? Eis o que
importa nesta vida! Trata-se de uma questão muito importante,
pois o centro de gravidade da vida situado no coração, o foco vital,
dirige totalmente a mar¯a de vossa existência e determina vossas
experiências.
O pesado é a raiz do leve; o descanso é o mestre do movimento. É por isso que o sábio jamais desiste do pesado e do
descanso.
Agora podemos penetrar completamente no sentido dessas palavras. A vida possui um centro de gravidade, a fonte de toda sua
orientação. Sua sede é o coração. O estado momentâneo de vosso
coração determina o centro de gravidade momentâneo de vossa
vida. Esse centro de gravidade, essa força de gravidade, é a base
fundamental de vossa existência, de tudo quanto fazeis ou deixais
de fazer.

30926-I · O PESADO É A RAIZ DO LEVEAo observar alguém fazendo determinadas coisas, podeis espantar-vos e dizer: “Como isso é possível?” Ou exclamais alegremente:
“Que ótimo. Como isso é possível?” Todos esses atos, tanto os
positivos como os negativos, partem do centro de gravidade da
vida situado no coração. Portanto, é no coração que se encontra
a raiz da planta da vida que vos eleva até a luz do presente vivente.
É por isso que
o pesado é a raiz do leve. O centro de gravidade de
vossa vida é a raiz de tudo o que, em vossa existência, é colocado
na luz da realidade.
Talvez percebais agora que essa realidade é um “movimento”,
uma atividade incessante, cuja natureza é visível e cujos frutos se
tornam demonstráveis. Uma força é necessária para produzir esse
“movimento”, esse crescimento e esse resultado. Assim, existe
uma raiz  uma força  um movimento  e, por conseguinte,
um resultado.
Suponde, por um instante, que o centro de gravidade de vossa
vida se situe na Gnosis, que ali se situe a raiz de vossa existência.
A força que provoca o movimento poderia ser ¯amada de “repouso” e de “paz”. A paz do coração torna-se, então, o mestre do
movimento.
Na Epístola aos Hebreus existe um capítulo inteiro dedicado
a esse repouso: o quarto capítulo. Nele é dito àqueles que são
continuamente ¯amados a percorrer o único caminho em dire­
ção a esse repouso: “Temamos, pois, que, porventura, deixada
a promessa de entrarmos no seu repouso [de Deus], pareça que
algum de vós ca para trás.” Esforcemo-nos, pois, por entrar nesse
repouso.
Quando o centro de gravidade do homem situa-se na Gnosis,
dele emana uma força, um movimento. Algo se eleva na luz, e
os frutos se tornam visíveis. Esse fruto, esse resultado vivente, é
a paz interior, o repouso, o maravilhoso estado de ser que ultrapassa todo entendimento. Por conseguinte, esse resultado pode
tornar-se, num dado momento, o mestre do movimento.

310A GNOSIS CHINESAEvidencia-se, pois, que existe um poderoso segredo, um mistério ligado ao coração que podeis e deveis resolver, o mistério
de como podereis deslocar o centro de gravidade de vossa vida,
a raiz de vossa existência, das profundezas da terra até a causa
primeva do Logos. Pois bem, agora o sabeis: é um mistério do
coração. Se conheceis bem a Bíblia, sabeis que tudo gira ao redor
desse problema: desligar-se da terra terrestre e entrar na eterna
magni cência do outro planeta, a terra santa, a qual João num
dado momento viu descer do céu e à qual se uniu totalmente.
Como pode um aluno realizar isso? De que maneira pode ele
resolver esse mistério em uma Escola como a nossa com a ajuda
do método gnóstico?
O
sábio que resolveu esse mistério jamais desiste do pesado e do
descanso,
diz Lao Tsé, pois o centro de gravidade de sua vida está
no Outro, desenvolve-se no Outro. E quando ele provou essa
maravilha, certamente nunca mais renunciará a ela em favor dos
frutos materiais das trevas.
Preparai-vos, pois, para, conosco, solucionar esse prodigioso
mistério.

31126-II
AS TRÊS CRUZES
Como já é de vosso conhecimento, o coração humano é a sede
da vida, a força nuclear da mônada, a rosa imortal. Essa rosa é
reconhecida por sua intensa luz irradiante, multicolorida. Ela se
encontra no cimo do santuário do coração. Por conseguinte, todo
ser humano nascido da natureza é um rosa-cruz em potencial,
pois a rosa da personalidade está sempre atada à cruz.
Essa rosa é a representação do Logos planetário no homem
nascido da natureza. Portanto, o reino original encontra-se em
todos nós. O caminho e a lei da vida tocam-nos; eles fazem parte
de nosso sistema.
O coração apresenta sete aspectos, sete câmaras, sete ventrí­
culos, dos quais cada um tem uma função sétupla. Como a rosa
está no centro, a personalidade tem, portanto, a possibilidade de
emitir sete vezes sete raios.
Se visualizarmos a rosa como a estrela irradiante de cinco pontas, a estrela de Belém, e o coração como um círculo irradiante
do qual emanam sete vezes sete raios, então estaremos diante do
poderoso símbolo do Templo de Haarlem. Esse é o mais sublime
de todos os símbolos que conhecemos. É a palavra de Cristo em
nós. É Deus na carne.
No centro absoluto do microcosmo, correspondendo com o
coração da personalidade nascida da natureza  sim, exatamente

312A GNOSIS CHINESAno coração da personalidade nascida da natureza , o homem é
nascido de Deus, ele está no campo de vida do absoluto, ele faz
parte do céu-terra, ele se encontra na imensidade abrangida pelo
Alfa e o Ômega, o princípio e o m.
Entretanto, há um terrível obstáculo! Porque, ao lado dessa
realidade espiritual, maravilhosa e gloriosa, a personalidade do
homem possui ainda outra consciência, totalmente diferente. Ela
está situada no santuário da cabeça. Aí está localizada a sede do
eu, da consciência animal ou intelectual. A consciência da rosa
é supra-sensorial, divina. A consciência-eu, ao contrário, é um
aspecto, uma parte da personalidade. Por isso ela é animal-mortal.
E não é em vossa cabeça que se situa o centro de gravidade de
vossa existência?
Isso é lógico  caso considereis “vida” o caminho a ser percorrido na terra pela personalidade, tropeçando do berço ao túmulo.
Isso é ilógico, ¯ega a ser loucura mesmo, se buscais e desejais a
vida absolutamente real. É totalmente impossível participar da
grande realidade com a consciência intelectual.
O eu egocêntrico, a consciência-eu em que, muito provavelmente, está o centro de gravidade de vossa vida, deve submeter-se
totalmente ao supra-sensorial, ao Senhor da vida, que habita no
coração. O centro de gravidade de vossa vida deve transferir-se
completamente da cabeça para o coração. Então, o grande milagre
se revela a vós!
Essa é a endura, a interiorização, a mudança fundamental da
personalidade inteira em direção ao verdadeiro e sublime eu, em
direção ao Senhor da vida em vós, em direção à sagrada rosa áurea
que habita no coração e dele irradia. A endura não vos orienta
para o exterior, mas para o interior, para o eu verdadeiro e sublime,
para a sagrada rosa áurea.
Compreendei-o bem, pois podeis começar hoje mesmo esse
grandioso processo. Mas, atentai para o seguinte: o passado de
inúmeras existências que se sucederam em vosso microcosmo, o

31326-II · AS TRÊS CRUZESpassado recente de vossa existência atual e a ilusão do eu que
vos dominam  porque o centro de gravidade de vossa vida
continua situado no santuário da cabeça, na consciência-eu 
contaminaram, macularam e dani caram incrivelmente vosso
coração.
Portanto, a puri cação do coração é a imensa tarefa que vos
aguarda.
Isso é tornar retos os caminhos! Sem começar por aí,
sem obter uma vitória nesse campo, vosso discipulado não faz o
menor sentido. Compreendei-o bem. Com isso não tencionamos
dizer que deveis abandonar a razão e trocá-la pelo misticismo. O
misticismo dos dias atuais nada mais é do que uma tentativa do
eu da natureza para encontrar refúgio no coração dani cado e
sobrecarregado.
Vemos, portanto, as três cruzes erigidas no monte Gólgota:
No centro, a cruz do homem vitorioso, do homem que venceu,
do homem da rosa áurea irradiante, Cristiano Rosa-Cruz.
A seu lado, a cruz do homem egocêntrico, empedernido, que
crê tudo saber, tudo possuir, tudo dominar na natureza da morte.
O homem que ignora o único caminho, portanto o zombador,
que recusa o caminho. Não é ele o assassino de seu verdadeiro ser,
o maior inimigo do Deus nele?
E do outro lado, vemos o terceiro personagem: o homem que
se debate para encontrar uma saída. O homem que luta para
deslocar o centro de gravidade de sua vida para o coração. O
homem que busca a nova orientação, o novo “movimento” a
partir do centro de gravidade do coração. O homem que busca
a paz e o repouso interiores verdadeiros. Por sua auto-oferenda,
ele aspira a alimentar a raiz da única vida até a última gota de
seu sangue. O deslocamento do centro de gravidade da vida lhe
concederá a iluminação de nitiva, bem como o repouso, que é o
mestre do movimento.
Todavia, a luz irradiante e duradoura e a paz interior que
ultrapassa todo entendimento ainda não se desenvolveram. O

314A GNOSIS CHINESAcentro de gravidade foi deslocado, a nova base, assentada. Porém,
agora deve acontecer a puri cação total do coração, o completo
esvaziamento, a grande mudança, a endura: morrer em vida.
Trata-se de um trabalho sete vezes sétuplo. É uma intensa
luta que, principalmente no começo, causa grande sofrimento.
Umalutaemquefrequentementeohomemvacilaemuitasvezes
fracassa.Porissoohomem,sobmuitosaspectos,aindapermanece
como o assassino de seu eu divino mais elevado.
Todavia,eleconheceoOutro.Elesabequeesseéo lhodivino,
e sem cessar ergue seus olhos e orienta seu centro de gravidade
paraessafontedegraçaedeverdade.Consequentemente,eleestá
em condição de perceber a voz do Outro. Essa voz pronuncia as
palavrasmaissublimesquesepossadirigiraumserhumano:“Em
verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”.
Afastai dessas tão conhecidas palavras os lendários véus bíblicos. Percebereis, então, a Gnosis pura e sabereis que esses valores
estão ao alcance de vossas mãos. Dessa fonte divina em vós, a
sabedoria absoluta, eterna, pode começar a jorrar em abundância. O mortal nunca mais será um assassino se, por sua perseverança, souber vencer a oposição e elevar-se até a sabedoria. Então, ele nunca mais precisará abandonar seu centro de gravidade
recém-adquirido e entrará na paz eterna.
Por mais que ainda haja belezas a serem vistas, ele permanece na paz e se afasta delas.Agora podeis ver claramente o que é exigido de vós. Não pela
Escola,masporvossosublimeedivinoeu.Soistotalmentevividos e dominados por vosso ser intelectual, por vossa consciência
cerebral,quenadamaisédoqueoresultadoatualdonascimento
na natureza, cujo fundamento é o passado hereditário e cármico.
Trata-se exclusivamente da forma externa, da casa onde a rosa
escolheu morar.

31526-II · AS TRÊS CRUZESMas, acaso seria a forma o essencial? Não; o morador da casa, o
morador da forma, é o essencial. Na melhor das hipóteses, existe
certa interação mais ou menos caótica entre a casa e seu morador,
entre a cabeça e o coração. Os problemas da cabeça e do coração
se alternam constantemente, e desse modo cabeça e coração se
põem em mútuo conflito e sempre há grande confusão e divisão
interior.
Ora, como a forma domina o ser, não conhece sua tarefa e não
tem consciência de sua vocação, infelizmente o homem se coloca
numa situação em que
o Senhor das dez mil carruagens considera
o reino leve para si.
A forma que sois, morada da personalidade, tem a grande missão de dar à rosa a possibilidade de se manifestar totalmente, de
dominar essa mesma forma, trans gurando-a sem cessar, até a
realização de cada tarefa exigida no decorrer do grande desenvolvimento. A forma, a personalidade, deve comportar-se de tal
modo que veja descer o céu-terra em seu ser, a m de alcançar o
grande objetivo.
Portanto, a forma não é inútil e sem valor, porém é essencial
no grande processo como a terra, nosso planeta o é no processo
do céu-terra. É por isso que Lao Tsé a denomina “Senhor das
dez mil carruagens”, ou seja, muito forte, muito poderosa, muito
talentosa, e equipada com grandes faculdades.
Todavia, quando o homem-forma adquire consciência dessa
grande força e desses poderes e, a seguir, passa a depreciar o eu­
-divino, colocando-se, ele mesmo, no centro e se considerando o
principal, ele perde suas faculdades, perde seus ministros. E por
deixar-se arrastar por suas ilusões, ele perde toda sua ligação com
a realidade, com toda a soberania, e sua queda torna-se total.
Deslocai, portanto, enquanto é tempo, o centro de gravidade
de vossa vida e fazei de vossa forma um templo onde o Deus em
vós possa habitar. O sábio faz isso.
Elejamaisdesistedo pesadoe
do descanso.

316A GNOSIS CHINESAOs nascidos desta natureza, em nossa época, frequentemente
apresentam sinais de degenerescência. O centro de gravidade de
suas vidas situa-se principalmente na consciência cerebral intelectual. É também por esse centro que eles tentam vivenciar o
discipulado gnóstico. Assim, quando muito, eles caem na religiosidade natural e levam uma vida mais ou menos séria a serviço
de Deus, da Escola e da Gnosis. Porém, esse tipo de discipulado
é constantemente entravado e solapado diante dos problemas da
vida dialética. Isso porque, em essência, nada muda quando tentamos servir à Gnosis com a consciência-eu, com a consciência
cerebral.
Compreendeis, então, que a religiosidade é, na ordem universal das coisas, em grande parte, um embuste? Se, de fato, o
percebestes, concordareis conosco.
Portanto, não deveis empenhar-vos em servir a Deus, porém
em tornar-vos Deus. Essa é a vocação de toda a criação. Esse é o
plano. Essa é vossa missão. É com essa nalidade que a rosa das
rosas permanece em vosso coração: a união, a uni cação com a
divindade que está em vós.
Por isso, a religião sempre é um compromisso. A religiosidade
é, quando muito, um primeiro passo. Se paramos nisso, a religião
torna-se uma forma de ateísmo. É por isso que, na natureza da
morte, existe um conflito incessante entre religiosos e antirreligiosos. É por isso que no terreno religioso predominam sempre
todo tipo de experimentos e as maiores confusões. Essa é a razão
pela qual os grupos religiosos sempre se exortam mutuamente:
“Realizemos, en m, a unidade!”
É possível que desejeis aprofundar-vos nessas ideias, que certamente são novas para vós. Podereis, assim, libertar-vos de muita
confusão. Deslocai o centro de gravidade de vossa vida. Fazei de
vossa forma corpórea o átrio do templo tríplice. Ide ao encontro
do Deus em vós, após terdes puri cado vosso coração. Então, o
Deus em vós poderá entrar no grande santuário.

31726-II · AS TRÊS CRUZESA senda da Gnosis é a senda do tornar-se deus, não a senda da
religiosidade. O sábio o sabe. O sábio o faz. Eis por que ele nunca
cessa de buscar e de encontrar nisso seu centro de gravidade e o
centro de sua paz.


31926-III
O TRÍPLICE DOMÍNIO
Como dissemos no capítulo precedente, três cruzes se erguem,
cravadas no monte Gólgota, o lugar do crânio: a cruz do homem-eu prisioneiro de si mesmo, a cruz do homem que luta por
sua salvação e a cruz do homem vitorioso.
É possível que isso vos tenha ¯ocado. Com efeito, é espantoso
que, se por um lado o verdadeiro centro de gravidade da vida deve
xar-se no santuário do coração, por outro lado vemos as três
cruzes no local do crânio, no santuário da cabeça, que ¯amamos
sede da consciência intelectual.
Para compreender isso é preciso que vos lembreis que a puri ­
cação do coração, a preparação do local de serviço do eu superior
e a possível vitória devem ter lugar no santuário da cabeça. Da
mesma forma, o fracasso total também tem lugar no santuário
da cabeça. A força da rosa deve elevar-se do coração; ela tem
suas raízes no coração. O despertar, a iluminação, a ressurreição
evidenciam-se na cabeça.
Assim que o senhor da forma recua, o príncipe, a alma vivente,
irradia em seu lugar. Uma das três imagens, uma das três cruzes,
uma das três assinaturas imprime seu sinal no espelho da testa: ou
o sinal do homem-eu, ou o sinal da alma batalhadora que recebeu
a promessa da graça, ou o sinal do Filho do homem.

320A GNOSIS CHINESATalvez possais compreender melhor agora o prodigioso sétimo
dia de
AsnúpciasquímicasdeCristianoRosa-Cruz. Todos os que
desejam fazer desabro¯ar totalmente a rosa maravilhosa estão
reunidos na torre do Olimpo. Essa torre tem sete pavimentos,
da mesma forma que o coração tem sete aspectos, sete câmaras.
A puri cação do coração é um trabalho de natureza sétupla. O
grande trabalho do discipulado é um trabalho sétuplo ao qual o
aluno deve consagrar-se inteiramente.
Uma vez completado esse trabalho, Cristiano Rosa-Cruz sobe
até um oitavo pavimento desconhecido, que dava para uma abó­
bada diretamente abaixo do telhado. E é nesse local que a vitória
se revela: o grande renascimento, a Rosa-Cruz vitoriosa. A porta
da eternidade, cujo símbolo tradicional é o número oito, abre-se
completamente. A ressurreição torna-se uma realidade.
E agora o ressuscitado dá testemunho, de múltiplas maneiras,
pois todo esse trabalho preparatório e o trabalho que podemos designar como as “núpcias alquímicas”  isto é, a transformação da
personalidade que se desenvolve porque a rosa do coração passa
a governar a vida da forma  mostram propriedades prodigiosas:
em primeiro lugar, o total domínio da esfera material terrena,
em segundo lugar, o total domínio da esfera etérica terrena,
em terceiro lugar, o total domínio dos aspectos astrais e mentais
terrenos.
Esse domínio, entre outras coisas, concede ao candidato a consciência plena em todos os veículos da personalidade. Isso traz
consequências especiais e maravilhosas. Por exemplo, a personalidade é ligada ao espaço e ao tempo por sua veste material.
Nos demais veículos da personalidade, o tempo e o espaço vão
perdendo importância e cessam totalmente de existir. Quando
um irmão da Rosacruz se encontra, num local, em determinado
ponto do globo, ele não encontra di culdade alguma para estar,

32126-III · O TRÍPLICE DOMÍNIOaomesmotempo,emoutropontoqualquerdaesferaterrena.Do
ponto de vista do espaço-tempo, ele é onipresente em todos os
domíniosdaterra.Aparentemente,eleestálimitadopelamatéria
 no entanto, ele está completamente livre.
Compreendereisograndesigni cadodessaspalavrasaorefletirdessobre tudoisso.Desse modo,avasta unidadedegrupo de
todososirmãoseirmãsdagrandecomunidadedealmastorna-se
um fato consumado. As enormes di culdades da vida do espaço­
-tempo desaparecem.
As aparições de Jesus, o Senhor, entre sua ressurreição e sua
ascensão, dão provas disso aos discípulos e aos alunos. Trata-se
de um estado sobre o qual o evangelho gnóstico
Pistis* Sophia
abundantes testemunhos. O que os místicos denominam “ascen­
ção” não é apenas a entrada no mundo do Espírito planetário na
qualidadedenovohomemrealizado,mastambémsigni cajánão
pertenceraestemundo,emoutraspalavras,signi capertencer
aomundodoestadodevidaoriginaledivino,omundodoLogos
terreno, o céu-terra de João.
Evedediantedevósessamaravilha:àmedidaquenossogrupo
de peregrinos se prepara para o caminho que leva à eternidade,
com todas as forças que esse caminho encerra; à medida que eles
plantam sua Rosa-Cruz no monte Gólgota; à medida que seu
barcocelestial,ocorpo-vivo,prossegueeseeleva,¯egaráomomentoemqueumapartedosirmãosquecelebraramsuaascenção
derramará sua força imensa sobre ocorpo-vivo, testemunhando
da gloriosa promessa de Pentecostes: “Recebereis a virtude do
Espírito Santo, que há de vir sobre vós: e ser-me-eis testemunhas
[…] até os con ns da terra” (At 1:8).
Preparai-vos, pois, para a festa eterna do Pentecostes que se
aproxima:escolheiocorretocentrodegravidadeparatornar-vos
mestres de todos os movimentos.



324
Quem caminha bem não deixa rastros. Quem fala bem não dá
motivosparacensura.Quemcontabemnãoprecisadeábaco.Quem
fe¯abemnãousaferrolho,e,noentanto,ninguémpodeabriroque
elefe¯a.Quemamarrabemnãousacordae,noentanto,ninguém
pode desamarrar o que ele amarra.
Por isso o sábio sempre sobressai ao ajudar os homens e não rejeita
nenhum deles. Ele sempre sobressai ao ajudar as coisas e não rejeita
nenhuma delas. A isso eu ¯amo ser duplamente iluminado.
Portanto, o bom é o mestre do mau. O mau é o mestre do bom.
Quemnãodánenhumvaloraopoderenãoamaaopulência,mesmo
que sua sabedoria possa parecer tolice, adquiriu a onisciência.
Tao Te King, capítulo 27

32527-I
O ÚNICO BEM
Ao refletirdes sobre o capítulo 27 do Tao Te King, compreendereis que Lao Tsé fala de um comportamento quíntuplo e de
uma bondade quíntupla, que é a sua assinatura. A bondade tratada aqui é de uma essência totalmente diferente da bondade do
homem nascido da natureza, pois o bem de Lao Tsé tem um resultado totalmente diferente da bondade que caracteriza o homem
nascido da natureza.
Lao Tsé parte do bem superior hermético, ou seja, do único
bem. O homem da natureza comum, no entanto, só conhece o
bem associado a seu inseparável companheiro, o mal. É por isso
que é importante, desde o início deste capítulo, ¯amar vossa aten­
ção sobre esse ponto, porque Lao Tsé fala acerca de um mundo
totalmente diferente daquele que conheceis. Ele fala de uma ordem mundial e do respectivo comportamento que daí resulta, que
não se aplicam, de modo algum, à natureza comum. Se vos esquecerdes disso, qualquer reflexão sobre a antiga sabedoria ¯inesa
terá um resultado perfeitamente negativo e dará lugar a grandes
di culdades em vossa vida.
Este mundo  vosso mundo  já não tem conhecimento
da grande realidade das duas naturezas. Ele já não tem conhecimento do fato de que o reino dos grandes de espírito não é
deste mundo. O antiquíssimo ensinamento das duas naturezas é a

326A GNOSIS CHINESA¯ave da manifestação divina de salvação. Quem já não pode usar
essa ¯ave, quem perdeu essa ¯ave, e, portanto, já não pode encontrar o caminho de retorno ao Reino do Pai, debate-se perdido
e confuso no labirinto da natureza da morte.
Sob essa luz, consideremos dois dos mais importantes fenômenos e atividades da vida em nosso mundo: a teologia, com sua
religiosidade natural, e o humanismo.
Quem deseja servir a Deus e compreender a parte da Bíblia que
ainda não está totalmente mutilada, portanto quem deseja obter
a beatitude eterna, fará esforços desesperados para ser verdadeiramente “bom” e para espalhar a bondade ao seu redor. Ele tentará
satisfazer às exigências da bondade mediante seus sentimentos,
pensamentos e ações.
Mas, assim que empreendeis semelhante tentativa, um fato
doloroso surge: quando desejais fazer o bem, o mal está ao vosso
lado. Sim, pois ao praticar o bem do fundo do vosso ser, fazeis
exatamente o mal de modo absoluto. Vossa bondade tem consequências negativas, vossa bondade não é retribuída, ela é um
fracasso total. Ou, ainda, o resultado positivo do início cristaliza-se rapidamente, petri ca-se totalmente qual um fóssil de algo
que era espontâneo e vivo.
Como isso acontece? Como isso é possível? Diante desse fato,
o teólogo, em sua cegueira, re¯aça a conclusão irrefutável de que
a bondade, que ele colocou em prática e ensinou à sua congregação, não poderia ser a bondade e não teria nada a ver com o
único bem. Para encontrar uma explicação, ele então inventou
“o diabo”. Justamente ele, que tinha tanto medo do mal e queria
ser tão perfeitamente bom, fez do mal uma realidade astral.
Esse pensamento em si não é ilógico, pois se, em vossa ingenuidade, acreditais ser bom e fazer perfeitamente o bem como ser
nascido da natureza, porém o resultado é totalmente oposto ao
que imagináveis, então é evidente que uma força contrária deve
agir, uma força opositora. Pois bem, essa força transformou-se

32727-I · O ÚNICO BEMno diabo, pois se pensais durante algum tempo no mal, portanto,
fazeis considerações mentais sobre ele, materializais o mal devido
às propriedades da substância astral.
Quando essa materialização ¯ega a estorvar-vos  e ela o
fará, já que sois seus criadores e sentis a presença de vosso diabo , então colocais a par disso todos os vossos seguidores e
fo
rmulais doutrinas a esse respeito. E todos os vossos, seguindo
vossas pegadas, reforçam a materialização astral negativa criada
por um só homem até transformá-la numa entidade monstruosa
que prejudica a humanidade toda e infecta a esfera de vida astral.
É por isso que repetimos a grande verdade gnóstica: a causa
da personi cação do mal reside na bondade desta natureza. Eis
aí o negativismo, a falta de perspectiva de toda teologia, de toda
religiosidade segundo a natureza. Seria muito importante que
compreendêsseis isso e que o aceitásseis como novo ponto de
partida da Gnosis. Poderíeis, por exemplo, aceitar essa conclusão
de Jesus, o Senhor, que diz: “Ninguém é bom”  nem
um sequer!
Que Deus vos faça compreender perfeitamente essas palavras.
A ordem de natureza que a humanidade conhece, que ela experimenta e pela qual se explica seu nascimento, é uma “ordem” do
mundo dialético, o que signi ca que ela não é uma realidade absoluta, que ela não pode sê-lo. Tudo o que faz parte do conjunto de
seus fenômenos, tudo o que designamos como suas propriedades,
tudo vai e vem sem cessar. Ela “é”, mas, em dado momento, não
é mais. É o movimento segundo as leis naturais dos opostos. Ela
não pode ser absoluta, ela só pode manifestar-se no movimento
dialético do subir, brilhar e descer.
A ideia, o sonho, do bem único está no imo do ser humano.
Em todos os seres nascidos da natureza existe um impulso para o
bem. Até o pior dos criminosos sonha com o bem. Porém, em sua
manifestação de seres nascidos da natureza e estando na natureza
dialética, é-lhes impossível realizar esse bem, exercer essa bondade.
“Ninguém é bom”  nem
um sequer!
328A GNOSIS CHINESAQuando o homem, indo de encontro à ordem da natureza,
pratica, pois, essa bondade, quer exercê-la e, erroneamente, a
quali ca de “amor”, ele simplesmente reforça as oposições, frequentemente acentua os contrastes, o afastamento entre a luz e
as trevas torna-se muito mais doloroso e os sofrimentos da humanidade crescem incomensuravelmente. Isso porque a lei da
natureza se cumpre e, pelo movimento das forças opostas, a luz,
que ele gostaria de conservar e à qual se aferra, transforma-se em
trevas, e o amor, em ódio. Sua realidade se transforma em ilusão
e sua vida é inútil. Em sua luta para conservar e tornar estável o
que não pode sê-lo, por suas atividades sentimentais e mentais,
ele fez do mal uma realidade astral em sua própria esfera de vida
e fora dela.
Essa é a realidade na ilusão da dialética, e é assim que toda a
esfera astral é corrompida pelo exército dos arcontes e éons. Essa
é a colheita da religiosidade segundo a natureza!
É por isso que são inúmeros os que, no decorrer dos séculos, se
afastaram de toda religião e tentaram a experiência do humanismo. O resultado negativo da religião era tão evidente, o caos
da vida tão grande, que era inevitável uma profunda alteração,
pois a bondade à qual se aspirava não era assim tão boa a ponto de
impedir que se cuidasse de si mesmo da melhor maneira! Como
resultado, a consciência-eu foi fortemente estimulada, e a luta
pela existência, que se manifestou assim, em dado momento, mostrou o imenso contraste entre a miséria e a riqueza, entre os
sofrimentos dos oprimidos e os excessos dos abastados.
Foi nesse solo que se originou o humanismo, a luta pela liberta­
ção conduzida pelos proletários de todos os países. E uma grande
bondade cresceu em todos os que desejavam ajudar os oprimidos.
A democracia nasceu e os direitos humanos incitaram o apelo à
liberdade. Inúmeros movimentos foram criados para socorrer os
pobres e os oprimidos. A Europa toda vibrou de humanismo.

32927-I · O ÚNICO BEMIsso levou a um pico de sentimento antirreligioso: o que a
Igreja não soubera realizar, o humanismo o faria em suas manifestações múltiplas e variadas. A Europa encontrava-se no auge da
civilização: a bondade cienti camente aplicada, todos os homens
irmãos. As poucas man¯as ainda visíveis brevemente pertenceriam ao passado.
E vede o resultado dessa onda de bondade em nosso século:9
um horrível medo, uma terrível pestilência, uma carni cina frenética, cienti camente explicada, tal como a história do mundo
todo, inclusive a pré-história, jamais presenciou. Deploramos em
nossa Escola, com justa razão, o terrível destino dos cátaros, os
irmãos e irmãs da Fraternidade precedente, e os sofrimentos a
que foram submetidos. Todavia, pode-se comparar os atos de
seus assassinos aos de crianças de jardim de infância no que se
refere ao que o nosso século nos reservou.
Nosso século, esclarecido, humano, transpirando bondade,
bateutodososrecordesdeassassínio,crueldade,extermínioseloucura cientí ca. Até agora, o apogeu da bondade sempre revelou
a maldita baixeza do homem. A miséria humana atual não pode
ser descrita: nós vos pouparemos dos detalhes. Vós os conheceis!
Quenostrouxeacivilização? Paraquelabirintoahumanidade
foi conduzida? O labirinto da ilusão, de fazer estremecer diante
de tantas lágrimas e sangue derramados. A bondade? Ninguém
é bom, nem
um sequer! A religião dos nascidos da natureza, o
humanismo dos nascidos da natureza, a ciência dos nascidos da
natureza, que imenso e terrível fracasso!
Pode ser que não estejais totalmente de acordo. Pois bem, a
experiência vos ensinará. A bondade humana deixou atrás de si
muitos rastros, e todos podem ver essa profunda ferida aberta. O
mundo tornou-se no sepulcro mais horrível de todos os tempos,
graças à religião, ao humanismo, à ciência e a todo o resto.
9O século XX.
330A GNOSIS CHINESAE Lao Tsé nos diz:Quemcaminhabemnãodeixarastros. Como
defender semelhante ponto de vista à luz crua da vida atual?
No próximo capítulo, tentaremos dar-vos uma resposta a essa
pergunta.

33127-II
QUEM CAMINHA BEM
NÃO DEIXA RASTROS
Repitamos os primeiros versículos do capítulo 27 doTaoTeKing:
Quem caminha bem não deixa rastros. Quem fala bem
não dá motivos para censura. Quem conta bem não precisa
deábaco. Quemfe¯a bem não usa ferrolho, e, no entanto,
ninguémpodeabriroqueelefe¯a.Quemamarrabemnão
usa corda e, no entanto, ninguém pode desamarrar o que
ele amarra.
O início desse fragmento  quem caminha bem não deixa rastros é maravilhoso, são palavras muito difíceis de compreender à
luz da vida atual, proveniente da natureza.
Vistoobjetivamente,todososquebuscaramaEscolaEspiritual
gnóstica e com ela entraram em contato são ¯amados “homens
bons”. É assim que eles são conhecidos. Em virtude de seu estado
atual de nascidos da natureza, eles já tiveram experiências, seja
de bondade religiosa seja de bondade humanitária, de que vos
falamos no capítulo anterior. Também é possível que esses dois
aspectos dirijam o curso de suas vidas.
Mas, dizei-nos agora: acaso vossa prática da bondade não deixou profundas marcas atrás de si? É possível que já tenhais refletido sobre isso algumas vezes. Vossa bondade, em muitas ocasiões,

332A GNOSIS CHINESAnão teria provocado profundas feridas? Teria vossa bondade
sido dirigida unicamente a homens que a mereciam totalmente?
Acaso não terá isso despertado inveja? Teria sido a compaixão a
causa de vossos atos? Em quantos problemas não vos envolvestes
exatamente devido às manifestações de vossa bondade? Por que
razão vossa demonstração de bondade era tão evidente para uns
e tão ausente para outros?
Essas perguntas nos levam a uma profunda reflexão, pois vosso
comportamento bondoso deixou atrás de si inúmeros e profundos rastros. Tendes provas su cientes de que algo não vai bem
no exercício de vossa bondade. Um ditado popular a rma: “Ele
não é tão bom quanto parece”, mas vós pareceis bom! Vossa assinatura é a bondade nascida da natureza. Essa bondade, por mais
admirável que seja, deixa rastros e cava profundos sulcos na alma.
A bondade humana, quer aplicada por um único homem ou em
sociedade, quer individualmente ou em grupo, nunca deixa de
causar prejuízos.
Os sábios tinham conhecimento disso; eles falaram sobre isso,
eles ainda falam e vos advertem. Eles vos mostram a realidade,
eles vos fazem sentir vossa própria realidade. Essa é uma realidade
que vos causa sofrimento. Como poderíeis sair disso?
Virtude e conhecimento podem ajudar-vos. O fato de vos
sentirdes, desde vossa juventude, entusiasmados por uma religiosidade evidente, ou por uma forte tendência para uma vida ¯eia
de humanismo, ou por uma tendência artística pela beleza, ou
ainda pela sede de conhecimento, ou por alguns desses aspectos
ao mesmo tempo, é altamente notável e constitui, poder-se-ia dizer, uma base para uma eventual experiência totalmente nova. É
o toque da força da rosa, do reino de Deus em vós. Trata-se agora
de tornardes essa base interior em virtude perfeita, em virtude
libertadora.
A base para a virtude está, portanto, presente em vós. Porém,
existe algo mais. Existe em vós, à vossa disposição, conhecimento.

33327-II · QUEM CAMINHA BEM NÃO DEIXA RASTROSCompreendei-nos bem! Não estamos falando de conhecimentos adquiridos nas escolas, dos quais necessitais para navegar
nas correntes das forças contrárias. Temos em vista o único e
verdadeiro conhecimento vital, o Ensinamento da Vida, a Doutrina Universal, que está oculto no átomo original e é revelado
pela Gnosis, como estímulo para abrir-vos a senda do verdadeiro
conhecimento.
Ora, a propensão para a virtude, a virtude que consiste em
ser bom, em fazer o bem, associada a esse conhecimento pode
libertar-vos e vos libertará.
Todavia, considerai do fundo do coração a advertência de Chuang Tsé: “Virtude e conhecimento são remédios perigosos que
não devem ser utilizados de forma imprudente. Se vossa virtude
é verdadeira e vossa lealdade é rme, mas vosso espírito não é
penetrado por elas, e então?”
A tendência para uma virtude perfeita, para uma bondade irradiante está profundamente ancorada em muitos seres humanos.
Da mesma forma, muitos são os que, intelectualmente, dominam
muito bem a loso a gnóstica revelada. Que posse magní ca! O
primeiro grupo é conduzido pelo coração, o outro, pela cabeça.
Separadas uma da outra, essas duas características são inúteis e
perigosas.
Também existem os que, sob diversos aspectos, deixam agir, na
vida prática, conjuntamente a cabeça e o coração. Não obstante,
evidencia-se que essa atitude também deixa profundas marcas
atrás de si, porque o eu da natureza ainda domina sua vida.
Além do mais  e citamos mais uma vez Chuang Tsé  “O
Tao não pode ser dividido. Dividir o Tao é quebrar a unidade”.
Essas são palavras extremamente importantes, pelas quais vemos
claramente que é impossível transmitir a verdadeira Gnosis, a
Gnosis salvadora e redentora, através de atos de bondade ou de
dogmas. O Tao apenas pode ser experimentado em sua totalidade
 ou não pode ser experimentado de modo algum. É por isso

334A GNOSIS CHINESAque cada homem deve buscar, por si mesmo, o caminho do Tao,
encontrá-lo e vivenciá-lo.
Está claro que a personalidade nascida da natureza está munida
de diversas faculdades, de poderosas faculdades. Todas essas faculdades, porém, só servirão e atuarão corretamente se utilizadas nas
justas proporções, em colaboração com o microcosmo, em união
com o ser divino no homem. A virtude e o conhecimento devem
levá-lo a seguir a senda, a colocar em prática a nova atitude de vida,
o retorno à natureza divina pelo caminho do grande sacrifício da
endura. Eis aí o essencial. É
disso que se trata.
O grande erro do ser nascido da natureza é pensar que essas
faculdades, eventualmente grandes, de sua cabeça e de seu cora­
ção estão prontas para uso, que, por sua utilização, ele distribuirá
ao seu redor bênçãos, conhecimento, sabedoria e progresso, servindo, assim, à Gnosis e à humanidade. Porém, “o Tao não pode
ser dividido. Dividir o Tao é quebrar a unidade.”
Portanto, se desejais participar do que é concedido nos templos da Rosacruz, é preciso colocar em prática a nova atitude de
vida. É preciso que vós mesmos sigais o caminho até o m. Se
não encetardes o caminho, se vos mantiverdes presos a vossos
próprios atos com vossas pretensas faculdades, semelhante conduta deixará profundas marcas atrás de si. Então, reforçareis e
acentuareis a oposição dos contrários e aumentareis o mal.
Se sabeis que sois um “jovem rico”, um homem talentoso, ao
ouvirdes estas palavras podeis virar as costas, ¯eios de tristeza, e
adotar uma atitude de vida passiva ou perigosa ao extremo. Mas
também podeis seguir o conselho de Jesus, o Senhor: “Vai, vende
tudo quanto tens […] e segue-me” (Mc 10:21), em profunda obediência ao santo trabalho, à Corrente Universal e a seus enviados,
e cumprir vossa tarefa. Abandonai a ilusão de serdes perfeitos; a
ilusão que vos faz a rmar: “Tudo posso  também posso fazer
isso  vou conseguir isso”. Colocai sob um correto julgamento

33527-II · QUEM CAMINHA BEM NÃO DEIXA RASTROSvossa propensão à virtude e ao conhecimento e, assim como é
dito na Bíblia, orai e jejuai.
Que signi ca isso? Evidentemente, não se trata de murmurar
orações durante horas a o. Menos ainda, viver de pão e água, ou
nada comer durante dias, praticando uma ladainha de rituais. Os
antigos sábios diziam que “orar e jejuar” signi cava orientar toda
a vida para o outro reino, para a verdadeira pátria, libertando
o reino em si e, assim harmonizado, estabelecer a unidade com
as manifestações da vontade. Nesse estado de ser, não ouvireis
mais com os ouvidos o tumulto das forças contrárias, mas abrireis
totalmente vossa compreensão, vossa razão, todo o santuário da
cabeça à efusão do Espírito sétuplo.
Os antigos sábios diziam: “Deixa para os ouvidos a audição
dos ouvidos. Deixa para a razão a compreensão do trabalho da
razão. Quando a alma está silenciosa e não forma imagens, ela
se abre para a concepção. Na alma aberta, o Tao”  o Espírito
sétuplo  “desce”.
Isso é orar e jejuar.
Caso sigais o caminho dessa forma, caso vivais dessa forma
vosso discipulado, tornareis reais as palavras:
Quemcaminhabem
não deixa rastros.
Então, o microcosmo inteiro caminha com
Deus. Então, espírito, alma e corpo estão mutuamente ligados
segundo a mais elevada lei da natureza divina. Somente então
vossas faculdades serão empregadas segundo a intenção original.
Somente dessa maneira vos libertareis de vós mesmos e utilizareis vossa liberdade a serviço da humanidade ainda prisioneira.
Entrai no salão superior e, em perfeita orientação de todo o vosso
ser, jejuai, o que signi ca: perseverai e orai.
“E, entrando [em Jerusalém], subiram ao salão superior, onde
habitavam […] Todos estes perseveravam unanimemente em
oração.” E, no dia de Pentecostes, “todos foram ¯eios do Espírito Santo” (At 1 e 2). Portanto, a efusão do Espírito Sétuplo
realizou-se para eles.

336A GNOSIS CHINESASomente depois desse momento, a bondade e o talento da
virtude e do conhecimento não causarão mais ferimentos a vós
mesmos nem a outrem, pois:
Quem caminha bem não deixa rastros. Quem fala bem
não dá motivos para censura. Quem conta bem não precisa
deábaco. Quemfe¯a bem não usa ferrolho, e, no entanto,
ninguémpodeabriroqueelefe¯a.Quemamarrabemnão
usa corda e, no entanto, ninguém pode desamarrar o que
ele amarra.

33727-III
QUEM FALA BEM
NÃO DÁ MOTIVOS PARA CENSURA
Em nossos comentários sobre o capítulo 27 do Tao Te King de
Lao Tsé, dissemo-vos como o homem “bom” pode caminhar sem
deixar rastros. Todos os talentos, possibilidades e qualidades de
que ele dispõe, ou que poderia desenvolver em virtude de sua personalidade nascida da natureza, são libertadores para ele mesmo
e para os demais unicamente se ele os submete à alma vivente, o
que quer dizer: se ele entrega sua personalidade à Gnosis através
da endura, e, nessa autorrendição, abre para a outra natureza todo
o seu ser. Então, o microcosmo e a personalidade terão formado
uma unidade.
A atitude de vida, o estilo de vida, que daí decorre é totalmente
preservado do movimento das forças opostas. Então, a morte é
totalmente vencida. Tao, o indivisível, o Espírito Sétuplo, foi,
então, revelado. E, dessa forma, a personalidade voltada para “o
alto” não deixa marcas aqui “embaixo”. Com efeito, embora essa
personalidade esteja
no mundo, ela já não é deste mundo. Eis aí o
mistério do Tao!
Quem percorre o “caminho bom” já não deixa rastro e se livra
de todas as razões e causas do carma. Quando uma personalidade
segue o justo caminho e encontra o Outro  interiormente ,
ela suprime tudo o que a liga à terra em consequência do curso

338A GNOSIS CHINESAde sua vida. Aqui reside o mistério do que se denomina o perdão
dos pecados.
Na Bíblia está escrito: “Ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve” (Is 1:18).
Isso não ocorre exteriormente, como sob o efeito de uma intervenção divina, mas a partir do momento em que um homem
caminha “bem” e, portanto, entra em ligação com o Reino Imutável, apagando todas as consequências do seu carma. Ele já não
deixa rastros. Portanto, ele domina o mundo dialético e já não é
sua vítima. Ele destruiu o que gerava a morte no caminhar de sua
vida.
Quando um ser humano, através de seus atos de bondade agora
esclarecidos sob todos os ângulos, desperta e faz nascer as forças e
atividades opostas, ele se liga a todas as suas consequências e não
pode desligar-se delas. Essa é a principal causa do acorrentamento
à roda do nascimento e morte: deixar atrás de si rastros cármicos
de vida na natureza da morte.
Somente quando um homem caminha “bem” no sentido da
magia gnóstica ele não deixa rastros atrás de si e liberta-se da
natureza da morte. Então ele se tornou absolutamente livre da
terra terrena. Somente então ele tem o direito de trabalhar na
terra a serviço do mundo e da humanidade. Através da força-luz
que dele emana, ele se torna de uma grande importância para o
mundo e a humanidade, como o indicam os numerosos relatos e
lendas dos antigos sábios.
Acabamos de falar-vos, com detalhes, sobre o mal da bondade
praticada dialeticamente. Pensai também no mal causado pelas
palavras desnecessárias sempre repetidas, pelas palavras pronunciadas sob a pressão das forças astrais. Quantas consequências
acarretam as falsas palavras mesmo “completamente bem intencionadas” segundo os critérios comuns da bondade! Múltiplos
motivos de censura encontram-se frequentemente ocultos nelas.

33927-III · QUEM FALA BEM NÃO DÁ MOTIVOS PARA CENSURAMas quem percorre o caminho da Gnosis fala invariavelmente
bem e não dá motivos para censura, com todas as consequências
cármicas que ligam à terra. Ele também “contará” bem, “fe¯ará”
bem, “abrirá” bem e “amarrará” bem. Ele não necessita de ábaco,
nem de ferrolho, nem de ¯ave, nem de corda, em outras palavras:
em seu completo sacrifício à humanidade, ele sempre toma as
medidas certas e as decisões certas. Ele abrirá o que é mais útil
ao santo trabalho e amarrará e fe¯ará o que poderia ou desejaria
ameaçar o único grande objetivo.
Tudo, sim, tudo depende do fato de, verdadeiramente, “caminhar bem”, por conseguinte, da atitude de vida libertadora.
Quando caminhais verdadeiramente bem, segurais rmemente
em vossas mãos a ¯ave da magia gnóstica. Imaginai, então, que,
no nosso meio, um grupo de irmãos e irmãs libere essa antiga
magia. Quão magní co seria o resultado! Pois bem: acaso pensais
que eles precisam de horas e dias para penetrar a justa compreensão, tomar as medidas corretas e as decisões corretas? Tudo isso
“acontece” no exato momento em que os pensamentos se voltam
para certa necessidade. Tudo acontece assim que a necessidade
surge.
Milagre? Absolutamente não! Trata-se apenas da consequência de uma atitude de vida libertadora esquecida há muitíssimo
tempo, a consequência da vida no Tao. Eis por que é dito:
Por isso o sábio sempre sobressai ao ajudar os homens e não
rejeita nenhum deles.


34127-IV
POR ISSO O SÁBIO SEMPRE SOBRESSAI
AO AJUDAR OS HOMENS
No capítulo anterior, ao nos referirmos à primeira parte do capí­
tulo 27 do
Tao Te King, zemos uma comparação entre o que o
bem dialético possui de trágico e as alegrias do bem perfeito do
novo estado de vida. Nosso texto prossegue assim:
Por isso o sábio sempre sobressai ao ajudar os homens e
não rejeita nenhum deles. Ele sempre sobressai ao ajudar
as coisas e não rejeita nenhuma delas. A isso eu ¯amo ser
duplamente iluminado.
Para bemcompreender estas palavras é necessário saber o que Lao
Tsé designa por “sábio”. Para ele, sábio é o homem que entrou
na vida original e tem parte no céu-terra, portanto, tornou-se,
no sentido mais absoluto da intenção original, verdadeiramente
“Homem”, Manas, o Pensador.
Na natureza comum, um pensador é um lósofo, um homem
que, baseando-se em algumas diretrizes, em alguns dados, estabelece uma série de hipóteses e constrói, dessa forma, um sistema
completo dessa ou daquela espécie, por exemplo, sobre a origem,
o sentido ou a evolução da vida, sobre Deus, a onimanifestação
etc.

342A GNOSIS CHINESACom certeza conheceis algumas dessas produções mentais
losó cas de seres nascidos da natureza. Ora, nenhum deles ultrapassa a mera pesquisa, nenhum ultrapassa o cortejo das especulações. Existiram grandes pensadores.
Existem e ainda existirão muitos deles. Sem dúvida, eles escreverão volumosas obras e serão úteis aos inúmeros especialistas
da pesquisa. É assim que as faculdades mentais de muitos serão
treinadas num sentido puramente intelectual para, nalmente,
perceberem que existe um elo perdido!
No início, o homem pensa, logicamente, que seu saber é insu ciente, que ele ainda deve exercitar seu aparelho cerebral,
acumular mais conhecimentos. Finalmente, a consciência percebe, daqui e dali, que essa falta não se refere ao saber, porém ao
poder, pois o aparelho cerebral é um instrumento a serviço do
pensamento.
No entanto, o verdadeiro poder do pensamento é de natureza,
de essência, totalmente diferente. Ele está relacionado com o
quarto veículo da personalidade humana, o veículo que ainda
não está totalmente formado nos nascidos da natureza. E que
permanecerá assim enquanto os seres humanos continuarem em
seu estado de nascimento natural.
É da maior importância para todos os seres humanos aprofundarem-se nesse ponto, pois existe uma diferença incomensurável
entre intelectualidade e sabedoria. Pode ser que o conhecimento
intelectual seja de interesse maior ou menor para o ser nascido
da natureza, mas para a grande realidade ele não tem o menor
signi cado.
Talvez considereis desagradável serdes, mais uma vez, confrontados com essa ideia, mas é preciso que entendais bem que, da
mesma forma que para o homem treinado intelectualmente e possuidor de um conhecimento “completo”, a sabedoria da nova vida
não tem o menor signi cado e provoca o riso ou uma boa dose de
piedade, para o sábio, toda intelectualidade marcante não passa

34327-IV · POR ISSO O SÁBIO SEMPRE SOBRESSAI AO AJUDAR OS HOMENSde uma imensa ilusão, extremamente perigosa. O homem intelectual não tem acesso à sabedoria, nem mesmo consegue penetrar a
sua superfície. O sábio, não obstante, reconhece profundamente
o valor subjacente da intelectualidade e seu signi cado para o
mundo e a humanidade.
O quarto veículo verdadeiramente intencionado por Deus, o
poder mental, confere perfeição à personalidade, transforma-a
num instrumento absolutamente mágico, onisciente e todo-poderoso. É a alma vivente. E, contudo, compreendeis que se esse
veículo fosse ofertado à humanidade nascida da natureza, sua
miséria e seus sofrimentos seriam, então, incomensuráveis? Imaginai se todos os humanos fossem dotados desse mesmo poder e
dessas mesmas faculdades. Todos formariam uma única e imensa
horda negra!
É por essa razão que o nascimento do verdadeiro veículo mental não acontece neste lado da linha divisória, porém do outro
lado. O poder do pensamento só começa a desenvolver-se se o
aluno conseguiu o renascimento da alma e, a seguir, com essa alma
e sob sua direção, leva a personalidade a cruzar a linha divisória.
Da terra terrena,
através do mar vermelho das paixões sanguíneas,
no céu-terra,
a terra prometida.
Somente quem cruza essa fronteira pode pôr em prática o poder
do pensamento, pode abrir-se à sabedoria e utilizar esse poder
como ele pode e deve ser utilizado.
Se ainda vos for impossível entrar no novo país, resta-vos, então, como aluno da Escola Espiritual, apenas vossa bondade e
vossa intelectualidade nascidas da natureza. Mas vos é dado, Deus
seja louvado, o poder de perceber, pelo coração da rosa mais ou
menos vivo em vós, o maravilhoso ¯amado da outra margem.

344A GNOSIS CHINESAEntão, talvez sejais capazes de compreender a quem podemos
verdadeiramente quali car de sábio e quem o é realmente.
No próximo capítulo, examinaremos a que o sábio é ¯amado
em verdade e do que ele é capaz.

34527-V
SER DUPLAMENTE ILUMINADO
Por isso o sábio sempre sobressai ao ajudar os homens e não
rejeita nenhum deles.
Depois do que acaba de ser dito no capítulo 27, compreendereis
estas palavras, porque já sabeis o que é um sábio no sentido taoísta.
O sábio é o homem que, atravessando a fronteira da ordem espaço-temporal, penetra no novo campo de vida e participa desse
céu-terra. Nesse estado de ser, a faculdade mental nasce, baseada
no estado de alma vivente, e eleva-se ao Espírito Sétuplo.
A senda para a “outra margem” deve começar no estado comum do nascimento desta natureza. A personalidade tem aí um
papelcentral, poisénestanaturezaqueohomemtemconsciência
de si. A personalidade encontra-se na natureza da morte, no movimento dos opostos. Ela possui valores, forças e faculdades que
não são absolutos e que, sem cessar, mudam para seus opostos.
Quando, após toda uma vida de experiências, a personalidade
torna-se consciente de que todos os seus esforços são infrutíferos,
de que tudo vai e vem e inúmeras interrogações a pressionam, a
voz da rosa pode elevar-se do coração. O princípio central do microcosmo pode falar para impulsioná-la a iniciar sua caminhada

346A GNOSIS CHINESAem direção à verdadeira vida, a m de procurar o país da outra
margem. Sabendo que, em seu ser, nem uma única faculdade é
absoluta, o homem torna-se consciente de que ainda não satisfaz
às exigências fundamentais mais elementares e começa a “tornar
retos os caminhos” no deserto, na solidão e na desordem de seu
ser interior. Ele desce até às profundezas de seu ser, e é assim que
a alma nasce.
Que é a alma? A alma é uma concentração ordenada de força­
-luz gnóstica, de substância astral do verdadeiro estado de vida.
Essa força-luz penetra no sistema da personalidade, concentra-se
no duplo etérico e ilumina a escuridão da noite. Ela oferece nutrição, alimento para sustentar e saciar a personalidade que se
ocupa em tornar retos os seus caminhos. Esse estado de alma é
uma posse maravilhosa. Ela ilumina, dissemos, a escuridão da
noite. Além disso, a alma é alimentada e sua sede, mitigada.
Aoprogredirnaluzdaalma,apersonalidadeadquireapossibilidadedeobservaralgoda“outramargem”.Avisãotorna-secada
vezmaisnítidaeocaminhodelineia-secadavezmaisreto.Desse
modo,jánãoéoeudanaturezaque,apaixonadamente,tentarealizar alguma coisa ou ¯egar a uma solução, porém é a alma que
dirigecada vezmais todaa vida, conduzindo-a, conscientemente,
até o nadir.
Ocursodavidatorna-se,então,muitodiferente.Adireçãoda
sendaquetinhadeserendireitadaeraantestotalmentedesconhecida. Elaseescondiapor detrásdeinúmerosobstáculos. Porém,
à luz da alma, tudo desaparece. Nada pode resistir a ela.
Dessemodo,ohomemcujaalmanasceuaproxima-sedaoutra
margem. Atrás dele, as trevas; diante dele, a luz de uma nova
aurora.Enquantoeleentranaágua,atravessaatéaoutramargem
e,talvezcomdi culdade,sobeàmargemoposta,océuseabreea
pomba desce sobre ele. O espírito desce sobre ele, os Se rotes, o
Espírito Santo, e, de repente, nasce o poder mental. A faculdade
dopensamentoasíntesedoespírito,daalmaedapersonalidade.

34727-V · SER DUPLAMENTE ILUMINADOO espírito é um fogo. A alma é a enviada desse fogo, o espírito é
esse fogo mesmo. A isso denominamos ser
duplamenteiluminado.Compreendei agora que, em vista desse estado de ser, o sábio
é sempre superior ao ajudar os homens e que ele não rejeitará
ninguém, porque não trabalha somente com a bondade inata
instintiva, talvez puri cada pelo sofrimento, mas também com a
luz do amor da alma verdadeiramente vivente e com a força do
fogo do Espírito curador e santi cador que envolve tudo. É a isso
que os antigos denominavam ser
duplamente iluminado.Assim, aproximamo-nos do momento em que podemos lançar
um olhar sobre o trabalho da Corrente Universal e seus numerosos servidores, os quais retornam da outra margem até as regiões
tenebrosas. Seria isso para eles um retorno aos incontáveis e antigos perigos? Absolutamente não! Porque o sábio, que recebe
a dupla iluminação do espírito e da alma, penetra na realidade
onipresente, sem espaço e sem tempo. Onde quer que seja, semelhante homem age segundo seu estado absoluto. Ele se mantém,
ele está na inviolabilidade.
Não compreendais isso no sentido tridimensional e espaço­
-temporalporexemplo, comoobrancoemoposiçãoaopretoou
o perfeito em oposição ao imperfeito  mas segundo o profundo
signi cado das palavras: “
no mundo, porém não do mundo”.
O sábio pode movimentar-se por todas as partes sem ligar-se
a este ou àquele e sem sofrer danos. E ele o fará, porque todas as
criaturasdeDeusdevemserconduzidasa bomtermo, aoobjetivo
nal, a seu destino. Isso porque toda criatura liberta, sem exceção,
tem uma missão a cumprir com relação a todos os que ainda
não se libertaram. Uma criação que se manifesta em glória e em
esplendor será sempre utilizada para o auxílio e para o serviço de
toda a criação ainda em desenvolvimento. É por isso que nada
nem ninguém pode escapar da ajuda dos sábios, e nenhum mortal
pode escapar de sua atenção.

348A GNOSIS CHINESATentemos observar do alto esse poderoso trabalho. Vemos
inúmeras criaturas manifestar-se nos domínios não menos numerosos da onimanifestação, todas elas em estágios de desenvolvimento muito variados. E observamos também a grande hierarquia dos libertos e dos sábios trabalhando para assistir a essas
inúmeras criaturas e servi-las segundo sua natureza, seu ser e seu
estado.
Apenas os “bons” deveriam ser ajudados? Quem é bom? Nenhum dos que se encontram ainda no processo elementar de
desenvolvimento é bom: nem um sequer!
Acaso os sábios deveriam manter-se totalmente afastados dos
“maus”? A maldade não é ignorância? A ¯amada maldade não
provém da fraqueza? Não é a maldade frequentemente causada
por forças imperiosas que, no nal das contas, levam certas criaturas a cometer atos lamentáveis? Esses seres precisamente é que
devem ser ajudados de maneira inteligente e adaptada a seu estado de ser. Porventura não é preciso que todos retornem à Casa
do Pai?
É por isso que o mau não é pago com bondade e indulgência
como o humanismo o compreende e o pratica, porém com sabedoria que emana do único plano que está na base do Todo.
Por essa razão, o sábio não é o juiz, mas o instrutor do mau. Todas as condutas que possam desviar do plano, portanto, criar
situações particularmente lamentáveis, são minuciosamente estudadas. Nessa base, elas são tratadas de acordo com seu estado,
a m de que o plano, que é o fundamento mesmo de seu estado,
possa ter sucesso. Desse modo, torna-se compreensível que o mau
também seja o instrutor do bom.

34927-VI
QUEM NÃO DÁ NENHUM VALOR AO PODER
ADQUIRIU A ONISCIÊNCIA
Chegamos, pois, ao último versículo do capítulo 27 do Tao Te
King:
Quem não dá nenhum valor ao poder e não ama a opulência,mesmoquesuasabedoriapossaparecertolice,adquiriu
a onisciência.
Aqui estamos diante de uma grande di culdade, pois quase todos
os sinólogos deram a esse versículo traduções muito divergentes. A maioria reconhece francamente que o texto ¯inês em
questão é muito obscuro. Por isso, gostaríamos de tentar dar-vos
nalmente uma interpretação sem ter a certeza de que o texto
corresponda ao original.
Pelo fato de os enviados, através de todos os tempos, terem cumprido sua tarefa com relação às entidades que ainda estavam no
caminho e as que ainda perambulavam nas trevas, ca evidente
que sempre houve, e sempre haverá, um contato mútuo entre os
nascidos segundo o espírito e os que não o são. Compreendei que
é do mais alto interesse para esses dois grupos conhecer a natureza

350A GNOSIS CHINESAdesse contato: simpático ou antipático. Durante o cumprimento
de sua tarefa, teriam os obreiros encontrado, e ainda encontram,
a fé ou a incredulidade? Existiria uma possibilidade, uma base,
para uma ajuda efetiva? Ou não?
Compreendei que essas questões são imperiosas. Pensai, por
exemplo, no Evangelho segundo Mateus, capítulo 13, onde lemos:
“E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profe
ta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa. E não fez
ali muitas maravilhas, por causa da incredulidade deles”. Vede,
portanto, que muitas di culdades podem surgir no contato entre
os renascidos e os que não o são.
Lao Tsé ¯ama a atenção de seus discípulos sobre essa conclusão do capítulo 27, pois trata-se sempre de noção errada, de
incredulidade, e até mesmo de grande oposição e intensa resistência, porque a ajuda e a força que emanam dos sábios só podem ter
um único objetivo. Além disso, trata-se de uma ajuda que é dada
impessoalmente, portanto, que se dirige tanto aos bons como aos
maus.
Não é um fato que a grande exigência de nossa vida, apresentada pela Escola Espiritual, frequentemente opõe-se aos vossos
interesses e situações pessoais? Todos os que se aproximam da
nova vida deverão, de alguma forma, ou sob algum aspecto, abandonar algo. Eles deverão modi car sua atitude de vida e fazer o
que não tinham a menor intenção de fazer.
Por isso, deverá surgir um conflito maior ou menor em todos os que ainda esperam tudo da linha horizontal quando eles
buscarem e conseguirem contato com os sábios. Isso porque, compreendei-o, por parte dos sábios não poderia haver o menor compromisso. Geralmente o conflito não é intencional e certamente
não foi desejado pelo discípulo.
Por que não? Porque todos os seres nascidos da natureza são
prisioneiros. Todos são prisioneiros do campo astral onde vivem e que governa toda a sua personalidade. Nesse campo astral

35127-VI · QUEM NÃO DÁ NENHUM VALOR AO PODER . . .encontram-se numerosas forças de irradiação, que se explicam
totalmentepelopassado dohomem eda humanidade.Existem
também numerosas radiações que influenciam todos os mortais
em vista do estado atual da humanidade. Em terceiro lugar, existem influxos que, partindo do Reino Imutável, irrompem neste
mundo.
As influências do Reino Imutável, já não podendo atingir a
humanidade de modo direto em vista de sua vibração astral, são
transmitidas atravésdos sábios. Compreendei-o, portanto, que
por necessidade natural, o grande conflito élevado a cada um e
em cada um. A espada flamejante dos duplamente iluminados, a
espada flamejante do Santo Graal, a espada do Apocalipse, fere e
atinge todos os homens.
Vemos, desse modo, a situação dos que estão a tal ponto acorrentados astralmente que já não conseguem reagir de forma harmoniosa ao apelo da luz. Que intensos conflitos de consciência
nãoresultamdaí!Ouviravoz,percebero¯amadoe,noentanto,
não poder reagir!
Enquanto um dia de manifestação ainda está plenamente em
vigoremsuaascensãoedeclínioeamar¯aevolutivadesuatarefa
ainda não atingiu o nadir, a humanidade geralmente só percebe
muito pouco da fragmentada vida de conflito astral. Existem,
entretanto,contrastesentredoutrinaevida,masaindaépossível
escapar das consequências de alguma maneira. Todavia, quando
uma fase da humanidade se aproxima sistematicamente de seu
m, as di culdades desenvolvem-se com grande força e todos,
querendo fugir da grande exigência, são apanhados pela dura
realidade. É preciso então que mostrem de modo positivo sua
posição perante os mensageiros da luz.
Doravante revela-se claramente que nem o bem, nem o mal,
nem mesmo os grandes conhecimentos intelectuais conseguem
fazer o homem avançar um único passo no caminho do desenvolvimento.Todososvaloresaosquaistentamosdesesperadamente

352A GNOSIS CHINESAapegar-nossoçobramnonada.Observamosqueoshomensainda
têm, quando muito, algum instinto de bondade, porém que já
ninguém sabe o que é o bem e o que é o mal; que aquilo que
algunsconsideramobemé,poroutros,consideradocomoumsupremomal.Surge,então,àluzdodia,ofatodequeahumanidade
sempreviveudeilusõesequeexisteumasórealidade,ouseja,a
realidade donada. Porisso apergunta:“Qual serávossa atitude
diante dos mensageiros da luz e da loso a da luz em geral?”
UmaEscolaEspiritualmanifesta-sesempreno mdeumperíodo cultural.O apelopara umdespertar quedela emana força
cada um a reagir. A espada é ncada nas profundezas da alma
humana com a nalidade de atingir o átomo original do coração
e incitá-lo a uma atividade positiva. Dessa forma, nenhum mal é
criado,porémoúnicobem,queédoPaidasLuzesequerligar-se
a todos os que correm o risco de se perder.
Era necessário dirigir-vos essa mensagem, esse aviso. Tende
claramente diante de vossa consciência as últimas palavras do
capítulo27do
TaoTeKing:Quemnãodánenhumaimportância
aopoder dialéticoe nãoquer afogar-sena ilusãoda naturezada
morte, mesmo que sua conduta seja considerada uma grande
tolice, obtém a ligação com a onisciência.


354
Quemconhecesuaforçamasculinae,entretanto,conservasuamansidão feminina é o vale do reino.
Como ele é o vale do reino, a virtude constante não o abandonará,
e ele retornará ao estado natural e descomplicado de uma criança.
Quem conhece sua luz e, entretanto, permanece na sombra é um
exemplo para o reino.
Se ele é um exemplo para o reino, então a virtude constante nele
não falhará, e ele retornará ao in nito.
Quem conhece sua glória e permanece na desonra é o vale do reino.
Seeleéovaledoreino,neleavirtudeconstantealcançaráaperfeição,
e ele retornará ao estado original.
Quandooestadooriginalesimplesseamplia,ascoisassãoformadas.
Se o sábio zer uso detudoisso, ele seráo cabeçaincontestável dos
trabalhadores.
Ele governará na grandeza e não ferirá ninguém.
Tao Te King, capítulo 28

35528-I
O VALE DO REINO
Quando a Bíblia a rma que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, não deveis cometer o erro de pensar que se
trata da personalidade nascida da natureza. O verdadeiro homem
nascido de Deus é o microcosmo, a mônada. A personalidade é
o instrumento desse homem; com ajuda da personalidade é-lhe
possível aproximar-se da essência, do objetivo e da missão da
mônada.
Quando ouvis dizer que o homem é uma entidade autocriadora e que sua missão é de autorrealização, compreendereis que
é necessário aprender a considerar a forma humana aparente de
uma maneira nova, de uma maneira completamente diferente
daquela que o mundo está acostumado a ver. A personalidade
humana manifesta-se no mundo como homem e como mulher;
o fato de a natureza fundamental do homem e a da mulher serem
totalmente diferentes tem acarretado muita confusão e tristeza
no curso da mar¯a do mundo em direção ao seu nadir. Tem sido
também a causa de uma forte ligação com a natureza.
Desde o início do nadir, o homem compreendeu que era necessário haver uma perfeita cooperação entre as duas linhagens
humanas. Todavia, essa cooperação  sua essência, sua natureza,
seu objetivo  foi até hoje compreendida e aplicada de maneira
muito diferente. No nadir, uma colaboração realmente estreita,

356A GNOSIS CHINESAharmoniosa e de alto nível jamais existiu, de fato, entre as duas
linhagens, porque a verdadeira natureza dessa cooperação não
fo
i compreendida. É também por isso que houve épocas em que
os homens foram tratados como escravos, outras em que as mulheres o foram, isso para não falarmos de outros tipos de relações.
No antigo Egito, houve um período no qual o homem devia obediência à mulher. Essa exigência gurava no contrato clássico de
casamento e, mais tarde, nos contratos religiosos, os papéis foram
novamente invertidos.
Na magia, a cooperação entre o homem e a mulher em pé de
perfeita igualdade sempre foi reconhecida como natural. E na magia gnóstica, trata-se de uma exigência inelutável, pois, realmente,
nada de bom, nada de libertador pode acontecer se essa coopera­
ção não funcionar perfeitamente. Sem nos desviarmos de nosso
tema, esse grande princípio de cooperação deve ser de nido aqui
para delinear a natureza de muito terror e aprisionamento do
nadir, pois esse desastroso desenvolvimento foi causado pela ignorância quanto ao verdadeiro signi cado das forças duais que
atuam na natureza humana.
Da mônada, do microcosmo, emanam duas forças, duas correntes. Essas duas correntes são perfeitamente iguais entre si no que
se refere a seu valor e à sua importância. Elas mantêm uma relação
mútua positivo-negativa, no sentido comum do termo, porém
de polarização diferente nas mônadas humanas. Consideradas de
certa forma, todas as mônadas humanas podem ser separadas em
dois grandes grupos. Num dos grupos, uma corrente da mônada
está polarizada positivamente; no outro, é a outra corrente que
está polarizada positivamente.
Portanto, os dois grupos, embora perfeitamente iguais, distinguem-se nitidamente um do outro. Para designar essa similitude
na separação, falamos, como sabeis, de “inversamente proporcional”, portanto de “polarização inversamente proporcional”.
Não encontrareis essa expressão em nenhum dicionário, pois

35728-I · O VALE DO REINOtrata-se de um conceito totalmente desconhecido. Caso ele fosse
conhecido, sem dúvida o mundo atual seria diferente!
Além dessas duas correntes, as mônadas humanas ainda estão
separadas,porquestãodeirradiação,emsetegrupos,conservando
totalmente sua igualdade. Não abordaremos esse assunto para
evitar confusão.
Isso vos permite observar claramente que um dos resultados
da polarização inversamente proporcional das duas correntes monádicas é a existência de dois tipos de forma pela qual a mônada
se expressa nos diferentes planos de manifestação: a forma masculina e a forma feminina. Numa das formas, como força positiva,
como polo positivo, é a força masculina que prevalece; na outra,
prevalece a mansidão feminina como polo positivo.
Para evitar mal-entendidos, é preciso primeiro buscar uma
explicação para o sentido taoísta das expressões “força masculina”
e“mansidãofeminina”.Porque,comoosabeis,omundotambém
tem suas próprias interpretações a esse respeito.
Com o conceito “força” a loso a gnóstica designa o estado
monádico de poder. A mônada dispõe de um grande poder, de
uma série de poderes, através dos quais o grande plano divino
deve realizar-se.
O conceito “mansidão” designa a natureza intrínseca da mô­
nada, por exemplo, no sentido das palavras de Jesus: “Aprendei
demimquesoumansodecoração”.Amansidãoprovémdoamor
divino. “Bem-aventurados são os mansos, porque eles herdarão a
terra”, a rma o Sermão da Montanha.
A mônada abriga o ser divino duplo: a onipotência divina
e o amor divino, a força masculina e a mansidão feminina. A
onipotência, graças à polarização inversamente proporcional, é
representada exclusivamente pelo tipo original do homem. O
amor, pelas mesmas razões, é representado pelo protótipo da mulher. Isso, evidentemente, não exclui a presença do polo oposto
da mônada em cada uma das personalidades desses dois tipos.

358A GNOSIS CHINESAFazendo a abstração da forma e do caráter da manifestação
atual dos dois sexos na natureza da morte, bem como de todas as
di culdades e problemas que daí resultam na vida dos seres humanos, vereis claramente que, no interior da esfera vital de cada
entidade, a autorrealização é evidentemente possível. Com efeito,
o poder divino e o amor divino, as duas correntes monádicas,
estão presentes em cada forma humana. Todavia, é evidente que
essa autorrealização, embora idêntica em seus resultados, apresentará diferentes desenvolvimentos nos dois sexos, devido à maneira
como se refletem as diferentes polarizações da mônada.
Não faz o menor sentido tentar descrever o homem ideal ou
a mulher ideal. Eles não existem no nadir do mundo tridimensional! Trata-se, apenas, de vos fazer compreender, na maneira
taoísta, como cada mônada pode adquirir uma personalidade que
seja um instrumento ideal e de que maneira. E como, graças a esses instrumentos perfeitos, o reino terrestre e o céu-terra podem
realmente responder ao grande objetivo divino.
Sobretudo, não nos esqueçamos das palavras bíblicas que nos
dizem que no reino dos céus não se tomará nem se dará em casamento. O casamento é puramente um expediente necessário na
vida do nadir terrestre, aceito pela Gnosis, porém não essencial
para a vida libertadora.
Entretanto, o essencial é que, em todos os domínios da maté­
ria e do espírito, a cooperação monádica ocorra naturalmente.
Não banalizemos esse fato importante, e digamos apenas que, no
decorrer dos séculos, todas as Fraternidades gnósticas propagaram a esse respeito concepções muito diferentes da concepção
das massas. Essas concepções e comportamentos lhes acarretaram
muita confusão por parte do adversário devido à incompreensão
e à calúnia. Supomos que isso tudo seja do vosso conhecimento.
Com o terreno assim preparado, abordemos o capítulo 28 do
Tao
TeKing:Quemconhecesuaforçamasculinae,entretanto,conserva

35928-I · O VALE DO REINOsua mansidão feminina é o vale do reino. Também podemos inverter esse texto: quem conhece sua mansidão feminina e, entretanto,
utiliza sua força masculina, é o vale do reino.
Existe uma condição de poder da mônada e uma irradiação
de amor de Deus; ambos emanam da mônada. E conheceis as
palavras da primeira Epístola aos Coríntios, capítulo13: “Mesmo
que eu possuísse todas as coisas e não tivesse amor, nada seria”. O
amor, como corrente monádica, é, portanto, superior, pois sem
essa essência intrínseca da mônada a condição de poder não se
desenvolveria. A força de Deus manifesta-se na corrente de amor
de Deus. Portanto, vemos sempre as duas correntes monádicas
fundirem-se numa só. A partir dessa unidade, a trindade, a linhagem, a liação divina, torna-se uma grande realidade. Portanto,
se conseguis incitar essas duas correntes da mônada a se manifestarem na personalidade, a tornarem-se ativas, a liação divina
surge verdadeiramente em vós.
O “vale do reino” é uma antiga expressão ¯inesa para designar um verdadeiro laboratório alquímico. Da mesma forma que
encontramos terra fértil e habitações humanas nos vales, um verdadeiro aluno entrará no “vale”, na morada e na o cina da grande
Fraternidade se, da maneira correta, ele propiciar em si mesmo
o encontro das duas correntes monádicas, a m de que elas possam manifestar-se e colaborar de modo harmonioso: a força do
poder aliada à grande, à maior mansidão. É apenas sobre esse
fundamento que se tornarão possíveis a cooperação e a unidade
entre aqueles cujas personalidades diferem na forma devido à
polarização inversamente proporcional.


36128-II
A VIRTUDE CONSTANTE
O capítulo precedente marca o início dos comentários do capí­
tulo 28 do
Tao Te King, cujo primeiro versículo diz:Quem conhece sua força masculina e, entretanto, conserva
sua mansidão feminina é o vale do reino.
Dissemo-vosqueaexpressão“valedoreino”refere-seàintegração
e à participação na Fraternidade da Vida, na comunidade das
almas viventes. Para essa comunidade é ¯amado todo homem
que, enquanto homem-personalidade, consegue fazer as duas
correntes monádicas cooperarem de maneira correta: a força do
poder e a força da mansidão.
Quando essas duas forças se manifestam efetivamente em harmoniosa cooperação no homem nascido da natureza, elas provocam uma total modi cação na vida da referida pessoa. Todas
as di culdades que acompanham a prática do verdadeiro discipulado e, frequentemente, constituem obstáculos absolutos
pertencerão ao passado. O aluno encontrará a paz perfeita no
próprio ser, paz essa que ultrapassa de muito seu estado de ser
nascido da natureza. Tem início, então, a grande trans guração;
e esse aluno estará perfeitamente apto a elevar-se ao grupo dos
que estão igualmente sintonizados e dispostos, e dele fazer parte.

362A GNOSIS CHINESAO novo estado de ser dos homens que vivem e agem segundo
as duas correntes monádicas, a dupla força da rosa, é denominado
na loso a taoísta
virtude constante. Por isso é dito:Como ele é o vale do reino, a virtude constante não o abandonará, e ele retornará ao estado natural e descomplicado
de uma criança.
As duas correntes monádicas, que são liberadas no candidato e o
compelem a agir, tornam-no apto a colocar os pés no caminho da
libertação. A partir desse momento ele possui um poder prático,
utilizável para elevar-se acima da natureza da morte, acima das
experiências do nadir e, ligando-se à curva evolutiva, penetrar
progressivamente na nova natureza. Para tanto, ele tem a aptidão
 a virtude. Ele realmente voltou a adquirir a liação divina.
Como é de vosso conhecimento, a Bíblia fala frequentemente
da excepcional virtude da liação divina. A partir do momento
em que, no coração do homem, as duas correntes monádicas confluem e surge a luz da verdadeira rosa, nasce a liação, o espírito
da liação.
Quando, graças à sua correta atitude de vida, o homem se
transforma, então, o resultado dá testemunho disso, o espírito
dá testemunho; como o diz João, ele se tornou um lho de Deus.
Da mesma forma que uma criança, quando educada de maneira
correta, é guiada para realizar a sua vocação, também o aluno
nascido para a liação divina põe os pés na curva evolutiva e,
armado com a virtude constante que disso resulta, deve percorrer
de maneira correta seu caminho em direção ao alto.
Tudo isso está associado a uma missão, a qual, sobretudo no
início, não é totalmente percebida por quem se preparou para o
caminho. Por isso Lao Tsé dá indicações mais precisas sobre esse
assunto aos alunos que estão nesse ponto. Ele a rma que o candidato aos mistérios gnósticos precisa permanecer “na sombra”

36328-II · A VIRTUDE CONSTANTEe “na desonra”. Isso parece estranho, por isso analisaremos essas
palavras em maior profundidade.
Quem conseguir tornar manifesta a harmonia das duas correntes monádicas  a força masculina e a mansidão feminina,
a onipotência e o amor divino  será levado do imo, e não poderá agir de outra forma, a servir, a ajudar, a ser um exemplo,
dedicando toda a sua vida a favor de todos os que ainda se encontram na ignorância e nagrande confusão no fundo do poço
do nadir. Por isso é dito:
Quem conhece sua luz e, entretanto, permanece na sombra é um exemplo para o reino. Um irmão ou uma
irmã que carregar consigo o signo da virtude constante unir-se-á
espontaneamente às leiras da Fraternidade servidora.
Talvez seja interessante sublinharmos, aqui, as palavras marcantes com as quais nosso texto tem início:
quem conhece sua luz.Trata-se, portanto, do homem que tornou ativas em si as duas
correntesmonádicas,aduplaforçadarosa,eassim,àluzdooutro
reino, penetra no campo de trabalho das sombras.
Os que vivem dessas duas correntes monádicas e trabalham
com elas cooperarão da forma necessária devido à polarização
inversamente proporcional. É precisamente essa cooperação que
ostornaráinvencíveis,poisasduascorrentesdivinasserãolevadas
a manifestar-se com a mesma positividade sem se consumirem
mutuamente. Um resultado que só pode ser adquirido através
da cooperação se  prestai bem atenção  o grupo que cooperar
tivercompreendidoaessênciadavirtudeconstante.Ohomem
liberto, embora tendo se tornado autocriador e autorrealizador,
buscará, encontrará e aplicará sempre a cooperação, ou seja, a
unidade de grupo.
Portanto, podereis sempre saber diretamente, através de seus
atos ede seucomportamento habitual, se umobreiro coloca-se,
já no início, do lado da luz ou do lado da sombra. Os que se recusam a colaborar ou aceitam a colaboração em teoria, porém não
na prática e, ¯egado o momento, seguem seu próprio caminho

364A GNOSIS CHINESAem todas as circunstâncias, impõem sua própria lei e esquecem
totalmenteasleisdacooperação,essesaindasãorepresentantestí­
picosdohomemdonadir.Sãoelesquetendo¯egadoao mde
seu caminhar no nadir  ainda não encontraram a virtude constante e, de maneira egocêntrica, seguem seus instintos inatos de
bondade, bem como seu impulso para o trabalho e, agindo dessa
fo
rma, aceleram exatamente o movimento das forças opostas.
Particularmente numa Escola como a nossa, semelhante comprometimento egocêntrico será uma contínua fonte de di culdades,
de tensões e um fator de retardamento das atividades.
Quem ¯ega às portas de nossa Escola? Em geral, são os que
vivenciaramatotalfaltadeperspectivadanaturezadamorteese
tornaram sensíveis à Doutrina Universal. A Doutrina Universal
os toca e, em decorrência desse toque, eles passam por diferentes
fases de confusão dialética  pois a tampa do poço foi retirada
e os raios de luz atravessam as trevas  visto serem eles descendentes de pais que também passaram pelos labirintos do país das
sombras.
Em todos eles há um instinto de bondade e um poder de
vontade,reflexos extremamente pálidos das duas correntes monádicas. Além disso, eles têm, evidentemente, certas habilidades:
umtemcapacidadeparaorganização,outrotemodomdapalavra,
um terceiro pode escrever muito bem etc.
É desse variado grupo dos que lutam no fundo do poço da
morte e que perceberam alguns clarões de luz que são escolhidos
os obreiros introduzidos no processo da Escola. Não porque eles
conheçam a luz, mas porque eles buscam a luz e, por seu compromisso com o trabalho, portanto através de amarga experiência,
é-lhes dada a oportunidade de encontrar a luz e compreender
a virtude constante.É por essa razão que aEscola é uma Escola
Espiritual.
E a todos a quem é solicitado comprometer-se como obreiros
fala-se da unidade de grupo e das exigências relacionadas a isso,

36528-II · A VIRTUDE CONSTANTEdeterminadas pela santa lei e, espontaneamente, em obediência,
com anseio e compreensão, eles se juntam a essa unidade de grupo
e nela cooperam.
É assim que nasce uma comunidade de amigos. Porque a amizade também é um reflexo das correntes monádicas. É dessa
fo
rma que, num trabalho gnóstico que deve começar a partir
da base, surge um grupo que nada possui, que ainda nada possui,
mas que unicamente faz muitos esforços com seriedade e devoção.
Eles ainda não conhecem sua luz; seu sol ainda não se levantou.
Mas, em vista de seu renascimento, eles são protegidos pela luz
irradiante do corpo-vivo.
E, em semelhante grupo de obreiros, basta que alguns sejam
obumbrados pelas forças do adversário, conscientemente ou não
 inúmeras degenerações físicas ou psíquicas podem ocorrer
neste ponto  para que, imediatamente, o trabalho da Escola
se desenvolva mais devagar e seja até mesmo exposto aos maiores
perigos possíveis. Sim, a própria existência da Escola se encontra,
então, em grande perigo.
Por quê? Pois bem, tendes vossas amizades. Conheceis as exigências da unidade de grupo. Os reflexos monádicos da bondade
estão ativos em vós. O adversário conhece vossa mentalidade e
vossas ações durante essa fase de vida. Não abandonais os laços
criados por vós, tampouco vedes os perigos que eles representam,
pois vosso amor por vosso ou vossos companheiros de grupo predomina. Observai bem: não se trata do verdadeiro amor, porém
do reflexo monádico do amor em vosso estado de nascido da natureza. Esse reflexo em vosso estado não nascido é considerado
amor. É dessa forma que surgem as condições para um funesto
retardamento.
A ajuda do amor de Deus, que deve ser ofertada a todos os
que se afastam do caminho, é a ajuda da admoestação, a ajuda da
correção, a ajuda que impedirá que o mal e a injustiça sejam feitos
a outros. Consequentemente, é uma ajuda cuja nalidade deve

366A GNOSIS CHINESAser a proteção da Escola. Porque a Escola é o meio, o instrumento,
com auxílio do qual os que participam da virtude constante se
aproximam dos que ainda permanecem na sombra e na desonra.
Além disso, a Escola é uma o cina para os que desenvolvem a
virtudeconstante.Énecessáriocompreenderbemessesdoisaspectos da Escola para evitar um grande número de malentendidos.
Porque quem perde a Escola perde tudo.
Percebeis agora quanto, no decorrer de todos estes anos de
existência, a Escola Espiritual permaneceu orientada no sentido
de formar um grupo excepcional dentro do grupo geral. Desde o
início, cou patente que este seria um grupo capaz de, a partir da
base, entrar no vale do reino e possuir a virtude constante.
Pois bem, em primeiro lugar possuímos, na Comunidade da
Cabeça Áurea, composta de 32 membros, esse grupo excepcional
no meio do grupo geral. Trata-se de um grupo interiore dirigente,
portanto, a cabeça dirigente do corpo-vivo da Escola Espiritual.
Aseguir,osextoAspectodenossaEscolaEspiritualvivi cou-se
intensamente durante alguns anos. Ali, realiza-se um trabalho
que não utiliza os meios da natureza, porém unicamente as faculdades superiores. Essa é uma tarefa que se dirige a todos e que é
levada a cabo para o benefício de todos na Escola Espiritual.
Em terceiro lugar, temos um grupo que é estimulado à vida
interior, como resultado de uma participação consciente da vida
da alma divina, pela magia do Graal.
Não nos é possível aprofundar-nos mais nesse assunto, porém
compreendereis que os grupos considerados não podem executar a tarefa que lhes foi destinada baseados unicamente no país
das sombras e da desonra, porém que seu ponto de partida é exclusivamente o país dos verdadeiros viventes. Compreendereis,
portanto, plenamente estas palavras de Lao Tsé:
Quem conhece sua luz e, entretanto, permanece na sombra
é um exemplo para o reino.

36728-II · A VIRTUDE CONSTANTESeeleéumexemploparaoreino,entãoavirtudeconstante
nele não falhará, e ele retornará ao in nito.
Quem conhece sua glória e permanece na desonraé ovale
do reino.
No próximo capítulo queremos descrever esse caminho de sacrifício dos homens que estão dotados com as forças das duas
correntes monádicas e seus resultados.


36928-III
O SÁBIO SERÁ O CABEÇA DOS TRABALHADORES
Tentaremos apresentar-vos, de novo e tão claramente quanto
possível, o que vos dissemos sobre o capítulo 28 do
Tao Te King.O microcosmo está munido de grandes poderes e forças, que se
manifestam em duas correntes: a corrente da onipotência divina
e a corrente do amor divino. Essas duas correntes devem expressar-se na personalidade, que é o instrumento do microcosmo. Todavia, a personalidade só pode cumprir essa maravilhosa missão
se ela tornar-se capacitada para tanto. E foi no decorrer de longos dias de manifestação que ela foi preparada para cumprir essa
tarefa. Todavia, a personalidade não é um instrumento morto,
porém um ser vivo que deve con ar-se ao microcosmo com toda
a sua consciência e seu saber, a m de servi-lo e de receber as duas
correntes monádicas. Para essa nalidade, toda a personalidade
foi ¯amada, foi eleita desde o início.
O fato de que tudo o que está manifestado é dotado de vida
 vida essa proveniente de Deus, portanto, destinada, desde o
princípio, à liberdade e que sempre teve a faculdade de escolher 
explica que uma parte das personalidades da humanidade, devido
a uma escolha errônea e a erros menosprezados que levaram a uma
diminuição no desenvolvimento, provocou a perda da substância
de seu ser no labirinto da natureza da morte. Isso provocou danos

370A GNOSIS CHINESAe cristalizações que será preciso reparar e fazer desaparecer, antes
que possam ser cumpridas as verdadeiras tarefas prescritas por
Deus.
Quem percorre esse caminho de santi cação e de cura entra
no “vale do reino”  a vida real em Deus , descobre e aprende
como utilizar e colocar em prática as duas correntes microcósmicas. Ele ingressa, então, no estado de liação divina e torna-se,
imediatamente,comovimos,umobreirovaliosodoreinodaLuz,
no sentido absoluto, ou seja, um exemplo, o verdadeiro tipo do
obreiro do reino da Luz. E, em virtude do amor divino com o
qual ele está uni cado, sua primeira tarefa agora, na vinha de
Deus, será o restabelecimento e a libertação de tudo o que está
extraviado e decaído.
Neste ponto de suas reflexões, Lao Tsé mostra, de maneira
clara, a seus discípulos, que o sacrifício dos libertos pelos ainda
nãolibertosnãodevesercompreendidodemaneiranegativa.Do
ponto de vista da natureza da morte, o homem que se sacri ca é
um homem das dores, assim como Jesus, o Senhor, foi ¯amado
de “o homem das dores”. Todavia, é preciso compreender que
esse caminho de sacrifício da lógica signi ca um caminho reto,
a verdadeira ascensão rumo ao objetivo único. Por isso, Lao Tsé
diz:
Seeleéumexemploparaoreino,entãoavirtudeconstante
nele não falhará, e ele retornará ao in nito.
Os que ainda se encontram acorrentados no espaço tridimensional fazem uma nítida distinção entre o “acima” e o “embaixo”.
Mas para quem conhece sua luz, o “acima” é semelhante ao “embaixo”. Através do que está “embaixo” ele irá para o que está
“acima”. Isso signi ca que esse caminho de sacrifício, segundo a
lógica, é um caminho de alegria, a porta aberta para o in nito. O
homemqueseencontratotalmenteprisioneirodanaturezada

37128-III · O SÁBIO SERÁ O CABEÇA DOS TRABALHADORESmorte não experimenta o sacrifício como algo evidente, porém
como uma dor aguda, que ele procura evitar tanto quanto possí­
vel. Eis por que todos os que se aproximam da Gnosis Universal
devem modi car não apenas seu comportamento, mas também
sua visão da vida. Então, muitas vezes, graças a essa mudança de
visão, a dor se transformará em felicidade; a ideia de morte, em
vida; di culdades e tristezas, em alegria, sem que haja qualquer
modi cação nas circunstâncias de vida exteriores.
Algumas pessoas acostumaram-se a considerar difíceis, apavorantes e terríveis as situações em que se encontram; sua mentalidade acostumou-se de tal forma a isso, elas são tão dominadas
pelas representações mentais correspondentes, que já não conseguem mudar sua visão da vida, embora disponham de novas e
su cientes qualidades de alma. Portanto, elas não utilizam seu imperecível tesouro. Se elas pudessem abrir caminho para uma nova
visão da vida, fariam a experiência direta: transporiam a porta
e compreenderiam inteiramente o porquê das circunstâncias
externas. Por isso, Lao Tsé diz:
Quem conhece sua glória e permanece na desonraé ovale
do reino.
Se ele é o vale do reino, nele a virtude constante alcançará
a perfeição, e ele retornará ao estado original.
En m, compreendei as palavras:Quando o estado original e simples se amplia, as coisas são
formadas.
No estado original do nadir da humanidade, quando a escola
da vida na matéria ainda não havia caído no pecado, todas as
coisas, todos os valores, todas as formas materiais necessárias à

372A GNOSIS CHINESAvida tinham sido criadas nessa escola de experiências. Ora, todos
esses valores, essas coisas e essas forças dos primórdios ainda estão
presentes. Então, quando o estado original, simples, ampliou-se,
todas as coisas foram formadas indestrutíveis. Portando, o sábio,
o homem liberto, veri cará e reconhecerá todas essas coisas, e,
pleno de alegria e gratidão, de novo as usará e empregará. Eis por
que, Lao Tsé diz:
Se o sábio zer uso de tudo isso, ele será o cabeça incontestá­
vel dos trabalhadores.
Ele governará e não ferirá ninguém.


374
Seohomemqueraperfeiçoaroreinocomação,vejoqueelenãotem
sucesso.
Oreinoéumvasosagradodeoferendanoqualnãosedevetrabalhar.
Quem nele trabalha corrompe-o. Quem quer agarrá-lo perde-o.
Por isso existem homens que precedem e que seguem, que aquecem e que refrigeram, que são fortes e que são fracos, que estão em
movimento e que estão imóveis.
Por isso o sábio rejeita a extravagância, o excesso e o esplendor.
Tao Te King, capítulo 29

37529-I
O VASO SAGRADO DE OFERENDA
Como foram mal compreendidas, no decorrer dos séculos, as
palavras do capítulo 29 do
Tao Te King! Quão diferente seria
o mundo de hoje se tivéssemos compreendido o sentido dessas
palavras viventes de Lao Tsé!
De forma aberta e honesta, sem rodeios, embora com termos
sóbrios, Lao Tsé apresenta a seus alunos a verdade e a realidade.
Ora, atualmente, para que possais compreender seus propósitos,
faz-se necessária, pelo menos, uma exposição detalhada e aprofundada. A razão para isso repousa no fato de que o mundo e a
humanidade, durante séculos, evoluíram, desenvolveram-se e formaram-se, bem como cristalizaram-se numa direção que se afasta
totalmente da direção essencial. A humanidade está de tal forma
enredada no labirinto da miséria terrena e o mundo tornou-se tão
infernal que, se vos falássemos pela boca de Lao Tsé, dizendo-vos:
O reino  o mundo  é um vaso sagrado de oferenda no qual o homem não deve trabalhar, caríeis tão surpresos que protestaríeis
com indignação e zombaríeis talvez desdenhosamente diante de
tamanha tolice e ingenuidade.
O vaso sagrado de oferenda transformou-se num monturo!
Talvez conheçais os imensos perigos de natureza astral que se
acumulam atualmente ao redor do mundo e que brevemente
serão derramados no vaso sagrado. De que maneira poderíamos
conceber e compreender tudo isso?

376A GNOSIS CHINESAPrimeiro, é preciso ter uma justa ideia do que seja “o reino”.
Não penseis aqui em algum império ¯inês ou num antigo principado. Tampouco deveis pensar que se trate de algumas instruções
dadas a dirigentes, ministros ou outras autoridades. O reino é,
em primeiro lugar, o planeta terra em manifestação: o reino onde
a personalidade humana deverá revelar-se plenamente em sua
fo
rma. Além disso, o reino é o céu-terra, a verdadeira morada de
Deus, oferecida por ele à humanidade como local de morada para
o homem verdadeiro segundo espírito, alma e corpo. Deveis ver a
terra terrena e o céu-terra como dois-em-um, indissoluvelmente
ligados; juntos, eles formam “o reino”.
Esse reino é o “vaso sagrado de oferenda”, isto é: um espaço
preparado e mantido pelo Logos, no qual um poderoso trabalho, magní co e divino deve realizar-se segundo a decisão do
princípio: “Façamos o homem à nossa imagem conforme a nossa
semelhança”. E pensastes, por um instante sequer, que essa decisão divina do princípio pudesse não ser executada? Múltiplas e
grandes forças, inúmeras ondas de vida, diferentes da nossa, têm
sido ¯amadas para esse poderoso trabalho, a m de assistir, em
sua evolução, as mônadas ¯amadas ao processo de vir-a-ser do
homem.
Essa assistência é um caminho de sacrifício, um serviço em
fo
rma de oferenda no vaso sagrado, que dura desde tempos imemoriais e continuará, a m de conduzir o grande plano até seu
supremo triunfo. Os Senhores do Destino, os Senhores da Compaixão, numerosas hostes de anjos e um grande número de outros
seres sublimes formam, em conjunto, a multidão dos servidores
que fazem essa auto-oferenda, a multidão dos que estão unidos
num único ser poderoso, conhecido como “a gueira sempre
vivente”.10
10Rij¨enborgh, J. v. e Petri, C. d. A Fraternidade de Shamballa, São Paulo,
Editora Rosacruz, 2007, capítulo 10  Os Filhos da Vontade e da Ioga.

37729-I · O VASO SAGRADO DE OFERENDAA grande oferenda da gueira sempre vivente no vaso sagrado
não cessará enquanto todas as mônadas, que são ¯amadas ao vir­
-a-ser do novo ser humano, não tiverem ingressado nesse elevado
estado de ser.
Estais habituados a considerar-vos “homens”. Falais em “homem” e em “humanidade”  porém não o sois  ainda não! Essa
ilusão foi-vos inculcada pela teologia e pela deformação da verdade original. Por isso, é bom ter claramente diante dos olhos a
totalidade do caminho da humanidade.
No decorrer de numerosos períodos de preparação, o vaso
sagrado de oferenda, o “dois-em-um” planetário, adaptou-se totalmente ao caminho do vir-a-ser humano da mônada. Para designar
o processo inteiro de involução, de passagem pelo nadir e de
evolução, bem como para descrever o estado completo do vaso
sagrado de oferenda, a loso a da Rosacruz fala de sete esferas,
sete aspectos do “dois-em-um” planetário.
Talvez seja do vosso conhecimento que, por uma questão de
conveniência, essas esferas são designadas pelas letras
A, B, C etc.
Vivemos atualmente na esfera
D, a esfera do nadir. A esfera E, a
quinta da série de sete, encontra-se num plano superior, isto é,
não do lado da involução do vir-a-ser humano da mônada, porém
do lado da evolução. Cada esfera passa por sete desenvolvimentos
que, em certo sentido, são em parte repetições das esferas precedentes e em parte preparação para os desenvolvimentos seguintes,
para as manifestações ulteriores do “dois-em-um”.
Vivemos atualmente, conforme dissemos, na quarta esfera, a
esfera
D, portanto, a esfera do nadir. Nessa esfera existem, atrás
de nós, três épocas onde o passado original, por assim dizer, se
repetiu. Estamos atualmente na quarta época, a época Ariana,
em que o aspecto da terra novamente sofreu, uma vez mais, algumas transformações secundárias. A época Ariana é decisiva, pois
é nesse momento que são concluídas toda a involução e toda a
preparação do aspecto formal das coisas e que o aspecto interior,

378A GNOSIS CHINESAo núcleo, deve manifestar-se. Primeiro, nessa esfera D, nas três
épocas ulteriores, o futuro da humanidade manifestar-se-á como
realidade e cumprir-se-á totalmente. Depois, seguir-se-ão três poderosos e magní cos desenvolvimentos das três esferas seguintes:
E, F e G.Utilizamos essa imagem cosmológica para que possais ter uma
clara noção da natureza do vaso sagrado de oferenda. E, caso
tenhais adquirido uma nítida imagem, então sabereis perfeitamente que extraordinário plano de desenvolvimento está na base
do vir-a-ser humano para o qual são ¯amadas as mônadas divinas.
E também sabereis que esse plano não pode fracassar, porque a
gueira sempre vivente envolve o vaso sagrado com sua sombra.
“O plano que serve de base para o vir-a-ser humano não pode
fracassar.” Não seriam essas palavras, ditas em tom axiomático, no
máximo um desejo piedoso? Não refletiriam elas um otimismo
totalmente injusti cado, se considerarmos a atual passagem pelo
nadir? Examinemos isso mais de perto.
É evidente que a humanidade vive, novamente, uma profunda
crise na atual fase da época Ariana, da mesma forma que Lao Tsé
e os seus viveram em seu tempo. Essa crise é causada, entre outras
coisas, pelo fato de a humanidade, em vista de seu egocentrismo,
de sua ignorância e da falta de força de alma verdadeiramente
libertadora que daí resulta, não querer sair das profundezas do
nadir para empreender a ascensão libertadora na curva da evolução. E é impossível forçá-la a isso, porque esse processo deve
realizar-se em unidade, liberdade e amor, com o auxílio de uma
alma renascida proveniente das duas correntes monádicas de que
vos falamos no capítulo precedente.
Caso esse novo estado de alma esteja ausente e a confusão tridimensional bloqueie completamente a reminiscência da mônada,
qualquer progresso é, então, totalmente barrado. Em vista disso,
o inteiro plano-em-manifestação corre o risco de desagregar-se.

37929-I · O VASO SAGRADO DE OFERENDAEntão, a humanidade é confrontada com o amargo fato de que os
homens se dilaceram e se devoram mutuamente como animais
fe
rozes, numa corrente mortal de autodestruição  na qual e
pela qual uma revolução cósmica dá, de tempos em tempos, um
pequeno empurrão. Acaso nossa situação mundial não está aí
perfeitamente caracterizada?
Não, mil vezes não! Os tempos de crise que, mais uma vez,
atravessamos são a mais clara prova de que a gueira sempre vivente não abandona a humanidade, que não há nenhum desvio
do plano original que prevê transformá-la em “homens”, em outras palavras, em seres feitos à imagem e semelhança de Deus, e
que a grande exigência é, e continua sendo, a autorrealização.
De fato, não se trata unicamente de uma exigência, mas também de uma necessidade natural, de uma saída evidente. O vaso
sagrado de oferenda, ou cratera sagrada, como diz Hermes,11 fundamenta-se em leis naturais que oferecem ao novo homem uma
única saída: o aperfeiçoamento e a libertação pela autorrealização.
A m de compreender essa lei natural, deveis levar em consideração os seguintes aspectos de vida:
em primeiro lugar, falamos da mônada ou microcosmo no homem em processo de vir-a-ser;
em segundo lugar, como dissemos no capítulo anterior, dessa mô­
nada emanam duas correntes de força inversamente polarizadas:
a força masculina e a mansidão feminina;
em terceiro lugar, falamos de um ser monádico, ou ego da mônada
(= consciência do microcosmo), de cujo núcleo emanam as duas
correntes;
11Rij¨enborgh, J. v. A arquignosis egípcia, t. 2, São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1986, cap. XXI  A cratera sagrada.
380A GNOSIS CHINESAem quarto lugar, pelo nascimento natural, sempre surge uma
personalidade, que é um instrumento a serviço da mônada;
emquintolugar,essapersonalidadepossuiumaconsciêncianatural, um eu, o eu nascido da natureza ou ego: o estado de consci­
ência nascido da natureza;
emsextolugar,existeum ser cármico,tambémdenominadoeu
ou ego cármico, o ser astral, o adversário, ou o diabo;
em sétimo lugar, esses aspectos vitais, que se manifestam em cooperação ou em oposição, garantem, com perfeição, a vitória nal
do plano de Deus.
Esperamospoderdemonstrar-vosissoincontestavelmentenopró­
ximocapítulo.Seoconseguirmos,compreendereisperfeitamente
o capítulo 29 do
Tao Te King.
38129-II
O CAMINHO DA VITÓRIA
Voltemos a ter em mente a imagem da cratera sagrada, tal como
está descrita no capítulo anterior, o vaso sagrado de oferenda
do dois-em-um: a terra-terrena e o céu-terra. Na cratera sagrada
encontram-se em primeiro lugar, a poderosa força da gueira sempre vivente que sacri ca a si mesma, em segundo lugar, o sistema
humano sêxtuplo em manifestação, de onde deve ressurgir, um
dia, o verdadeiro homem. Também poderíamos denominar Corrente Universal a força que assim se sacri ca com sua linhagem
ininterrupta de mensageiros e de portadores da salvação como
Lao Tsé, Hermes Trismegisto, Buda e Jesus Cristo. Também
podemos simplesmente falar em Deus.
Tornar-se-á claro para vós que, desde o começo do desenvolvimento da mônada, cada entidade esteve em contato vivo com
essa grande corrente que se sacri ca no vaso sagrado de oferenda.
“Mônada” signi ca centelha divina. É por isso que Deus se comunica com a mônada. E se falamos, ao mesmo tempo, de mônada e
de microcosmo, deveis compreender que a irradiação da centelha
divina, ao redor da mônada, forma um sistema, um microcosmo.
Portanto, desde o começo, a centelha divina esteve em ligação
com o incomensurável esplendor da força divina do vaso sagrado
de oferenda.

382A GNOSIS CHINESADesde o começo, e ainda agora, cada entidade vivencia essa
ligação como uma lei natural, como um influxo regular, onipresente, que cada criatura que se encontra no processo do vir-a-ser
experimenta. É evidente que o plano, a ideia que está na base
desse vir-a-ser, ¯ega até a criatura graças a esse influxo. Esse é o
espírito que deve tornar a criatura verdadeiramente vivente. Esse
espírito é eterno e invariavelmente o mesmo.
Examinemos agora o seguinte: vamos supor que ainda ignoreis esse plano divino, que não tenhais tido nenhuma experiência
ligada a ele, que, como personalidade, ainda não possuís nenhum
instrumento superior para reagir a ele de maneira consciente,
portanto, para colaborar com ele. Existem, de um lado, a mô­
nada, a centelha divina com seu sistema, o microcosmo, e, de
outro, a personalidade ainda na ignorância, incapaz de reagir
conscientemente, por pouco que seja.
Nessa situação, seríeis absolutamente levados, apesar de tudo,
a reagir, seríeis mesmo obrigados a isso! De que forma isso pode
acontecer, então? Devido à estrutura de vosso estado de ser atual
que descrevemos no capítulo anterior. Há uma mônada, um
microcosmo, que envolve vossa personalidade atual. Esse microcosmo possui um núcleo, também denominado eu monádico, de
onde emanam duas correntes. É absolutamente evidente que o
microcosmo reage inteiramente à grande força espiritual que se
sacri ca no campo de manifestação. É por isso que falamos do
“Deus em vós”.
É preciso agora que a personalidade, no centro do microcosmo,
torne-se um verdadeiro instrumento a serviço da mônada, a serviço da força divina que se oferece. Para isso, a personalidade
possui, desde o nascimento, uma série de possibilidades e um duplo ego: a consciência-eu com a qual, por exemplo, apreendeis o
conteúdo deste livro, e um eu cármico, um ser astral.
Vejamos agora o processo! O espírito do vaso sagrado, ou seja,
a grande força divina que se manifesta no sistema terrestre, leva a

38329-II · O CAMINHO DA VITÓRIAmônada à realização. É o grande plano contido nas palavras: “Fa­
çamos o homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança”.
Esse plano ca gravado na mônada e ela o irradia e o transmite à
personalidade. A mônada esforça-se por transmitir para a vossa
consciência, portanto para o vosso eu, a sugestão desse plano,
a grande ideia, e de fazer do vosso eu um instrumento flexível
e obediente, de modo que toda a personalidade experimente o
resultado disso.
Suponde agora que o eu não reaja, não possa ou mesmo não
queira reagir. Nessa situação que conheceis bem, o ser astral, o
ego cármico, sempre reage, sem exceção. Quando, emanando
da cratera divina, um impulso vos é enviado por intermédio da
mônada e vós, como consciência-eu, vos recusais a reagir, o ser
astral sempre reage. O ser astral registra cada reação errada, cada
comportamento e cada atitude da personalidade que não esteja
em harmonia com a grande força propulsora.
Além disso, atentai para o fato de que o ser cármico nunca
é aniquilado pela morte. Quando a personalidade morre e a essência da personalidade se volatiliza totalmente, o ser cármico
permanece. Ele sobrevive à morte, ele é imortal e, graças a Deus,
torna-se novamente ativo na personalidade seguinte! Porque,
caso o ser cármico fosse aniquilado, os mesmos erros seriam incessantemente cometidos!
Entretanto, devido à sucessão de personalidades, o ser cármico
torna-se cada vez mais experiente. E, como ele nasceu de reações
erradas com relação à lei divina, é evidente que, quando ele se
torna su cientemente forte, ele nos inspire sentimentos, pensamentos e ações que nos parecem naturais como dores, penas,
dissonâncias agudas, en m, um grande sofrimento.
Podeis perguntar: “De onde provêm minhas di culdades?
Qual a razão desse caminho penoso e doloroso através da vida?”
Poisbem, acausaestánofatodequevossoserastralvosconfronta
com todo o vosso passado no nadir da materialidade.

384A GNOSIS CHINESAE compreendereis que semelhante confrontação, com suas
consequências penosas e dolorosas, acaba por demolir a personalidade inteira! Essa é a causa da vossa morte!
Quando o homem se encontra face a grandes di culdades, em
sua ignorância, ele às vezes clama: “Ó, Deus, ajudai-me!” Porém
Deus, a grande força da gueira sempre vivente que se oferta,
nos ajuda desde o começo! Ele não poderia agir de outra forma.
Porque as sugestões e as radiações do espírito afluem até o homem,
até a personalidade, por intermédio da mônada. Por conseguinte,
a vida ¯eia de experiências amargas, com todos os seus aspectos
negativos é, de fato, uma completa ilusão quando comparada ao
impulso divino.
Toda essa amargura e todas essas perturbações da vida não
fazem parte da Divindade. É o próprio homem que castiga a si
mesmo. A resistência que ele sente por parte do ser astral, esse
freio, é o reflexo, a soma de todas as suas reações incorretas. A
Divindade ¯ama-vos, toca-vos e quer levar-vos para a única direção possível, para a libertação. Se vossa reação não for positiva,
o ser astral funcionará como freio na vida. A mar¯a de vossa
existência é diminuída, nalmente para e girais em círculos no
fundo do poço da morte.
Assim, pois, ao olhar no espelho de vosso passado, sois confrontados com a soma das reações errôneas. Verdadeiramente, um
espelho mágico! E esse espelho mágico mata vossa personalidade.
Uma vez, mil vezes, dez mil vezes? Em relação a isso não há limite,
de acordo com a lei!
E a lei que foi estabelecida para vós é: devereis aprender a lição.
Finalmente, olhareis tanto no espelho do ser cármico e sofrereis
a tal ponto as consequências disso na e com a consciência-eu,
que esta, mediante a puri cação, se abrirá, e ouvireis, nalmente
ouvireis, a voz da mônada, isto é, a voz de Deus.
Nesse momento, a consciência-eu deve agir; porém não seguindo mais algumas recomendações ou conselhos externos que

38529-II · O CAMINHO DA VITÓRIAtanto recebeis em meio a provações. E, novamente, o ser cármico
registrará, reterá e veri cará o resultado dessa reação.
Assim que essa resposta vital, resultado da correta reação à
voz da mônada, surja realmente do interior e passe para o primeiroplano,elaseráregistradaeconservadanosercármico;nasce,
então, o que Hermes Trismegisto ¯ama de “o bem absoluto”.
Fica evidente que, se ainda nutris esperanças com relação a esta
vida, se a considerais agradável e pensais que ela encerra todas as
perspectivas possíveis, o ser astral não perderá nada de suas forças.
E mesmo que, em tal disposição, sigais os conselhos da Escola
Espiritual porque atravessais um momento difícil e modi queis
vosso comportamento, compreendereis que o “bem absoluto”
ainda não poderá nascer.
Somente quando vossas reações mudarem realmente do vosso
imo e as consequências se tornarem evidentes, nascerá o “bem
absoluto”hermético. Portanto, apartirdessemomentoeparalelamente à vossa consciência-eu, coexistirão dois seres. Na literatura
universal eles são designados o mal e o bem, o anjo negro e o anjo
branco.
É assim que, graças à nova força do bem, a personalidade em
desenvolvimento dá à alma um novo potencial indestrutível. Indestrutível,porqueobemabsolutoqueagoratomaforma,devido
à reação correta, liga-se imediatamente
com a força da mônada,
que quer tocar o homem, com a força divina que se sacri ca e
trabalha por intermédio da mônada.
Com essa força, a outra força astral, que provoca tantas oposi­
ções, é ultrapassada, neutralizada, expulsa e, embora permaneça
um vestígio, ela não poderá nunca mais prejudicar o sistema vital.
Portanto,semelhantehomemteráperfeitoconhecimentodomal,
pois suas cicatrizes estão gravadas em seu ser. Ele compreenderá
o mal, sem precisar novamente suportá-lo como tal.
O ser astral apresenta ao homem o somatório das experiências vividas e das condutas que possibilitaram ao bem absoluto

386A GNOSIS CHINESAnalmente manifestar-se. Resumindo: se não respondeis positivamente à voz divina, à voz da rosa, produz-se uma reação em
vossa vida. Todos os vossos erros são registrados no ser astral e
são enviados de volta para vós. Então, olhais num espelho. Todas
essas radiações voltam-se contra vós. E essa força impeditiva vos
força a escutar a voz.
Entretanto, se escutais interiormente e reagis bem, acontece
exatamente o contrário. Os resultados da reação correta, da reação positiva, desenvolvem-se em uma força. Essa força vai se
tornando cada vez mais poderosa e, em dado momento, repele
tudo o que em vós oferece resistência. Ingressais, então, na irradiação do eu monádico. O ser astral vos traz a soma de todas as
condutas e experiências vividas e, em dado momento  embora
isso possa levar um longo tempo  o bem absoluto manifesta-se.
Por essa razão pode-se a rmar que a vida humana em todos os
seus aspectos manifestados atingirá a grande vitória, quer colaborando, quer lutando. Em consequência de sua existência, em dado
momento, o ser humano é obrigado a demonstrar claramente
essa grandiosa autorrealização. Todos os homens encontrarão a
senda. Todos provarão a vitória através da autorrealização.
Ninguém recebe nada de presente. Ninguém pode afastar o
cálice da autorrealização; ele deve ser bebido até a última gota.
Porque uma lição não aprendida, uma força não realizada, e uma
faculdade não empregada sempre se vingam em dado momento.
Portanto, o processo de automanifestação deve ser absoluto. Somente dessa forma Deus pode manifestar-se na carne. Jesus, o
Senhor, o protótipo do verdadeiro homem, o demonstrou até
o último segundo. Ele não poderia afastar o cálice do qual bebeu. Era preciso que ele percorresse a via-crúcis das rosas até seu
último suspiro.
“Não se trata de uma lição muito dura, muito dolorosa?”, poder-se-ia perguntar. “De que forma pode o homem atual, decaído,
cristalizado como pedra, realizar essa verdade em si mesmo?”

38729-II · O CAMINHO DA VITÓRIAQuem faz essas perguntas dá provas de que ainda não passou
por essa experiência interior. Ele ainda se encontra totalmente
sob os golpes do ser astral, que, como um espelho, lhe reenvia seus
erros. Ele ainda não produziu nenhuma parcela do bem absoluto
e com certeza ainda não possui a força necessária para ultrapassar
seu adversário astral.
Osqueseguemessecaminhoesóopodemosascenderquando
su cientemente puri cados  sabem que, quando algo do bem
humano, a nova força da alma, aparece no sistema, a união é imediatamente celebrada, não somente com a mônada, mas também
coma gueirasempreviventequeseencontranovasosagrado,no
centro do Paraíso de Deus. Eles entram imediatamente na autoiniciação. E um clarão dessa força de amor eleva todo seu ser, proporcionando-lhes uma alegria e uma felicidade tão grandes que
eles louvam a Divindade por sua graça e seu plano maravilhoso.
Sabeis que atualmente toda a humanidade está se esforçando
ao máximo  de forma totalmente errônea com relação ao plano
divino  para atingir um objetivo que pudesse estar um pouco
em harmonia com a dignidade humana. E conheceis o resultado!
Somente onde a alma estiver o espírito estará. Ali, vivem a paz,
o amor, a alegria e a felicidade. Ali, o homem abandona o nadir
para elevar-se na curva da evolução. Caso contrário, o resultado
será negativo.
Épor issoque
seohomemqueraperfeiçoaroreinocomatividade,
vejoqueelenãotemsucesso.Oreino
 o mundo do dois-em-um éumvasosagradodeoferenda, cujo objetivo não pode ser atingido
pelo eu nascido da natureza.
Quem neletrabalha com objetivos
dialéticos
corrompe-o. Quem quer agarrá-lo perde-o.Quem quiser aprender essa lição, quem puder aprendê-la interiormente, quem quiser submeter totalmente sua ambição, seu
eu, ao vir-a-ser do Universo, ¯egará ao topo da montanha.
Sem dúvida, compreendeis agora a intenção de Lao Tsé no
capítulo 29: indicar o caminho direto para a vitória. Por isso,

388A GNOSIS CHINESApermiti-nos que vos falemos ainda mais sobre esse caminho direto
no próximo capítulo, colocando-o à luz esclarecedora da Gnosis
Universal.

38929-III
NINGUÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORES
Osquedesenvolvemomaiornúmerodeatividadessãoosque,em
seu estado de ser nascidos da natureza, perambulam no fundo do
nadir no caminho seguido pela humanidade, atormentados pelas
consequências de seu comportamento errôneo, cujo registro vivo
é gravado em seu ser astral. Enquanto ainda podem manifestar
alguma atividade e dispor de alguma força vital, eles travam uma
intensa luta para manter-se e salvaguardar seu mundo.
Já no passado mais remoto o homem descobriu quão desesperado,inútilevãoerasemelhanteesforço.EmEclesiastes,capítulos
1 e 2, lemos: “Que proveito tem o homem, de todo seu trabalho,
que faz debaixo do sol? […] Porque todos os seus dias são dores e
a sua ocupação é aflição; até de noite não descansa o seu coração.
Também isto é vaidade”. Que verdade está contida nas palavras
de Lao Tsé:
Se o homem quer aperfeiçoar o reino com atividade, vejo
que ele não tem sucesso.
Com efeito, vós o sabeis por experiência própria. Portanto, não
há razão para nos perdermos em enumerar argumentos e dar
exemplos.

390A GNOSIS CHINESATodavia, não minimizeis o caminho e seus efeitos, repetindo
esta frase bem conhecida de todos: “Sim, realmente, trata-se
da dialética, do movimento das forças opostas!”, para, a seguir,
contrapor a passividade com a inutilidade de uma série de atividades, como inúmeros homens apregoaram no passado e o
demonstraram por suas ações.
Como bem o sabeis, a natureza da morte manifesta-se como
um deserto sem consolo, hostil e ¯eio de perigos. Os quatro
reinos da natureza estão em total desarmonia mútua. Se o homem
nascido da natureza quer, por pouco que seja, manter-se, ele
deveengajar-se em grande número de atividades, pois, cessando de ser
ativo, ele ca sem alimento e perece na matéria e no lamaçal das
imundícies da vida comum.
Por essa razão, é necessário aceitar as exigências e os hábitos da
vida civilizada e, nesse sentido, acolher com alegria um mínimo
de cultura. Porque o “reino” tal como o conhecemos, com certeza não pode ser ¯amado de “vaso sagrado de oferenda”. Isso é
impossível, mesmo com o maior otimismo.
Na verdade, devido a seus inúmeros desvios do caminho, cada
mortal adquiriu um ser astral tão carregado com a soma dos pecados passados  e, portanto, o conjunto da humanidade atraiu
para si um campo astral tão tenebroso  que se torna necessário
um esforço diário ininterrupto para frear, tanto quanto possível,
a fatalidade do destino.
Quem desejasse considerar ou empregar as práticas sociais da
natureza da morte como base para um desenvolvimento libertador futuro, e de acordo com isso desenvolvesse todo tipo de
atividades a m de incitar o mundo e a humanidade à realiza­
ção, descobriria, sem exceção, não apenas que ele não conseguiria
como também corromperia tudo, sim, que ele poria tudo a perder.
Os esforços envidados após a guerra no plano religioso, no
sentido de despertar a fé para manter os jovens na igreja e para
colocar a igreja no meio do povo tiveram um resultado negativo.

39129-III · NINGUÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORESA igreja se adaptou ao mundo de hoje, portanto, às condições
astrais de hoje. Dessa forma, ela agrava a confusão e precipita o
declínio.
Por isso, deveis considerar o mundo em que vivemos unicamente como um espaço fe¯ado, relativamente pequeno, no interior do vaso sagrado de oferenda do dois-em-um. O vaso sagrado
de oferenda é intocável; ele se encontra em estado de perfeição.
Ele já não necessita ser trabalhado! E muito menos por um ser
nascido da natureza, prisioneiro do ser astral.
Quemneletrabalha nesse estado  corrompe-o.Portanto, a única coisa necessária é, pois que quem consegue
compreender isso verdadeiramente do interior liberte-se do poço
da morte através da autorrealização. Procurai sempre manter essa
realidade diante de vossos olhos. Quem deseja percorrer a senda
e entrar no vaso sagrado de oferenda dará a este mundo o que é
deste mundo. O que signi ca que, nesta natureza, nem é preciso
dizer, ele cumprirá sua tarefa com relação a todos os que a ele
são ligados, porém nada mais! Porque ele dará a Deus o que é de
Deus. O homem sábio evitará, aqui na natureza da morte, toda
atividade excessiva; ele recusará toda concessão a esta natureza;
ele não disporá de nada supérfluo que o ligue a esta natureza; e
ele dissipará completamente a ilusão das belezas deste vale de
lágrimas!
“Não se pode servir a dois senhores.” Todos os grandes mensageiros cujo propósito era a salvação deste vale de lágrimas anunciaram o que Lao Tsé tinha em vista: “não se pode servir a dois
senhores”, ninguém pode perseguir, simultaneamente, dois objetivos. É impossível servir, ao mesmo tempo, a Deus e ao vosso ser
astral.
Eis por que o Evangelho de Jesus Cristo é para os verdadeiramente fortes, fortes interiormente. A Escola Espiritual da jovem
Gnosis apela para alunos fortes, rmemente decididos, alunos
que caminhem verdadeiramente à frente.

392A GNOSIS CHINESACom efeito, alguns caminham à frente, e muitos se aquecerão
no calor de seu coração. Alguns caminham à frente, e servirão
de bálsamo para os que são consumidos por seu fogo interior.
Os fortes sustentarão os fracos. E os que estão em movimento
incitarão os que estão parados a caminhar.


394
Os que, no Tao, ajudam a quem governa os homens não subjugam
o reino com a violência das armas.
Aquiloqueéfeitoaoshomensérecebidodevoltadamesmamaneira
como foi dado.
Por todas as partes onde estiveram os exércitos crescem espinhos e
cardos.
Às grandes expedições seguem-se certamente anos de fome.
O verdadeiramente bom dá um único golpe certeiro e para; ele não
ousa perseverar na violência grosseira.
Ele dá um único golpe certeiro, porém não se engrandece.
Ele dá um único golpe certeiro, porém não se vangloria disso.
Ele dá um único golpe certeiro, porém não se orgulha disso.
Ele dáumúnico golpe certeiro,mas unicamente porque não pode
agir de outro modo.
Ele dá um único golpe certeiro, mas não quer parecer forte nem
poderoso.
No auge da força, os homens e as coisas envelhecem. Isto signi ca
que não são semelhantes aoTao. E o que não se assemelha aoTao
rapidamente ¯ega ao m.
Tao Te King, capítulo 30

39530-I
NÃO À VIOLÊNCIA DAS ARMAS!
No trigésimo capítulo do Tao Te King, Lao Tsé aborda um assunto muito discutido em nossos dias sem, no entanto, esgotá-lo,
embora todos os meios de comunicação se ocupem dele. Trata-se
da grande discussão sobre os prós e os contras das disputas por
meio da violência das armas no mundo moderno.
Com efeito, essa discussão mundial ¯egou ao apogeu há algumas dezenas de anos. Os leitores mais idosos se lembrarão da
intensa luta sem armas travada por grandes grupos de idealistas
contra os portadores de armas e os partidários do armamento.
Milhões de homens de pensamento humanitário entraram de
cabeça e coração nessa agitação, agitação essa tão bem sustentada
que, na Holanda, por exemplo, a recusa a servir o Exército, quer
por ideal, quer por convicção religiosa, foi reconhecida por lei.
Sabeis que muitos jovens da Escola Espiritual valem-se dessa lei,
embora a Escola não os obrigue a isso12 nem possa fazê-lo, por tratar-sedeumaquestãodeestadodeser interior, sempresubmetido
a um processo de crescimento.
É provável que conheçais os grandes idealistas mundiais que
estimularam a humanidade à conquista dessas concepções altamente morais. Seu apelo e seu exemplo, no decorrer desses anos,
12Em 1997, o serviço militar foi abolido na Holanda (N.E.).
396A GNOSIS CHINESAcomoveram profundamente uma multidão de homens. No entanto, sabemos que esse belo e magní co período de idealismo
prático  idealismo esse que, nos primeiros anos do século vinte,
empolgou os jovens  já passou de nitivamente. Esse idealismo
prático foi atingido por uma série deacontecimentos mundiais
que tornaram a maior parte da humanidade tão duramente realista que todos os belos ideais foram varridos como por uma
tempestade e demonstraram ser impotentes no movimento das
forças opostas.
Embora notáveis, faltavam a seus fundamentos os valores e as
certezas necessárias. E como o sabeis, talvez até por terdes tido
uma experiência pessoal, quando um ideal está inegavelmente
presentesobcertoaspecto,masnãosoboutros,écomoumcastelodecartasdestinadoadesmoronarrapidamente.Aidealidade
só se transforma em realidade quando ela é totalmente livre de
toda conformidade com o mundo e seus valores e perfeitamente
sintonizada com o plano de Deus, que se encontra na base do
verdadeiro vir-a-ser humano.
A ideia, a frase: “Guerra nunca mais!”, é um desejo, que provém do fundo do coração, de realizar o verdadeiro vir-a-ser humano. Mas como contentar, satisfazer semelhante desejo sem
conhecer o plano da verdadeira evolução humana? E se, consequentemente, estivermos inteiramente adaptados à vida comum
dahumanidadedoséculovinte?Seremosentãocomoumhomem
que põe fogo em sua casa e, depois, senta-se sobre os escombros,
orando:“Senhor,dá-meumacasa!”Poressarazão,quemconhece
e percebe a realidade de nosso século deve compreender que, se
continuar a comportar-se como de hábito, as “guerras e os rumores de guerras” bem como as tensões e os fenômenos a eles
relacionados continuarão a existir.
Sabeisque essetambémé opontodevistada Bíblia. O Evangelho de Mateus, capítulo 24, diz: “E ouvireis de guerras e de
rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que

39730-I · NÃO À VIOLÊNCIA DAS ARMAS!isso tudo aconteça, mas ainda não é o m”. Por que tais coisas
devem acontecer?
Em resposta a essa pergunta, lembramo-vos as palavras de Hermes Trismegisto: “A criação da vida pelo sol é tão estável quanto
sua luz. Nada a detém ou limita. Inúmeras correntes de vida mantêm-se qual um exército ao redor do sol. Elas permanecem na
proximidade dos grandes imortais e, dali, zelam pelas atividades
da humanidade. Elas cumprem a vontade de Deus através de tempestades, tormentas, grandes incêndios e calamidades, bem como
através da fome  e das guerras, como punição pela impiedade”.
Quando, pela primeira vez, lemos essas palavras, elas nos soam
como se fossem do Antigo Testamento e pensamos então na
justiça divina vingativa. Mas, na verdade, elas ¯amam nossa
atenção cienti camente para o fato de que o macrocosmo solar
inteiro, portanto, o sistema solar inteiro e tudo o que nele está
contido, forma um extraordinário sistema de vida astral muito
diversi cado, conduzido e dirigido por uma lei central.
Quando um ser peca no interior do sistema microcósmico contra as leis astrais desse sistema, é inevitável que algumas reações se
produzam. Não como uma punição, mas como um autorrestabelecimento provocado pelos que causaram a reação. O macrocosmo
solar é um sistema divino autocorretor. Nesse sistema, nenhuma
irregularidade pode ser tolerada. Por isso, todos os flagelos que se
abatem sobre a terra nada mais são do que as consequências das
autocorreções astrais operadas pelo macrocosmo solar. São, portanto, os efeitos do restabelecimento do equilíbrio intercósmico.
Nesse inelutável restabelecimento do equilíbrio em conformidade com a lei talvez haja um princípio de violência. Não com o
intuito de desencadear a violência deliberadamente, mas pura e
simplesmente para salvar do perigo o próprio princípio criador
que se encontra na base do único objetivo divino.
E se, conhecendo e penetrando a irrefutável verdade e o irresistível funcionamento dessa lei solar macrocósmica, acontecer-nos

398A GNOSIS CHINESAuma catástrofe, quer como indivíduo, quer como grupo, nação ou
comunidade, será preciso refletir muito bem sobre essa questão
única e predominante, sobre essa exigência única: “Que medidas deveremos tomar, que medidas devo tomar, que atitude de
vida devo ter, que armas devo usar a m de impedir que ocorram
semelhante reação astral e todas as suas consequências?”
Vós o sabeis, a humanidade sempre age dessa maneira. E de que
maneira! Pensai na funesta maneira como o Leste e o Oeste se armaram um contra o outro para preservar a paz. As diversas armas
que os homens possuem atualmente para se protegerem podem
ter consequências tão apavorantes que nem o Leste nem o Oeste
ainda ousaram empregá-las. Elas são, quando muito, consideradas ameaça mútua. Porém todo homem que tenha um mínimo
de compreensão perceberá que os pensamentos e as inteligências
que estão na base dessa funesta produção de armas e as forças
que estão por detrás delas já são su cientes para causar uma tamanha agitação astral, que a humanidade está agora ameaçada por
catástrofes muito mais graves do que as guerras.
Essas calamidades já estão começando a manifestar-se. O mundo está dividido em dois campos. A humanidade está dividida em
duas metades. A humanidade é mantida, com a ajuda de todos
os meios de que dispõe a civilização atual, dividida nesses dois
campos. As autoridades favorecem essa desunião, pensando que,
se o outro grupo toma o controle, todos perdem. Os dois grupos
estão armados a tal ponto que nenhum dos dois ousa atacar o
outro. Dessa forma, poderosas correntes astrais que emanam do
macrocosmo solar são levadas a uma fortíssima tensão.
Trata-se de Gogue e Magogue de que fala o Apocalipse. Essas
duas tensões astrais envolvem o mundo todo, a humanidade toda.
Todo mortal está envolvido nisso, quer se encontre no território
do leste ou no território do oeste. Duas forças ígneas, atiçadas de
baixo para cima, dois polos ígneos inextinguivelmente inflamados. É o Armagedom, local de concentração das armas; o m de

39930-I · NÃO À VIOLÊNCIA DAS ARMAS!todo um período da humanidade; uma destruição total; o restabelecimento do equilíbrio do macrocosmo solar; o nal dos que
apenas se identi cam com a natureza da morte.
Teria a Gnosis Universal predito esse desastre? Acaso seria
isso o m?
Pois bem, isso depende de vós, de nós, da nossa humanidade.
Todas essas coisas devem acontecer, a menos que nós, com um
grupo tão grande quanto possível, com todas as nossas forças,
encontremos outra solução e realizemos outro m. Mas quem
seria tão otimista para acreditar nisso? Não seria mais prático e
realista buscarmos o caminho da libertação e esforçar-nos por
segui-lo com ambos os pés na terra e, com isso, levarmos conosco
um grupo tão grande quanto possível?
Tem sido assim em todos os períodos semelhantes pelos quais
a humanidade já passou. Falando poeticamente, uma “colheita
dos campos” sempre foi recolhida. Não obstante, os que caram
para trás são incontáveis.
Desde a época de Lao Tsé, a violência das catástrofes vem se
desencadeando sobre a humanidade. E essa violência vem se ampliando cada vez mais. E já foi provado, e está sendo cada vez
mais provado  para os que têm ouvidos para ouvir e olhos
para ver  que não é pela violência das armas que se organiza
o reino da humanidade.
Aquilo queéfeito aos homensérecebido
devoltadamesmamaneiracomofoidado.Portodasaspartesonde
estiveram os exércitos crescem espinhos e cardos.
Períodos de infortúnio sucedem às guerras. E o m será uma derradeira crise, um
Armagedom.
A assinatura disso é: Gogue e Magogue, um restabelecimento
de nitivo dos distúrbios incessantes do macrocosmo solar e a
intervenção do carma astral no corpo astral de nosso planeta,
consequentemente no campo de vida da humanidade.
Édeseesperarque,apósessaconfrontaçãocomoestadorealdo
mundo, possais perceber as consequências inelutáveis. O mundo

400A GNOSIS CHINESAtodo e a humanidade toda estão divididos em dois campos 
Gogue e Magogue  e a situação está claramente demonstrada;
o campo astral da humanidade está, pois, em conformidade com
essa desordem e totalmente envenenado, e unicamente os homens possuidores de uma poderosa nova força de alma não serão
vitimados por ele. Todos os demais, sem exceção, serão enganados pela situação descrita e tragados pelas forças astrais atuais.
Neste momento, em que muitos consideram vergonhoso não
pensardesàmodaocidentalouorientaleexigemquevosdeclareis
claramente a favor disto ou daquilo, uma questão de consciência
surge.Comoestaéaperguntaquefazemosàquelesquebuscam
a realização da consciência gnóstica  como devemos comportar­
-nos com relação a tudo isso? De que forma, levados pelo amor de
Deus que nos tocou, podemos servir ao mundo e à humanidade
em semelhante conjuntura? Tendo em vista a situação mundial,
como poderemos colocar-nos na curva da evolução?
Sob a orientação do
Tao Te King, examinaremos em maiores
detalhes, no capítulo seguinte, esse assunto que provavelmente
provoca em vós um conflito de consciência.

40130-II
O HOMEM VERDADEIRAMENTE BOM
DÁ UM ÚNICO GOLPE CERTEIRO
Com a leitura do capítulo anterior, sem dúvida compreendestes
que o homem que aspira ao vir-a-ser da consciência gnóstica está
diante do problema de saber como devem ser seu ponto de vista
e seu comportamento com relação ao mundo e à humanidade na
grande crise de nossa época, fase na qual a humanidade acaba de
entrar.
Primeiro, o homem gnóstico serve o governo de seu povo e
esforça-se por ajudá-lo, qualquer que seja ele. Esta proposta pode
soar-vosdeumaortodoxiamuitoprimária,desagradavelmenteantiquada, ou, no mínimo, muito pouco moderna num momento
em que os governos se sucedem como em cadeia. Todavia, é possível ouvir, a esse respeito, um som totalmente diferente, embora
altamente tradicional. Ele se tornou esquecido no decorrer dos
séculos.
Em primeiro lugar, o governo de um povo não apenas ocupa,
politicamente, um lugar central no meio de seu povo, determina a
lei e a mantém, como também, do ponto de vista astral, é o centro
eletromagnético, onde se concentram
todas as correntes astrais
de que o povo necessita astralmente em dado momento, ou que
ele evocou ou ainda às quais ele está sujeito astral e carmicamente,
como
um grupo.
402A GNOSIS CHINESAEssas radiações astrais se derramam sobre o povo a partir desse
centro, tornando-se assim ativas. Por conseguinte, além da rela­
ção pessoal do indivíduo com o campo de vida no qual ele vive,
há também uma relação do povo como um todo com o campo
de vida que o cerca. E o governo de um povo é, ao mesmo tempo,
o centro receptor e o centro emissor. O mago gnóstico sempre
leva isso em conta.
Pode acontecer que uma parte do povo lamente certo tipo de
governo; que o governo seja fraco ou mesmo primário; que ele
tome decisões que provoquem uma grande infelicidade para o
povo. Não obstante, esse governo, do ponto de vista cientí co
e mágico-gnóstico, é a gura central, o órgão central, o centro
respiratório do corpo do povo.
Da mesma forma que um corpo respira através dos sete ¯acras
do corpo astral e atrai para si todas as forças, de certa forma o
mesmo acontece com o corpo de um povo. Portanto, não se pode
deixar de levar em consideração o órgão central.
Eis por que, em todos os textos sagrados, em toda a Doutrina
Universal, o governo é considerado a autoridade absoluta. E todo
mago gnóstico leva isso em conta. É por isso que, por exemplo, no
Novo Testamento está escrito, em Romanos 13:4: “Não é em vão
que o magistrado carrega a espada”. Aqui, “espada” não signi ca
um eventual instrumento militar, porém a espada simboliza a
fo
rça central do governo, da mesma forma que ela também é um
símbolo da Fraternidade do Santo Graal.
Neste ponto é possível que o leitor comece a fazer-se algumas
perguntas: “Deveria eu aceitar sem questionamento tudo o que o
governofazedecreta?Eobedecê-lodeformaabsoluta?Parece-me
demais!”
Responderemos que isto também deve ser considerado cienti ­
camente no plano astral. Descobrireis então que, no meio de um
povo, existem inúmeros grupos, pequenos e grandes, bem como
dezenas de milhares ou milhões de indivíduos, que se opõem

40330-II · O HOMEM VERDADEIRAMENTE BOM . . .totalmente ao governo. Isto quer dizer que, do ponto de vista
mental e astral, o órgão supremo de um governo  em muitos
casos é o Congresso  é o centro de uma comoção astral quase
inimaginável.
Suponde que o conselho de estado de determinado país tome
uma decisão que tumultue a nação inteira. Do ponto de vista
astral, nessemomentoemanamdetodoopovocorrentesdeforça
dirigidas para esse centro: um verdadeiro turbilhão ardente de
fogo astral. Portanto, um conselho de estado é sempre um centro
de intensa comoção astral. Toda oposição de ordem mental ou
psíquica converge para esse centro, de certa forma como uma
força flamejante.
Se, além disso, considerais o fato de que diferentes povos formaram entre si uma comunidade de interesses e que, nessa comunidade de interesses, determinada nação dá a direção  pensai
com relação a isso nos blocos de poder no Oriente ou no Ocidente — então, compreendereis que, neste mundo, existem dois
poderosos vórtices de força astral em atividade.
Assim, duas forças nascem  para falar na linguagem do taoísmoduasforçasdepoderosacomoçãoastralquesederramam
sobre toda a humanidade por intermédio de diferentes centros
governamentais.
É, pois, evidente que, num mundo como o nosso, toda a agitação, expressa nos jornais, nos periódicos, através do rádio e
da literatura em geral, nada mais é do que um pálido reflexo da
comoção astral central.
Percebeis também que eventuais proibições como, por exemplo, no que se refere à liberdade dos direitos humanos, não têm
o menor sentido. O governo central de um povo é tocado pelas
oposições astrais. Todas as consequências astrais de cada oposi­
ção mental ou emocional afluem, sem exceção, para o centro do
governo do povo. Portanto, nos dias atuais, fazer parte de um
centro governamental está longe de ser uma posição invejável.

404A GNOSIS CHINESAEm semelhante centro não existe apenas a natureza astral pessoal dos políticos. Não vos enganeis nem penseis: “Os políticos
pertencem a este ou a aquele partido, de forma que eles expressam
unicamente seu caráter pessoal ou o de seu partido a favor ou às
custas do povo”. De nitivamente não é assim! Em tal centro, em
tal centro governamental, é a psique de um povo inteiro que se
exprime. É por isso que, e não poderia ser diferente, cada povo
tem o governo que merece. As leis astrais da natureza o garantem.
O centro astral de um governo representa, em mais de um
sentido e de maneira absoluta, o povo. O que atualmente denominamos a representação popular de um país frequentemente
apresenta aspectos fracos e toma decisões que colocam os representantes do povo em situações delicadas, de tal forma que se
pode dizer: “Eles não fazem isso com o coração!”
Existe, pois, além disso tudo, uma representação astral do povo.
Através dos séculos, o centro astral de um governo sempre foi,
sem exceção, representativo do povo. Compreendereis que semelhante centro atrai, do campo astral que o envolve, valores, forças
e irradiações que lhe são semelhantes.
Esse centro governamental, que representa o povo em sentido
astral, é eletromagnético e atrai irradiações e forças do macrocosmo solar. Todas essas forças ligam-se imediatamente ao povo
todo por meio desse centro governamental. Essa ligação estabelece-se numa fração de segundo e mantém-se dia e noite. Portanto,
ca demonstrado na prática que cada povo tem o governo que
merece.
A maioria dos homens encontrará nisso um mísero consolo
e a¯ará que isso ainda deixa muito a desejar e que não fe¯ará
a ferida ensanguentada de nossa sociedade de homens nascidos
da natureza da morte. É claro que não! Aqui se trata apenas de
expormos a realidade da qual não podemos escapar.
Por que então estamos vos dizendo isto? A resposta é evidente:
para fazer-vos mudar totalmente de ponto de vista no tocante

40530-II · O HOMEM VERDADEIRAMENTE BOM . . .ao mundo e à humanidade. O homem constrói sua própria vida.
O povo constrói sua própria vida. Não existe, então, nenhuma
possibilidade de servir o mundo e a humanidade?
Pensai no trigésimo capítulo do
Tao Te King. Nele descrevemos um personagem que nada diz e que não divulga nenhum
ensinamento. Ele é unicamente o mestre silencioso. Em virtude
de seu estado de ser, ele atraiforças do Tao eterno e as derrama
sobre seus ouvintes. Semelhante atitude só pode ser muito e caz
se o auditório estiver devidamente sintonizado, se o ouvinte estiver sintonizado e aberto a isso. Todavia, atualmente, esse orador
silencioso teria pouca força.
Existemdiversasformasdeajudaqueosobreirosdetodosos
tempos sempre usaram e que foram praticadas pelas sucessivas
escolas espirituais. Pensai, por exemplo, nos hinos que cantamos
em conjunto. Por que cantamos durante nossos serviços? Não o
fazemos simplesmente porque cantar é edi cante, mas porque,
graçasaocantoemconjunto,colocamo-nosmutuamenteemharmoniaatravésdatécnicarespiratória.Aocantarmosemconjunto
nossospensamentossãoorientadosparaotextoeissocriauma
unidade rítmica. Na terminologia gnóstica, dizemos que entramosem sintoniacomo sextoraio. Semdúvida, certaforçaaflui
para ogrupo eseu interior. E seos participantes dogrupo estiveremrelativamenteabertosaessaforça,elapoderáatuarsobreeles.
Trata-se,portanto,deumapossibilidadedeajudarumhomem
ou um grupo de homens.
Seumhomemquiserexperimentaressapossibilidadecombase
naluzdarevelaçãognósticadesalvação,eledevecomeçaremsi
mesmo.Porqueohomemconstróisuaprópriavida.Soisoque
atraís. Vós mesmos construís totalmente vossa vida. É por isso
que o homem que compreende isso deve colocar seu ser em total
harmonia com as exigências do caminho.
Alémdisso,eledeverácomeçararecusar-sedeformaabsolutaa
emitirpensamentosesentimentosdecríticaedeoposição.Tanto

406A GNOSIS CHINESAparticularmente como em geral, o homem, o grupo, deve começar,
em primeiro lugar, a evitar totalmente qualquer crítica.
Por quê? Por razões éticas? Ou porque a crítica é às vezes
tão má e pode ferir? Não, leitor. É porque cada pensamento ou
atividade emocional crítica desperta uma radiação astral correspondente, uma resposta astral. Quando, baseado em seu estado
astral, um homem age de forma incorreta e criticais essa ação,
como normalmente acontece, invocais novamente sobre esse homem o mesmo estado astral, com todas as suas consequências.
Isso é inevitável. E, geralmente, também recebeis a vossa parte. É
o mesmo que usar armas. Através de seus pensamentos e sentimentos críticos, os homens são, portanto, constantemente atacados
por outros homens.
Pela violência das armas, nada de essencial, nada de bom pode
desenvolver-se. Compreendei-o bem! Só podeis auxiliar o homem e o mundo, o povo e a humanidade por meio do Tao. Os que
desejam, no Tao, auxiliar o governo de certo grupo de homens
não subjugam o reino pela violência das armas.A crítica é uma arma funesta. É por isso que o Sermão da Montanha diz: “Não julgueis para que não sejais julgados”. Observai
os jovens. Assim que a puberdade ¯ega, portanto, assim que o
corpo astral começa a formar-se e torna-se ativo, desencadeia-se
um verdadeiro vulcão de críticas. Tudo o que está dentro dele é
completamente exteriorizado.
É por essa razão que vemos tantos jovens mudarem completamente de caráter e de estado de ser durante os anos da puberdade
e logo depois. Eles estão sob o domínio de tempestades astrais
que os conduzem para onde, na verdade, eles não desejariam ir.
Dessa forma, a miséria e a dor abatem-se sobre o ser humano. O
homem constrói sua própria vida. Por isso, precisais tomar conhecimento disso tudo e compreender claramente que não podeis
submeter o reino pela violência das armas. A crítica, repetimos, é
uma arma funesta.

40730-II · O HOMEM VERDADEIRAMENTE BOM . . .“Auxiliar por meio do Tao”, o que signi ca isso? Isso se refere
aumcomportamentotãosublime,issodizrespeitoaumaprática
devidagnóstico-mágicatãopoderosa,queéprecisoalgumesforço
para compreendê-la.
Em primeiro lugar, a rmamos que ca excluída toda possibilidadedeauxiliarumhomemouumpovopelaviolênciadasarmas.
Ao desencadear sobre um povo ou um homem uma torrente de
críticas, falhamos com esse homem, com esse povo. Isso é inevitá­
veletudosaierrado.Alémdisso,oquefazemosaoutremvolta-se
contra nós da mesma forma: “Todos os que lançarem mão da
espada, pela espada perecerão” (Mt 26:52).
EnvolveraEscolaEspiritualeseusobreiroscomcríticaséuma
antiquíssima arma utilizada por seus adversários no decorrer dos
séculos. Se zermos isso somente cinco minutos por dia, uma
nuvem de di culdades abate-se sobre a Escola, a menos que a
fo
rça central dessa Escola esteja bem acima disso e se mantenha
na senda do Tao.
Há uma enorme variedade de armas, mas o mais terrível dos
arsenais é formado pelas armas astrais que a humanidade, sem o
saber, emprega a cada segundo, utiliza a cada segundo.
Existem criaturas antimilitaristas que tiram disso consequências fundamentais em suas vidas. Todavia, por serem continuamente críticas, elas se tornam tão ofensivas, tão nocivas em sua
fo
rma de agir, que o homem primitivo que brandia a clava se
sentiria orgulhoso disso. Acaso pensam que, dessa forma, são realmente capazes de servir um governo, um povo, um homem?
Reconhecei que a humanidade toda, em vista das tempestades astraisqueeladesencadeiaporseucomportamentodiário,mantém
um perene estado de guerra.
Atentai bem para o que diz Lao Tsé:
Por todas as partes onde
estiveram os exércitos crescem espinhos e cardos.
Períodos de calamidade seguem-se às grandes guerras. É o próprio homem que
os provoca: o homem constrói sua própria vida. A humanidade,

408A GNOSIS CHINESAcom sua habitual atitude de vida funesta, mantém a natureza da
morte.
Porisso,paratodososalunosdeumaescolaespiritualgnóstica,
para todos os que querem professar o discipulado, uma nova
atitude de vida torna-se absolutamente necessária se realmente o
curso das coisas no mundo e na humanidade lhes é importante.
O homem verdadeiramente bom dá um único golpe certeiro
e para.
Overdadeiroespírito,ohomemverdadeiramentebom,intervém
uma única vez com força. E ele para, pois a violência não é seu
método, diz nosso texto. Talvez percebais que esse propósito de
Lao Tsé encerra um segredo: uma única eventual intervenção
poderiaserconsideradaverdadeiramenteumsocorroeasalvação
paraahumanidade.Nopróximocapítulo,tentaremosdesvendar
esse segredo.

40930-III
NO AUGE DE SUAS FORÇAS,
OS HOMENS E AS COISAS DECLINAM
Repitamos uma citação do capítulo 30 do Tao Te King: O homem
verdadeiramente bom dá um único golpe certeiro e para.
Imaginai o estado astral de qualquer centro governamental do mundo
todo e considerai tudo o que já dissemos a esse respeito. Vereis
então, acima e ao redor desse lamentável centro governamental,
turbilhões de natureza astral muito diferentes. É como uma concentraçãodenuvensnegras¯amejandoraiosemtonsvermelhoe
amarelo vivo, onde se manifesta a natureza mental e sentimental
de todo um povo.
É evidente que semelhante concentração astral é fortemente
magnética e que, em decorrência disso, inúmeras ligações se estabelecem com os influxos e as forças presentes no campo astral que
envolve a terra. Portanto, essa concentração astral atrai, ¯ama
parasioqueestáemequilíbriocomela.Evemos,dessaforma,que
cada povo, por intermédio de seu governo, recebe o que invoca e
merece. É impossível mudar qualquer coisa nesse sentido.
Como esse estado astral e essa atividade astral ocorrem para
todos os povos, é evidente que a total natureza da morte é, dessa
fo
rma, mantida. E como está excluída qualquer interrupção nessa
cadeia de eventos da vida humana, a humanidade inteira precipita-se em uma crise fundamental, numa fase nal em que as

410A GNOSIS CHINESAatividades do fogo astral serão tais que se pode falar de uma
destruiçãopelofogoastral.Verdadeiramenteum mdesencorajador!Assimascoisasdavidavãoevêmeéimpossívelalterar-lhe
qualquercoisa,amenosqueahumanidademudetotalmentesua
atitude de vida.
Vedeagoracomoohomemverdadeiramentebom,soberanamente sábio, se esforça para extrair dessa triste realidade ainda
uma colheita dealmas e intervém nessesentido a m decolocar
essas almas na curva da evolução e da salvação e conduzi-las para
bem longe.
Lao Tsé diz: o homem verdadeiramente bom intervém uma
única vez com força. Isto quer dizer que a comunidade dos homensbons,ouosmembrosdessacomunidadequeforamdesignados paraessa tarefa, enviapara ocentro astral, parao foco astral
de um povo, a força astral do Tao, a força-luz do único bem.
Trata-seessencialmentedeumaforça-luzquediferetotalmente
dasconcentraçõesastraisquevosdescrevemos.Trata-senãosomentedeumadiferença denaturezacomotambémdevibração
edeforça.Éporissoqueocontatodofocoastraldopovocomas
fo
rças-luzdoúnicobemeaquiloqueelasatraemdoUniversoque
nos envolve será altamente explosivo. Pode-se, pois, falar aqui de
“violência” num sentido muito particular.
Todavia,éumaviolênciaqueéempregadaumaúnicavez.E
essa única vez é mais do que su ciente. E prestai atenção ao que
ocorre a seguir. As concentrações astrais dos povos são destro­
çadas pelas projeções de força-luz e dispersadas para todos os
lados.
Desse modo, cada membro de uma nação é inteiramente jogadodevoltasobresimesmo.Portanto,todohomemsofrenão
somenteareaçãodeseuprópriocarmaedocarmadeseupovo,
como também ele é confrontado, direta e corporalmente, com
a força-luz da vida universal. Nenhum mortal escapará a esse
processo.

41130-III · NO AUGE DE SUAS FORÇAS, . . .Eis o que compreendemos, na linguagem sagrada do Apocalipse, por “a volta de Cristo” e pelo único julgamento, o julgamento nal. Quando um período termina, a força-luz irrompe e
restabelece o equilíbrio perturbado do macrocosmo solar. A ilusão que velava a realidade é dissipada e, em meio a essa confusão,
as radiações astrais da elevação e da salvação podem aproximar-se
e tocar cada um. Uma possibilidade é oferecida livremente a todos.
É então que cada um deverá dar provas de possuir su ciente abertura para receber a força-luz do único bem e dela viver. A colheita
é assim recolhida. A cada período da humanidade produz-se uma
crise nal, onde ocorrem puri cação e seleção.
Inúmeras entidades estão a tal ponto submersas pela maldição
astral de seu povo que suas eventuais possibilidades de elevação
não podem manifestar-se até que semelhante fogo do julgamento
irrompa. Todavia, graças a essa única intervenção do único bem,
eventualmente lhes é feita justiça. Desse modo, a intervenção do
único bem é sempre bem sucedida. Quando as nuvens astrais se
concentram a tal ponto que a fase nal tem início, o único bem
se manifesta a m de colocar todos os seres viventes na “Senda
das sendas”, segundo a expressão de Lao Tsé.
Todavia, é preciso compreender o lado trágico dessa inelutável
intervenção. O que é trágico é o fato de a humanidade deixar as
coisas ¯egarem a tal ponto. Por isso, diz o sábio:
Ele dá um único golpe certeiro, porém não se engrandece.
Ele dá um único golpe certeiro, porém não se vangloria disso.
Ele dá um único golpe certeiro, porém não se orgulha disso.
Ele dá um único golpe certeiro, mas unicamente porque não
pode agir de outro modo. Ele dá um único golpe certeiro,
mas não quer parecer forte nem poderoso.
Uma vez mais a humanidade entrou no período de Gogue e Magogue, razão pela qual é possível prever como a situação evoluirá
412A GNOSIS CHINESApara as massas. Os dois grupos em que a humanidade se dividiu
¯egaram ao auge de suas forças. Para nalizar, Lao Tsé diz:
No auge da força, os homens e as coisas envelhecem. Isto
signi ca que não são semelhantes ao Tao. E o que não se
assemelha ao Tao rapidamente ¯ega ao m.
Assim, podeis imaginar que, de tempos em tempos, vários perigos
também ameaçam a Escola Espiritual, já que ela e seus alunos,
reunidos no corpo-vivo, ocupam um lugar excepcional no meio
dos povos e do movimento incessante da humanidade. É um fato
bem real que todos os que participam de uma escola espiritual, de
um corpo-vivo, estão
no mundo, mas não pertencem a este mundo.
Portanto, uma Escola Espiritual deve manter-se à margem da
agitação dos povos. Na Escola Espiritual, no grupo, no corpo-vivo,
devem ser mantidas condições astrais excepcionais.
Compreendeis que isto apresenta uma di culdade, pois cada
aluno deve, por um lado, executar sua tarefa, seu dever no mundo
e, por outro lado, ele é ¯amado a não ser deste mundo. Todo
aluno que, conscientemente, escolheu a Gnosis e está rmemente
decidido a seguir a senda deve, pois, harmonizar-se totalmente
com o campo astral da Escola e recusar categoricamente toda
concessão no plano astral à natureza da morte.
Compreendereis que, se nos expressamos desse modo, é porque alguns perigos podem desenvolver-se para a Escola toda e seu
corpo-vivo. Suponde que uma grande parte do grupo se sintonize
com a natureza da morte. Evidentemente, em decorrência disso,
todo o grupo, o corpo-vivo inteiro, seria arrastado para as atitudes comuns das massas e correria o risco de car completamente
sob o controle de seu campo astral. Dessa forma, qualquer escola
espiritual manifestada poderia ser de nitivamente desviada. Seu
nome já não corresponderia à realidade. A partir do momento
em que um corpo-vivo corre o risco de ser aspirado pela corrente

41330-III · NO AUGE DE SUAS FORÇAS, . . .astral da natureza da morte, realiza-se o que está expresso no m
do capítulo 30 do
Tao Te King:
No auge da força, os homens e as coisas envelhecem. Isto
signi ca que não são semelhantes ao Tao. E o que não se
assemelha ao Tao rapidamente ¯ega ao m.
Veri camosassim,detemposemtempos,comoalgunsmovimentosnomundoalcançamotopo,decliname,aseguir,desmoronam.
Elesnãoderamatençãosu cienteaosperigoscitados.Quando
nos deixamos levar pelo preguiçoso movimento das coisas comuns,tudo vai mal,tudoestá perdido. Edeveisprestar atenção
também, por exemplo, no tocante à vossa vida em família.
Éclaroque,numaEscolacomoanossa,énecessário,detempos
emtempos,queadireção,onúcleo,intervenhadamaneiraacima
delineada,a mdepuri carocentroastraldaEscoladeeventuais
ameaças e contaminações. É, pois, necessário que, de tempos em
tempos,sejafeitaumaintervençãocomforçapara,aseguir,voltar
imediatamente ao movimento habitual do corpo-vivo.
Pensai, neste contexto, na imagem clássica do barco celeste
dosantigosegípcios. Umbarcocelestedevepoder navegar. Para
onde?ParaoobjetivoqueaGnosisindica.Eledeveestarperfeitamentesintonizadocomooceanodeáguavivaparapodernavegar.
E nenhuma influência astral da natureza da morte pode ser tolerada,poistalinfluênciaagiriacomoumaâncoraquedi culta
obarcoemseucurso.Portanto,quando,detemposemtempos,
existe uma intervenção tendo em vista umapuri cação,é unicamente para que o barco celeste mantenha seu rumo correto, e
para colocar o corpo-vivo, a Escola, na “Senda das sendas”, no
Tao. Dessa forma, o corpo-vivo daEscola torna-se, e é, um local
protetor de real qualidade e valor.
Enquanto nos for permitido, faremos avançar nosso barco
celeste na senda das sendas. E esperamos muito a colaboração

414A GNOSIS CHINESAde todos vós. E nos dirigimos agora principalmente àqueles que
colaboram com o santo trabalho e, em particular, solicitamos
ao núcleo do grupo que zele de maneira muito cuidadosa pelo
comportamento e pelos costumes de todos, exatamente agora que
adentramos a fase crítica deste período da existência humana.
A nova atitude de vida é uma exigência absoluta, exigência para
todos, para o bem de todos. É nossa esperança e nossa prece que o
compreendais. Portanto, quando procedeis conosco de maneira
protetora e nos informais de perigos iminentes, não se tratará,
então, de um tipo de crítica como a descrevemos anteriormente.


416
As melhores armas são instrumentos de calamidade.
Todos as desdenham. Quem possui o Tao não faz uso delas.
No lar do sábio, a esquerda é o lugar de honra. Quem utiliza
soldados honra o lugar à direita.
As armas são instrumentos de calamidade; não são os instrumentos
do sábio. Ele as emprega unicamente quando não pode agir de outra
forma. A calma e a quietude são, para ele, o que há de mais elevado.
Quando é vitorioso, ele não se regozija, pois regozijar-se com isso
signi caria comprazer-se em assassinar os homens.
E quem ama o assassínio jamais alcança seu objetivo no bom governo do reino.
Para tudo o que traz felicidade, o lugar à esquerda é o mais elevado.
Para tudo o que traz infelicidade, é o lugar à direita.
O subordinado ca no lugar à esquerda; o ¯efe, à direita.
Isto é, eles tomam seus lugares segundo os rituais das cerimônias
fúnebres.
Quem matou uma grande multidão de seres humanos deve car de
luto e ¯orar por eles.
Quem ganhou uma batalha deve tomar seu lugar como numa
cerimônia fúnebre.
Tao Te King, capítulo 31

41731-I
AS MELHORES ARMAS
SÃO INSTRUMENTOS DE CALAMIDADE
Fundamentalmente, o capítulo 31 do Tao Te King não apresenta
mistério para ninguém. Ele é ¯ocante e muito explícito. A única
coisa marcante é que, há milênios, semelhante ensinamento tão
positivo e perfeitamente antimilitarista tenha sido divulgado por
Lao Tsé na base do Tao, ensinamento esse marcado por um realismo típico, um realismo que, sem dúvida, dará o que pensar.
Dele sobressai o quanto a humanidade, no decorrer de alguns
milênios que se passaram desde a época de Lao Tsé, se perdeu e
a que ponto os hábitos nos fazem seguir o caminho que leva ao
declínio. Aquilo que, na época de Lao Tsé, só era admitido em
caso de extrema necessidade, tornou-se habitual e evidente em
nossos dias, sendo considerado até mesmo inevitável.
Existe, pois, uma diferença quase incomensurável entre o nível
de civilização interior daquela época e o de nossos dias. E não há
nada mais apropriado para desmascarar a ilusão de civilização da
humanidade atual do que uma clara reflexão sobre este capítulo.
As melhores armas são instrumentos de calamidade. Todos
as desdenham. Quem possui o Tao não faz uso delas.
Isto é dito de forma tão direta e tão evidente que Lao Tsé não
tem a menor necessidade de explicá-lo com maiores detalhes. Em

418A GNOSIS CHINESAnossos dias, esse assunto é objeto de graves discussões por parte
de homens extremamente sérios. Vestir o uniforme da pátria, do
povo e do Estado é considerado uma pro ssão honrosa. Existem
escolas militares, para cujo ingresso faz-se necessário ser possuidor de uma sólida cultura geral. Trata-se de uma disciplina pela
qual inúmeros jovens distintos e altamente civilizados se sentem
atraídos. Em nossos dias, denominamos heróis os que realizam
atos notáveis na guerra. Eles são honrados e glori cados. Todavia,
com certeza eles não têm nem mais nem menos direito à glória e
às honrarias do que o restante de seus compatriotas.
O problema deve ser encarado em sua totalidade como um
fenômeno mundial, como a assinatura da humanidade atual. A
inteira economia mundial contemporânea depende muito da indústria de armamentos. E esses industriais são frequentemente
cidadãos eminentes, não apenas em termos econômicos e de
riqueza, mas também do ponto de vista moral.
Um exemplo notório é a gura de Nobel, o rei dos canhões, o
fabricante de armas, que com uma parte do capital acumulado
com isso constituiu uma fundação a serviço da ciência. E muitas
personalidades eminentes são reverenciadas por terem recebido
o prêmio Nobel. Pois bem, em meio a todos esses fenômenos
sociais, aceitos por todos e considerados honrosos, ressoam estas
palavras de Lao Tsé que não são modernas, pois remontam a
milênios:
As melhores armas são instrumentos de calamidade. Todos
as desdenham. Quem possui o Tao não faz uso delas.
Houve, portanto, uma época em que, de alguma forma, todos os
que buscavam o Espírito, verdadeiramente todos, desdenhavam
as armas. E os que possuíam realmente o Tao não tinham o menor
interesse pelas armas. Não deveríamos tirar daí algumas conclusões? Dispomos atualmente no mundo das melhores armas, tão

41931-I · AS MELHORES ARMAS SÃO INSTRUMENTOS DE CALAMIDADEboas e tão aperfeiçoadas, que elas só puderam ser concebidas pelas “grandes cabeças” da ciência. A humanidade inteira pode ser
aniquilada em minutos. Como resultado, a ideia de que as armas
são instrumentos de infelicidade começa a penetrar em diversas
camadas da população mundial.
Todavia, isso ocorre num sentido totalmente oposto, pois essa
consciência não se desenvolveu por causa do Tao, mas em virtude
de uma imensa angústia, enquanto que no passado as armas eram
desprezadas por motivos puramente éticos. Percebeis a diferença?
Percebeis como a dialética se revela aqui? A humanidade sempre
possuiu armas, mas agora ela começa a temê-las imensamente,
pois essas armas tão perigosas estão divididas igualmente. Não
fosse assim, o medo não seria tão grande no Ocidente.
As armas estão divididas entre dois partidos antagônicos. Não
era assim no passado, onde um grupo estava muito bem armado
e os outros não tinham nada ou muito pouco. Por conseguinte,
o grupo bem armado nada tinha a temer. Mas agora as coisas são
totalmente diferentes.
Gostaríamos que compreendêsseis claramente que os protestos contra as armas atômicas certamente não nasceram de motivos taoístas, de diretrizes taoístas, porém verdadeiramente das
consequências da decadência, que avança a passos largos.
No decorrer dos últimos cinquenta anos, o pouco que restava
da moral original positiva na humanidade desapareceu. Em vista
disso, a bondade comum tomou seu lugar, a bondade comum
que não tem nenhum conteúdo, uma civilização que não passa
de um mero verniz. E os que possuem o Tao não se ocupam com
ela.
Que é o Tao? É o termo genérico com o qual reagrupamos
tudo o que existe de real na personalidade humana, tudo o que é
eterno. É a alma em crescimento, que deve começar a despertar,
que deve, portanto, tornar-se vivente e unir-se ao Espírito, ao Pai,
a Deus. E, assim, tornar-se Pimandro.

420A GNOSIS CHINESAMas quem pode, em nossos dias, dar-se ao luxo de possuir uma
alma? Ou, menos ainda, de prestar atenção a uma influência tão
antissocial? Quão ridículo, quão antissocial e quão irreal! Por
essa razão há, quando muito, a ilusão, bem estudada e mantida
durante algumas horas por dia. É por isso, naturalmente, que
ainda há debates sobre a Gnosis. Todavia, praticar o Tao? Que
ideia!
Toda a vida moderna é totalmente antignóstica. É impossí­
vel permanecer na vida moderna, ocupar certa posição  e, ao
mesmo tempo, servir à Gnosis. Isto está fora de cogitação!
Estaria a humanidade sob o domínio do mal de maneira tão
re nada? A humanidade vive ameaçada pelo pior dos males, que
é a ignorância. A humanidade se perde por falta de conhecimento.
O homem já não possui nenhum conhecimento do objetivo para
o qual ele nasceu. Como resultado, o instrumento da personalidade humana desviou-se. E por isso, a única realidade que ainda
podemos captar é o medo. Porque a humanidade ¯egou ao limite, e a única coisa que ainda resta é o medo, um medo imenso.
O medo corrói o fígado.
Antigamente, uma autoridade militar era um estrategista. Um
único homem dirigia um grande exército como se estivesse jogando xadrez. Esse homem era genuinamente habilidoso, e causava admiração. O estrategista aparecia como um homem bem
apessoado, de pensamentos brilhantes, ¯eio de civilidade, uma
companhia agradável, vestindo um belo uniforme. Ele se comportava totalmente de acordo com as leis de seu país.
Em nossos dias é totalmente diferente. Existe uma bomba atô­
mica e, em algum lugar, um botão. E existe um míssil, com outro
botão. E existe outra bomba atômica, outro míssil e outro botão.
Uma bomba no Leste, outra no Oeste. E todos sabem que, se um
deles apertar o botão, o outro fará a mesma coisa. E, em poucos
minutos, não será apenas a divisão de um exército ou um exército
inteiro que será aniquilado, mas, também, e ao mesmo tempo,

42131-I · AS MELHORES ARMAS SÃO INSTRUMENTOS DE CALAMIDADEtodos esses homens bem apessoados, com ideias brilhantes, irradiando civilidade e trajando um belo uniforme em seus corpos
esguios.
Tudo pode ser aniquilado em alguns segundos. Esta é a situa­
ção atual. Não existe mais estratégia. A companhia onde o estrategista brilha eventualmente em seus momentos livres também
será aniquilada.
Ahumanidadeinteiraestáàbeiradosuicídio,àbeiradoabismo.
É por isso que já nada resta senão o medo. E, nessa situação crí­
tica, todos tentam libertar-se do medo através de rios de palavras
e de absurdos. A ilusão de poder tudo conquistar, tudo vencer
pela violência das armas, essa ilusão é aniquilada, porque tanto o
amigo quanto o inimigo está com o dedo no botão.
A nova ilusão moderna é conquistar o Universo. A sociedade
atual se volta para esse assunto, e o mundo inteiro se curva diante
dessa ideia.
E novamente há dois rivais. Cada qual quer ser melhor que o
outro. Um se lança ao espaço para em seguida retornar à terra,
e a arte consiste em permanecer vivo para ser recebido pelo presidente de seu país. O outro também se lança ao espaço e gira
ao redor da terra a algumas centenas de quilômetros de altitude,
para também retornar à terra, a m de ser igualmente recebido
por seu presidente. Esses homens são ¯amados de astronautas. É
o ápice da ilusão, a qual somente pode ser percebida em profundidade quando se conhece algo, quando se pode conhecer algo, do
objetivo grandioso que é o fundamento da humanidade inteira.
Trata-se de uma ilusão arraigada tão profundamente, que não
descreveremos todos esses fenômenos tão bem conhecidos, declarando-nos a favor ou contra, com antipatia ou simpatia, mas demonstraremos a maior compaixão para com a vertiginosa queda
demilhõesdehomensnessafarsa.Queprofunda,profundaqueda!
Por isso, talvez compreendais, pela primeira vez em vossa vida,
oqueéumaEscolaEspiritualgnóstica,oqueumaEscolagnóstica

422A GNOSIS CHINESAgostaria de ser, ou seja: um território cravado no meio do terror.
Porém, um território onde nos distanciamos totalmente dessa
sociedade que fermenta, apodrece e se decompõe; um território
onde poderíamos permanecer, e dizemo-lo mais uma vez, graças
a uma atitude de vida totalmente nova.
Sabeis que os guias de nosso destino estão ativamente ocupados em preparar a humanidade para seu m? Essa preparação
acontece já há muito tempo de duas maneiras. Existe uma preparação para a Gnosis, para a salvação, para a libertação tal como
a conheceis e como está indicado nas Bíblia, contanto que os
que são convidados, os que ouvem, queiram aceitar de maneira
positiva as novas regras de vida. E há ainda outra preparação em
andamento, caso o mundo inteiro desapareça em breve e a terra
toda se torne um deserto, ou seja: preservar uma pequena parte
da humanidade a m de poder, no devido tempo, no decorrer
de milhões de anos, repovoar a terra graças àqueles que cariam
para trás. Trata-se aqui de uma preparação que diz respeito a uma
pequeníssima parte da humanidade, que deveria servir de núcleo
a um futuro repovoamento da terra, em condições totalmente
novas, no decorrer de milhões de anos.
Existem, pois, três certezas: em primeiro lugar, a aniquilação
total; em segundo, a salvação de todos os que seguiram o caminho
da libertação; e, em terceiro lugar, a participação no grupo dos
que carão para trás, em algum lugar remoto do mundo, vivendo
em condições totalmente novas.
Esses preparativos devem acontecer, porque em breve o mundo
se tornará um deserto. E para mostrar-vos que não estamos fazendo suposições fantasiosas e demonstrar-vos quão próximo esse
m está e a rmar-vos claramente que “A escolha é vossa, ainda
agora”, dar-vos-emos uma informação acerca da ilha de Niu.
Recentemente, alguns jornais australianos publicaram uma notícia sensacional que teria partido do Professor Ernest Marsden,
o qual, por acaso, se deparou com o único laboratório natural

42331-I · AS MELHORES ARMAS SÃO INSTRUMENTOS DE CALAMIDADEde radiações do mundo.13 No último inverno, um grupo de bió­
logos e botânicos neozelandeses tentou cultivar plantas na ilha
de Niu. Como as espécies de legumes até então desconhecidas
naquela ilha não queriam crescer, embora a vegetação local fosse
particularmente luxuriante, em fevereiro de 1961 foi enviada uma
amostra do solo para a Universidade de Wellington, a m de que
o conhecido professor Marsden, um dos mais reputados pesquisadores atômicos ingleses e aluno do físico nuclear Lord Rutherford,
igualmente famoso, se encarregasse do assunto.
A primeira surpresa foi que o contador Geiger, aparelho que
registra o nível de radiação, reagiu fortemente quando ele foi colocado perto da terra de Niu. Não havia dúvida de que essa terra era
altamente radioativa. Ao tomar conhecimento da notícia, o professor e sua equipe de pesquisadores embarcaram para Niu. Nessa
ilha, ele se deparou com homens grandes e magní cos, quase
gigantes, que gozavam de excelente saúde e, misteriosamente,
nunca haviam sido atacados por doenças que, normalmente, atacam os habitantes dos mares austrais, tal como a lepra, os tumores
tropicais e a tuberculose. Os cinco mil habitantes dessa ilha, tanto
os homens como as mulheres, medem quase dois metros; são de
constituição robusta e são dotados de uma surpreendente inteligência; eles possuem uma grande capacidade de trabalho e um
surpreendente bom humor. E tudo isso apesar de seus ossos e
dentes apresentarem uma radioatividade dez vezes superior ao
normal. O ar, o solo e o mar ao redor da ilha acusam uma taxa de
radiação vinte vezes superior ao normal, e a alimentação também
contém fortes concentrações de radioatividade que ¯egam a ser
cem vezes acima do normal.
Até agora não foi encontrada uma explicação satisfatória para
essa radioatividade anormalmente elevada, e o professor Marsden formulou a hipótese de que um vulcão ainda desconhecido
13Escrito em 1961.
424A GNOSIS CHINESAnas profundezas do mar fosse responsável por isso. Todavia, essa
suposição permanece puramente teórica.
Muito mais importante é a questão de saber como os habitantes dessa ilha podem suportar a influência mortal de seu ambiente
e como puderam desenvolver sua imunidade. Nenhuma resposta
satisfatória foi encontrada tampouco para isso, pois os habitantes
de Niu só enterram seus mortos há cerca de um século. Antes,
os mortos eram colocados em barcos e lançados ao mar, e os
ossos que se encontram nas tumbas acusam todos uma forte
concentração de radioatividade.
Apenas num ponto se nota a influência das radiações que existem há pelo menos um século nos habitantes de Niu: é a elevada
taxa de esterilidade entre as mulheres. Pesquisas demonstraram
que de quatro mulheres uma era estéril e que de cada dez crianças
uma é natimorta.
Todavia, parece que, no decorrer dos últimos vinte anos, houve
uma melhora, pois quase a metade dos habitantes da ilha tem
menos de quinze anos.
Mesmo com toda a alegria da pesquisa, os cientistas nunca
esqueceram por um momento que, para eles, a estadia em Niu
representava perigo mortal, pois não possuíam a imunidade que
os nativos já haviam adquirido há várias gerações, e tinham, portanto, possibilidades diminutas de se proteger. Uma alimentação
rica em cálcio era-lhes enviada da Nova Zelândia para proporcionar-lhes alguma resistência e o lugar em que cavam era fortemente isolado e, tanto quanto possível, protegido da radioatividade por dispositivos especiais. O professor Marsden, com
um otimismo melancólico, descreve Niu como sendo o novo
berço da humanidade e pensa que somente os habitantes dessa
ilha talvez sobreviveriam a uma guerra atômica.
Essa notícia serve para ilustrar o fato de que forças previdentes,
que amam a humanidade incondicionalmente, estão ocupadas
em encontrar um meio de salvaguardá-la apesar de tudo.

42531-I · AS MELHORES ARMAS SÃO INSTRUMENTOS DE CALAMIDADENão seria de grande interesse para vós aceitar positivamente
o convite da Escola Espiritual e reagir a ele também de maneira
positiva? Cabe a vós, por meio de vossos atos, a resposta.


42731-II
O ENVENENAMENTO
DO CAMPO DE VIDA HUMANO
A luta contra o emprego das armas, do ponto de vista da maioria,
atingiu seu ponto culminante no começo do século XX. Depois
disso, essa luta por valores humanos ¯amejou de tempos em
tempos, mas foi uma flama que enfraqueceu continuamente e foi
quase extinta por completo pelas duas guerras mundiais.
Mas, ao mesmo tempo, outra flama elevou-se muito rapidamente. Era a flama de outro aspecto da questão, muito mais
funesto e muito mais terrível. Muitos jovens adotaram a ideia de
que, em nossos dias, já não havia espaço para uma vida nobre. Eles
expressaram através de sua atitude de vida o que haviam aprendido, visto, ouvido e vivenciado. O mundo agora tornou-se um
mundo de desordem, um mundo de assassínio e de vergonha. E
as autoridades policiais travam agora uma guerra sem m contra
essas excrescências.
A situação é tão grave que unicamente uma ín ma parte dos
horrores cometidos ¯ega à imprensa. Essa decadência rápida e
desenfreada é a consequência direta dos instrumentos de calamidade que nossa sociedade deliberadamente fabrica para preservar
a paz. Compreendereis que não temos o menor interesse em levar
esses assuntos para o plano político, como tampouco o fazia Lao

428A GNOSIS CHINESATsé. É por isso que desejamos tecer considerações sobre essa sangrenta ferida da humanidade exclusivamente do lado psicológico
das coisas. Para isso, um exemplo seria útil.
Suponde que estejais empregados numa fábrica de canhões,
portanto, na indústria de armamentos, indústria essa muito comum em nossos dias. Nos escritórios se encontram os projetistas
e os inúmeros desenhistas que, com precisão, desenham, até os
mínimos detalhes, os planos desses monstros de fogo. Graças à
sua formação cientí ca, eles calculam os efeitos, o provável raio
de ação, as mais ín mas particularidades dessas bocas de fogo e
as particularidades que essas armas devem ter.
Esses trabalhadores criam, então, uma forma-pensamento sutilmente elaborada. Assim que seu trabalho termina, os planos
são submetidos a seus superiores que, por sua vez, os examinam,
calculam, recalculam e devem levar em conta todas as possibilidades contidas nessas armas, e tudo isso com base no mesmo quadro
mental.
Ora, sabeis o que acontece com semelhante rede de pensamentos: ela cresce cada vez mais, e esse monstro mental, vivente, ¯eio
de vitalidade, torna-se enorme e muito dinâmico, adquire um poderoso raio de ação. De fato, ele é mantido e vivi cado por uma
equipe dupla de alto escalão. Essas pessoas nada deixam ao acaso,
pois grandes interesses econômicos estão envolvidos. Quando os
canhões projetados entram em produção, devem, então, existir
para isso máquinas especiais. Talvez fábricas inteiras tenham de
ser aparelhadas. Os operários devem ser instruídos, e isso tudo
custa milhões.
Por essa razão, nenhum erro pode macular semelhante projeto.
Percebereis que esse quadro mental atinge um ápice de vitalidade
e espalha ao seu redor grande pestilência. Porque esse monstro,
o que é inevitável, está astralmente ocupado em atirar, aniquilar, fazer guerra, e arruinar o inteiro campo de respiração da
humanidade.

42931-II · O ENVENENAMENTO DO CAMPO DE VIDA HUMANOE acreditais que esses homens que criaram e vivi caram essa
imagem mental possam abandoná-la e esquecê-la após seu dia de
trabalho? Se credes que sim, é porque não conheceis os dirigentes. Em certa medida, eles são psiquicamente violentados. Eles já
não podem libertar-se do monstro mental. Eles ingressaram num
estado de loucura legalizado pela natureza e pela sociedade; aliás,
é para isso que são pagos, pois cada homem está ligado às suas
próprias imagens mentais, cada homem está irremediavelmente
acorrentado a elas.
Portanto, ca evidente que quando um desses dirigentes volta
para casa depois do trabalho  mesmo que ele não comente nada
sobre seu serviço, pois tudo é muito secreto nesse tipo de indústria  obviamente ele contamina toda a sua família com suas
emanações. Desse modo, todos os membros de famílias ligadas
às equipes de dirigentes participam no crescimento do monstro.
O monstro ultrapassa com muita rapidez a envergadura dessas
indústrias. Ele se torna um éon. Ora, sabemos que um éon pode
envenenar todo um povo.
Estamos vos apresentando esse assunto de uma forma bastante
amena, pois, em nosso mundo, não existe apenas
uma fábrica
desse tipo, porém toda uma indústria de guerra, onde inúmeras
equipes de engenheiros envenenam completamente o campo de
vida da humanidade com uma vivente realidade de sangue, fogo
e fumaça.
Percebeis a que ponto a humanidade é vítima da ignorância,
vítima dos dirigentes, das equipes de cientistas, dos que sabem
tanto, mas desconhecem o único necessário? Ao vosso redor
está o que sois e o que fazeis. E justamente tudo o que elaborais
mentalmente de forma tão aguçada é muito vital, muito vivo.
Compreendeis agora por que é dito na Doutrina Universal que
cinco minutos de pensamentos irrefletidos podem aniquilar o
trabalho de muitos anos? Muitíssimo mais, portanto, a atividade
mental cientí ca diária de alguns dirigentes.

430A GNOSIS CHINESAPercebeis agora claramente que catástrofe está se propagando
pela humanidade, que envenenamento da humanidade desenvolveu-se assim pela ignorância. Compreendeis por que, nesse caos
envenenado que envolve a humanidade, as coisas não andam direito? E que podemos ¯amar de milagre o fato que ainda exista
um grupo de homens que não tenha descido totalmente abaixo
do normal? Não é, pois, evidente que, nessa situação, a juventude
se desvie e demonstre, já muito cedo, traços sub-humanos?
Porém existe também algo cômico nessa situação trágica. Os
dirigentes que, na verdade, detêm em suas mãos os destinos da
humanidade, em seus momentos livres correm ao encontro de
líderes espirituais para discutir com eles a melhor forma de conduzir a juventude a um nível superior. Todavia esse nível superior
já está na atmosfera que nos envolve! Os dirigentes fazem de
tudo para tornar inócuo o veneno que eles mesmos fabricaram,
a explosão que eles mesmos desencadearam. Compreendeis que
é exatamente esse falso sentimento, que não tem nenhuma base
racional, que torna as coisas muito mais terríveis?
E como ca, então, o operário, o homem das massas condenado a concretizar, a fabricar tudo o que é pensado? Intelectualmente, o operário ainda não caiu tão baixo quanto o dirigente. A deterioração do melhor nesse grupo ainda não se tornou
completa.
O operário, do ponto de vista mental, ainda está em fase de
desenvolvimento. Ele é, ou se tornará, a vítima. Ele carrega o
carma do mundo sobre seus ombros curvados e fatigados. Sua
situação agora é muito pior do que há algumas décadas, quando a
proteção social ainda era muito imperfeita em numerosos países
e não se dava atenção ao operariado. Todos esses homens são
vítimas  e como!  da maldição da ignorância, da ignorância
dos dirigentes aplicada cienti camente.
Esse é o quadro do estado miserável em que a humanidade
soçobrou como num poço sem fundo. Esse único aspecto do

43131-II · O ENVENENAMENTO DO CAMPO DE VIDA HUMANOcomportamento humano que acabamos de descrever já seria su ­
ciente para acarretar o suicídio da humanidade. Consideramos,
então,apropriadoapresentar-vosparareflexãoaspalavrasdeLao
Tsé: “As armas são instrumentos de calamidade”, não instrumentos do homem nobre. Este não se regozija de os possuir, pois
“regozijar-se signi caria comprazer-se em assassinar os homens”.
Toda essa indústria, tudo o que a ela está ligado e tudo o que ela
acarreta deve ser objeto de cerimônias fúnebres. A vida inteira é
um baile de máscaras para os mortos.
A humanidade, embora ainda permaneça viva, já foi assassinadapelaignorânciadeseusdirigentes.Elaestámorta-viva,éum
sepulcro, exteriormente ainda caiado de branco, porém ¯eio de
ossos. Compreendeis que aquilo que, no tempo de Lao Tsé, ecoava como um alerta sobre uma ladeira escorregadia, na verdade
tornou-se realidade, uma certeza absoluta?
Portanto, se desejais ainda hoje aprender das palavras de Lao
Tsé, aprendei do estado real da humanidade atual. Refleti sobre
o que ainda pode ser feito para escapar de uma maneira inteiramente nova dessa morte viva e para ser de utilidade para a
humanidade ignorante que está nessa assustadora situação.
Não deveis contentar-vos com palavras. Não deveis contentar­
-vosemsomentedemonstrarmutuamenteaevidênciadessesfatos,
pois já se fala bastante sobre isso. Inúmeras obras foram escritas,
asquaispoderiamserempilhadasemmetrosdeespessura,emprotestocontraaciênciaatômica.Muito,muitoseescreveu.Nada
dissofazomenorsentido!
As melhores armas são instrumentos de
calamidade.
Os dirigentes da humanidade, em sua ignorância, já a mataram. Portanto, repetimo-lo novamente: se desejais aprender das
palavrasdeLaoTsé,aprendeidaexperiênciadoestadoatualda
humanidade.
Em nossos dias, muitos cientistas ¯egaram à conclusão de
que seu conhecimento está sendo aplicado de maneira errada. E

432A GNOSIS CHINESAmuitos deles se reúnem para tentar desviar esses perigos. Muitos cientistas eminentes se agruparam a nível internacional para
protestar. Eles veem claramente que tudo caminha às avessas. E
agora eles tentam reduzir ao mínimo a rede anárquica de seus
pensamentos, bem como sua influência sobre a humanidade. Eles
estão, por assim dizer, curvados sob o peso de um grande medo.
Mas, embora eles sejam os primeiros a saber o que desencadearam, se lerdes o que eles escreveram, descobrireis que seu zelo é
completamente destituído de valor. É como se eles pregassem no
deserto. Eles têm renovado seus apelos há muitos anos, mas sem
sucesso. Certamente é favorável o fato de eles terem sido tomados
de medo  isso demonstra que descobriram as consequências de
suas atividades, consequências que tentam agora remover. Embora possam dar sinais de bondade, sua ação é totalmente vã,
ainda que seja um sinal característico.
Outro sinal característico é o fato da Escola Espiritual vir até
a humanidade, vir até vós para auxiliar-vos em vossas eventuais
tentativas para ainda escapar do perigo mortal.
Todavia, quem deseja isso e o pode realmente, deve então mostrar-se radical, muito radical em sua atitude de vida. Resta esperar
para ver se muitos estão preparados para isso. Eles deverão aniquilar em seu próprio meio os efeitos da maldade que se desenvolve
através da ignorância. É exigido deles que ataquem sua rede de
pensamentos altamente perigosos em seu raio de ação. É preciso
destruí-los. Portanto, uma atitude de vida radical a serviço da
humanidade é necessária, antes que seja tarde demais.
Trata-se, pois, de saber se, no que vos diz respeito, estamos
pregando no deserto, ou se estais prontos, de maneira radical, tão
radicalmente como na época dos irmãos e irmãs maniqueus, a
aplicar essa atitude de vida. Se encontrarmos um grupo su cientemente forte que queira isso verdadeiramente, muito ainda
poderá ser feito.

43331-III
AMAI VOSSOS INIMIGOS!
Depois de termos estudado nossa sociedade em sua realidade, em
profundidade e sem tomar partido  tendo em vista os antigos
aforismos de Lao Tsé datados de quase três mil anos  depois de
termos sido confrontados com a degenerescência atual, podeis
ver claramente que não fazemos parte do grupo dos que se comprazemcomadecadênciaeque,comumaespéciedeprazersádico,
declaram que o mundo e a humanidade perecem por ignorância.
Suponhamos que também vós tenhais esse ponto de vista e
que vos pergunteis agora, com toda a seriedade: “Que fazer para
ajudar diretamente a humanidade? Deveríamos ir até os homens
para conversar com eles? Deveríamos editar periódicos ou escrever livros para, por meio de documentos, trazê-los de volta à
razão?”
Acreditamos não ser preciso fazê-lo. Com efeito, conhecemos
o per l do dirigente  para empregar a terminologia do capítulo
anterior  e o do operário. Isso não faria o menor sentido, pois
nossas palavras e nossas ações seriam contestadas e aumentariam
a confusão.
Vimos até que ponto a humanidade é pega de surpresa e envenenada, e logo será aniquilada pelo desenvolvimento de suas
concepções mentais. Pois bem, tentemos servi-la atacando o mal

434A GNOSIS CHINESApela raiz. Também na Escola Espiritual devemos basear-nos em
uma concepção mental. Devemos aplicar a espada no campo astral, ir ao encontro da humanidade em seu próprio terreno, o
terreno da degeneração primária, da desumanização, portanto
no mundo mental, no mundo astral.
Há, porém, uma di culdade, que deveis ter diante dos olhos.
No mundo astral não existe mentira. Ali tudo é realidade positiva e absoluta. Quando, interiormente, “fazeis de conta”, com
certeza não criais uma concepção mental aceitável. A parte da
humanidade de que falamos, que se ocupa em projetar armas, em
estudá-las, em desenhá-las para, a seguir, fabricá-las, trabalha de
tal forma que, para ela, a atividade mental precede a atividade
material. Ora se nós, na Escola Espiritual, desejarmos acabar com
essas indústrias, se desejarmos puri car a esfera astral mental, se
ao menos desejarmos diminuir seriamente essa atividade da humanidade, nossa atividade na matéria deve preceder ou acompanhar
a atividade mental.
O que desejamos tornar claro para vós é que tudo o que dizemos, tudo o que desejamos na Escola Espiritual, deve ser precedido por uma atitude de vida pura, clara e positiva. A partir dessa
atitude de vida, nessa base, é que, eventualmente, será possível
endireitar, na esfera astral, o que está “torto”, apaziguar o que está
colérico. Quem deseja fazer algo pela humanidade que sofre 
sofrimento esse que ela mesma desencadeou por ignorância 
deve, na base de uma atitude de vida positiva, aproximar-se dela
na esfera astral para ali anular suas más obras. Portanto, é exigido
dele um caráter elevado e puro.
Imaginai  e aqui entramos no terreno do ocultismo  que um
homem decida emitir para o plano astral, durante cinco ou dez
minutos por dia, correntes puras em direção ao local ameaçado.
Isso não teria o menor sentido! Ele deve ser capaz de enviar uma
corrente de amor contínua, baseada numa atitude de vida realmente pura. Com certeza, o resultado não tardará. Somente pela

43531-III · AMAI VOSSOS INIMIGOS!aplicação de semelhante magia seria possível aniquilar em alguns
segundos, na esfera astral, as consequências dessa perturbação. E
como obter isso senão através do amor fundamental?
Hesitamos um pouco ao pronunciar a palavra “amor”, pois alguém poderia pensar nesse sentimento adocicado tão conhecido
em nossa natureza, ou seja, demonstrar amabilidade, “fazer de
conta”. Compreendei, porém, que nos referimos aqui à força de
amortalcomoentendidanoSermãodaMontanha.Esseprincí­
pio de amor perfeitamente puro, demonstrado pela atitude de
vida,amorqueultrapassatudo,constitui,naesferamaterial,uma
poderosa base para atacar o inimigo em sua própria perturbação.
Combasenessaatividademental,podemostornar-nostãofortes
que tudo poderemos.
O Sermão da Montanha também está baseado nesse fundamento,bemcomoasconhecidaspalavrasdeMateus,nocapítulo
5:“Eu, porém,vosdigo, amai avossosinimigos, bendizei osque
vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem, para que sejais lhos do Pai que
está nos céus”.
OSermãodaMontanhamostra-nosumhomemque,sobtodososaspectos,é completamentediferentedohomemnascido
danatureza.Paraviverassim,paraserassim,éprecisopartirdo
renascimento da alma, do estado de alma vivente. Esforçai-vos,
pois, para adquirir o estado de alma vivente. Cingi-vos para espargir essa força sobre os bons e os maus. É sobre essa imensa
magia do amor que se baseia a atitude de vida que vos é proposta.
Essa é uma prática urgentemente necessária em tempos como os
nossos. Essa é a única possibilidade de fazer algo para o mundo e
a humanidade: a mobilização da força do amor.


43731-IV
O AMOR DO HOMEM GNÓSTICO-MÁGICO
Depois de havermos analisado em profundidade a realidade da
sociedade atual e descoberto suas causas, concluímos que a humanidade foi apanhada de surpresa e está sendo envenenada e
ameaçada de aniquilamento pelo seu mental.
As concepções mentais que ela mantém há tanto tempo semearam na esfera de vida astral da humanidade uma desordem
quase desesperadora. A luta, o caos e o desastre que daí resultam
na esfera material são tão vastos que podemos perguntar-nos:
“Como ainda podemos fazer cessar essa enorme tormenta?” Especialmente porque a humanidade, quando se encontra diante
de semelhante desastre, sempre recorre à violência de uma forma
ou de outra. “Que força deveríamos empregar para neutralizar
essa catástrofe?” A humanidade sempre se utiliza das armas para
afastar o perigo, ignorando totalmente que ela, assim, atiça as
causas e agrava as consequências. Pensai nas palavras de Lao Tsé:
As melhores armas são instrumentos de calamidade. Já vos mostramos o que elas têm de incontestável. Encontramo-nos, portanto,
diante do grande problema, diante da grande tarefa: “Que deve a
Escola Espiritual fazer diante desse grande infortúnio?”
Podeis ver claramente que o tempo para uma ação nova e poderosa já ¯egou. Agora a Escola Espiritual gnóstica deve mostrar o

438A GNOSIS CHINESAque ela é e do que é capaz. É preciso, agora, aproveitar a ocasião:
“Que fazer para afastar os imensos e ameaçadores perigos?”
Afastemo-nos um pouco com relação à agitação provocada por
essas imensas ameaças para estudá-las tão objetivamente quanto
possível. Acaso deveríamos interferir nessa agitação? Deveríamos, por exemplo, protestar, como muitos o fazem? Deveríamos
enviar cartas para as pessoas que estão no poder? Deveríamos
praticar atos de indisciplina civil, como se diz, a m de ¯amar
a atenção sobre os perigos? Ou ainda mostrar-nos francamente
revolucionários, em consequência do que invocaríamos, mediante determinadas manipulações políticas, todo tipo de forças
contrárias a m de impedir que os combatentes realizem seus
desígnios?
Deveis compreender que tais atividades não teriam o menor
efeito, pois tudo isso, sem exceção, nos levaria a lutar de uma
fo
rma ou de outra. Na melhor das hipóteses, seria mostrar-se
mentalmente positivo, opondo-se à orientação mental da humanidade e a suas consequências. E, como o sabeis, as armas mentais
são as melhores.
Mas, atentai bem! Lao Tsé a rma:
As melhores armas são instrumentos de calamidade. Sobretudo aos alunos da Escola Espiritual
é informado a que ponto é preciso temer exatamente essas armas
mentais por serem elas como uma peste ígnea. Portanto, é trágico
termos de a rmar que, embora uma grande parte da humanidade
compreenda que o mundo está às avessas e esteja cônscia dos perigos altamente funestos com os quais está sendo confrontada,
essa mesma parte da humanidade, tendo em vista sua ignorância,
não pode agir para ajudar da única forma correta a humanidade
buscadora. Por isso, repetimos mais uma vez com insistência que
o único meio de ajudar a humanidade de maneira absoluta está
na aplicação radical da força do amor universal.
Ao a rmar-vos isso, percebemos que ainda devemos falar- de
maneira mais clara a respeito dessa aplicação da força de amor

43931-IV · O AMOR DO HOMEM GNÓSTICO-MÁGICOpara não sermos mal compreendidos, porque nesse ponto corremos o risco de rapidamente nos perdermos no labirinto das diferentes noções e teríamos di culdade em fazer-vos compreender
o que a Escola da Rosacruz quer dizer com isso. Para compreenderdes qual é o seu objetivo, primeiro queremos dizer qual não é
o seu objetivo.
Para isso, façamos primeiro a distinção entre a prática do amor
e a busca por amor do homem
da igreja; em segundo lugar, a
busca por amor do homem
humanista; em terceiro lugar, a vida
de amor do
homem-eu  e coloquemos, face a isso, a prática de
amor do homem
gnóstico-mágico.Examinando o caso do homem da igreja, veri camos que, tendo
em vista sua prática de amor, ele não pode livrar-se da ilusão, portanto da ignorância. Isso porque as autoridades eclesiásticas o
aprisionam de tal maneira a uma assim ¯amada escritura sagrada,
cuja interpretação literal, da qual não se poderia tirar nada, nem
um jota ou um til, constitui um terrível freio. A fé não está colocada em Deus, que é amor, porém está baseada num texto que
interpreta o amor. E isso é totalmente diferente de um encontro
com o amor mesmo.
A fé é com frequência usada pelos que pregam o amor. Nesse
ponto, entretanto, o homem da igreja tem meios de controle
insatisfatórios. Não é preciso ter objeções a alguém que prega o
amor, mas é preciso fundamentar-se numa faculdade de controle
interior para estar seguro. A falta de semelhante faculdade sempre
torna as pessoas dependentes. E se a pessoa é dependente, ela pode
sempre tornar-se uma vítima. No geral, sempre incorre nessa
situação alguém que não tenha alma ou que, embora disponha
de qualidades de alma e esteja sob a influência do amor, ainda
não possui uma alma liberta. Sentimo-nos compelidos aqui a
estabelecer a nítida diferença entre o homem que tem a alma
livre e o que tem apenas qualidades de alma. De qualquer forma,
uma alma dependente está sempre sujeita à ilusão.

440A GNOSIS CHINESAO mesmo se pode dizer sobre o homem humanista. O fato
de ele desejar fazer na natureza dialética, na natureza da morte,
uma experiência de vida em fraternidade com todos os homens,
o fato de ele desejar instalar o reino de Deus num campo de vida
onde isso é totalmente impossível, sem dúvida caracterizam-no
como um possuidor de qualidades de alma. Também o fato de ele
considerar positivamente o mal como um incidente passageiro
que, em breve, se transformará em bem, demonstra que ele possui,
indiscutivelmente, qualidades de alma.
Todavia, da mesma forma que é impossível encarregar uma
criança de dirigir o mundo, é impossível seguir a linha humanista. Ela conduz, de maneira irremediável, para o pântano da
ignorância.
Para evitar mal-entendidos, salientaremos ainda com insistência que existem diversas formas de adquirir qualidades de alma
de maneira negativa, como, por exemplo, através do sofrimento.
E deveis notar que muitas criaturas assim golpeadas e abatidas
pela vida quase sempre passam a ter um temperamento mais doce.
Um paciente acamado dá um exemplo claro disso, pois essas pessoas, por seu sofrimento, desenvolvem qualidades de alma. Elas
são tocadas pelo campo da Alma do Mundo que tudo envolve,
de que fala Platão.
A Alma do Mundo tudo envolve, sem exceção. E se alguém,
mergulhado na dor, esquece seu eu por um instante, a Alma do
Mundo vem tocá-lo. Desse modo, ele recebe qualidades de alma
graças ao campo da Alma do Mundo que tudo envolve, mesmo
que isso ocorra de maneira negativa, portanto, em ignorância.
É assim que encontramos no mundo seres muito re nados,
¯eios de alma e de amor. Todos são “jovens ricos” a quem falta o
único necessário; eles não conhecem a senda única; e se a conhecessem, recusar-se-iam a segui-la. Eles não conseguem captar-lhe
a força e dela se desviam sempre, pois creem poder encontrar
neste mundo o que não é deste mundo. Eles creem já estar na

44131-IV · O AMOR DO HOMEM GNÓSTICO-MÁGICOsenda, eles reconhecem a força do amor que vivenciam não como
originária da Alma do Mundo. Esse é um conceito sobre o qual
eles jamais poderiam refletir em sua ignorância. Assim, consideram a força de amor como uma parte da matéria, uma parte do
nosso mundo.
O que devemos pensar acerca do homem-eu absoluto, vós o
sabeis. A natureza de seu amor sempre o leva a permanecer no
interior de um círculo bem delimitado. Além disso, no interior
desse círculo, seu eu não se sujeita, de forma alguma, a ser posto
de lado, como o sabeis. O homem natural repele os tabus para
viver a assim ¯amada vida de amor do homem-eu sem nenhuma
restrição. A Escola Espiritual não é o lugar para quem crê que
deva seguir esse caminho “moderno”. O homem-eu encontra-se
na classe mais inferior da vida sujeita à morte.
Depois de tudo que indicamos, tentaremos revelar o amor
divino, o amor que está acima de tudo, o amor que tudo liberta,
amor com o qual é possível aniquilar completamente tudo o que
ameaça o mundo. Essa é a força com a qual a Escola Espiritual
deve trabalhar para auxiliar e salvar, se possível, todos os que, de
uma maneira ou de outra, possuem qualidades de alma. Essa é,
portanto, a força que deveríeis possuir; é a força que, se necessário,
deveríeis utilizar. Essa força de amor deve ser liberada. E ela pode
ser liberada pelos que têm uma alma liberta.
Enquanto o homem possuir uma alma, qualidades de alma
ainda dependentes da personalidade ligada à natureza e especialmente ao corpo vital, ou duplo etérico, o eu inteiro, a personalidade inteira, se envolverá automaticamente em cada problema,
mesmo que o homem não queira.
Na maior parte do tempo, esta é a causa das di culdades que
surgem entre os alunos de uma escola espiritual. Em sua grande
maioria, eles possuem grandes qualidades de alma, porém ligadas,
misturadas e acorrentadas ao eu da natureza. Se apenas possuíssem qualidades puras de alma, não haveria problema entre eles,

442A GNOSIS CHINESAcompreenderiam perfeitamente bem um ao outro e entrariam
em perfeita harmonia.
Porém o eu sempre interfere no contato entre duas pessoas. E,
devidoàsuanatureza,cadaeuédiferentedooutro.Devidoàsua
natureza, cada eu é, no mínimo, carregado com diversos tipos de
carma. Por isso os homens sempre entram em conflito uns com
osoutros,emboranãoodesejem.Somentequandoaalmaestiver
liberta,quandotiver,portanto,sedesligadodapersonalidadenascida da natureza e agir com toda autonomia, como Jesus Cristo,
nosso Senhor, somente então ela se tornará poderosa.
Não estamos indicando aqui o estado em que se ingressa após
a morte, porém uma nova condição de vida, na qual o candidato
possui realmente uma alma liberta, como Jesus, o Senhor, o protótipo de todo homem verdadeiramente moderno. Se realmente
nos tornamos seus discípulos, já não colocamos em primeiro
plano no trabalho de libertação a própria personalidade nascida
danatureza, masdamos-lheumpapelsecundário. Unicamentea
personalidade nascida da natureza, que levou a bom termo o trabalhodohomem-JoãotornarretososcaminhosparaseuDeus
 unicamente essa personalidade está em condição de trabalhar
magicamente em sentido gnóstico.
Estamos convencidos de que falamos aqui de valores, forças,
aspectosepossibilidadesdavidagnósticadosquaisépossívelque
jamaistenhaisouvidofalar.Entretanto,existemmuitosalunos
que estão sepreparando para essetrabalho. E caríamos muito
fe
lizessepudéssemosdar-vostodasasindicaçõesnecessáriassobre
amaneiradelibertaraalmaduranteacurtaduraçãodeumavida
e sobre como libertar-se da personalidade nascida da natureza.
Não deveis imaginar o protótipo, Jesus Cristo, distante de
nós. A Escola Espiritual insiste no fato que nada do que desejais
eventualmenterealizarnestanaturezaétãofácilcomoaimitação
de Cristo compreendida no sentido gnóstico. Esperamos, pois,
quenos sejapermitidodar-vosas indicaçõesnecessáriasparaque

44331-IV · O AMOR DO HOMEM GNÓSTICO-MÁGICOpossais encontrar a solução de vossa vida, qualquer que seja a
direção em que a busqueis, solução que será de imenso interesse
para a humanidade inteira.


44531-V
VÓS SOIS O SAL DA TERRA
Desejamos agora, com alegria, apresentar-vos o programa da magia gnóstica e mostrar-vos sua utilidade e necessidade. Ela constitui a única maneira de salvar o mundo e a humanidade.
Paracomeçar,apresentamo-vosa guradeJesusCristo,oFilho
do Pai, do qual todos devemos ser imitadores. Nós o escolhemos
como exemplo, porque vemos que ele foi homem e Deus, isto é,
um ser nascido da natureza e verdadeiramente uma alma renascida. Todo o curso de sua vida provou que ele era, como alma,
completamente livre, um cidadão liberto do céu-terra; como ser
nascido da natureza, ele havia atingido o que semelhante ser pode
realizar de mais elevado. Segundo a natureza, ele era totalmente
trans gurado. Portanto, ele estava totalmente
no mundo, porém,
como homem-alma, ele já não era
do mundo.
Nessacondição,eletinhaacapacidadedeseexpressaremtodos
os aspectos do nosso cosmo. Ele era uno com o Logos terrestre e
com o Espírito terrestre. Ele se elevava ao céu e, dali, descia à terra
que, como diz o Evangelho, é o escabelo dos pés de Deus. Ele era
onipotente no cosmo inteiro e havia recebido todo o poder sobre
a terra e o céu.
Caso considereis essa gura como um modelo para a vossa
verdadeira imitação de Cristo, para a qual ele mesmo vos convida,

446A GNOSIS CHINESApara a qual ele vos instiga porque tendes a capacidade para isso 
se não quiserdes mais vê-lo como um ídolo inacessível ou como
o personagem de um conto de fadas  se verdadeiramente o
considerardes como a elevada vocação para a qual sois ¯amados,
então, como membros de uma escola espiritual gnóstica, vereis
que, por ele, com ele e nele se revela todo o programa da magia
gnóstica. Então descobrireis que um amor pleno de elevação e de
serenidade não somente quer libertar-vos como também conferir­
-vos todo o poder sobre o céu e a terra.
Se refletirdes sobre isso, compreendereis que não se trata de
um estado que surge de um momento para o outro, mas de um
crescimento, de um caminho, que cada qual segue segundo seu
próprio ritmo; e que, desde o menor progresso no caminho, a
graça, a força e o amor de Deus aumentam dia a dia, desde que vos
livreis de todas as lendas e contos de fadas que a Igreja vos contou
e com os quais vos sobrecarregou desde vossa juventude. Considerai Jesus, o Senhor, dizemo-lo uma vez mais, como o protótipo
do verdadeiro e único homem, no qual devereis transformar-vos
em toda a sua grandiosidade.
Todavia, não nos pergunteis: “Por onde devo começar?” Começai por vosso próprio começo, conforme o indica vossa vida
pessoal. Tornai retos vossos caminhos, aí mesmo onde viveis, aí
mesmo onde morais, aí mesmo onde estais. Sede um homem-João
em todos os sentidos, isto é, em todos os aspectos de vosso raio
de ação do momento. Este é o requisito fundamental.
Talvez o raio de ação de uns seja maior do que o de outros. Prestai atenção, entretanto: se alguém, cujo raio de ação for maior do
que o vosso, não o utiliza, então ao utilizardes o vosso, eventualmente menor, vossa ação será maior do que a dele.
Torna-se evidente, portanto, que deveis praticar a imitação de
Cristo imediatamente; que todos em conjunto temos a possibilidade de formar um só grupo; e que devemos ter o maior respeito
possível uns pelos outros. Assim são formadas as hostes. Assim

44731-V · VÓS SOIS O SAL DA TERRAé formada a comunidade de João, que percorre seu caminho no
desertoemlinharetaemdireçãoaoobjetivoúnico.Assimsomos
todos batizados com a água viva, a água viva da Alma do Mundo
que envolve a todos.
Desejamos a rmar novamente com insistência: o cosmo decaído está totalmente cercado, envolto pela Alma do Mundo. E
todos os que se abrem a ela, por pouco que seja, todos os que
esquecem seu eu, recebem as irradiações da Alma do Mundo em
seu ser.
Compreendeis que não devemos somente falar sobre isso, orientar-nos de maneira mística, que não devemos unicamente sintonizar-nosinteriormentecomessecaminho,masqueéabsolutamente necessário que, desde o princípio, tenhamos uma atitude
de vida concreta que se afasta totalmente do comportamento
convencional. Isso é exigido de vós.
Se sentis que a serenidade da Alma do Mundo vos toca, se
os valores que ela irradia penetram até o imo de vosso ser, optai
pela correspondente atitude de vida: uma atitude de vida interior pura, uma atitude de vida, é desnecessário dizer, totalmente
diferente da dos homens que ainda ignoram o objetivo único da
humanidade.
Encontrareis a estrutura, os ensinamentos e as linhas diretrizes de semelhante atitude de vida, como já vos zemos observar
anteriormente, no Sermão da Montanha. Quando elevastes os
olhos pela primeira vez de maneira mais ou menos consciente
emvossavida,oSermãodaMontanhatalvezjáestivesseaovosso
alcance. Foi para isso que o homem recebeu o Sermão da Montanha. Quando não conheceis o objetivo da humanidade, quando
não seguis a orientação do homem joanino e vos mantendes no
plano comum da vida proveniente da natureza, então o Sermão
da Montanha é uma impossibilidade, e consequentemente entrareisemconflitocomele.Então,estareissempreemsérioconflito
com tudo o que é o Sermão da Montanha.

448A GNOSIS CHINESAGostaríamos de pedir-vos que lêsseis o Sermão da Montanha
uma vez por dia e que, uma vez por dia, refletísseis durante alguns
instantessobreele.Sedesejaisobterresultados,élógicoquedeveis
mudar a vossa perspectiva, colocando-vos num ponto de vista que
esteja em sintonia com o Sermão da Montanha. É preciso buscar
um plano de vida diferente. É preciso que procureis colocar-vos
sobre um plano bem superior ao do homem médio. Sobre esse
plano é necessário basear vossa atitude de vida.
Os alunos de uma escola espiritual gnóstica dão provas de que
há muito tempo buscam outro plano de vida. Caso contrário, por
que teriam se tornado alunos?
Todavia, ouçamos este aviso: “Que ninguém procure subir
muito alto”. Subi unicamente até o ponto no qual podereis manter-vos, num ponto de onde não podereis cair, eventualmente
onde não sereis objeto de zombarias. Não a rmeis: “Estou neste
nível” quando, na verdade, estais bem abaixo dele.
Podemos a rmar que “subimos a montanha” quando alcançamos um nível superior e nos mantemos nele. E é evidente que
o encontro com o protótipo do Homem nobre e verdadeiro somente se dá nesse nível de vida. Se aceitais nossa proposta, escutai
então, agora, as bem-aventuranças do Sermão da Montanha:
“Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte; e, assentando-se, aproximaram-se dele seus discípulos; e, abrindo
a boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles
é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que ¯oram, porque eles serão
consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a
terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque eles serão fartos.

44931-V · VÓS SOIS O SAL DA TERRABem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles
verão a Deus.
Bem-aventurados os paci cadores, porque eles serão
¯amados lhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra
vós, por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que
foram antes de vós.
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que
se há de salgar? Ele para nada mais presta senão para
lançar-se fora e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder uma
cidade edi cada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá
luz a todos que estão na casa.
Assim, resplandeçaavossaluzdiantedoshomens, para
que vejam vossas boas obras e glori quem o vosso Pai que
está nos céus.”
Em todas as fases apropriadas da vida e em todas as épocas apropriadasdahistóriadahumanidade,semprehánaterraumamultidão
de homens de natureza excepcional. São os que, em dado momento, compreendem, por intuição, que deve existir outra vida,
concreta e nova. Uma vida que não pode ser explicada nem pelos
fenômenos místicos, nem pelo humanismo e muito menos pelo
eu do homem. E, à medida que o tempo avança para os representantes dessa multidão, à medida que a época dá sinais evidentes

450A GNOSIS CHINESAde que ela corre para o m, e que essa multidão ainda não vê sua
orientação recompensada por alguns resultados, desenvolve-se,
em seu meio, um campo de tensão crescente.
Imaginai agora um ser humano orientado dessa forma, tocado
de fato pela Alma do Mundo. As forças da verdadeira luz o tocam em virtude de sua orientação. Ele se esforça para tornar seus
caminhos tão retos quanto possível, mas, por enquanto, veri ca
que a vida é um deserto. Sob semelhante toque, sob semelhante
expectativa, nasce uma grande tensão. “Haverá uma saída? Haverá uma solução para a humanidade, para a existência humana?
A vitória ¯egará?”
Esse estado psicológico, essa tensão, provoca interiormente,
isso é inevitável, uma sublimação; ou ao menos, a possibilidade
de uma sublimação. A fase preparatória terminou, e quando da
tensão se elevar a crise, em dado momento, será demonstrado o
que fará o homem que pertence a esse grupo excepcional. Deverá
ser provado quem desse grupo, dessa multidão, realmente será
um discípulo, um discípulo do grande, nobre protótipo, Jesus
Cristo, nosso Senhor.
É a isso que se refere o início do Sermão da Montanha, quando
a rma:
“Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte; e, assentando-se, aproximaram-se dele seus discípulos”.
Jesus, o Senhor, e não poderia ser de outro modo, baseia-se num
ponto de vista exclusivo. Ele coloca-se num plano superior àquele
a que se está habituado no mundo dialético, e aguarda, em função
do desenvolvimento da multidão presente, que os que compreendem verdadeiramente venham a ele.
Partindo do nível dialético do homem nascido da natureza,
de nada adianta voltar o olhar para o alto a m de compreender algo das palavras do Sermão da Montanha. Não, é necessário

45131-V · VÓS SOIS O SAL DA TERRAestar em condição de se colocar psicologicamente no nível da
montanha. Somente então sereis capazes de compreender totalmente. Somente então compreendereis o que até então vos
parecia absolutamente impossível.
E ouvis uma voz que ressoa: “Ide para a glória!” Um otimismo
tão imenso e tão universal vos é transmitido, uma realização tão
grandiosa e tão maravilhosa vos é anunciada, que, em compara­
ção, tudoaquiloque tentamosexplicar-vossobreohomem-alma
desaparece.
Quempodeelevar-sedaorientaçãodosernascidodanatureza,
portanto que pode elevar-se psiquicamente  isto é, interiormente,etericamente,alcançaráoplanosuperior¯amado“alto
da montanha” e com isso dará provas de que as qualidades de
almajáreunidassãoe cienteseestãorealmenteativas. Essehomemcompreendeessaspalavrasdemaneiramuitopositiva,como
um mantra que arde nele:
Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos céus!
Assimqueesseestadopsíquicosetornaumfatonosistemade
vida e o homem estabelece indubitavelmente uma ligação com
a Alma do Mundo, ele entra no raio de ação do reino de Deus.
Ele entra na bem-aventurança. E apenas lhe resta praticar a correspondente atitude de vida para experimentar a salvação, para
percebê-la, para fazer com que ela perdure, qual um
consolamentum. Desse estado de ser duradouro emana um consolo que possibilitará suportarinteiramente todos ossofrimentos inerentes
ao nascimento na natureza.
Semelhanteseré,então,confrontadocomoheroísmodamansidão.Unicamenteesseshomensvencerãoeherdarãoaterra.Eles
farãodesapareceroflagelocausadopelaignorânciaetodasassuas
consequências. E não há a menor dúvida de que os que vivem
nesse estado superior pleno de serenidade têm fome e sede de
justiça e que todos eles serão saciados; que os misericordiosos
obterão misericórdia; que os puros de coração experimentarão a

452A GNOSIS CHINESApresença de Deus; e que os paci cadores conhecerão a paz, a paz
interior dos lhos de Deus.
Tudo isso não indica um rápido crescimento da alma? Tudo
isso não indica um despertar da alma, num crescente aproximar-se
do centro do novo reino? É por isso que a bem-aventurança encontra-se também na perseguição por causa da justiça, no ultraje
e na opressão. É que a contra-natureza não tolera que a natureza
divina se coloque em seu meio e avance rapidamente seguindo
seus próprios caminhos. Por isso, o fogo da perseguição serve
apenas para provar a fraqueza da contra-natureza e mostrar que
ela está batendo em retirada.
É-vos dado viver desse estado de ser superior e entrar nessa grandiosa realidade. Portanto, é necessário que reflitais de maneira
clara sobre essa tarefa. Uma tarefa que vos cabe unicamente se vos
abrirdes interiormente à voz das bem-aventuranças, se delas sentirdes a força e se estiverdes rmemente decididos a permanecer
sem cessar nesse novo nível de vida.

 

45331-VI
O SAL PURIFICADOR
É para os que, estando no cimo da montanha, receberam a bênção
das bem-aventuranças e, dessa forma, estão ligados à salvação
vivente do Reino, que se dirigem as palavras: “Vós sois o sal da
terra”. Eles recebem uma missão con rmada pelo compromisso
de todo o seu ser. Trata-se aqui do conhecido axioma da Rosa­
-Cruz clássica, segundo o qual o
sal mineralis deve transformar-se
em
sal menstrualis.Sabeis qual estado psíquico é preciso alcançar para assegurar
um verdadeiro desenvolvimento e um verdadeiro crescimento da
alma. E evidentemente veri careis que se ¯ega a isso primeiro
através de uma atitude de vida totalmente nova que possibilitará
o crescimento da alma. Com isso queremos dizer uma atitude
de vida que se afasta em todos os aspectos do comportamento
comum.
Trata-se de uma atitude de vida que interfere profundamente
em todos os aspectos da existência humana. Em vosso caso, por
exemplo, trata-se, em primeiro lugar, de vossa vida de pensamentos. Trata-se particularmente de vossa atitude de vida íntima, em
vossa própria casa, prosseguindo em vossa vida social e em vossos
contatos com vossos semelhantes. Quando um ser humano adota
semelhante comportamento, dele emana uma radiação. Então,
ele age positivamente orientado com a força-luz que o toca.

 

454A GNOSIS CHINESAJá dissemos algumas vezes que a Alma do Mundo influencia
todos os homens e os penetra diretamente com seus raios a cada
conduta favorável da personalidade. Através da atitude de vida
correspondente, o homem conserva essa força da alma e começa
a trabalhar com ela. Graças a essa atitude de vida, uma luz emana
dele, um influxo, uma força que será percebida e experimentada
por todos, sem exceção.
Essa luz age agora como um sal puri cador, depurador em
todos os aspectos da vida. Podeis compreender agora por que esse
sal também estava na bagagem de Cristiano Rosa-Cruz. Como
um rosa-cruz, um aluno da Escola Espiritual, poderia trabalhar
sem estar de posse desse sal puri cador? Portanto, quem deseja
fazer algo para a humanidade, deve, no mínimo, possuir esse sal,
deve poder particularizar esse raio de luz. Por isso, a rmamos
que tudo deve ceder ante a luz da alma. Nada pode resistir-lhe.
Evidentemente, não se trata aqui de qualidade de alma negativa. Já vos explicamos de que forma o homem, sem o saber,
pode receber as radiações da Alma do Mundo sem, no entanto,
poder fazer algo para outrem, a não ser aumentar suas di culdades e obstáculos. Nesse caso, a luz é colocada sob o alqueire da
ignorância.
Mas,apartirdomomentoemque,buscando,noselevamosaté
onovoplanodevidadoqualjávosfalamos,aflamadocandelabro
arde, e sua luz torna-se perceptível na vida. Então, a força da alma
torna-se dinâmica e ativa na terra, e o influxo eletromagnético
dessa luz está em condição de acalmar, no sentido mais absoluto,
as tempestades que devastam o mar astral. Dessa forma a luz deve
irradiar, e isso pode ter um único efeito: a glori cação de Deus,
nosso Pai.
Não podemos deixar de vos declarar aqui que o único meio de
prevenir a grande catástrofe que aguarda a humanidade é através
da prática, na vida, do Sermão da Montanha. Fomos enfaticamente encarregados de tentar fazer-vos adotar essa prática de

 

45531-VI · O SAL PURIFICADORvida nova e superior, totalmente estranha aos hábitos comuns.
Trata-se de uma prática impossível de ser aprendida com base no
exterior e que não podemos enquadrar em nenhuma fórmula do
tipo: “é preciso fazer isso ou aquilo”. Essa prática tampouco pode
ser descrita em um livro. Trata-se de uma realidade vivente que
intervém profundamente na vida do homem, que se dirige a todos os domínios de vida e deverá manifestar-se em todos eles. Ela
diz respeito a todas as pessoas com as quais entrais em contato e a
tudo o que encontrais. A luz da alma positivamente empregada é
uma força diante da qual tudo cede. E deveis aprender a trabalhar
com essa arma do amor.
Observai que nos encontramos atualmente diante de um ponto
muito decisivo em nosso trabalho. É esperado agora que cada
aluno dê provas concretas do novo estado de vida; e cada aluno
deve professar seu discipulado de maneira completamente nova.
Somente então ele entrará na escola prática da Gnosis. E é nossa
esperança e nossa prece que decidais empenhar-vos conosco, realmente, nessa escola prática, a m de vos preparardes para a
salvação do gênero humano.

 

456
O Tao é eterno e não tem nome.
Embora ele seja por natureza pequeno e despretensioso, o mundo
todo não ousa subjugá-lo. Se os príncipes e os reis conseguissem
conservá-lo, os dez mil seres e coisas se submeteriam a eles.
O céu e a terra se uniriam e fariam descer um suave orvalho; e, sem
comando, o povo se harmonizaria espontaneamente.
No momento em que o Tao foi dividido, ele recebeu um nome.
Uma vez de nido esse nome, devemos saber guardá-lo.
Quem vem a conhecê-lo não corre perigo.
O Tao está espalhado pelo Universo.
Tudo retorna ao Tao, como as torrentes das montanhas retornam
aos rios e aos mares.
Tao Te King, capítulo 32

45732-I
O CÉU E A TERRA SE UNIRÃO
Apresentamo-vos agora o capítulo 32 do Tao Te King para con­
rmar as palavras da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea com a
ajuda desse antigo testemunho de um dos grandes, testemunho
esse que ¯egou inviolado até nossos dias através de milênios. Já
vos falamos da necessidade da magia gnóstica, da construção do
novo templo e de um sacerdócio para que a magia gnóstica atinja
plenamente seu objetivo nos templos da Rosacruz.
É por isso que vos trazemos essas antigas palavras de Lao Tsé
como uma profecia enunciada no passado, pois ¯egou o tempo
de uma grande revolução mundial e a humanidade encontra-se
no limiar de um período totalmente novo. Se os alunos de nossa
Escola compreendem realmente nossa época e concebem verdadeiramente as possibilidades que Deus lhes dá, essa profecia
poderá ser realizada, levada a efeito pela comunidade reunida na
Escola Espiritual da Rosacruz Áurea. Analisemos, portanto, o
capítulo 32 do
Tao Te King para, em seguida, colocá-lo na prática
em nossa época, nos nossos dias. Examinemos se as possibilidades
de realização estão realmente presentes.
Tao, “Isso”, a força que denominamos Deus, transcende sua natureza. Realmente, ele é a força que move e governa o Universo. E

458A GNOSIS CHINESAtudo o que é criado, sim, cada criatura, traz dentro de si, em cada
átomo de seu ser, o princípio nuclear do Tao. Portanto, nada está
tão próximo de nós quanto o Tao, a força de Deus, que vem para
julgar os vivos e os mortos, mas que é também a força divina que
conduz à bem-aventurança.
A humanidade experimenta a força do julgamento do Tao
quase em cada hora de sua vida. Trata-se agora de mudar essa
fo
rça divina do julgamento em força divina da bem-aventurança,
em força divina da realização. Esse é o grande problema diante
do qual se encontra o homem. E se sois um verdadeiro aluno da
Escola Espiritual manifestada setuplamente, sabeis que, juntos,
como um grupo de condiscípulos da Rosacruz, podemos resolver
esse problema, tanto para nós como para nossos semelhantes, ao
colocar em prática a magia gnóstica.
Por essa razão é necessário que, a cada dia de vossa vida, veriqueis a que ponto os elementos da magia gnóstica estão nela
presentes e se vossa atitude de vida está em harmonia com ela,
pois a salvação da humanidade depende disto, na vida presente.
SeumaparterelativamentepequenadahumanidadepudesseconservaroTaonanaturezadialéticacomoumfatordeirradiaçãono
sentido previsto por Lao Tsé, a humanidade inteira teria de se submeter a ele. Sim, e ainda mais,
o céu e a terra se uniriam e fariam
descer um suave orvalho; e, sem comando, o povo se harmonizaria
espontaneamente.
Sabendo disso e o compreendendo, devemos novamente consideraraessênciadamagiagnósticaemsuatotalidade.Ea rmamos
que o Tao deverá ser a verdadeira essência, o fundamento da magia gnóstica. Nenhuma força, nenhuma influência, quer na esfera
material quer na esfera refletora, poderá tomar o lugar do Tao.
A seguir, o aluno deve compreender que, para receber e transmitir o Tao, para trabalhar com o Tao, ele deve dispor de um
veículo adaptado. Ele deve conhecer, possuir e experimentar esse
veículo como sendo a alma. Por essa razão, após ter penetrado a

45932-I · O CÉU E A TERRA SE UNIRÃOsabedoria e a compreensão, seu primeiro esforço se voltará para
a realização da alma, do corpo-alma. Pode-se a rmar que todos
os alunos possuem o grande e poderoso princípio-alma e já dispõem, em sua maioria, do corpo-alma. Portanto, eles deveriam
ser capazes de colocar em prática a magia gnóstica.
Todavia, são justamente os que possuem a alma, os que possuem esse veículo tão delicado, notável e indispensável, que devem zelar com o maior cuidado e inteligência por sua atitude de
vida! Porque conheceis as palavras: “A alma que peca deve morrer”. Não as considereis como uma espécie de bordão místico que
se tornou letra morta num mundo como o nosso, porém como
um fato evidente aplicável a todo aquele que adquiriu alguma
qualidade de alma.
Quando um ser humano adquire força anímica, através das
faculdades da alma, através de suas forças magnéticas, o Espírito,
Tao,éimediatamenteatraídoetorna-seativoemsuavida.Porque
onde está a alma, aí está o Espírito. Torna-se evidente, pois, que
se a alma agir, por pouco que seja, segundo os critérios da vida
comum e com ela harmonizar-se, o Espírito, Tao, não poderá
realizar nenhuma renovação como força divina que concede a
bem-aventurança, porém sempre como uma força de demolição,
como o fogo do julgamento.
Admitamos por alguns momentos que tenhais alma, que possuais qualidade de alma, e que vos orienteis, seja como for, custe o
que custar, para o Tao. No entanto, pequeninos detalhes de vossa
atitude de vida permanecem na linha horizontal comum. Nesse
caso, o Tao age sempre, sem exceção, como o fogo do julgamento.
É por isso que os que possuem alma, os homens de alma sensível,
passam continuamente por provas muito duras em suas vidas.
Porque quanto mais forte é sua alma, mais o Espírito trabalha
comforçaemseujulgamento.Quantomaisaltaéacorrente,mais
forte é o ¯oque. Isto é tão fácil de se conceber que mesmo uma
criança o compreenderia.

 

460A GNOSIS CHINESAA força do julgamento é sempre uma força corretiva. É por
isso que os que se aproximam dos fundamentos da magia gnóstica, que esperam realmente a força divina da bem-aventurança
e, consequentemente, entram na fase da trans guração e despertam, assim, algumas particularidades da alma, devem vigiar ao
máximo sua atitude de vida, a m de evitar o fogo do julgamento,
a m de transformar esse fogo, essa força, em graça, na graça da
bem-aventurança dos lhos de Deus.
A atitude de vida deve harmonizar-se, nos mínimos detalhes,
com os desígnios do Espírito, a m de evitar todos esses tormentos, conhecidos e talvez ainda desconhecidos, e excluir antecipadamente uma estagnação no caminho. E sobretudo para tornar­
-vos aptos a praticar a magia gnóstica, para tornar-vos dignos de
praticar a magia gnóstica, o que se tornou premente necessidade.
Entretanto, avancemos um pouco mais e admitamos que vos
aproximais da origem das coisas, portanto do Tao, e que, consequentemente, a alma cresça em vós. E que vossa atitude de vida
se harmonize com ela nos menores detalhes, que toda a vossa existência comece a abrir-se para o Espírito e que, por conseguinte,
vosso raio de ação e vosso estado de consciência se expandam e
vos conduzam, dia após dia, cada vez mais adiante no caminho.
Compreendei que, então, vossa atividade mental, vosso estado
mental, vosso intelecto, sofrerão modi cações profundas e radicais. Em dado momento, pensais de maneira completamente
diferente dos outros seres humanos. Coisas que são de grande
interesse para todos os demais não fazem mais o menor sentido
para vós. Já não podeis interessar-vos por elas. Talvez já tenhais
experimentado isso.
Esta é, então, a prova de que estais mortos para essa parte da
esfera refletora que denominamos esfera mental. Conseguistes
como que abrir caminho através dessa parte da esfera refletora,
através dessa esfera mental. E, então, sois capazes de atravessá-la,
de por ela viajar sem pertencer a ela ou, como é dito no evangelho

 

46132-I · O CÉU E A TERRA SE UNIRÃOgnóstico Pistis Sophia, vós a atravessais sem que as forças e os éons
dessa esfera vos percebam.
A seguir, vosso progresso no caminho aparece e vossa vida de
desejos também muda totalmente e toma um sentido inverso.
Muitos alunos sofrem por causa de sua vida de desejos. Todavia,
se, verdadeiramente, no sentido mais profundo da palavra, estais
orientados para o Tao, todos os vossos desejos, quaisquer que
sejam eles, mudam totalmente. Vossos desejos se modi cam de
maneira tão fundamental que, também nesse sentido, vos tornais
estrangeiros no mundo.
Essa modi cação refere-se não somente à vossa orientação interior e à progressão de vosso estado de alma, como também tem
uma grande influência sobre vosso estado de ser físico. Vossas
necessidades físicas vitais se transformarão completamente. Se a
elas não vos adaptardes, o corpo se torna doente. Caso tenhais
di culdades com vosso corpo, é preciso examinar o problema
também sob esse ângulo.
Isto tudo é a prova de que vosso corpo astral, do ponto de
vista do movimento rotatório dos ¯acras, está se transformando
radicalmente. Ao invés de girar da esquerda para a direita, todas
as grandes e pequenas rodas do sistema de ¯acras giram da direita
para a esquerda, em direção oposta. Estais, então, em condição de
atravessar todos os domínios astrais da esfera refletora sem que
as forças dessa esfera vos influenciem ou vos obstaculizem. Na
verdade, elas já nem mesmo conseguirão perceber-vos.
O mesmo processo ocorre no tocante ao corpo etérico e à esfera
etérica e, nalmente, abris caminho através de todos os domínios
das esferas etéricas dialéticase, e estabelece-se uma unidade entre
os elementos da trindade composta por espírito, alma e corpo.
Este é o princípio fundamental da magia gnóstica: libertar-vos
pessoalmente das esferas etéricas da natureza comum. Como isso
pode acontecer? Orientando-vos exclusivamente para o Tao, com
todas as consequências decorrentes, após o que vossos interesses

462A GNOSIS CHINESAe vossas necessidades vitais mudam fundamentalmente. Dessa
fo
rma, o aluno abre passagem através de todos os domínios dos
arcontes e dos éons da esfera refletora.
Como já o dissemos, disso resulta a unidade do tríplice estado
humano: espírito, alma e personalidade; e também por vosso
intermédio, com o mundo tal como ele é, com a humanidade
prisioneira da miséria e da morte. A partir desse momento, com
vosso verdadeiro ser totalmente renovado, vós vos tornais um
detentor de poder na natureza inferior, e podereis começar a
praticar a magia gnóstica. Estareis, então, prontos para praticar
senosforpermitidoexpressar-nosàmodaantigaaiogamais
elevada que Deus concedeu a seus lhos.

 

46332-II
O POVO SE HARMONIZARÁ
Suponde que determinado número de homens e mulheres, como
expusemos no capítulo anterior, abra uma passagem, isto é, uma
via livre, através dos principais domínios etéricos, tanto individualmente como em grupo, e que, portanto, consiga uma grande
abertura até o triplo domínio do Espírito, da alma e da maté­
ria, uma passagem por onde todas as forças da bem-aventurança
possam afluir ao mundo.
Se essa atividade se manifestasse, não se poderia simplesmente
deixar essas forças agirem num mundo como o nosso, pois imediatamente essas poderosas correntes da salvação se transformariam
em forças de julgamento, em forças que agiriam destruindo tudo e,
em pouco tempo, destruiriam o mundo pelo fogo. Porque as condições da esfera material são tais e a influência das forças da esfera
refletora sobre o mundo e a humanidade são de tal natureza, que
ninguém poderia, sem mais nem menos, reagir harmoniosamente
a essas poderosas vibrações.
Por conseguinte, é preciso que essas poderosas vibrações sejam
transmutadas e que os obreiros, cujo anseio é infundir sobre a
humanidade as forças da salvação e oferecer-lhe essas forças plenas
de graça, tenham primeiro preparado um santuário, um templo,
como base, como lugar de serviço consagrado para a aplicação da
magia gnóstica.

 

464A GNOSIS CHINESAEsse lugar de serviço deverá, portanto, preen¯er todas as
condições exigidas. Possuir semelhantes o cinas templárias para
poder executar o trabalho gnóstico mágico sempre foi a intenção
dos homens que se situavam por detrás da construção de muitas
belas e poderosas catedrais erigidas no decorrer dos séculos.
Talvez percebais que estamos abordando este assunto como
um campo de trabalho totalmente novo, a respeito do qual a
maior parte dos alunos de nossa Escola ainda deverá dar os primeiros e hesitantes passos.
Para muitos, esse templo até agora era unicamente um local
de reuniões para celebrar os serviços templários, serviços que,
na falta de um templo, poderiam ser celebrados em outro local ou, caso o templo estivesse muito ¯eio, em outras salas que
tivessem sonorização adequada. Em suma, esta é a concepção protestante das coisas que diminuiu o signi cado de um santuário,
tornando-o um elemento de necessidade comum.
Se refletirdes sobre isso, veri careis que o desenvolvimento de
uma escola como a nossa ainda não terminou e que ainda resta
muito a ser feito para uma preparação adequada. Além disso, não
devemos basear-nos em formas de cultos já praticados há séculos
nem, no outro extremo, em costumes banais e comuns.
Devemos voltar-nos para uma prática que se baseie na qualidade interior e na preparação interior. E por isso, esperamos que
compreendais do que se trata e que estejais decididos a tornar-vos,
tão rápido quanto possível, aptos para esse santo trabalho templá­
rio por meio de vossa preparação interior. Sobretudo porque o
tempo já ¯egou.
O trabalho templário tornou-se uma necessidade. Trata-se de
um trabalho interior que deverá emanar de nossos templos como
um novo campo de irradiação que envolverá o mundo todo com
seus efeitos bené cos.
Podeis agora perguntar-vos qual tarefa cabe aqui à magia gnóstica. Responderemos com estas palavras de Lao Tsé:

 

46532-II · O POVO SE HARMONIZARÁSe os príncipes e os reis conseguissem conservá-lo, os dez mil
seres e coisas se submeteriam a eles.
O céu e a terra se uniriam e fariam descer um suave orvalho; e,sem comando, o povo se harmonizaria espontaneamente.
Examinemos mais de perto estas palavras. Primeiro a expressão:os dez mil seres e coisas. Para os antigos ¯ineses, essas palavras
indicavam as massas, o conjunto de todos os que nasceram desta
natureza. Quando o campo de radiação gnóstico mágico começa
a derramar-se e a agir no plano horizontal, estendendo-se até a
terra, a primeira consequência é que tudo o que é nascido da
natureza torna-se submetido a ele.
A influência dos reis-sacerdotes não intervém para um julgamento: trata-se de radiações que são recebidas e transmutadas
pela falange sacerdotal e que têm uma influência tranquilizadora
e paci cadora. Essas radiações começam por interditar o acesso a
todas as influências provenientes das esferas etéricas do campo
de vida material. Como resultado, elas estabelecem no mundo
uma nova base para as massas e suas autoridades, com a nalidade de, sem dar ordens nem exercer pressão alguma, resolver
conflitos, estender uma ponte sobre o abismo e tornar possível o
impossível.
Compreendeis que, dessa forma, o céu e a terra se uniriam,
permanecendo apenas uma esfera refletora muito isolada, que
naturalmente teria um m, pois, através do canal que jorraria
nos templos da fraternidade gnóstica e através da irradiação supra-natural que se desenvolveria automaticamente como resultado, esses templos, por assim dizer, cobririam a terra com
um
doce orvalho.
Eles fariam desaparecer de maneira natural as grandes oposi­
ções que dividem os homens entre a supranatureza e nosso campo
de vida. É por isso que a Gnosis e o homem gnóstico não precisam,

466A GNOSIS CHINESApor exemplo, imiscuir-se em disputas políticas. É por isso que a
Gnosis não precisa, como o homem dialético, verter torrentes de
críticas sobre o mundo e a humanidade.
Não julgueis os que, de fato, não merecem vosso julgamento,
pois compreendeis que as influências da esfera etérica  a qual,
devido à sua natureza, assimila todos os pecados da humanidade,
os vivi ca e os reflete  provocam atualmente uma desumaniza­
ção que degrada todos os valores humanos naturais e nalmente
os suprime. Eis por que as massas vivem e agem como o fazem. E
as autoridades agem sobre elas e as dirigem inteiramente segundo
sua natureza.
Dessa forma, as massas permanecem con nadas numa prisão
criada por elas mesmas. E sua angústia as incita a se comportarem segundo a lei do Antigo Testamento: “Olho por olho e
dente por dente”. Cada qual busca o melhor lugar para si, irrompem violentas disputas, e todos estão continuamente se ferindo
reciprocamente através de críticas virulentas.
Vede claramente que, para ajudar o mundo e a humanidade,
não deveis de forma alguma seguir as práticas das massas; que não
é necessário vos declarardes contra isto ou a favor daquilo; que
não deveis tomar partido a favor ou contra este ou aquele éon da
natureza.
Deveis unicamente despertar vossa alma vivente, desenvolvendo uma nova atitude de vida digna e vigilante, mantendo-vos,
assim, no templo na qualidade de homem sacerdotal. A partir
daí, do centro do templo e do campo de vida que vos envolve,
abrireis, com o novo campo de radiação supranatural, amplas e
novas possibilidades para inúmeras pessoas. Consequentemente,
vossa intervenção será totalmente impessoal nos conflitos pessoais: sim, tornareis as guerras impossíveis e trareis a paz sobre a
terra.
Através de vosso comportamento como novo ser humano,
cumprireis a vontade de Deus na terra, a serviço de todas as ondas

 

46732-II · O POVO SE HARMONIZARÁde vida. E quanto às esferas etéricas, elas tampouco serão alimentadas pelo campo de vida material. A ilusão já não poderá tomar
fo
rma e assim a esfera etérica será puri cada de maneira perfeitamente natural. Todas as formas ilusórias, privadas de sua fonte,
se dissiparão qual névoa. Todos os éons da natureza sustentados
arti cialmente deverão conformar-se com a vontade e a lei de
Deus, e eles mudarão totalmente.
Podereis também compreender como em consequência, a total qualidade da natureza dialética será modi cada e como a vida
terá novamente sentido na onimanifestação. A terra voltará novamente a ser a escola de aprendizagem da eternidade e a roda do
nascimento e da morte voltará a ter um sentido profundo. Toda
a humanidade, tal como ela existe atualmente na qualidade de
massa, será devolvida à sua verdadeira vocação. E tudo isso pela
prática da magia gnóstica.
O grande adversário sabe disso! Ele sabe que sua hora ¯egou e é por isso que será necessário um último combate contra
tudo o que é treva. Deveis compreender bem o conceito “combate”. Trata-se de um combate totalmente diferente daquele que
o mundo conhece e pratica, do combate do amor de Deus, com
todos os meios de que ele dispõe para tornar-se vitorioso. Uma
vitória da qual todos participaremos e que não tem m.
Desse modo, introduzimo-vos no trabalho que começa agora;
um trabalho empreendido por homens, para os homens, totalmente segundo a lei e a vontade de Deus; trabalho esse sobre o
qual ninguém poderá dizer “Fui eu que o z!”, pois trata-se aqui
da utilização da força divina tendo em vista a bem-aventurança
de todos. Quem puder compreender que o compreenda!

 

468
Quem conhece os homens é perspicaz, mas quem conhece a si mesmo
é iluminado.
Quem vence outros homens é forte, mas quem vence a si mesmo é
onipotente.
Quem sabe moderar-se é rico, mas quem é dinâmico tem força de
vontade.
Quem não se desvia de sua natureza essencial viverá por muito
tempo, mas quem morre e não se perde gozará a vida eterna.
Tao Te King, capítulo 33

 

46933-I
QUEM CONHECE A SI MESMO É ILUMINADO
Acaso já descobristes que é extremamente difícil alcançar o autoconhecimento? Se examinardes os esforços empreendidos de
tempos em tempos nesse sentido, direis, suspirando: “Alcançar o
autoconhecimento é totalmente impossível!” No entanto, sem
dúvida o autoconhecimento é o primeiro passo para o autoaperfeiçoamento. Por isso é trágico ter de dizer que, apesar dos
sérios esforços feitos para isso por muitos, os resultados sejam tão
pobres.
Com efeito, como diz a Bíblia: Aquele que vence a si mesmo é
mais forte do que aquele que conquista uma cidade. Ou, como diz
Lao Tsé:
Quem conhece os homens é perspicaz, mas quem conhece a
si mesmo é iluminado.
Observar e analisar o comportamento de
outros, e determinar o que neles é bom ou está errado, o que não
vai bem, o que é negativo e sem esperança, é a característica da
maioria dos homens, porque eles são perspicazes e estão habituados a emitir um julgamento a respeito de tudo, em toda a parte e
sobre cada um. Porque eles viram bem, ouviram bem e compreenderam bem! Existem pessoas que podem contar-vos tudo acerca
dos outros, nos menores detalhes. Todavia, não devemos dar a
menor importância a todos esses julgamentos. Com efeito, esses
observadores, tão perspicazes, são incapazes de perceber as razões

 

470A GNOSIS CHINESAinteriores de certos atos, de certas palavras; eles podem, quando
muito, fazer conjecturas.
Para muitos, a única base do tão necessário autoconhecimento
é a opinião alheia. Por exemplo, um amigo ou um parente vos dirá
claramente como sois. E também quem sois. Acaso as pessoas que
vos são próximas não se baseiam em fatos? Que razões teriam elas
em apresentar as coisas diferentes do que são? Sabeis, porém, que
muitos que assim agiram quanto ao autoconhecimento foram
conduzidos por falsos caminhos?
Vossa esposa, vosso marido, vosso irmão, vossa irmã, vosso
companheiro, todos vos dizem como sois; e acabais por acreditar
neles. E acabareis acreditando nisso. E acabareis estruturando
toda a vossa vida e todo vosso estado de ser com as conclusões de
terceiros. E nalmente acreditareis que estais muito adiantados
em autoconhecimento!
Se fordes su cientemente objetivos reconhecereis que, de tempos em tempos, sois vítimas dessa situação. Disso temos uma
prova clássica no fato de que Jesus, o Senhor, bem como outros
grandes obreiros e seus sublimes servidores nada puderam fazer
com os que lhes eram próximos, com suas relações, em seu pró­
prio país. Pensai nas palavras proverbiais: “Acaso algo de bom
pode provir de Nazaré?  Nada! Nós o sabemos muito bem!”
Porque para vós talvez pudesse ser útil conhecer os homens e
importante julgar os outros, porém quanto ao julgamento justo,
existem em vossa vida mais erros e mal-entendidos do que julgamentos justos. Quem o compreende e ousa reconhecê-lo também
sabe, no que se refere ao autoconhecimento, que ainda se encontra na mais total escuridão. E nesse aspecto, grande parte dos
homens é ou muito otimista ou muito pessimista, não sendo
nada realista.
“Como isso acontece?” poderíeis perguntar. Simplesmente
porque o ser humano não possui nenhum órgão dos sentidos,
nenhuma faculdade interior para ter uma percepção objetiva de si

 

47133-I · QUEM CONHECE A SI MESMO É ILUMINADOmesmo em seu comportamento e gestos; e porque ele tampouco
é capaz de observar as emoções interiores que o levam a agir desta
ou daquela maneira; e muito menos os impulsos de natureza
astral que se encontram em segundo plano. O livro das causas e
efeitos, o livro do carma pessoal, no mais das vezes, permanece
hermeticamente fe¯ado no tocante à sua própria vida.
É também o caso do ocultista, no entanto muito bem informado, segundo se diz, a respeito de seu próprio estado cármico. A
Escola Espiritual moderna rejeita o ocultismo porque ele oferece
um método que permite penetrar, por meio da consciência-eu,
até os mistérios da existência.
Isso é possível, porém apenas até certo ponto. E daí resultam
umaconsciência-euduracomopedraeumaexistênciatotalmente
misturada com a esfera refletora e ligada a ela. Os ocultistas liberam influências e forças que aprenderam a temer e tentam
delasescaparouneutralizá-lasmediantetáticasapropriadasecom
certa astúcia, o que, ao longo do tempo, torna-se absolutamente
impossível.
Um ocultista que se mantenha em nossas leiras se fará reconhecer pelo fato de não poder ou não querer abandonar a
astrologia. Na prática, a astrologia nada mais é do que um meio
de dar uma olhada intelectual em nosso carma. Este, então, revela-se à consciência como uma série de bons ou maus influxos e
irradiações. O horóscopo mostra--os a teia em que estamos aprisionados em virtude de nosso nascimento na natureza. O ocultista,
suspenso nessa teia, tenta torná-la tão ampla e agradável quanto
possível. Sobre a aranha que teceu a teia e sobre a razão de sua
existência o horóscopo nada diz. Com efeito, a astrologia é uma
ciência que oferece alguns meios de tornar a vida na natureza um
pouco mais suportável. E acrescentaremos: talvez. Ela nos torna,
sem dúvida, um pouco mais prudentes com relação a situações
perigosas e nos leva a aproveitar a ocasião de novas possibilidades
dialéticas, caso elas se apresentem.

 

472A GNOSIS CHINESAQuanto ao restante, trata-se apenas de um adiamento que não
torna o homem melhor nem pior, mas unicamente um pouco
mais hábil e, às vezes, mais astucioso. Todavia, quanto à salvação
eterna e à vida real e verdadeira, essa ciência nada pode fazer
para o homem. E porque em geral os ocultistas se agarram a essa
ciência, nós a abandonamos de maneira radical, pelo menos no
sentido em que ela é utilizada no presente.
Talvez saibais que, no passado, demos aulas de astrologia. Durante anos ensinamos aos que frequentavam as reuniões da Rosacruz a fazer um mapa astral e a interpretá-lo. Despedimo-nos
dessa prática, porque é exclusivamente quando buscais a alma e
desejais desemaranhar a teia do destino que certo conhecimento
de vossa momentânea teia de aranha, como imagem da missão de
vossa vida, pode ser-vos de alguma utilidade. Todavia, o estudo
dos aspectos, suas nalidades e práticas é muito prejudicial, se
pretendermos, com sua ajuda, alcançar um maior autoconhecimento.
O ocultista dispõe ainda de outras fle¯as em seu arco, como,
por exemplo, o tarô, a cabala e a quiromancia. Quando éramos
jovens também utilizamos essas fle¯as, mas descobrimos que o
caminho do autoconhecimento é totalmente diferente.
Seriamaravilhososecompreendêsseisisso,poisestaríeisasalvo
deumlongocaminhodeexperiências, acompanhadodemuitosofrimento e tristeza. Trata-se de aprender a conhecer um segredo.
E a receita desse segredo é:
1. conhecer a si mesmo e, como resultado, participar da iluminação;
2. vencer a si mesmo e, desse modo, tornar-se onipotente;
3. desenvolveruma nova energia e, como resultado, desenvolver
a faculdade mágica da vontade; e
4. no nal da viagem através da matéria, entrar na vida nova
eterna.

 

47333-I · QUEM CONHECE A SI MESMO É ILUMINADODesejais estudar essa fórmula e, a seguir, tentar aplicá-la e saborear seus frutos? Trata-se de uma fórmula que vem a vós desde o
passado primordial e traz em si a glória da infalibilidade.
Todavia,surgemasperguntas:“Como¯egamosaoautoconhecimento para participar da iluminação?” E: “Que é iluminação?”
Para fazer essa pergunta, devemos ter certa experiência e ter
sorvido o amargo cálice da dor, pois é somente devido às experi­
ências que as perguntas ¯egam ao coração do homem: “Qual é a
nalidade da minha vida? Que é o homem na realidade? A que
está ele destinado?”
Se vos fazeis essas perguntas, não intelectualmente, mas porque, para vós, trata-se realmente de problemas interiores; se essas
perguntas brotam do imo do vosso ser, então surge naturalmente
em vós a tendência para a busca. É uma propensão que, desde o
início da busca, é sentida como uma necessidade vital, algo como
“ser ou não ser”. E então toda a Doutrina Universal abre-se para
os homens, todo o plano de Deus para o mundo e a humanidade.
Para o aluno, essa pesquisa torna-se cada vez mais fácil. A literatura da Escola da Rosacruz é totalmente colocada à sua disposição,
e ele a estuda porque é levado a isso por uma necessidade vital.
Observai que quando falamos aqui de “estudo”, essa noção está
fundamentada numa base totalmente diferente daquela que lhe
é normalmente atribuída. O aluno estuda, ele quer saber, porque
é impulsionado por uma necessidade vital.
Ele descobre, então, que a consciência-eu consiste unicamente
numa atividade motora cujo papel é, no melhor dos casos, manter
viva a personalidade; que a personalidade só pode ser ¯amada de
meia criação, uma mera base para o verdadeiro devir do novo homem; en m, que a vida da personalidade, tal como ele a percebe
atualmente, não é uma vida em estado digno, porém refere-se
apenas a uma existência animal.
Assim que o aluno compreende isso  e ele o compreenderá
se for movido por uma necessidade vital  um ponto de toque

 

474A GNOSIS CHINESAlatente em sua personalidade despertará, se abrirá e florescerá:
a rosa-do-coração. E nessa rosa fala uma voz, a voz da flama
monádica, essa parte do homem superior que, por intermédio
da alma, deve ser religada ao homem inferior para que, através
desse processo, o homem inferior mude completamente e se
trans gure.
Quando esse plano se torna interiormente claro para o aluno,
se abre e não é compreendido apenas de modo racional, e o aluno
vive e cresce interiormente no desígnio que Deus formou para
ele, então ocorre, ao mesmo tempo, a iluminação. Somente então haverá autoconhecimento, o conhecimento de Deus. Então
realmente é sabido que “o reino de Deus está dentro de vós”.
Eis o que é a iluminação. E nessa iluminação, através dessa
iluminação, é possível adentrar o caminho da vitória, da vitória
sobre si mesmo.

 

47533-II
QUEM VENCE A SI MESMO É ONIPOTENTE
Observareis que, por mais nova que possa parecer, a orientação
agora necessária para o novo dia de manifestação que se aproxima é, todavia, muito tradicional. No nal da era de Áries, esta
mensagem foi levada à humanidade que lentamente se tornava
adulta. Ela foi apresentada e aplicada durante toda a era de Peixes
por diversos precursores e mensageiros da humanidade. Na era
de Aquário que se aproxima, essa orientação deve ser concretamente seguida pela humanidade toda. Os grandes símbolos desse
tríplice período, ou seja, transmitir, exempli car e praticar, são
sucessivamente Áries, Peixes e Aquário, que derrama seu cântaro
¯eio de água viva sobre a humanidade toda.
O tempo da realização aproximou-se, e esse período pode ¯egar a realizar-se, porque o ser humano está apto para isso graças às
suas possibilidades existenciais. No decorrer de quatro mil anos,
ele teve tempo para mobilizar todas as suas possibilidades. É por
isso que os alunos da Escola Espiritual devem preparar-se com
alegria e gratidão para essa grandiosa tarefa de libertação.
Discutimos o primeiro aspecto do processo de autorrealização
que apresentamos na terminologia do
Tao Te King: o autoconhecimento e, como resultado, a iluminação. Prosseguiremos agora
com o segundo aspecto: a vitória sobre si mesmo e a consequente
onipotência.

 

476A GNOSIS CHINESAExplicamos que, no homem que durante tempo su ciente bebeu
do cálice da amargura e comeu dos frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal, desenvolve-se uma nova vida de sentimentos, uma nova necessidade vital, isto é, um intenso desejo de
compreender a nalidade de sua vida e o plano que está em sua
base.
À medida que ele penetra nesse plano, que seus desejos e seu coração se alimentam dele, que esse coração é, portanto, iluminado
pela grandiosa luz da Gnosis, o coração se abre a essa maravilhosa
realização. A rosa desabro¯a, e o homem superior, que, como
microcosmo, envolve o aluno, lhe fala. O candidato entra assim
naquilo que nós, tal como os antigos, denominamos o período
de iluminação mística, a fase de acalentar o plano que o toca.
Nesse primeiro e novo estado de ser em pleno desabro¯ar
pode surgir uma orientação de vida completamente diferente,
portanto, uma faculdade totalmente nova. Tudo aquilo que era
considerado muito importante torna-se insigni cante, torna-se
nada à luz do novo dia. Surge, então, uma nova capacidade moral-racional. Racional porque, através dessa mudança, o santuário
da cabeça e, a seguir, o santuário do coração, irão cumprir suas
verdadeiras funções. Cabeça e coração, coração e cabeça cooperam num estado de ser moral-racional iluminado. Agora o grande
trabalho pode começar. Após o
autoconhecimento deve seguir-se
a
vitória sobre si mesmo. Qual o signi cado disso?
Como a humanidade encontra-se no começo da era de Aquá­
rio, a era de Áries e a era de Peixes caram, por assim dizer, totalmente para trás. Isso signi ca que, como vosso microcosmo
recebe uma nova personalidade a cada setecentos anos aproximadamente, vivestes cerca de seis vidas no decorrer dos quatro mil
anos decorridos, e estais agora na sexta ou sétima vida desde a era
de Áries.
Com isso queremos demonstrar-vos claramente que num longínquo passado já recebestes e sentistes pessoalmente, em vossa

 

47733-II · QUEM VENCE A SI MESMO É ONIPOTENTEexistência material, a mensagem ¯amando-vos para vossa vocação. Consequentemente, a salvação vos foi trazida e apresentada em condições análogas. Portanto, deveis agora seguir esse
grandioso trabalho.
É preciso que seja dito que os alunos de nossa Escola, durante
as etapas de vidas passadas e até hoje, não aproveitaram as inú­
meras oportunidades de libertação que lhes foram oferecidas. É
provável que tenham conhecido pessoalmente alguns dos grandes precursores e seus servidores, e os tenham ouvido falar 
sem terem, entretanto, feito uso disso. E, no decorrer de sua última vida, foi a Gnosis dos cátaros que os ¯amou através de seu
poderoso toque.
Durante todo esse tempo, eles talvez ainda não estivessem suficientemente amadurecidos para o caminho da vitória e,consequentemente, se sobrecarregaram com um pesado carma. Transfo
rmaram sua camisa de força astral numa completa prisão. Somente agora, portanto, eles se colocaram diante da grande tarefa de iniciar o caminho da vitória. É também possível que,
duranteestavida,elesnãoconsigamirmaisadiantedoqueseguir
o caminho da iluminação mística, como é o caso de muitos.
Todavia, suponde que essa iluminação mística seja agora a
parte que vos cabe e que vosso coração e vossa cabeça estejam,
pois, prontos para seguir o caminho da vitória, que estejais rmemente decididos a isso, pois é disso que se trata! É possível tudo
alcançar, pois tendes capacidade para tanto se tão somente perseverardes; então devereis unicamente cuidar para que a cabeça e o
coração permaneçam nesse novo estado de ser. Devereis manter
a cabeça e o coração “na luz”, como dizemos, para serdes capazes
de continuar o processo. E não vos deixeis mutilar pelos ataques
da natureza.
O homem-microcosmo, mantendo-se na iluminação,forma,
por intermédio da personalidade, o ser-alma. Se mantiverdes o
coração e a cabeça na luz, desenvolve-se um estado ideal que liga

 

478A GNOSIS CHINESAo microcosmo à personalidade. A força que liga, o elemento de
ligação, manifesta então a alma.
A alma se mantém sempre aí, no centro, por assim dizer. A
alma é o novo corpo que então se forma. A irradiação da personalidade na luz da Gnosis e o microcosmo que desce e intervém
de maneira sempre mais radical formam, juntos, a alma vivente.
Trata-se de uma existência, de um corpo do qual se pode dizer
que está neste mundo, mas já não é deste mundo. É desse modo
que o homem se coloca na trans guração.
Algo totalmente diferente é atingir a onipotência após iniciar o
caminho da vitória. Que é onipotência? Fala-se, por exemplo, da
onipotência de Deus. Portanto, o Todo-Poderoso é Deus mesmo.
Portanto, alcançar a onipotência signi ca: penetrar até a essência
fundamental da Divindade e dela participar.
Como a essência fundamental de Deus está sempre associada
ao fogo, sendo sempre comparada ao fogo flamejante, compreendereis que, a partir do momento em que o candidato pode dominar o quinto éter, o éter ígneo, ele consequentemente também
domina o núcleo do átomo e alcança, dessa forma, a onipotência
absoluta. O domínio do átomo  essa é a onipotência.
Poderá parecer-vos estranho, mas veri careis que, em verdade,
cada aluno que percorre o caminho torna-se um reator atômico e
provoca uma ssão nuclear. Pelo processo aqui descrito, o átomo,
de que sois constituídos, manifestará sua verdadeira natureza e
espalhará suas forças mais ocultas. Consequentemente, ocorre
essa grandiosa mudança. O controle do átomo é a onipotência.
É provável que tenhais visitado a gruta do Grão-Mestre na
Montanha Sagrada em Ussat-les-Bains. Ali, pode-se ver, em algumas linhas simples, o desenho de um barco, tal como era representado no antigo Egito. À guisa de mastro, ele leva uma cruz
sétupla. Uma poderosa mão segura essa cruz, erguida de forma
que uma forte corrente vertical de força divina possa descer da

 

47933-II · QUEM VENCE A SI MESMO É ONIPOTENTEsupranatureza. Os dois braços da cruz formam, cada um, uma
tríade. Uma das tríades é levada e sustentada por uma águia, a
outra, pelo número nove, os grandes símbolos do fogo divino
e da força de Deus. É por isso que dizemos que o candidato é
levado nas ondas da onipotência pelo éter ígneo, pelo Espírito
Santo, quando este é liberado e pode ser dignamente recebido
e empregado pelo candidato. Dessa forma, o barco celeste é dirigido, com mão rme, para o grande objetivo único. Pelo vertical
e pelo horizontal. Pelo próprio Deus  a onipotência. Pelo éter
ígneo  a libertação.
Compreendereis, portanto, queafasemísticadailuminaçãodeve
ser acompanhada pela uni cação, a fusão com a flama; e da unicação com a flama, com o fogo, com a luz: a uni cação com
Deus.
Que diremos, então, da onipresença divina? Pois bem, essa onipresença divina, essa força divina está contida no quinto aspecto
do átomo. Se o candidato se abre para essa força, ele então se
torna uno com o próprio Deus. Ele se torna uno com a essência
fundamental da onimanifestação até o átomo. E, em decorrência
disso, a força de Deus, a onipotência, se abre para ele.
Depois disso, vem o terceiro aspecto da fórmula que o
Tao Te
King
nos dá: irradiar uma nova energia e, como resultado, desenvolver a faculdade mágica da vontade.
A vontade é a maior e mais elevada força que o homem pode
possuir. Por isso ela é denominada “o sumo sacerdote”. Quando,
pelo processo da trans guração, por meio da alma, o homem infe
rior eleva-se a homem superior, a vontade, como verdadeiro
poder real e sacerdotal, pode ser empregada, ser ligada ao fogo
da divindade. Daí uma cruz ígnea é erguida, oniabarcante e absoluta, uma corrente vertical da supranatureza que se derrama
horizontalmente sobre o mundo todo.

 

480A GNOSIS CHINESANão se trata agora de saber até que ponto já realizastes esse
processo, porém de participardes dele, de entrardes nele. Então,
os fortes poderão ajudar os fracos e uma unidade se desenvolverá,
uma unidade de grupo, da qual vos falamos anteriormente. Então,
já não estaremos no mundo na qualidade de ¯amados, mas, a
partir desse instante, estaremos no mundo como um grupo dotado de poder. Em vista disso, ergueremos em conjunto a Escola
Espiritual qual poderosa cidadela no grande movimento universal. E então, como resultado da nova vontade, veremos o mundo
todo, a humanidade toda, a nossa sociedade toda se modi carem.

 


48133-III
QUEM MORRE E NÃO SE PERDE
GOZARÁ DA VIDA ETERNA
Esperamos que possais ver claramente agora o que Lao Tsé quis
dizer no capítulo 33 do
Tao Te King. Em algumas linhas notá­
veis, ele dá a receita do processo da libertação de tal forma que
sua imagem se projeta diante dos olhos dos alunos. Desejamos
apresentar-vos, mais uma vez, esse esboço, a m de que não o
esqueçais, e nalizaremos com o último aspecto dessa receita má­
gica: o m do trabalho na matéria e o ingresso na eterna nova
vida.
Assim, portanto, o homem material que conhecemos surgiu no
mundo material. Esse homem não é o homem verdadeiro, o
homem superior idealizado por Deus, porém representa o instrumento que lhe dá a oportunidade de realizar o grande milagre da
criação. Para esse m, o homem superior o envolve, mas falta-lhe
ainda o fator animador, a ¯ama que o inflamará.
O fator animador, o elemento que conduz à “vida” verdadeira,
ainda deve ser realizado, construído a partir da base. Todos os
aspectos devem, portanto, ser colocados em movimento. Todas
as possibilidades são reunidas e, devido à emotividade, à sensibilidade e à atividade, ocorre uma combinação, uma interação de
forças e de radiações.

 

482A GNOSIS CHINESAProfundas experiências são, então, vivenciadas. E se elas se
gravam su cientemente no homem em formação  processo esse,
infelizmente, acompanhado de muito sofrimento e dores!  um
intenso desejo se desenvolve nele, o desejo de conhecer o objetivo
da vida, bem como o de poder responder a ele e de cooperar com
ele. Vemos que a busca é a consequência disso. E que o amor
nasce no coração para esse objetivo único. Em dado momento,
a perfeita compreensão irrompe no santuário da cabeça. Esta
acarreta um contato íntimo, uma aproximação muito estreita
entre o homem superior e o homem inferior. Desenvolve-se um
contato recíproco. A força de irradiação do homem superior
ilumina intensamente a cabeça e o coração do homem inferior.
Essa força luminosa que religa, une e só pode manifestar-se se o
homem inferior satis zer as condições requeridas, essa força ígnea
faz desaparecer o fator de cristalização, também denominado
fator glúten.14
O fator glúten manifesta-se, entre outras coisas, sobretudo no
sangue. O desaparecimento do fator glúten refere-se à transformação atômica já descrita. Essa transformação atômica demole
o homem inferior, o instrumento, para a descida do éter ígneo.
O homem inferior, envolto em ¯amas, ornamentado com as
línguas de fogo do Pentecostes do éter ígneo: esta é a consequência da uni cação, da unidade com o homem superior. Uma nova
entidade desenvolve-se. O novo homem cresce dia a dia pelo fogo.
Do jogo de flamas surge então, diante do olhar interior, o homem-alma que se eleva da luz, liberado pelo fogo de Vulcano,
revestido com o manto real, a veste áurea nupcial. Chega, então, o momento em que já não se pode dizer: “Este é o homem
14Essa palavra, utilizada por Karl von E¨artshausen na quinta carta de seu livroA nuvem sobre o santuário, tem sua origem etimológica na palavra latina gluten,cola; é o nome que ele dá para uma matéria viscosa oculta no sangue, a matéria
do pecado.

 

48333-III · QUEM MORRE E NÃO SE PERDE GOZARÁ DA VIDA ETERNAinferior, aquele, o homem superior”. Porque espírito, alma e
corpo fundiram, por assim dizer, sob a ação desse fogo, uma nova
entidade.
Assim que esse trabalho é realizado e que ressoam os cânticos
da vitória, o candidato entra em sua verdadeira Pátria. Ele rejeita
as escórias do fogo, a antiga veste, que é então reduzida a cinzas
e, dessa antiga morada, consumida até a última bra, ele se eleva
até o Trono dos Tronos e entra na vida eterna.
Os que ¯oram sobre esse monte de cinzas apagadas nada
compreendem a respeito do milagre que se realizou. Mas os que
entendem elevam os olhos e veem o pássaro de fogo, a Fênix, levantar voo, de asas amplamente estendidas, dirigir-se para o céu e
nele entrar através das portas abertas. O novo homem retornou
ao lar. A grande e maravilhosa obra foi realizada.
Por isso Paulo diz, na Primeira Epístola aos Coríntios, capí­
tulo 3: “A obra de cada um se manifestará; na verdade, o dia a
declarará, porque pelo fogo será descoberta”. E Gustav Meyrink
diz a esse respeito: “Nós que, no decorrer dos séculos passados,
encontramos e combatemos as potestades tenebrosas, podemos
agora saudar a luz pelo ato salvador”.
Irmãos e irmãs, forjamos a lança. Que o fogo irradiado em nossas pací cas reuniões amadureça em vós. Nós, ligados à Corrente
universal, saudamos, com alegria, todos os que foram encontrados na vitória.
Quem se liberta das aparências
encontra o caminho para o ser interior.
Quem alcança o não fazer
é admitido na Corrente.
Amém.


485GLOSSÁRIOAlma: No homem original tríplice (Espírito  alma  corpo),
a alma transmite ao corpo sugestões do Espírito. Unicamente a
reconstrução dessa alma original, da qual o último vestígio encontra-se no coração, no centro do microcosmo, pode permitir
seu renascimento. O que o homem normalmente ¯ama de alma
nada mais é do que o conjunto de ideias, tendências pessoais e
do condicionamento a que foi submetido quando sua individualidade-eu foi formada. Essa alma-eu desvia-se, sem cessar, da
ideia libertadora da reconstrução da alma imortal, numa ilusória
tentativa de se instalar de forma duradoura no além. [27]
Alma-espírito: O caminho da endura, o caminho do discipulado
emumaescolaespiritualgnóstica,cujoobjetivoédespertaraalma
imperecível de seu estado latente. Assim que ela acorda de seu
sono mortal, é restabelecido o vínculo com o espírito universal,
com Deus. Esse vínculo restaurado entre o espírito e a alma, entre
Deus e o homem, comprova-se na gloriosa ressurreição do Outro, no retorno do verdadeiro homem à casa do Pai. A alma que
consegue festejar essa ligação, essa uni cação com o “Pimandro”
da arquignosis egípcia, é a alma-espírito. É a unidade Osíris 
Ísis, Cristo  Jesus, Pai  Filho, as núpcias alquímicas de Cristiano Rosa-Cruz dos rosa-cruzes clássicos, o casamento do noivo
celeste com sua noiva celeste. [209]
Cristo: É o espírito central planetário (vide Reino original). Esse
campo de irradiação da Fraternidade Universal ou Cristo Cósmico tem sua sede no centro do planeta sétuplo. Ele impulsiona,

486A GNOSIS CHINESAcontinuamente, a humanidade a manifestar e a realizar a ideia
divinaocultaemcadahomem.Nessesentido,desdeaorigemdos
tempos Cristo envia seus impulsos para trazer o lho perdido
devoltaàpátriaoriginal.Quando,nummicrocosmo,ocampo
de força e de consciência crística substitui o da consciência-eu
(“já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”), aquele
queseguiuocaminhotorna-seumCristo.Assimohomem-Jesus
transformado em Jesus Cristotestemunha plenamente da realidade vivente do caminho do renascimento da água e do Espírito
que cada homem devem seguir. [20]
Campo de respiração: o campo de força no qual a vida da personalidade é tornada possível. O campo de ligação entre o ser aural
e a personalidade. Ele é totalmente uno com a personalidade nas
suas atividades de atração e de repulsão de matérias e forças necessárias para avida epara amanutenção dapersonalidade.É o
campo de manifestação do microcosmo. [193]
Corpo físico: O corpo físico está envolto pelo duplo etérico oucorpo etérico, que, por sua vez, está envolto pelo corpo astral formado de matéria ainda tênue e móvel, capaz tomar múltiplos
aspectos, um dos quais o dapersonalidade.É nesse corpo astral
oucorpode desejosque tomamformaos desejose asilusõesde
queviveohomemterreno.Finalmente,o
corpo mental,quedeveria reagir conjuntamente na qualidade de veículo da ideia divina
do homem, só existe no homem terreno em estado embrionário.
O desenvolvimento desse conjunto, segundo o plano de salva­
ção, vive bloqueado pelo domínio do eu sobre o corpo astral em
virtude do carma e das tendências “luciferinas” do ser aural ou
eu-superior. Todo esse conjunto  corpo, consciência e ser aural
 deve, através da endura, que é a dissolução das tendências separatistas,serrevivi cadopelaconsciênciadohomem-microcosmo
renascido. [252]

 

487GLOSSÁRIODialética: Nosso atual campo de vida, onde tudo se manifesta
através de incessantes contrastes: luz e trevas, alegria e dor, vida
e morte estão indissoluvelmente ligadas e se engendram mutuamente. A lei fundamental deste mundo dialético é a constante
mudança e destruição, que são fontes de ilusão e sofrimento. Os
gnósticos sempre apresentaram este mundo como não divino,
pois nenhuma vida verdadeira pode aqui manifestar-se enquanto
esse aspecto dialético, no qual o homem mergulhou desde sua
queda de consciência, não restabelecer sua ligação harmoniosa
com o conjunto da criação original sétupla. Este é o duro campo
de experiências do homem no qual todas as tentativas sociais,
políticas, religiosas, místicas e ocultas de imitar o reino original,
do qual ele percebe inconscientemente o ¯amado, são impiedosamente destruídas para levá-lo a encontrar em si mesmo o
princípio dessa vida absoluta e perfeita do setenário divino, do
qual sua consciência obscurecida o exclui. [13]
Doutrina Universal: não é um ensinamento, uma doutrina, no
sentido literal comum, tampouco pode ser encontrado em livros.
Na sua essência mais profunda, é a vivente realidade de Deus; tão­
-somente a consciência enobrecida, a consciência hermética ou
pimândrica pode ler nele e compreender a onisciência sabedoria
divina. Esse ensinamento ou loso a universal é, portanto, o
conhecimento, a sabedoria e a força que sempre de novo são
ofertadas ao ser humano pela Fraternidade universal, a m de
possibilitar à humanidade decaída trilhar o caminho de retorno
à casa do Pai. [15]
Éon, éons: (adj. eônico). I. Enormes espaços de tempo. II. Grupo
dirigente hierárquico do espaço e do tempo. A mais elevada formação metafísica de potestades, proveniente da humanidade
decaída, que abusa de todas as forças da natureza dialética e da
humanidade e as compele a atividade não divina para proveito

 

488A GNOSIS CHINESAde suas intenções sombrias. À custa de terrível sofrimento da
humanidade, essas entidades se libertaram da roda da dialética 
liberdade que elas, em imensurável necessidade de automanuten­
ção, somente podem preservar aumentando ilimitadamente os
sofrimentos do mundo e dessa forma, mantendo-o. Em sua coletividade, elas com muito acerto, são indicadas como “a hierarquia
dialética” ou “o príncipe deste mundo”. [29]
Esfera refletora: Todas as atividades do pensar, desejar e da vontade do homem comum dão origem, em seu campo de respiração,
a múltiplas imagens-pensamentos que acabam por pressioná-lo e
dominá-lo totalmente. Da mesma forma, a esfera astral terrena
está, em grande parte, conspurcada por todas as formas-pensamentos coletivas da humanidade. No decorrer de milênios foi
edi cado no além um verdadeiro reflexo de tudo o que se pensa e
se sonha no aquém. Paraísos e infernos de todos os tipos; constru­
ções astrais maravilhosas, palácios e catedrais luminosas formam
a imensa armadilha onde, depois da vida no aquém, o falecido
encontrará um além de acordo com suas concepções, com um
panteão de deuses e deusas, celebridades, cristos, santos e gurus.
É nessa esfera refletora que os veículos sutis do falecido, essencialmente o corpo astral com o resto da consciência-eu, acabam
de se dissolver antes de uma nova encarnação do microcosmo na
matéria. [39]
Fraternidade Universal: Hierarquia do divino reino imutável
que constitui o corpo universal do Senhor. É também denominada Igreja Invisível de Cristo, Hierarquia de Cristo, Corrente
Gnóstica Universal, Gnosis. Em sua atuação em prol da humanidade decaída, apresenta-se como Fraternidade de Shamballa,
Escola dos Mistérios dos Hierofantes de Cristo ou Escola Espiritual dos Hierofantes, con gurando-se na Jovem Fraternidade
Gnóstica. [25]

 

489GLOSSÁRIOGnosis: a) o Alento de Deus; Deus, o Logos, a fonte de todas
ascoisas, quesemanifestacomoespírito, amor,luz,forçaesabedoria universal; b) a Fraternidade universal, como portadora do
campode radiaçãodeCristoecomomanifestaçãodessecampo;
c) o conhecimento vivo que está em Deus e que se torna parte
dos que entraram no nascimento da luz de Deus mediante o
renascimento da alma. [9]
Lípica:O rmamentoaural,conjuntodoscentrossensoriais,centros de força e focos nos quais todo o carma da humanidade está
gravado.Nossoserterrestreemortaléprojeçãodesse rmamento
e inteiramente determinado por ele quanto às suas possibilidades,limitaçõeseseucaráter.Alípicarepresentatodaacargade
pecados do microcosmo decaído. [79]
Microcosmo: O homem verdadeiro como resumo de toda a criação, formado de um conjunto de sete esferas, sete campos de
fo
rça,queseinterpenetrameatravésdosquaisohomemoriginal
estava em relação harmoniosa com o macrocosmo, o setenário
cósmico.Nossapersonalidade,comseusseteaspectos,nadamais
é doque umreflexodo quefoi ohomem original. Arupturada
ligação do homem com o espírito pela alma ocasionou a “queda” ea degeneraçãodo microcosmo. O renascimentono “reino
dos céus” signi ca a reintegração do microcosmo na perfeição
originaleimplicanaressurreiçãodaalmaoriginalcomoconsequente restabelecimento da ligação do homem com o espírito.
Através dessa ligação, a consciência comum, limitada ao nosso
domínio de vida dialético, é abarcada pela consciência imensa
do microcosmo, o qual participa novamente do plano divino.
Oconhecimentodesseplano,depositadonocoraçãodomicrocosmo,éumdospontosessenciaisdosensinamentosgnósticosda
libertação,poisdestróitodasasespeculaçõeseilusõesreligiosas
ou ocultistas. A personalidade sétupla é cercada por um “campo

 

490A GNOSIS CHINESAde manifestação” (ou campo de respiração) no qual penetram
as forças e substâncias provenientes da atmosfera e do grande
campo cósmico do qual essa personalidade vive. Todavia, esse
conjunto está sob o controle de uma “esfera aural” que forma o
“céu” do microcosmo, na qual a soma das experiências das personalidades que se sucederam no microcosmo deu nascimento a
uma entidade, um eu superior ou “guardião do umbral”, fonte
de todas as ilusões ocultistas, aparições e fenômenos místicos que
parasitam a personalidade humana e prendem o homem a seus
limites terrenos. Unicamente a ruptura dessa canga, através do sacrifício total do eu, pode libertar o microcosmo e permitir que o
sétuplo campo espiritual restabeleça o homem em seu esplendor
original. [16]
Ordem: Devido à catástrofe cósmica conhecida como “a queda”,
a criação original foi dividida para a consciência humana em
duas ordens diferentes: I. A ordem de natureza dialética que está
submetida a um contínuo subir, brilhar e descer. Ela representa
apenas um aspecto da criação original, separada do conjunto que
lhe dava signi cado. Uma parte da onda de vida humana, por
perder sua ligação com o espírito vivente, identi cou-se com essa
natureza dialética, da qual a razão está ausente. II. A outra ordem,
a da natureza imutável, é conhecida como o reino original, o
domínio de vida das almas viventes. Só têm acesso a essa ordem
aqueles que são “renascidos da água e do Espírito”. A distinção
entre essas duas ordens de natureza constitui o fundamento de
todo o ensinamento gnóstico. [33]
Pensar: O verdadeiro poder do pensamento era capaz de abranger a razão divina absoluta: a vontade pura dinamizava suas sugestões e o sentimento puro atraía para o microcosmo as forças
necessárias para a ação. A unidade absoluta da cabeça e do coração
manifestava-se na colaboração dessas três faculdades. O pensar

 

491GLOSSÁRIOatual, separado do espírito devido à queda, nada mais é do que
uma atividade experimental e especulativa. [18]
Pistis Sophia: a) Evangelho gnóstico do século II atribuído a
Valentinoquefoiconservadointactoequeanunciaocaminho
único da libertação em Cristo, a senda da transmutação e da
trans guração, descrevendo-o com impressionante pureza em
todos os seus pormenores. b) o verdadeiro aluno, aquele que
persevera até atingir a meta. [321]
Reino original: Esse reino dos céus existe eternamente em sua
plenitude. Essa terra santa original é, como os microcosmos que
nela viviam, um conjunto de sete esferas que se interpenetram,
sendo que uma delas, a sétima, representa o aspecto dialético do
setenário.Elaliberaforçasaserviçodavidaperfeitaqueencontra
sua única e divina expressão no conjunto do setenário. Quem
encontra a ¯ave sétupla em seu próprio microcosmo abre sua
consciênciaàpercepçãodessereino“queestámaispróximodo
que mãos e pés”. [145]
Roda do nascimento e da morte: Processocontínuodonascer,
crescer e morrer de uma personalidade, seguido da vivi cação
de uma nova personalidade no microcosmo, conforme a lei da
dialética. [69]


LIVROS DE AUTORIA DE J. VAN RIJCKENBORGH• O advento do novo homem
• A Gnosis em sua atual manifestação
• A Gnosis original egípcia - vol. I, II, III e IV
• A luz do mundo
• Christianopolis
• Análise esotérica do testamento espiritual da Ordem da Rosacruz
Vol. I: O ¯amado da Fraternidade da Rosacruz
Vol. II: Confessio da Fraternidade da Rosacruz
Vol. III: As núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz - t.1
Vol. IV: As núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz - t.2
• Filoso a elementar da Rosacruz moderna
• Não há espaço vazio
• O mistério da vida e da morte
• O mistério das bem-aventuranças
• O mistério iniciático cristão: Dei Gloria Intacta
• O Nuctemeron de Apolônio de Tiana
• O remédio universal
• Os mistérios gnósticos da Pistis Sophia
• Um novo ¯amado
LIVROS DE AUTORIA DE CATHAROSE DE PETRI• 24 dezembro 1980
• O Verbo Vivente
Série das Rosas• Trans guração · Tomo I
• O selo da renovação · Tomo II
• Sete vozes falam · Tomo III
• A Rosacruz Áurea · Tomo IV
LIVROS DE AUTORIA DE J. VAN RIJCKENBORGH
E CATHAROSE DE PETRI
• A Fraternidade de Shamballa
• A Gnosis Chinesa
• A Gnosis universal
• A grande revolução

• O caminho universal
• O novo sinal
• Reveille!
ECKARTSHAUSEN• Algumas palavras do mais profundo do ser
• Das forças mágicas da natureza
MIKHAIL NAIMY• O livro de MirdadANTONIN GADAL• No caminho do Santo GraalSÉRIE CRISTAL• 1 - Do castigo da alma
• 2 - Os animais dos mistérios
• 3 - O conhecimento que ilumina
• 4 - O livro secreto de João
• 5 - Gnosis, religião interior
• 6 - Rosacruzes, ontem e hoje
• 7 - Jacob Boehme, pensamentos
• 8 - Paracelso, sua loso a e sua medicina atemporais
• 9 - O Graal e a Rosacruz
OUTROS TÍTULOS• O evangelho dos doze santos
• Trabalho a serviço da humanidade
• O caminho da Rosacruz no dias atuais


IMPRESSO PELA YANGRAF
A PEDIDO DO LECTORIUM ROSICRUCIANUM EM ABRIL DE 2010

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