Tao Te Ching
Poema 1
O UNO E O VERSO DO UNIVERSO
O Insondável (Tao) que se pode sondar
Não é o verdadeiro Insondável.
O Inconcebível que se pode conceber
Não indica o Inconcebível.
No Inominável está a origem do Universo.
O que é Nominável constitui a mãe de todos os seres.
O Ser indigita a Fonte Incognoscível.
O Existir nos leva pelos canais cognoscíveis.
Ser e Existir são a Realidade total.
A diferença entre Ser e Existir
É apenas de nomes.
Misterioso é o fundo
Da sua unidade.
Eis em que consiste a sabedoria suprema.
Explicação filosófica: Tao é a Realidade Insondável, o Brahma Absoluto, a Divindade Transcendente, que, como tal, não é acessível ao nosso conhecimento finito. Tao, o Ser Ontológico, ultrapassa todo o nosso conhecer lógico. Só conhecemos a Divindade Transcendente na forma do Deus Imanente. O nosso conhecer finito finitiza o Ser Infinito. Tao é em si mesmo anônimo, inominável. Quando o nominamos, reduzimos a um plano finito o Infinito, relativizamos o Absoluto, parcializamos o Todo, colorimos o Incolor, personalizamos o Impersonal. O que se pode dizer e pensar não é a Realidade Absoluta, que é indizível e impensável. Através dos óculos da nossa finitude humana enxergamos a Infinitude Divina, visualizandoa assim como nós somos, mas não assim como ela é. O Ser e o Existir, a Essência e a Existência, o Uno e o Verso constituem o Universo, a Unidade do Real na Diversidade dos Realizados, que é a Realidade Total. A Plenitude do Todo nos afeta como sendo a Vacuidade do Nada. Quem olha diretamente para a pleni-luz solar não enxerga nada – por excesso de luz. A Essência do Ser é para o nosso conhecer como se fosse o Nada. Para nós, somente o Algo Existencial é objeto de conhecimento – o Todo Essencial é totalmente incognoscível, como se fosse o puro Nada. Toda a sabedoria consiste em evacuarmos essa Vacuidade, em nulificarmos essa Nulidade, não para enxergarmos o Todo da Essência, mas para sermos invadidos pelo Todo. Em linguagem matemática diríamos: o “1” representa o Todo da Essência Infinita; o “0” simboliza o Nada da não-Essência; mas, se colocarmos o Nada da não-Essência do lado direito do Todo da Essência, resulta o Algo da Existência; 10, 100, 1.000, etc. O Infinito gera do seio do Nada o Finito ou o Algo. O Algo Existencial é filho do Todo Essencial gerado no seio do Nada. Brahman, o Pai Infinito, gera os mundos, pelo seio de Maya, Mãe de Todos os Finitos: 1.000.000. Os nossos algarismos, que costumamos chamar arábicos, tiveram origem na Índia; o “1” simboliza o masculino; o “0” representa o feminino, e da união desses dois nascem todas as Existencialidades. Intuir essa Verdade é Sabedoria suprema, diz Lao-Tsé. Sabedoria ou Sapiência não é inteligência. Saber é saborear experiencialmente, intuitivamente, não é pensar analiticamente. A ciência é o produto da inteligência – a sapiência é dádiva da razão. A ciência vem do pequeno ego – a sapiência brota da Fonte do grande Cosmos, que no homem se revela como o Eu e flui pelos canais humanos, se esses estiverem devidamente desegoficados e firmemente ligados à Fonte cósmica. A cosmo-plenitude plenifica a ego-vacuidade.